quinta-feira, 30 de novembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (183)

183 | Ano A | 34ª Semana Comum | Sexta-feira | Lucas 21,29-33

01/12/2023

Faltam dois dias para concluirmos o ano litúrgico, e, no penúltimo trecho do nosso conhecido “discurso escatológico” que Jesus pronunciou em pleno templo. Por mais que sua linguagem nos assuste, Jesus fala do fim de um tempo, de um mundo, e do começo de outro mundo e de outro tempo, muito melhores: o tempo em que o Reino de Deus se mostra mais claramente.

Depois de falar simbolicamente de sinais nos céus e na terra, de divisões e traições nos círculos mais íntimos das nossas relações, de ocupação e destruição de Jerusalém e do seu templo, Jesus recorre a uma metáfora (o rebrote das árvores anunciando nova estação) para dizer que tudo isso é sinal jubiloso de algo bom que se desenha no horizonte.

Na verdade, os acontecimentos e sinais históricos ou imaginários aos quais Jesus se refere são sinais e antecipações proféticas do fim de uma história: a história feita pelos grandes e poderosos, de cima para baixo, com recurso ao poder e à intimidação, assegurando privilégios a uns poucos e excluindo ou perseguindo as maiorias. E o Reino de Deus está cada vez mais perto!

Jesus convoca seus discípulos e discípulas de todos os tempos e quadrantes a acompanhar atentamente estes acontecimentos e a discernir neles os sinais do Reino que está em gestação, agindo como fermento na massa, como semente enterrada no chão e como sal nos alimentos. Como os brotos novos da figueira prenunciam a proximidade e a certeza da chegada do verão, há sinais anunciando a certeza e a iminência do Reino de Deus.

Aqueles/as que rejeitam e perseguem Jesus e seus discípulos/as (“esta geração”) verão estupefatos a novidade acontecendo, e eles/as sim devem temer. A Boa Notícia de Deus, que Jesus encarna e anuncia, é segura e estável apenas para quem, como Jesus, põe nele a sua confiança e tem nele o seu escudo. O Reino de Deus (a nova humanidade, os novos céus e a nova terra) é mais seguro e estável que o templo, mais que o firmamento, mais que os alicerces da terra. Deus ama o direito e a justiça e defende os pobres e indefesos: essa é a Palavra que nos dá alento e que jamais passará.

 

Meditação:

§  Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção à metáfora dos brotos de figueira

§  Você mantém a esperança em um país, o mundo e uma Igreja melhores, ou já “entregou os pontos” e não crê em mais nada?

§  Você consegue identificar pequenos sinais da manifestação certa e segura do Reino de Deus em nosso meio?

§  Onde você encontra as forças que necessita para continuar lutando e sonhando em meio às dificuldades?


quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (182)

182 | Ano A | Festa de Santo André, Apóstolo | Mateus 4,18-22

30/11/2023

Na última semana do tempo comum, somos convidados a contemplar a figura do Apóstolo Santo André, um dos Doze, chamados e enviados pessoalmente por Jesus, no início do seu ministério na Galileia. Seu nome, de origem grega, significa “homem”, masculino, viril. Contemplemos esta figura basilar da comunidade cristã no horizonte do fim do ano litúrgico.

André e seu irmão Simão Pedro foram discípulos de João Batista. Foi ele que, segundo o evangelista João, no deserto e diante do povo faminto, indicou a Jesus o menino que levava cinco pães e dois peixes. Foi também ele que, junto com Filipe, apresentou Jesus aos pagãos que desejavam conhecê-lo, depois da ressurreição de Lázaro e um pouco antes da última ceia e do lava-pés.

São João Crisóstomo: “Tendo André permanecido com Jesus e aprendido com ele, não escondeu o tesouro só para si mas correu à procura do seu irmão para fazê-lo participar da sua descoberta. Demonstra assim o valor do Mestre que o persuadira, como também o zelo daqueles que, desde o princípio, já estavam atentos”. Eis o dinamismo fundamental da missão cristã.

