domingo, 30 de novembro de 2025

A força da Palavra

Senhor, não sou digno que entres em minha casa!

914 | 30 de novembro de 2025 | Mateus 8,5-11

Depois de apresentar a primeira etapa do processo de formação que Jesus oferece aos seus discípulos, o evangelista São Mateus inicia a fase narrativa de seu evangelho descrevendo o Reino de Deus em ação. Também nisso Jesus forma, educa e orienta seus discípulos missionários. Ontem, iniciando o advento, ouvíamos Jesus sublinhar que a figura desse mundo injusto passa, apesar das aparências de estabilidade, e há sinais de novidade no ar.

No evangelho de hoje Mateus nos mostra como Jesus derruba os muros e atravessa as fronteiras nacionais, étnicas, religiosas e sociais. E faz isso evitando os centros de poder e deslocando-se sempre em direção às margens e periferias sociais. Ele usa os meios da Palavra e do toque, da compaixão e da misericórdia, sem recorrer a ações portentosas e capazes impressionar. São ações que beneficiam os necessitados, e não subjugam ninguém.

No início da cena de hoje se confrontam dois reinos (o império romano e o de Deus) e duas etnias (os judeus e os pagãos). Enquanto o oficial romano é um homem cuja voz é uma ordem e se impõem pelo poder e pelo medo, seu escravo é um homem sem voz, que não conta para provocadas pela própria ocupação colonialista. Como sabemos, muitas enfermidades são provocadas pelas situações sociais conflitivas e opressivas.

A figura do oficial romano é ambivalente, pois ele faz parte da estrutura de violência do império romano, mas, ao mesmo tempo, é um pagão, e, como tal, é desprezado pelos judeus. Pela confiança radical na força libertadora da pessoa e da Palavra de Jesus para curar alguém tratado por ele mesmo como simples propriedade, este oficial chama a atenção e suscita o elogio de Jesus.

A atitude desse chefe pagão inspira a vida cristã. A fé desse soldado chefe de um departamento do exército é exemplo até para os judeus mais piedosos, e para os cristãos mais engajados. Em cada celebração eucarística, repetimos suas palavras com o desejo de assimilar sua atitude. “Senhor, eu não sou digno que entres em minha casa, mas uma palavra tua basta para curar-me”.

Iniciando a caminhada de preparação para a celebração litúrgica do nascimento de Jesus, também nós somos convidados a acolher essa Palavra que ilumina, forma, guia e cura. Ela é que nos trará vida e felicidade. A Palavra do Evangelho, que é sempre Boa Notícia, abre portas e constrói pontes para reunir a humanidade numa só família. Não a substituamos pelo “bom velhinho” e seu saco de presentes! Ele não passa de fantasia e estratégia comercial...

 

Sugestões para a meditação

§  Preste atenção na atitude, nos gestos e nas palavras do oficial romano: ele pede em favor de um escravo, que é uma das suas propriedades, que talvez ele mesmo tenha torturado, uma vez que isso era permitido pela a lei

§  O oficial expressa sua fé na força da Palavra e da compaixão de Jesus por aqueles que não tem voz nem vez

§  Você deseja que Jesus entre na sua casa, anuncie seu Evangelho e lhe indique o caminho para o bem viver?

Viver acordados

CONTINUAMOS ACORDADOS?

Um dia a história apaixonante da humanidade terminará, como termina inevitavelmente a vida de cada um de nós. Os evangelhos colocam na boca de Jesus um discurso sobre esse final, e sempre destacam uma exortação: «vigiai», «estai atentos», «vivam despertos».

As primeiras gerações cristãs deram muita importância a essa vigilância. O fim do mundo não chegava tão cedo quanto alguns pensavam. Sentiam o risco de esquecer Jesus aos poucos e não queriam ser encontrados um dia «adormecidos».

Passaram muitos séculos desde então. Como vivem os cristãos de hoje? Continuamos despertos ou fomos adormecendo aos poucos? Vivemos atraídos por Jesus ou distraídos por todo tipo de questões secundárias? Seguimo-lo ou aprendemos a viver ao estilo de todos?

