sábado, 2 de agosto de 2025

Aumentar os celeiros

Na abundância, sejamos mais generosos na partilha | 794 | 03.08.2025 | Lucas 12,13-21

Chamando Jesus de mestre, o personagem sem nome do evangelho de hoje não está expressando sua adesão a ele. Jesus percebe a ironia da saudação, tanto que, dá a entender que, se não for aceito como mestre, também não pode ser buscado como juiz. No fundo, Jesus percebe que este indivíduo não é uma pessoa em necessidade e nem um candidato a discípulo. Trata-se de alguém queimado pela ganância. Mas essa situação proporciona a Jesus a oportunidade de falar sobre a relação do discípulo com os bens.

“Atenção! Guardai-vos contra todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens”. Esta é a reação de Jesus ao perceber que, por trás do pedido de “justiça”, não está uma necessidade, nem uma sede de justiça, mas o desejo de possuir bens. E, para sublinhar a seriedade da exortação, Jesus propõe uma parábola na qual o protagonista é uma pessoa radicalmente voltada para si mesma, que fala e decide tudo sozinha e não se interessa por mais ninguém.

No final de uma safra bem-sucedida, o personagem diz a si mesmo: “Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe e goza da vida”. Como não lembrar aqui a parábola do rico que festeja todos os dias, indiferente à miséria de Lázaro que jaz à sua porta (Lc 16,19-31)? Segundo Jesus, as pessoas que agem assim são desprovidas de qualquer resquício de razão, vazias de qualquer valor humano, e passam longe da piedade cristã. São o tipo de indivíduos que, com suas decisões, cavam abismos que os separam dos demais “simples humanos”.

Mas, se o acúmulo desmedido de bens é tolice, o que significa ‘ser rico diante de Deus’? Está claro que, para Jesus, o problema não está nos bens em si mesmos. O mal dos bens está no obstáculo que podem interpor à liberdade radical e ao engajamento no movimento do Reino de Deus, que passa necessariamente pela partilha solidária.

O Reino de Deus é a pérola preciosa e o tesouro que vale mais que tudo, o terreno no qual brota o trigo que vai para a mesa dos pobres, o ventre no qual é gerada a nova humanidade. Aos ricos, o que falta não são armazéns novos, mas uma visão mais solidária e um coração mais generoso. A pessoa rica diante de Deus é aquela que, na abundância, aumenta o tamanho da mesa, para acolher, e não as dimensões do celeiro para entesourar!

 

Sugestões para a meditação

§ Preste atenção nas palavras do protagonista da parábola: o “eu” está no centro de tudo, ocupa todo o seu pensamento

§ Quais as luzes que a parábola e o ensino de Jesus trazem para quem só pensa em acumular, e para quem não tem nem o necessário?

§ O que significar hoje ser “rico diante de Deus” e “não ajuntar tesouros para si mesmo”?

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

É tempo de curtir!

UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL

«Deita-te, come, bebe e dá-te uma boa vida»: este lema do homem rico na parábola evangélica não é novo. Tem sido o ideal de não poucas pessoas ao longo da história, mas hoje vive-se em grande escala e sob uma pressão social tão forte que é difícil cultivar um estilo de vida mais sóbrio e saudável.

A sociedade moderna há muito institucionalizou o consumo: quase tudo está orientado para desfrutar de produtos, serviços e experiências sempre novas. O lema do bem-estar é claro: «Dê-se uma boa vida». O que nos é oferecido através da publicidade é juventude, elegância, segurança, naturalidade, poder, bem-estar, felicidade. Temos que alimentar a vida no consumo.

Outro fator decisivo na evolução da sociedade atual é a moda. Sempre houve na história dos povos correntes e gostos flutuantes. A novidade é o império da moda, que se converteu no principal guia da sociedade moderna. Já não são as religiões ou ideologias que guiam o comportamento da maioria. A publicidade e a sedução da moda estão substituindo a Igreja, a família ou a escola. É a moda que nos ensina a viver e a satisfazer as necessidades artificiais do momento.