No evangelho que ilumina esta festa memorável, André e Pedro, sendo atentos por profissão – eram experientes pescadores! – reconhecem naquele pregador itinerante que vinha de Nazaré a promissora novidade que as sagradas escrituras anunciavam. Eles deixaram imediatamente seus barcos e suas redes e seguiram Jesus, pois se descortinou diante deles uma missão intransferível e inadiável.

Eles descobriram que a nobreza de um pescador está em se lançar nos mares do mundo para atrair, reunir e inserir as pessoas no Reino de Deus. Como o mar, que se apresenta calmo ou revolto, convidativo ou assustador, o campo da missão tem seus desafios, possibilidades e riscos de fracasso. Mas eles não esboçam sequer um sinal de dúvida diante do convite de Jesus. Que eles nos estimulem a conhecer, acolher e aderir a Jesus.

André e Pedro, assim como os outros apóstolos, não mudam apenas de ofício. Eles também mudam de endereço e constituem uma nova pertença: deixam o pai, passam a ter as estradas como endereço e, como nova família, a comunidade dos discípulos/as missionários/as.

 

Meditação:

§  Procure colocar-se na cena, à beira do lago, acompanhando os pescadores, visualizando Jesus que se aproxima e observa

§  Observe como Jesus demonstra apreço por aqueles quatro trabalhadores da pesca, e valoriza a experiência deles

§  Veja Jesus chamando-os, escute Jesus chamando você hoje, e procure dar sua resposta pronta e integral, como fizeram eles

terça-feira, 28 de novembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (181)

181 | Ano A | 34ª Semana Comum | Quarta-feira | Lucas 21,12-19

29/11/2023

É claro que a destruição do templo, anunciada por Jesus no trecho do evangelho que refletimos ontem, não tem nada de punição de Deus contra os judeus. É a miopia política e a cegueira religiosa das lideranças de Israel que levaram a esse desastre. Ao mesmo tempo, do ponto de vista do Evangelho de Deus, essa destruição é um acontecimento positivo, pois põe-se fim a um dos instrumentos que oprimiam o povo.

No episódio de hoje, Jesus fala das dificuldades e tribulações que os discípulos e discípulas enfrentarão no futuro, as mesmas que ele teve que enfrentar. São tribulações que vêm de fora, não exatamente dos pagãos, mas do próprio judaísmo, que eles professaram e ao qual pertenceram honestamente. Mas vêm também de dentro das famílias de origem e das comunidades cristãs. Jesus e o evangelista são tremendamente realistas também nisso.

Parece que Jesus sabe por experiência que, no fim, tudo ficará mais difícil. Mas é exatamente para estas situações que Jesus nos prepara. Ele fala disso desde o início da formação dos discípulos e discípulas. Ele nos promete e nos dará seu Espírito, que é o Espírito do Pai, para que ele sustente no testemunho, e nos ajudará a lidar com a falta de fé das comunidades e com suas divisões.

No texto que estamos refletindo, para falar das perseguições e tensões que enfrentaremos, Jesus recorre a imagens de conflitos étnicos, culturais, políticos, para acontecimentos naturais e até para questões de saúde. Ele fala também de perseguições por parte da própria família, pois o Reino de Deus põe em questão todas as nossas relações. A oposição pode vir dos nossos círculos de relações mais íntimas.

Entretanto, Jesus fala disso para que estejamos prevenidos/as, para que possamos caminhar destemidos/as, com o olhar fixo nele, a testemunha fiel, o profeta perseguido, a pedra descartada que se tornou pedra fundamental. Nossa incolumidade está garantida pelo Pai, que se interessa até pelos cabelos dos seus escolhidos e escolhidas. Precisamos confiar nele, mas sem relaxamento e improviso. Perseverar e ser um sinal de contraste traz seus frutos, e é nossa única possibilidade de salvação.

 

Meditação:

§  Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção às comparações misteriosas, mesmo que assustem

§  Você consegue ver no mundo de hoje sinais de intolerância e perseguição aos cristãos e outras pessoas de boa vontade?