Vigiar é, antes de tudo, despertar a inconsciência. Vivemos o sonho de sermos cristãos quando, na realidade, muitas vezes os nossos interesses, atitudes e estilo de vida não são os de Jesus. Esse sonho protege-nos de procurar a nossa conversão pessoal e a da Igreja. Se não despertamos, continuaremos a enganar-nos a nós mesmos.

Vigiar é viver atentos à realidade. Escutar os gemidos dos que sofrem. Sentir o amor de Deus pela vida. Viver mais atentos à sua presença misteriosa entre nós. Sem essa sensibilidade, não é possível seguir os passos de Jesus.

Vivemos por vezes imunizados aos apelos do Evangelho. Ainda temos coração, mas ele endureceu-se. Temos ouvidos, mas não escutamos o que Jesus escutava. Temos olhos, mas não vemos a vida como ele via, nem olhamos as pessoas como ele olhava. Pode acontecer o que Jesus queria evitar entre os seus seguidores: que estejamos vivendo como «cegos guiando outros cegos».

Se não despertarmos, pode acontecer conosco o mesmo que aconteceu aqueles protagonistas da parábola, que no final dos tempos perguntavam: «Senhor, quando te vimos com fome, sede, estrangeiro, nu, doente ou preso, e não te ajudamos?»

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

Iniciando o Advento

Adeus ano velho!

Não estranhe, pois eu não me perdi no calendário. No próximo sábado, cristãos se despedem do ano 2025 do nascimento de Jesus e, no domingo, iniciam um ano novo. O calendário dos cristãos não ordena a vida conforme o ritmo da natureza ou de acordo com as exigências da produção; ele se orienta à nossa meta última: a vida plena em Deus.

De fato, temos muitos e diversos calendários: o ano agrícola, organizado em tempos de semeadura e colheita; o ano escolar, com períodos letivos e de férias; o ano financeiro, com seus tempos contábeis e tributários; o calendário esportivo, com seus certames; o calendário político, com suas alianças e eleições; os calendários indígena, chinês, judeu...

O calendário litúrgico cristão está organizado em torno dos eventos fortes da graça de Deus em nossa vida, e está atravessado e fecundado pela esperança. Ele põe em evidência as celebrações que nos oferecem a possibilidade de participar espiritualmente da vida peregrina, compassiva e ressuscitada de Jesus Cristo, e nos antecipa a vida futura.

Iniciamos a caminhada de preparação do natal do Filho de Deus e Filho da Humanidade aceitando a convocação que Deus nos faz através do profeta Isaías: “Vinde todos, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor. Vamos subir ao monte do Senhor para que ele nos mostre os seus caminhos”. Transformemos as espadas em arados e as lanças em foices!

O Apóstolo Paulo nos adverte que já soou o tempo de despertar, de despojar-nos das vestes das trevas, de agir como filhos do Dia, de abandonar brigas e competições, de revestir-se de Cristo. É tempo de dizer adeus aos hábitos violentos, à indiferença que corrói, ao ódio que destrói. São roupas que não nos servem mais, como canta Elis Regina.

Iluminados pela Palavra de Deus, vislumbremos o mundo sonhado por Deus. Basta de tronos ornados de balas e armas! Chega de operações de contenção! Basta de leis concebidas para blindar criminosos de colarinho branco e legalizar a depredação da Casa Comum. “Precisamos todos rejuvenescer”, mas o tempo urge, e não podemos nos distrair.

Jesus apresenta-nos como exemplo a figura sábia de Noé: ele soube discernir o que era essencial e o que era distração, não se perdeu na gestão de questões transitórias. É hora de levantar a cabeça para ver longe, de ajustar o olhar e aquilatar o valor dos pequenos gestos e das grandes causas. Pois Deus pode estar vindo de novo nas manjedouras...


sábado, 29 de novembro de 2025

Sem distração

Nenhuma distração nos afaste do essencial!

913 | 30 de novembro de 2025 | Mateus 24,37-44

Iniciamos a caminhada do advento com um apelo forte e inequívoco a viver constantemente vigilantes, pois a manifestação do Reino de Deus e do Filho do Homem (os sinais e o tempo) não são dados ao conhecimento antecipado de ninguém. A exortação de Jesus pretende ajudar as comunidades cristãs, pressionadas por questões internas e externas, a não se distrair na alegre e serena expectativa do Reino e a não fracassar no discipulado missionário.

