ABRIR AS PORTAS
(Oitava da Páscoa | 27.04.2025)
O Evangelho de João descreve com traços
sombrios a situação da comunidade cristã quando Cristo ressuscitado está
ausente do seu centro. Sem a presença viva de Jesus Cristo, a Igreja torna-se
um grupo de homens e mulheres que vivem numa casa de portas fechadas, por medo
dos judeus de tudo e de todos.
Com as «portas fechadas» não é possível
ouvir o que se passa lá fora. Não é possível captar a ação do Espírito no
mundo. Não se abrem espaços de encontro e diálogo com ninguém. A confiança no
ser humano extingue-se, e crescem os receios e preconceitos. Uma Igreja sem
capacidade de dialogar é uma tragédia, porque nós, seguidores de Jesus, estamos
chamados a atualizar hoje o diálogo eterno de Deus com o ser humano.
O medo pode paralisar a evangelização e
bloquear as nossas melhores energias. O medo leva-nos a rejeitar e a condenar.
Com medo não é possível amar o mundo. Mas, se não o amamos, não o estamos
olhando o mundo como Deus o olha. E se não o olharmos com os olhos de Deus,
como comunicaremos a sua Boa Nova?
Se vivemos de portas fechadas, quem
sairá do redil para procurar as ovelhas perdidas? Quem se atreverá a tocar em
algum leproso excluído? Quem se sentará à mesa com pecadores ou prostitutas?
Quem se aproximará daqueles esquecidos pela religião? Aqueles que querem
procurar o Deus de Jesus nos encontrarão de portas fechadas.
A nossa primeira tarefa é deixar Jesus
Cristo, Crucificado e Ressuscitado, entrar através de tantas barreiras que
erguemos para defender-nos do medo. Que Jesus ocupe o centro das nossas
igrejas, grupos e comunidades. Que só Ele seja fonte de vida, de alegria e de
paz. Que ninguém ocupe o seu lugar. Que ninguém se aproprie da sua mensagem.
Que ninguém imponha um estilo de vida e organização diferente do seu.
Como Igreja, já não temos o poder de outros tempos. Sentimos
a hostilidade e a rejeição à nossa volta. Somos frágeis. Mais do que nunca,
precisamos abrir-nos ao sopro do Ressuscitado para acolher o seu Espírito
Santo.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez
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