§  Onde você busca conforto quando lhe sobrevém dificuldades e tribulações de qualquer ordem?

§  Como você trata as divisões ideológicas entre você e seus familiares e amigos, entre diferentes correntes políticas?

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (180)

180 | Ano A | 34ª Semana Comum | Terça-feira | Lucas 21,5-11

28/11/2023

No trecho do evangelho que lemos e meditamos ontem, Jesus denunciava o modo descarado como o templo e os doutores da lei exploravam os pobres, especialmente através do dízimo e das doações. No episódio que estamos meditando hoje, na última semana do tempo comum, Jesus continua criticando o templo, e afirma que ele não é mais o lugar de Deus.

É importante levar em conta que o templo de Jerusalém tem pouco a ver com os templos de hoje, como a Basílica de São Pedro (Roma), a Basílica de Nossa Senhora Aparecida (São Paulo) ou o Santuário do Divino Pai Eterno (Trindade). No tempo de Jesus, o templo de Jerusalém era um símbolo da identidade nacional, o banco central dos judeus e o lugar onde se reunia o tribunal do Sinédrio. Em suma, era uma espécie de praça dos três poderes.

Jesus havia dito que, não obstante sua origem e sua história, o templo deixara de ser um lugar de culto e um espaço respeitado como asilo, e se tornara uma espelunca de rapinadores. Mesmo assim, a grandiosidade do edifício, a riqueza da sua decoração, o movimento intenso de fiéis que ele atraía, o vultoso comércio que girava em torno dele, causava forte impressão no povo. Dava-lhe um caráter de estabilidade, de poder e de relevância.

Como já sabemos, Jesus não se deixa impressionar por tudo isso. Ele tem a convicção de que Deus fora expulso de lá fazia tempo. Por mais que, mesmo que ele parecesse sólido e indispensável, viria a ser destruído, e não sobraria nada daquele edifício imponente. E isso não seria ruim para o povo, mas uma libertação, o fim de uma época, uma reviravolta desejada por Deus.

Mas não adianta gastar tempo calculando quando isso deverá acontecer, e quais os sinais que o anunciarão. O importante é não se apavorar, pois trata-se da destruição das estruturas de opressão. Alarmistas e falsos messias existirão sempre. Mas não há lugar também para uma espera passiva, sem fazer nada. Jesus e a comunidade dos discípulos substituem o templo. Onde dois ou três se reúnem em seu nome e para prosseguir o que ele fez, Deus está ali. Deus está no calvário, entre os crucificados, e nas encruzilhadas, entre os pobres e lutadores. Essa é a boa notícia.

 

Meditação:

§  Releia com calma esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção às comparações misteriosas

§  Será que os cristãos levamos a sério de verdade que o templo de Deus somos nós, que ele está onde nos reunimos em seu nome?

§  Que atitudes e caminhos precisamos tomar para evitar as pregações que assustam e intimidam o povo?

§  Quais são hoje os sinais que anunciam de modo discreto ou impressionante que um Novo Tempo está despontando?

domingo, 26 de novembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (179)

179 | Ano A | 34ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas 21,1-4

27/11/2023

Uma interpretação muito comum dessa passagem sublinha e elogia a generosidade da viúva: ela simbolizaria a atitude de todos os pobres, daquelas pessoas que entregam tudo a Deus e vivem unicamente da confiança nele. Nisso se diferenciariam dos ricos, que o são porque só confiam em si mesmos e são pouco generosos no dar a Deus ou à Igreja.

Uma interpretação correta deve partir da constatação de que Jesus, em sua missão profética, nunca alimenta nenhuma simpatia pelo templo. Ele sabe muito bem que o templo se tornou meio para roubar e oprimir os pobres. Ele recém havia expulsado os vendedores que comercializavam no templo (19,45-48). E, minutos antes da cena de hoje, pedira cuidado com os doutores da lei, pois eles “devoram as casas das viúvas” e disfarçam o roubo com orações”.