Para ilustrar a importância de permanecer ativamente vigilantes, Jesus recorre a quatro exemplos interpeladores, tirados da história do judaísmo e da experiência cotidiana. O primeiro vem do tempo de Noé, quando a maioria das pessoas foi surpreendida pelo dilúvio: elas estavam desprevenidas e distraídas, ocupadas com as pequenas coisas da sobrevivência, e não se deram conta das coisas mais importantes que estavam por acontecer.

O segundo exemplo é tirado da vida camponesa. Mesmo que os personagens não se deixem levar por falsas pregações, ninguém pode saber qual deles ficará e qual será levado. O mesmo sentido tem a experiência que envolve as duas mulheres que estão moendo juntas: ninguém sabe antecipadamente quem será deixada e quem será levada. É preciso permanecer alertas, ativamente empenhados. Serão deixados aqueles que não caminharem à luz do Senhor.

O quarto exemplo, tomado da experiência social, traz à cena a experiência de ser roubado: ninguém sabe o momento em que o ladrão chegará; a chegada dele é certa, mas a prevenção é quase impossível. Também daqui se depreende a necessidade de uma vigilância inteligente e ativa. Então, nenhuma distração, nem mesmo com atividades boas, como trabalhar, comprar e festejar.

A partir dos quatro exemplos apresentados, Jesus propõe uma conclusão, que é também uma interpelação aos seus discípulos e discípulas:  “Por isso, ficai atentos, porque não sabeis o dia em que virá Senhor. Também vós ficai preparados, porque na hora que menos pensais, o Filho do Homem virá”. Nem Jesus sabe a hora... Por isso, vigilância, hoje, amanhã e sempre.

A advertência de Jesus é dirigida também a nós. Não permitamos que as compras e viagens natalinas, as polêmicas políticas e os “humores do mercado” nos distraiam daquilo que é essencial, no natal e na vida: ser fermento e testemunho de vida nova e solidária, transformar instrumentos de morte em caminhos para a vida reconciliada, pacificada e fraterna.

 

Sugestões para a meditação

§  Leia e releia atentamente os versículos de hoje, observando os “casos” arrolados por Jesus como exemplificação do seu ensino

§  Estamos realmente dispostos a “subir ao monte do Senhor” e aceitar que ele “nos mostre seus caminhos”, como diz Isaías?

§  O que nós, nossas famílias e nossas comunidades, esperam e desejam de verdade? Qual é a esperança que nos move?

§  Quais são as coisas ou questões que podem nos distrair daquilo que é fundamental na vida de um discípulo missionário de Jesus?

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Distração e insensibilidade

Cuidado para que não se tornar insensível!

912 | 29 de novembro de 2025 | Lucas 21,34-36

Fim do ano litúrgico, fim do “discurso escatológico” de Jesus. Amanhã, inauguraremos um tempo novo, e esperamos que não seja apenas no calendário da Igreja. Isso depende de nós, ao menos em boa parte. Mas Jesus nos adverte: tomemos cuidado para que as coisas não nos surpreendam muito ocupados em não fazer nada, ou ocupados apenas em “fazer shopping” e organizar festas e férias.

Quando Jesus fala de “preocupações” não se refere a coisas necessariamente ruins, mas às “pequenas causas” ou interesses míopes que nos distraem daquilo que é essencial: esperar e preparar o Reino de Deus mediante uma vida alicerçada no amor, na justiça, na solidariedade e na gratuidade. Trata-se de ocuparmo-nos com a construção de outro mundo possível, e não apenas com o consumo enlouquecido ou a manutenção dos privilégios de alguns. É isso que significa permanecer de pé diante do Filho do Homem, como o evangelista Lucas coloca na boca de Jesus.

Jesus fala que os desfechos mais importantes da vida chegam subitamente, e de modo imprevisível: como um laço, ou como uma armadilha que despenca repentinamente sobre todas as pessoas. A oração e a capacidade de análise e discernimento do sentido dos acontecimentos são os dois trilhos que nos mantêm no rumo certo e nos dão força e ânimo para enfrentar as dificuldades e gerar a novidade alternativa requerida pelo Evangelho em meio às instabilidades.

