domingo, 14 de dezembro de 2025

Com que autoridade?

A autoridade só é legítima se promove e liberta

928 | 15 de dezembro de 2025 | Mateus 21,23-27

O que esta passagem do evangelho de Mateus tem a ver com a preparação para o Natal? Ela está localizada no final da peregrinação missionária de Jesus, já no espaço do templo central do país, em Jerusalém. Jesus havia chegado no templo e, com o chicote na mão, expulsado os vendedores que exploravam o povo. Ele quer que o templo seja um espaço de encontro, não um lugar de opressão.

Os sumos sacerdotes ficam incomodados com este gesto e com todo o ensino de Jesus, pois, com palavras e com ações, ele desafia e questiona a sacralidade do templo e a autoridade dos seus controladores. Sacerdotes e anciãos constituíam uma elite social, econômica, política e religiosa, baseada na origem, no saber, nas riquezas e nas alianças políticas. Esta elite era politicamente legitimada pelo império romano e moralmente pelo templo.

Os sumos sacerdotes não se importam com o fato de o templo ter deixado de ser casa de oração e de encontro e ter sido transformado numa espelunca de rapinadores. Eles preferem questionar a autoridade de Jesus para fazer o que ele faz, perguntam quem o legitima, com que licença ou autorização ele age. É claro que a autoridade e a liberdade de ação de Jesus incomodam a todos eles.

Por isso, em nome da instituição do templo, os sacerdotes apresentam a Jesus uma pergunta, que, na verdade, é uma armadilha. Jesus não pode basear sua autoridade na origem social, nos bens, no estudo ou em alguma aliança política. E se disser que sua autoridade vem de Deus, automaticamente ele deslegitima os sacerdotes e anciãos e, por causa disso, pode ser acusado de blasfêmia.

Jesus sabe que sua vida e missão estão intimamente ligadas à vida e missão de João Batista. Por isso, não sem uma certa astúcia, responde à pergunta deles com outra pergunta. Os examinadores passam a ser examinados; os buscadores de lã acabam tosquiados. Quem deveria demonstrar sua legitimidade é quem não se importa com a opressão!

Eles sabem a resposta, mas calam. Se reconhecem João como profeta, reconhecem. O nosso encontro com Jesus hoje também passa pelo reconhecimento dele como enviado de Deus para transformar as pessoas, as sociedades e as religiões. É nisso que qualquer autoridade é legitimada, e, fora disso, o poder, inclusive o poder religioso, desliza perigosamente e se aproxima da usurpação e do despotismo.

 

Sugestões para a meditação

§  Há quem hoje se comporte como os chefes dos sacerdotes e os saduceus, que “fazem olho grande” aos abusos contra os pobres?

§  Em que você baseia sua autoridade para anunciar o Evangelho e denunciar profeticamente os abusos contra os pobres e humildes?

§  O que precisamos “expulsar” de nossas preocupações e projetos para reconhecer Jesus e acolhê-lo de fato entre nós neste Natal?

§  Que desculpas e justificativas estamos apresentando hoje para não levar a sério o projeto de Jesus e lançar-nos na construção do Reino de Deus?

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