A casa inteira
ficou cheia do perfume do bálsamo... | 682 | 14.04.2025 | João 12,1-11
Seis dias antes da páscoa, Jesus se
afasta de Jerusalém e busca acolhida em Betânia, entre os amigos e discípulos Marta,
Maria e Lázaro. A casa está tomada pela emoção, pois Lázaro havia voltado à
vida, e eles oferecem a Jesus uma agradecida refeição. É neste contexto que
Maria realiza um gesto surpreendente, como se quisesse anunciar a passagem de
Jesus deste mundo ao Pai: ela busca um frasco de perfume caríssimo (custa 10
meses de salário!), unge os pés de Jesus e os enxuga com os cabelos.
O efeito é inesperado: o perfume enche
a casa! (João fala de ‘oikumene’ o mundo habitado, a ‘casa comum’). Jesus
acolhe este gesto de Maria, mas Judas reage protestando contrariado. Nele
ressoa a tentação da Igreja diante da novidade desmedida do amor. Jesus toma a
Palavra e confirma que o gesto de Maria é correto e justo: ela antecipa o
embalsamamento do seu corpo e, com isso, aceita e preanuncia sua paixão.
É como se houvesse em Deus uma
pobreza, uma necessidade de amor maduro e lúcido da humanidade. Deus busca
adoradores em Espírito e verdade, e o cego de nascimento e Maria de Betânia são
capazes de tal amor. A sede de amar os homens e mulheres e de ser por eles
amado atravessa o evangelho de João e encontrara seu ponto alto na cruz. “Tenho
sede”!
O gesto de Maria é um gesto de amor
por Jesus, que ela reconhece como enviado do Pai. É gesto de esperança à luz do
mistério da paixão que se aproxima. É gesto de fé, dessa fé que deve se
espalhar como bom perfume de Cristo. Da nossa parte, somos chamados a prolongar
o gesto de fé de Maria, a derramar sobre o corpo de Jesus o perfume do nosso
amor.
Podemos honrar o
corpo de Jesus nas Escrituras, pois a vida cristã é escuta, acolhida e prática
da Palavra. Podemos também honrar o corpo de Jesus na Eucaristia, para que ele tome
forma em nós e nós nos transformemos nele. Podemos honrar o corpo de Cristo no
corpo eclesial, constituído por aqueles que vivem do Espírito de Cristo. E há o
corpo de Cristo que espera nosso serviço no corpo dos pobres, interlocutores da
missão, e no corpo da família das criaturas, nossa casa comum.
Meditação:
§ O
que o gesto aparentemente exagerado de Maria diz para a nossa espiritualidade
de homens e mulheres adultos e maduros?
§ Como
entender e trazer para nosso contexto atual o argumento falso de Judas e a
resposta de Jesus?
§ O
gesto de Maria de Betânia é o movimento no qual somos chamados a entrar para
honrar o corpo de Cristo
§ Acolhemos
realmente o caminho de Jesus como ele nos apresenta: esvaziamento solidário,
serviço gratuito, profecia destemida?
§ Como
manifestamos concretamente nosso cuidado agradecido e reverente ao “corpo de
Jesus” hoje?
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