Com esse ensinamento, Jesus termina a primeira parte das “lições” para a formação dos discípulos. Ele iniciou seu ministério de mestre no templo, aos doze anos, e, no mesmo templo, conclui esta parte. A lição decisiva ele a dará logo em seguida, quando será preso, julgado e eliminado do templo e do meio dos viventes. Será a sua “prova dos nove”. A prova que verificará a solidez da nossa fé não será diferente: é nas encruzilhadas que se revela a perspicácia dos viajantes.

O caminho do tempo comum termina no exato momento em que Jesus é julgado em Jerusalém, epopeia que já meditamos e revivemos na semana santa. Amanhã começaremos a ouvir a Palavra que nos pede olhar para as fronteiras, para os porões, para os desertos e as estrebarias, porque lá está sendo gerada a grande novidade, que não é exatamente aquela do campeão brasileiro de futebol.

 

Sugestões para a meditação

§ Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, relacionando-as com o conjunto do seu ensinamento

§ O que hoje provoca em nós mais insensibilidade, embriaguez e preocupações que mudam nosso foco e nos dispersam?

§ Você cultiva a esperança de que “um outro mundo é possível”, ou não acredita em mais nada?

§ O que significa para você, hoje, no meio de tantas incertezas e dificuldades, ficar atento e rezar?

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

É tempo de esperança

O Evangelho de confirma e liberta não passará

911 | 28 de novembro de 2025 | Lucas 21,29-33

Faltam dois dias para concluirmos o ano litúrgico, e, no penúltimo trecho do nosso conhecido “discurso escatológico” que Jesus pronunciou em pleno templo. Por mais que essa linguagem nos assuste, Jesus fala do fim de um tempo, do fim de um mundo, e do começo de outro mundo e de outro tempo, muito melhores: o tempo em que o Reino de Deus se mostra mais claramente e mais ativamente.

Depois de falar simbolicamente de sinais nos céus e na terra, de divisões e traições nos círculos mais íntimos das nossas relações, de ocupação e destruição de Jerusalém e do seu templo por povos pagãos, Jesus recorre a uma metáfora (o rebrote das árvores anunciando nova estação) para dizer que tudo isso é sinal jubiloso de algo bom que se desenha no horizonte e que está pedindo para nascer.

Na verdade, os acontecimentos e sinais históricos ou imaginários aos quais Jesus se refere são sinais e antecipações proféticas do fim de uma história: a história feita pelos grandes e poderosos, de cima para baixo, com recurso ao poder e à intimidação, assegurando privilégios a uns poucos e excluindo ou perseguindo as maiorias. E o Reino de Deus está cada vez mais perto, e vem para reverter tudo isso! O Reino de Deus não é um território, nem uma nova autoridade, mas relações novas.

Jesus convoca seus discípulos e discípulas de todos os tempos e quadrantes a acompanhar atentamente estes acontecimentos e a discernir neles os sinais do Reino que está em gestação, agindo como fermento na massa, como semente lançada no chão e como sal nos alimentos. Como os brotos novos da figueira prenunciam a proximidade e a certeza da chegada do verão, há sinais anunciando a certeza e a iminência do Reino de Deus.

Aqueles que rejeitam e perseguem Jesus e seus discípulos (“esta geração”) verão estupefatos a novidade acontecendo, e eles sim devem temer. A Boa Notícia de Deus é segura e estável apenas para quem, como Jesus, põe nele a sua confiança e tem nele o seu escudo. O Reino de Deus (a nova humanidade, os novos céus e a nova terra) é mais seguro e estável que o templo, mais que o firmamento, mais que os alicerces da terra. Deus ama o direito e a justiça e defende os pobres e indefesos: essa é a Palavra que nos dá alento e que jamais passará.

 

Sugestões para a meditação

§ Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção à metáfora dos brotos de figueira

§ Você mantém a esperança em um país, o mundo e uma Igreja melhores, ou já “entregou os pontos” e não crê em mais nada?

§ Você consegue identificar pequenos sinais da manifestação certa e segura do Reino de Deus em nosso meio?

§ Onde você encontra as forças que necessita para continuar lutando e sonhando em meio às dificuldades?

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Medo ou esperança?

