segunda-feira, 30 de junho de 2025

Guerra & Paz

Quem guiará nossos passos no caminho da Paz?

A humanidade vive hoje tempos difíceis, como, aliás, quase sempre. Não há mais uma guerra fria, mas muitas guerras quentes e destruidoras, em muitas frentes. Mais de um terço das nações do mundo estão envolvidas em algum conflito violento! E pessoas que gostam de ser considerada “gente de bem” estão engajadas em batalhas ferozes para destruir reputações e espalhar bombas e minas que um dia explodirão, nalgum lugar.

Somente indivíduos que renunciaram ao que há de mais humano deixam-se levar por essa onda de insanidade ou ficam assistindo tudo como se fosse um jogo ou um filme que não tem nada a ver com a vida. Aqueles que renunciam a comprometer-se para que “ao sul do coração faça tempo bom” tornam-se seres minúsculos de pouca importância, zumbis estranhos, mas com grande potencial de destruição.

Ainda ressoa com força o grito musicado por John Lennon e Yoko Ono, em 1969: “Todo mundo está falando de revolução, evolução, inflação, flagelação, integração, mas eu falo: Deem uma chance à paz!” Muito antes, no cântico com o qual rompeu seu silêncio descrente, Zacarias saudou o filho João Batista dizendo que ele chegava para preparar os caminhos do Senhor, aquele que dirige nossos passos no caminho da paz (cf. Lucas 1,79).

Há mais tempo ainda, ressoa a voz do profeta e do Salmista, eco do projeto de Deus: “Subamos ao monte do Senhor. Ele nos ensinará seus caminhos. Ele julgará entre as nações, e ensinará a muitos povos. De suas espadas, eles forjarão arados, e das suas lanças forjarão foices” (Isaías 2,3-4). “Ele anunciará a paz ao seu povo e aos seus fiéis. A misericórdia e a fidelidade se encontram, a justiça e a paz se beijam...” (Salmo 84,11).

Causa tristeza e apreensão constatar que muita gente, inclusive gente piedosa e religiosa, ignora essa vontade expressa de Deus e esse grito pungente da humanidade. Alguns “poderosos miseráveis” têm a desfaçatez de criar inimigos e parir guerras em nome de interesses econômicos mesquinhos e de alimentá-la recorrendo a argumentos religiosos. E se apresentam, sem disfarçar sua empáfia, como promotores e negociadores da paz.

No momento em que sanha guerreira voltou a ocupar homens dos negócios e do poder, o Papa Francisco nos adverte: “O nosso mundo pretende garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança, sustentada pelo medo e pela desconfiança. Esmorecem os sentimentos de pertença à mesma humanidade, e o sonho de construirmos juntos a justiça e a paz parece uma utopia doutros tempos”.

E afirma, profeticamente: “É possível desejar um planeta que garanta terra, teto e trabalho para todos. Este é o verdadeiro caminho da paz, e não a estratégia insensata e míope de semear medo e desconfiança. A paz real e duradoura é possível só a partir de uma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço de um futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira”.

Mas essa conquista não virá dos negociadores de gabinete, comprometidos até o pescoço com as armas e as guerras, nem de inofensivas postagens nas redes sociais. A um trabalho artesanal e contínuo, feito a muitas mãos pelos “artesãos da paz”. “Bem-aventurados os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5,9).

Dom Itacir Brassiani msf

Bispo Diocesano de Santa Cruz do Sul

Agitação e medo

Quem é este a quem até os ventos e o mar obedecem? | 761 | 01.07.2025 | Mateus 8,23-27

A cena de hoje é uma sequência da anterior, na qual Jesus advertia e corrigia aqueles que desejam ser seus discípulos sem darem-se conta da novidade, das exigências e das rupturas que essa decisão comporta. Hoje contemplamos a travessia anunciada anteriormente, e a cena nos remete às situações de dificuldade acarretadas pelo seguimento de Jesus e pelas travessias para situações culturais novas e hostis.

Na travessia, Jesus vai à frente, como mestre e guia. Mas ele já havia dito que a estrada que conduz ao Reino de Deus é estreita, e que a sua porta não é larga. Ele havia falado também da força destruidora dos temporais sobre a vida embasada numa adesão que fica não se faz prática. A agitação do mar é uma alusão indireta a isso, e também às ameaças e à tirania do império romano, símbolo de todos os sistemas de dominação.

