sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Deus é amor, é pai e pastor

“Deus é amor, pai misericordioso, pastor que busca a ovelha amada”

O calendário litúrgico oficial da Igreja propõe para a meditação de hoje (07.11.2013) as duas primeiras parábolas do capítulo 15 do evengelho segundo Lucas: o pastor que busca a ovelha perdida; a dona de casa de procura e encontra a moeda que perdera. As duas parábolas terminam em alegria compartilhada e em festa. Com estas parábolas, Jesus justifica sua compaixão pelos excluídos, questionada pelos líderes religiosos, e, ao mesmo tempo, revela o próprio coração de Deus e propõe um caminho para a Igreja.

Devo dizer que para mim se tornou impossível meditar sobre estas parábolas sem lembrar aquilo que o Pe. Ceolin disse na derradeira mensagem que nos deixou, escrita já nos últimos dias da sua bela e fecunda existência. “Nos meses que estou vivendo, recolhido e acolhido para tratamento de saúde, junto a confrades verdadeiramente irmãos e funcionárias dedicadas, e tendo à cabeceira da cama as imagens da Sagrada Família e de Nossa Senhora da Salete, fiz a experiência mais bela da vida: Deus é todo amor, é pai deveras misericordioso, é pastor em busca da ovelha amada.”

Estamos diante de um belo e emocionante resumo de toda uma vida, marcada por altos e baixos, mas, ao mesmo tempo, por uma incansável busca de saídas e de superação, no horizonte da fidelidade a Deus e a si mesmo. Trata-se de uma experiência profundamente humana e espiritual de alguém que, sem menosprezar os muitos dons que recebeu e fez frutificar, tinha consciência de ser instrumento e objeto da graça de Deus. “Não passo de um mortal como todo ser humano. O que fui e sou, devo-o unicamente ao bom Deus e a vocês, confrades, e a tantos amigos (as) que Ele colocou na minha vida”, escrevia-me ele alguns meses antes.

Na mensagem que contém suas derradeiras palavras de agradecimento, o Pe. Ceolin faz uma indireta mas comovente referência à pobreza na qual se encontrava: ali estave ele, alternando os dias entre um quarto de hospital e seu quarto no Lar de Nazaré, acompanhado apenas por alguns coirmãos “verdadeiramente irmãos” e “funcionárias dedicadas”, e “tendo à cabeceira da cama apenas as imagens da Sagrada Família e Nossa Senhora da Salete...” Nos últimos meses, conforme ele mesmo escrevera, sua vida consistiu em “lutar para que a medula se reative e volte a produzir as plaquetas em quantia suficiente”. Ali estava ele, distante da família e do povo que amou e serviu, longe da maioria dos coirmãos a quem amou como a filhos e irmãos, sem nada que pudesse dizer que era seu. 

E foi nesta situação de absoluta fragilidade e carência que ele, contemplando com a mente e o coração seu percurso de vida e tudo o que lhe acontecera, percebeu claramente, e com inaudita e agradecida surpresa, que “Deus é todo amor, é pai deveras misericordioso, é pastor em busca da ovelha amada”. Não se trata de uma experiência momentânea e transitória, mas de percepção da constante mais fundamental dos seus 83 anos de vida: Deus sempre esteve à sua procura com misericórdia, carregando-o amavelmente nos ombros, conduzindo-o pacientemente à liberdade e à maturidade, através dos acontecimentos e das pessoas amigas. E isso não porque ele fosse bom ou tivesse méritos, mas porque Deus é bom e não sabe agir diversamente.


Poucos dias antes de escrever sua última mensagem, no dia 10 de março, data do aniversário do seu batismo, o Pe. Ceolin celebrou a eucaristia, sozinho, no quarto do hospital, para agradecer seus 83 anos de vida cristã, “agraciada de tantas formas”, como anotou. Meditando sobre a terceira parábola do capítulo 15 de Lucas, aquela do Pai que sai ao encontro do filho que retorna, qaue era o evangelho proposto para aquele dia, escreveu: “O filho pródigo volta ao pai... Obrigado, Pai misericordioso! Peço-te mais vida, para fazer-te amado, e ao teu Filho, que veio curar e salvar!” Eis um pedido que expressa uma resposta madura e generosa ao amor recebido e experimentado de tantas formas.

Como tantas outras pessoas que tiveram a graça de viver em profundidade o mistério da fé, o Pe. Ceolin nos ensina que quem experimenta pessoalmente o entranhado, apaixonado e incondicional amor de Deus, acaba por se identificar com ele e se tornar sua expressão viva. E é isso que todos tivemos a oportunidade de admirar nesse coirmão e amigo: ele foi incansável e exemplar na acolhida, no consolo e na orientação de quem viveu crises vocacionais e existenciais; ele se dedicou de corpo e alma a anunciar e expressar o amor e a bondade de Deus pelos doentes, idosos, mulheres, crianças e marginalizados em geral.


Itacir Brassiani msf

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