Outra característica que marca o estilo de vida moderno é a sedução dos sentidos e o cuidado com o externo. Temos que prestar atenção ao corpo, à linha, ao peso, à ginástica e aos check-ups; é preciso aprender novas terapias e remédios; temos que seguir os conselhos médicos e culinários de perto. Temos que aprender a «se sentir bem» consigo mesmo e com os outros; temos que saber mover-nos habilmente no campo do sexo: conhecer todas as formas de prazer possíveis, desfrutar e acumular novas experiências.

Seria um erro «demonizar» esta sociedade que oferece tantas possibilidades de cuidar das várias dimensões do ser humano e de desenvolver uma vida integral e integradora. Mas não seria menos errado deixarmo-nos arrastar levianamente por qualquer moda ou reclame, reduzindo a existência a puro bem-estar material. A parábola evangélica convida-nos a descobrir a insensatez que se pode encerrar nesta abordagem da vida.

Para acertar na vida, não basta passar bem. O ser humano não é apenas um animal sedento de prazer e bem-estar. Está feito também para cultivar o espírito, conhecer a amizade, experimentar o mistério do transcendente, agradecer a vida, viver a solidariedade. É inútil queixarmo-nos da sociedade atual. O importante é agir de forma inteligente.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

Herodes e João

As tradições, leis e honras não estão acima da vida! | 793 | 02.08.2025 | Mateus 14,1-12

A notícia sobre a trama que levou o profeta João Batista à morte não é uma espécie de parênteses sem relevância na apresentação da missão de Jesus, embora possa parecer isso. O episódio é uma antecipação daquela que seria a sorte de Jesus e um alerta aos discípulos: eles precisam ser lúcidos e corajosos, não fechar os olhos frente à prepotência e não ter medo.

Herodes é um político judeu que exerce um poder limitado, concedido ou, pelo menos, tolerado pelo imperador de Roma e a serviço dele. É um príncipe pequeno e insignificante, que entra em colisão com o Reino de Deus anunciado por Jesus e age com prepotência contra seu irmão, se apossando de sua esposa. É contra essa prepotência, e contra outros desmandos e injustiças que reinavam na corte, na sociedade e no judaísmo, que João Batista se levanta corajosamente.

Mateus deixa claro que Herodes desejava eliminar o incômodo profeta. Ele temia que a pregação de João acabasse provocando uma revolta popular, e, dada a popularidade que desfrutava, tinha que esperar a ocasião perfeita, para não perder completamente o apoio do povo. E a ocasião se lhe oferece numa festa que reúne a elite masculina do seu reino e chama mulheres como parte da diversão e das orgias. Dançar no meio dos homens significava insinuar-se o oferecer serviços sexuais.

E João Batista, que não come nem bebe, acaba tendo o seu destino definido numa festa com comida, bebida e dança. Atendendo ao pedido de sua mulher, Herodes valoriza mais os códigos de honra do poder e da família patriarcal que os mandamentos da religião que professa, e que proíbem matar. Herodes, e não sua mulher, é o responsável pela morte de João, pois há tempos desejava matá-lo, e sua mulher não tinha poder para tanto. Herodes se aproveita da situação, inclusive do pedido dela, para eliminar um crítico incômodo e assegurar a benevolência do império romano.

Jesus é informado do desfecho da vida do profeta e amigo, mas isso não o intimida, nem diminui sua fidelidade no anúncio e na construção do Reino de Deus. Antes, ele colhe essa ocasião para perceber e sublinhar a urgência e a relevância da sua missão. Por mais belas e estimulantes que sejam as parábolas do Reino de Deus, a sua realização encontra violenta resistência.

 

Sugestões para a meditação

§ Leia atentamente esse relato, e perceba o papel de cada personagem na execução de João Batista

§ O profeta do Jordão não recuou diante das ameaças e riscos, e manteve sua pregação e suas denúncias

§ Recorde o nome de profetas e profetizas que marcaram a vida dos cristãos nos últimos tempos

§ Deixe-se estimular e motivar pelo testemunho de João Batista e dos profetas e profetizas que você recordou