Depois de tomar a iniciativa da travessia, Jesus dorme, tranquilo e confiante, no barco agitado pelas ondas. Os discípulos se agitam mais que o mar, pois não têm a confiança demonstrada pouco antes pelo centurião romano. Eles revelam medos não superados e fé insuficiente; interpelam e questionam Jesus, como se ele não se importasse com os riscos que ameaçam aqueles que o seguem.  Essa não é uma situação isolada, mas uma sensação que se repete, hoje, diante das ameaças globais ou locais.

Antes de reagir à interpelação que lhe dirigem, Jesus questiona e desafia a qualidade da fé dos discípulos que o acompanham. Eles precisam efetivamente construir a casa sobre a rocha! Depois, Jesus “ameaça” e põe o mar no seu devido lugar. Como o mar, também os discípulos se acalmam, e ficam admirados. Mais que isso, eles se perguntam sobre a identidade desse Jesus que eles seguem, e percebem que ainda não o conhecem suficientemente, nem conhecem a si mesmos.

As adversidades enfrentadas com serenidade e confiança nos ajudam a aprofundar o conhecimento sobre Jesus Cristo e põem à prova a nossa fé. Precisamos perguntar-nos sempre de novo sobre quem é nosso guia e quem somos nós. Precisamos também rever e questionar com atenção, seriedade e serenidade os fundamentos sobre os quais construímos nossa vida.

 

Sugestões para a meditação

§ Jesus está plenamente confiante na necessidade e no êxito da sua missão, tanto que repousa tranquilamente

§ Os discípulos são tomados pelo medo e até duvidam se Jesus está minimamente preocupado com eles

§ Quais são as travessias que mais lhe amedrontam e imobilizam? Em que situações você teve a impressão de que Jesus esteve alheio?

§ De que modo tais situações ajudam você a conhecer melhor Jesus Cristo e a você mesmo e à sua família ou comunidade?

domingo, 29 de junho de 2025

Discipulado e itinerância

Sigamos os passos de Jesus por onde quer que ele vá | 760 | 30.06.2025 | Mateus 8,18-22

Depois de apresentar três relatos de curas realizadas por Jesus – sinais da chegada do Reino de Deus como vida abundante para todos – Mateus nos apresenta três cenas com atitudes questionadoras de Jesus, duas das quais meditamos hoje. São uma espécie de advertência que Jesus dirige a quem deseja ser seu discípulo sem assumir as exigências que isso comporta.

Jesus está iniciando a passagem do território dos judeus ao terreno dos pagãos, um espaço marcado pela presença mais ostensiva romanos, e um mestre da lei se apresenta como candidato ao discipulado, mesmo sem ter sido chamado. Ele vê em Jesus um mestre ou guru importante, mas apenas um a mais entre tantos mestres. Não passa pela sua cabeça que Jesus proponha uma ruptura radical com a instituição, e nem leva em conta que é sempre o mestre quem escolhe seus discípulos.

Jesus responde sublinhando o contraste entre a estabilidade dos mestres da lei e a mobilidade da comunidade que se reúne ao seu redor. Jesus é um pregador itinerante, avesso à instalação e à estabilidade das instituições fechadas. A vai contra a corrente, percorre um caminho que exige ousadia e firmeza, e se situa no limiar entre o mundo de relações desiguais e violentas em que vivemos e o outro mundo possível.

Em seguida, um daqueles que já seguiam Jesus se mostra disposto a passar para a outra margem, mas pede um tempo para cuidar do pai até que ele morra. Aparentemente, seu pedido não é descabido, mas Jesus sublinha que o discipulado não admite parênteses e adiamentos, está acima da piedade e dos compromissos com a família de sangue e outras instituições. Jesus enfatiza a urgência e a primazia da busca do Reino de Deus.

Como na versão da cena apresentada por Lucas, Jesus ensina que adesão à ética do Reino de Deus deve ser absoluta, e nada pode se antepor à dedicação plena e imediata a ele, pois os novos céus e a nova terra urgem, a humanidade clama por ele, o mundo fraterno e justo não pode esperar.

 

Sugestões para a meditação

§ Preste atenção nas atitudes e nos pedidos do escriba e do discípulo: O que há de semelhante? O que há de diferente?