Levantar a cabeça e peregrinar na esperança

910 | 27 de novembro de 2025 | Lucas 21,20-28

A linguagem usada por Jesus nos diversos trechos do evangelho que estamos meditando nos últimos dias pode assustar e provocar medo. Há muitas imagens que nos levam a pensar em destruição, castigo e punição. Tudo nos parece muito próximo, real e estarrecedor. Afinal, não faltam sinais desse tipo, aqui no Vale do Taquari e Vale do Rio Pardo, nas depressões econômicas e na política internacional.

Mas Jesus nunca se prestou a provocar medo. Tanto sua pregação como suas ações revelam sempre e unicamente a irrupção do Reino de Deus, que é boa notícia e libertação para os pobres e oprimidos. Eventuais advertências e chamados à conversão estão a serviço disso. Pregações feitas para despertar e manter o medo não ajudam Jesus e o Evangelho, e sempre estão a serviço de interesses escusos.

Jesus fala da manifestação final e vitoriosa do Reino de Deus neste mundo. Esta vitória coincide com a revelação e entronização do Filho do Homem. Para falar disso, Jesus recorre a uma linguagem metafórica que fala de abalo e destruição dos poderes opressores que sempre parecem estáveis e indestrutíveis. E aplica estas imagens a fatos históricos que acontecem no seu tempo.

A preocupação de muitas pessoas, inclusive dos discípulos e discípulas, é quando isso acontecerá. Mas Jesus enfatiza a atitude de vida que espera dos seus discípulos durante o tempo que separa o presente de dificuldades e o futuro esperado. Enquanto uns desmaiam e outros se desesperam, quem segue Jesus deve manter-se lúcido, de pé, perseverante no amor e na luta, cheio de esperança.

Jesus recorre à descrição de cenas históricas terríveis e assustadoras para sublinhar que tudo isso está considerado por Deus em seu plano de libertação, e nada escapa à sua providência. Tudo faz parte do roteiro! A progressiva manifestação do Reino de Deus primeiro ameaça, depois destrói os sistemas e poderes que assustam e oprimem os pequenos. E isso não deve ser temido, mas buscado, esperado e celebrado.

Em meio a tudo isso se dá o encontro definitivo com o Filho do Homem, experimentado e testemunhado na missão vivida por seus discípulos missionários em todos os tempos. E isso é um sinal de que a esperança não engana.

 

Sugestões para a meditação

§ Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção às imagens e comparações, mesmo que inicialmente assustem

§ Você também se vê assustado e angustiado com essa linguagem de Jesus, e se pergunta como e onde isso acontecerá?

§ Perceba como Jesus menciona fatos históricos de destruição para enfatizar que nada está fora do plano de Deus

§ Acolha o chamamento à perseverança alegre e esperançosa em meio às dificuldades, inclusive as consequências da pandemia

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Salvar a vida

É permanecendo firmes que honramos a vida

909 | 26 de novembro de 2025 | Lucas 21,12-19

É claro que a destruição do templo, anunciada por Jesus no trecho do evangelho que refletimos ontem, não tem nada de punição de Deus contra os judeus. Foi a miopia política e a cegueira religiosa das lideranças de Israel que levaram a esse desastre. Ao mesmo tempo, do ponto de vista do Evangelho, essa destruição é um fato positivo, pois põe fim a um dos instrumentos de opressão do povo.

No episódio de hoje, Jesus fala das dificuldades e tribulações que os discípulos e discípulas enfrentarão no futuro, as mesmas tribulações que ele teve que enfrentar. São sofrimentos que vêm de fora, não exatamente dos pagãos, mas do próprio judaísmo, que eles professaram e ao qual pertenceram honestamente. Mas vêm também de dentro das famílias de origem e das comunidades cristãs. Jesus e o evangelista são tremendamente realistas também nisso.

Parece que Jesus sabe por experiência que, no fim, tudo ficará mais difícil. Mas ele não faz nada para nos poupar disso. É para estas situações que Jesus quer nos preparar. Ele fala disso desde o início da formação dos discípulos. Ele nos promete e nos dá seu Espírito, que é o Espírito do Pai, para que sustente nosso testemunho, e nos ajude a lidar com a falta de fé das comunidades e com suas insistentes divisões.

