Na abundância, sejamos mais generosos na partilha | 794 | 03.08.2025 |
Lucas 12,13-21
Chamando Jesus de
mestre, o personagem sem nome do evangelho de hoje não está expressando sua
adesão a ele. Jesus percebe a ironia da saudação, tanto que, dá a entender que,
se não for aceito como mestre, também não pode ser buscado como juiz. No fundo,
Jesus percebe que este indivíduo não é uma pessoa em necessidade e nem um candidato
a discípulo. Trata-se de alguém queimado pela ganância. Mas essa situação
proporciona a Jesus a oportunidade de falar sobre a relação do discípulo com os
bens.
“Atenção! Guardai-vos contra todo tipo
de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na
abundância de bens”. Esta é a reação de Jesus ao perceber que, por trás do
pedido de “justiça”, não está uma necessidade, nem uma sede de justiça, mas o
desejo de possuir bens. E, para sublinhar a seriedade da exortação, Jesus propõe
uma parábola na qual o protagonista é uma pessoa radicalmente voltada para si
mesma, que fala e decide tudo sozinha e não se interessa por mais ninguém.
No final de uma safra bem-sucedida, o
personagem diz a si mesmo: “Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos.
Descansa, come, bebe e goza da vida”. Como não lembrar aqui a parábola do rico
que festeja todos os dias, indiferente à miséria de Lázaro que jaz à sua porta
(Lc 16,19-31)? Segundo Jesus, as pessoas que agem assim são desprovidas de
qualquer resquício de razão, vazias de qualquer valor humano, e passam longe da
piedade cristã. São o tipo de indivíduos que, com suas decisões, cavam abismos
que os separam dos demais “simples humanos”.
Mas, se o acúmulo desmedido de bens é
tolice, o que significa ‘ser rico diante de Deus’? Está claro que, para Jesus,
o problema não está nos bens em si mesmos. O mal dos bens está no obstáculo que
podem interpor à liberdade radical e ao engajamento no movimento do Reino de
Deus, que passa necessariamente pela partilha solidária.
O
Reino de Deus é a pérola preciosa e o tesouro que vale mais que tudo, o terreno
no qual brota o trigo que vai para a mesa dos pobres, o ventre no qual é gerada
a nova humanidade. Aos ricos, o que falta não são armazéns novos, mas uma visão
mais solidária e um coração mais generoso. A pessoa rica diante de Deus é
aquela que, na abundância, aumenta o tamanho da mesa, para acolher, e não as
dimensões do celeiro para entesourar!
Sugestões para a
meditação
§ Preste atenção nas palavras do protagonista da parábola: o
“eu” está no centro de tudo, ocupa todo o seu pensamento
§ Quais as luzes que a parábola e o ensino de Jesus trazem
para quem só pensa em acumular, e para quem não tem nem o necessário?
§ O que significar hoje ser “rico diante de Deus” e “não
ajuntar tesouros para si mesmo”?