§ Jesus propõe uma vida quase nômade, itinerante, sem estabilidade, e uma urgência que não admite postergar as decisões importantes

§ Os discípulos têm dificuldade de romper com algo: e você, o que impede sua dedicação à construção do outro mundo possível?

§ De que você ainda precisa se desapegar para ser livre e generoso no seguimento de Jesus?

sábado, 28 de junho de 2025

Pedro e Paulo

Combatamos o bom combate e guardemos a força da fé | 759 | 29.06.2025 | Mateus 16,13-19

O livro dos Atos dos Apóstolos nos lembra que Pedro, nosso ‘primeiro Papa’, foi presidiário! As chaves prometidas por Jesus Cristo não serviram para abrir as algemas e a porta que prendiam! E Paulo, depois de ter sido um fariseu zeloso e acumulado muitos méritos e honras, foi conquistado por Jesus Cristo e, como muitos outros da sua geração, foi denunciado, perseguido, encarcerado e finalmente executado. Ele assimilou o que Jesus dissera ao enviar os Doze: “Não tenham medo de nada!”

Pedro e Paulo eram membros de comunidades cristãs, e o vínculo se mostra de modo comovente no relato dos Atos dos Apóstolos. “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja orava continuamente por ele”. Um pouco antes, quando Pedro e João haviam sido liberados da prisão, a comunidade pedia em oração: “Agora, Senhor, olha as ameaças que fazem, e concede que teus servos anunciem corajosamente a tua Palavra” (At 4,29). Diante da perseguição, as comunidades pedem coragem, e não tranquilidade. O que as sustenta é o encontro com Deus em Jesus Cristo.

Jesus faz uma pergunta decisiva aos discípulos: “Quem sou eu para vocês?” Pedro o reconhece e proclama Messias, e é o primeiro discípulo a fazê-lo. Porém, Jesus chama a si mesmo ‘Filho do Homem’, e não Filho de Deus (cf. Mt 11,19; 12,8; 12,32), acentuando assim seu vínculo com a humanidade. Isso significa que somente quem está aberto e sintonizado com a lógica e a vontade de Deus pode reconhecer sua presença nas ações e palavras deste filho da humanidade e irmão de todos os seres humanos. Esta é a base sólida sobre a qual Jesus Cristo constrói a comunidade cristã, literalmente, a assembleia dos chamados, e contra a qual nada prevalece.  

Crer, confiar, partilhar e anunciar: estes são os verbos essenciais da gramática vital dos cristãos. Só chega à meta da caminhada de discípulo quem conjuga estes verbos em todos os tempos, modos e pessoas. É nesta perspectiva que, escrevendo na cela da prisão, Paulo faz um balanço de sua vida e suas palavras são eloquentes: “Chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.”

 

Sugestões para a meditação

§ Procure afastar-se das respostas e doutrinas aprendidas, e responda à pergunta de Jesus, descrevendo o lugar que ele ocupa na sua vida, e como ele influi nas suas relações, ações e opções, grandes ou pequenas

§ Recorde as consequências que esta resposta de Pedro tem na vida dele, de Paulo e dos discípulos que vieram depois deles

§ Deixe ressoar em você a palavra de Jesus: “Feliz és tu, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai!”

sexta-feira, 27 de junho de 2025

O Coração da Mãe

Maria conservava no coração tudo o que via e ouvia | 758 | 28.06.2025 | Lucas 2,41-51

Ontem celebrávamos o Sagrado Coração de Jesus, e hoje, a memória do Imaculado Coração de Maria. Precisamos evitar o risco de imaginar Jesus como um ser errante e solitário, que não conheceu a beleza exigente da vida em família. Não podemos ver Maria como uma espécie de divindade, isolada do mistério do Reino de Deus vivido e revelado por Jesus.

O texto que estamos meditando não tem nada de fábula infantil. Tem tudo a ver com o núcleo fundamental que dinamizou a vida de Jesus: o empenho em fazer a vontade do Pai (que é reunir todas as pessoas na única família do Pai), inclusive mediante a superação dos vínculos da família patriarcal e, principalmente, através da cruz. É isso que, mesmo sem entender, devemos guardar e meditar em nosso coração, como fez Maria.