Ao que parece, estando no templo, Jesus não se dedica à oração ou ao oferecimento de sacrifícios, mas observa atentamente o que fazem os ricos e que os pobres devem fazer no templo. E vê na cena de hoje exatamente um exemplo de como os doutores da lei, agindo no templo com aparente piedade e retidão, devoram os poucos bens das viúvas. Jesus não elogia a viúva, mas acusa os doutores da lei, que dirigem o templo!

Observando tanto a viúva como os ricos, Jesus afirma que, ofertando apenas duas moedas, a viúva depositou “mais do que todos”. Na verdade, pressionada pela pregação dos doutores da lei e dos fariseus, ela acabando entregando ao templo “tudo quanto tinha para viver”. Eis a razão da ira de Jesus contra essa gente hipócrita! As palavras de Jesus condenam a exploração da viúva.

Interpretando o Evangelho dessa forma não estamos traindo o ensino de Jesus. Ao contrário, desmascaramos as interpretações feitas sob medida para expropriar dos pobres e humilhados as migalhas que lhes restam, como ainda hoje costumam fazer muitos “apóstolos”, em nome de Jesus. Jesus e sua Igreja são boa notícia aos pobres, e não uma alfândega sem coração, direcionada ao enriquecimento de quem já tem muito.

 

Meditação:

§   Releia com paciência e demoradamente esta cena, assim como os versículos que a antecedem

§   As palavras de Jesus são um elogio para a viúva pobre ou uma acusação aos ricos e aos doutores da lei?

§   Você observa algo semelhante nas igrejas e templos de hoje?

§   O que fazer para que, ensinando que todos são iguais perante a lei, não escondamos a exploração dos mais fracos?

§   Como evitar que o dízimo, que é expressão de partilha responsável, se converta em uma prática injusta?

sábado, 25 de novembro de 2023

O Evangelho na vida cotidiana (178)

178 | Ano A | Solenidade de Cristo Rei | Mateus 25,31-46

26/11/2023

Esta parábola faz parte dos ‘discursos escatológicos’ de Jesus. Essa catequese de Jesus nos leva imaginariamente ao fim dos tempos para destacar o que realmente tem valor no percurso da história. É claro que, dizendo que o Filho do Homem virá ‘na sua glória’ e se sentará em seu ‘trono glorioso’, Mateus está comparando Jesus a um rei. A expressão ‘Senhor’ também tem o mesmo sentido, pois esse era o apelativo com o qual o povo se dirigia aos chefes, reis e imperadores.

Esta parábola também aproxima Jesus da imagem do juiz. “Todos os povos serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.” Julgar significa aqui discernir o verdadeiro valor das ações concretas das pessoas, separadas em dois grupos, a partir daquilo que fizeram, e não a partir dos títulos ou das meras intenções. Mas é interessante perceber que, mesmo no papel de juiz, Jesus age como pastor.  Por isso, a solenidade de Cristo Rei vai de mãos dadas com a imagem do Bom Pastor, de Jesus servidor da humanidade.

Não podemos esquecer que Jesus decidiu sentar-se à mesa como conviva dos pecadores, e não como juiz na mesa de um tribunal. Sua vida comprova que ele foi ao encontro dos marginalizados e assumiu a causa deles. Não os esperou sentado na cadeira dos juízes! João Batista o anuncia como ‘cordeiro de Deus’, como aquele que dá a vida em resgate por muitos. E no confronto com as autoridades do seu tempo e com as ambições de poder dos próprios discípulos, o próprio Jesus declara: “Eu estou no meio de vocês como quem está servindo” (Lc 22,27). Celebrar Cristo como Rei do Universo significa exaltar sobremaneira a figura e a missão daqueles que servem.

O mais importante, porém, está um pouco escondido nessa instigante parábola. Diante da pergunta sobre quando o servimos, ele responde: “Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram...” Jesus é filho da humanidade, irmão dos homens e mulheres mais necessitados, irmão daqueles que passam fome e sede, dos migrantes e doentes, dos pobres e presidiários. Um cristão não pode passar ao largo das necessidades do próximo, pois estaria deixando de lado o próprio Cristo.