No texto que estamos refletindo, para falar das perseguições e tensões que enfrentaremos, Jesus recorre a imagens de conflitos étnicos, culturais, políticos, a acontecimentos naturais e até a questões de saúde. Fala também de perseguições por parte da própria família, pois o Reino de Deus põe em questão todas as nossas relações. A oposição pode vir dos círculos de relações mais íntimas, tanto familiares como de outros grupos primários.

Entretanto, Jesus fala disso para que estejamos prevenidos, para que possamos caminhar destemidos, com o olhar fixo nele, a testemunha fiel, o profeta perseguido, a pedra descartada que se tornou pedra fundamental. Nossa integridade está garantida pelo Pai, que se interessa até pelos cabelos dos seus escolhidos. Precisamos confiar nele, mas sem relaxamento e improviso. Perseverar e ser um sinal de contraste traz seus frutos, seguramente, e é nossa única possibilidade de salvação.

 

Sugestões para a meditação

§ Releia com calma esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção às comparações Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção às comparações misteriosas, mesmo que assustem

§ Você consegue ver no mundo de hoje sinais de intolerância e perseguição aos cristãos e outras pessoas de boa vontade?

§ Onde você busca conforto quando lhe sobrevém dificuldades e tribulações de qualquer ordem?

§ Como você trata as divisões ideológicas entre você e seus familiares e amigos, entre diferentes correntes políticas?

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Não ficará pedra sobre pedra

Deus mora onde reina o amor fraterno

908 | 25 de novembro de 2025 | Lucas 21,5-11

No trecho do evangelho que lemos e meditamos ontem, Jesus denunciava o modo descarado como o templo e os doutores da lei exploravam as viúvas e demais pessoas pobres, especialmente através do dízimo e das doações. No episódio que estamos meditando hoje, na última semana do tempo comum, Jesus continua criticando o templo, e afirma que ele não é mais o lugar de Deus.

É importante levar em conta que o templo de Jerusalém tem pouco a ver com os templos de hoje, como a Basílica de São Pedro (Roma), a Basílica de Nossa Senhora Aparecida (São Paulo) ou o Santuário do Divino Pai Eterno (Trindade). No tempo de Jesus, o templo de Jerusalém era um símbolo da identidade nacional, uma espécie de banco central dos judeus e o lugar onde se reunia o tribunal do Sinédrio. Em suma, era uma espécie de praça dos três poderes, como a que temos em Brasília.

Jesus havia dito que, não obstante sua origem e sua história, há muito tempo o templo deixara de ser um lugar de culto e um espaço respeitado como asilo, e se tornara uma espelunca de rapinadores. Mesmo assim, a grandiosidade do edifício, a riqueza da sua decoração, o movimento intenso de fiéis que ele atraía, o vultoso comércio que girava em torno dele, causa forte impressão no povo. Os peregrinos contemplam sua suntuosidade e o veem como sinal de estabilidade e de relevância.

Como já sabemos, Jesus não se deixa impressionar pela suntuosidade e estabilidade do templo. Ele tem a convicção de que Deus fora expulso de lá há muito tempo. Por mais que que ele pareça sólido e indispensável, virá a ser destruído, e não sobrará nada daquele edifício imponente. E isso não será ruim para o povo, mas uma libertação, o fim de uma época de exploração, uma reviravolta desejada por Deus.

Mas não adianta tentar adivinhar quando isso deverá acontecer, e que sinais que o anunciarão. Alarmistas e falsos messias existirão sempre. O importante é não se apavorar, pois trata-se da destruição das estruturas de opressão. Mas também não há lugar para uma espera passiva, sem fazer nada. Jesus e a comunidade dos discípulos e discípulas substituem o templo. Onde dois ou três se reúnem em seu nome e para prosseguir o que ele fez, Deus está ali. Deus está no calvário, entre os crucificados, e nas encruzilhadas, entre os pobres e lutadores. Essa é a boa notícia.

 

Sugestões para a meditação

§ Releia com calma esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção às comparações misteriosas

§ Será que os cristãos levamos a sério de verdade que o templo de Deus somos nós, que ele está onde nos reunimos em seu nome?

§ Que atitudes e caminhos precisamos tomar para evitar as pregações que assustam e intimidam o povo?

§ Quais são hoje os sinais que anunciam de modo discreto ou impressionante que um Novo Tempo está despontando?