Na cena de hoje, a nossa atenção não pode se desviar do seu núcleo, que é a palavra de Jesus a seus pais (a primeira palavra de Jesus no evangelho de Lucas!): “Não sabeis que devo estar na casa (ou me ocupar das coisas) de meu Pai?” Trata-se da sua própria identidade e da sua missão de Filho de Deus. E essa “estadia” na casa do Pai supõe a “saída” das “cercas” família e do judaísmo mediante a entrega generosa e sem reservas na cruz.

Mas a memória do Imaculado Coração de Maria nos pede também uma atenção especial às atitudes de Maria. Ao lado do marido e junto com o Filho, ela peregrina com seu povo e cultiva suas tradições religiosas. A angústia por perder o filho de vista, e o susto por encontrá-lo entre os mestres da lei, nos remete à dificuldade, dela e nossa, de assimilar o sentido da sua missão, paixão e morte.

Maria não se resigna à dificuldade para entender a missão de Jesus. Meditando os fatos e palavras, inclusive a paixão e a morte do filho, ela se torna discípula exemplar, peregrina despojada, mulher de fé e de reflexão. Seu coração é imaculado porque ela acreditou na Palavra que lhe foi anunciada e colocou-se a serviço da realização da Vontade de Deus.

 

Sugestões para a meditação

§   Deixe-se envolver na peregrinação, no encontro de Jesus com os doutores da lei, na busca de José e Maria, no reencontro e no diálogo

§   Maria, na sua dificuldade de compreender a palavra e a escolha de Jesus, é retrato de todo discípulo de Jesus

§   Será que, acolhendo e interrogando os fatos no coração, não nos convida a uma fé lúcida, reflexiva e amadurecida?

§   Em que medida nós nos ocupamos, como Jesus, Maria e José, mais com “as coisas” do Pai que com nossos afetos e interesses?


Deus tem coração!

Somos alunos na ‘escola’ do Coração de Jesus!

A oração da coleta da santa missa de hoje reúne e expressa os que nos trazem aqui e nos reúnem nesse jubileu especial. Aqui viemos para recordar os grandes benefícios do amor de Deus por nós, esperando também receber, da fonte do Coração de Jesus, um rio de graças. Não apenas um pequeno copo de água, mas um rio de graças!

Recordar os benefícios recebidos

Então, comecemos recordando os sinais do amor de Deus por nós. O profeta Ezequiel se esmera em descrever como é o coração de Deus. Como um pastor dedicado, Deus nos busca e cuida de nós; nos salva dos lugares perigosos; nos reúne com os outros e nos conduz a um lugar seguro e acolhedor; nos alimenta com as melhores comidas; vem atrás de nós quando corremos perigo; cura nossas feridas e doenças, enfaixa nossos membros quebrados; nos fortalece quando estamos fracos. E não esquece de ‘abrir o olho’ para vigiar as ovelhas gordas e fortes, que podem prejudicar as mais frágeis e indefesas.

Recordemos também tantos sinais do amor do Sagrado Coração de Jesus e marcam nossa vida. Ele manteve nossa família unida e nos inseriu numa comunidade de fé, oração e caridade. Ele nos deu o grupo de amigos do apostolado da oração e nos deu mãos amigas nas muitas dificuldades. Ele nos fez sábios, generosos e fortes para ajudar os outros em suas dificuldades. Ele nos ensina pacientemente a gentileza, o respeito, o cuidado, a estima e a gratidão. Enfim, seu amor nos envolve e nos atravessa, em todas as dimensões e em todos as fases da vida.

Deus vem ao encontro da ovelha amada

Este amor incondicional e ‘exagerado’ de Deus por nós permanece sempre, passa de geração em geração e chega aos homens e mulheres de hoje. Seu amor é para sempre, é para todos, e nunca falha! Deus não descansa enquanto todos os seus filhos e filhas não estão seguros, felizes e cheios de vida.

É isso que ele nos mostra Jesus Cristo, em todos os seus gestos, ações e palavras. Ele é muito mais que um bom pastor que protege suas ovelhas. Ele é bem melhor que um ‘tutor’, que se desmancha em cuidados pelo seu cachorrinho. Ele troca 99 pessoas que estão bem por uma só pessoa que precisa de ajuda! Ele pula de alegria como uma criança por um pequeno progresso que fazemos na fraternidade e na caridade.

Deus toma a dianteira

São Paulo diz que Deus nos amou e nos ama, e que nada terá força para nos afastar desse amor. Ele nos chama de amigos e nos trata como amigos e amigas, e seu coração aberto chega antes e nos espera. Ele não exige qualquer pré-requisito para nos amar e oferecer a sua amizade!

Em Jesus, Deus toma a dianteira e nos amou primeiro, não levando em conta que somos e continuamos pecadores, ímpios, limitados, fracos. “A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”, inimigos de Deus (Rm 5,8). Assim é o coração de Deus! Assim é o coração de Jesus!

Nosso coração, nosso tesouro!

Mas é preciso lembrar que, quando falamos ‘coração’, não estamos falando de um órgão do corpo, mas daquilo que se esconde por trás de todas as aparências ou de pensamentos superficiais e sentimentos descontrolados. O coração é o ‘lugar’ da sinceridade, onde a falsidade não pode morar. O coração indica as verdadeiras intenções e escolhas, o que se pensa, se acredita e se quer realmente, nossa verdade ‘nua e crua’ de cada um, aquilo que realmente somos.

Num tempo marcado pelo individualismo e pela indiferença, que fala da inteligência artificial como se fosse a salvação de tudo, precisamos afirmar que temos um coração humano e natural, no qual bate um coração sobrenatural e divino.  Nesse coração a inteligência dá as mãos à sabedoria, o pensamento se abraça com o sentimento, o indivíduo acolhe e hospeda uma multidão.  

Deus tem coração!

Se o coração é o centro afetivo de todo o ser humano, é ele que melhor representa o amor divino e humano de Cristo. O coração de Cristo é movimento de saída, é dom de si mesmo, é busca e encontro. É o centro pessoal de onde brota o seu amor por nós.

O que contemplamos e adoramos no Sagrado Coração de Jesus não é uma parte ou uma imagem de Jesus, mas Jesus Cristo por inteiro, o Filho de Deus feito Homem. É a ele que nos remete a imagem que se destaca o seu coração. A devoção ao Coração de Cristo não é o culto a um órgão separado da Pessoa de Jesus!

Jesus Cristo quis nos ama com um coração humano! Os seus sentimentos e as suas ações tornam-se o sacramento de um amor infinito e definitivo. Ele não descreveu nem explicou como é esse amor. Mas ele demonstrou seu amor nas palavras, nos olhares, nos gestos, na oração e, especialmente, na sua paixão, morte e ressurreição.

O infinito amor do seu coração, sua mansidão e humildade, ficaram sacramentadas na Eucaristia! É nela que visualizamos o Fogo do seu amor e o rio de Água viva que nos sacia e lava. É em Jesus e a partir de Jesus que nos tornamos capazes fazer o bem, de conviver de forma saudável e feliz, de construir neste mundo o Reino de amor e de justiça.

Deus pode fazer milagres através de nós!

O nosso coração, unido ao coração de Jesus Cristo, é capaz de fazer milagres, de fazer grandes coisas. O Apóstolo da Oração é, antes de tudo, mensageiro do amor infinito de Jesus Cristo. Ele contempla e acolhe esse amor na Eucaristia, da qual participa com frequência e à qual adora em fervorosa oração pessoal. Depois, espalha a boa notícia do amor incondicional e sem fronteiras de Jesus entre seus familiares e amigos, em seu ambiente de trabalho, na sua comunidade, no seu clube ou associação.

Mas o Apóstolo da Oração também acolhe em si o amor de Jesus, deixa que ele transforme seu coração e o manifesta em relações e ações concretas: usando uma linguagem respeitosa e pacificada; relacionando-se com gentileza, pedindo licença, agradecendo e pedindo perdão; colaborando e servindo sempre que houver ocasião; ajudando a comunidade e participando do grupo do apostolado. Mas nunca pode deixar fora o cuidado e a atenção aos mais pobres e necessitados, da própria família ou fora dela, da nossa Igreja ou fora dela.

Agradeçamos o imenso amor com que Jesus nos amou e nos ama! Peçamos ao Sagrado Coração de Jesus e graça de sermos seus mensageiros e apóstolos! Acolhamos com prontidão e gratidão essa missão que brota da nossa adoração ao Sagrado Coração de Jesus! Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!

Dom Itacir Brassiani msf

Bispo de Santa Cruz do Sul

(Homilia no Jubileu do Apostolado da Oração, 27.06.2025)