 

Meditação:

§  Retome esta parábola dramática, insira-se entre os personagens, interaja com eles

§  Escute atentamente as perguntas dos dois grupos de personagens e as palavras do juiz

§  Em qual dos dois grupos você pode se situar, honestamente? Quais suas atitudes e ações que justificam essa identificação?

§  Como evitar a identificação de Jesus com as autoridades políticas de hoje?

O Evangelho dominical (Pagola) - 26.11.2023

UM JULGAMENTO MUITO ESTRANHO

As fontes não admitem dúvidas. Jesus vive voltado para aqueles que necessitam de ajuda. É incapaz de passar ao lado. Nenhum sofrimento lhe é estranho. Identifica-se com os mais pequenos e desamparados, e faz por eles tudo o que pode. Para ele, a compaixão vem em primeiro lugar. Esse é o único modo de nos parecermos com Deus: «Sejam compassivos como o vosso Pai é compassivo».

Não nos deve surpreender que, ao falar do Juízo Final, Jesus apresente a compaixão como o critério último e decisivo que julgará as nossas vidas e a nossa identificação com Ele. Como nos surpreenderá que se apresente identificado com todos os pobres e miseráveis da história?

Segundo o relato do evangelista Mateus, todas as nações comparecem ante do Filho do homem, isto é, diante de Jesus, o compassivo. Não se faz nenhuma diferença entre povo escolhido e povos pagãos. Nada se diz das diferentes religiões e cultos. Fala-se de algo muito humano e que todos entendem: o que fizemos com aqueles que viveram sofrendo ao nosso lado?

O evangelista não se detém propriamente a descrever os detalhes de um julgamento. O que destaca é um duplo diálogo que lança uma luz imensa sobre o nosso presente e nos abre os olhos para ver que, definitivamente, há duas formas de reagir ante os que sofrem: compadecemo-nos e ajudamos, ou nos desligamos e os abandonemos.

Aquele que fala é um juiz que se identifica com todos os pobres e necessitados: «Cada vez que ajudaste um destes meus pequenos irmãos, fizeste-o a mim». Aqueles que se aproximaram para ajudar alguém necessitado, aproximaram dele. Por isso devem estar junto dele no reino: «Vinde, benditos de meu Pai».

Depois, o Juiz dirige-se àqueles que viveram sem compaixão: «Cada vez que não ajudaste a um destes pequeninos, deixaste de o fazer comigo». Quem se afastou dos que sofrem, afastou-se de Jesus. É lógico que agora lhe diga: «Afastem-se de mim». Sigam o vosso caminho.

O destino da nossa vida está sendo jogado agora mesmo. Não há que esperar por nenhum julgamento final. Agora estamos a aproximar-nos ou afastar-nos daqueles que sofrem. Agora estamos a aproximar-nos ou afastar-nos de Cristo. Agora estamos a decidir a nossa vida.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez 

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (177)

177 | Ano A | 33ª Semana Comum | Sábado | Lucas 20,27-40

25/11/2023

Jesus está em Jerusalém, no templo, onde acaba de causar um rebuliço. Lá já enfrentara os chefes dos sacerdotes, acusara-os através de uma parábola e desmascarara os espiões deles. Agora, são os saduceus que pretendem enredar Jesus com uma questão doutrinal, bem ao gosto deles. Em Lucas, esta é a terceira controvérsia dos saduceus com Jesus.

Os saduceus formavam um grupo teologicamente conservador, agrupando basicamente a elite sacerdotal e as famílias aristocráticas. Eles só reconheciam a validade das leis e tradições escritas nos cinco primeiros livros da bíblia, e não consideravam as tradições posteriores ou orais, que são as que testemunham o desenvolvimento da fé na ressurreição.

Por isso, a questão que eles apresentam a Jesus, baseada nas tradições e leis do levirato (cf. Dt 25,5), é uma estratégia para ridicularizar a fé na ressurreição dos mortos, apregoada pelos fariseus e corroborada por Jesus. A lei do levirato existe, e se presta a assegurar a descendência masculina, mas o caso apresentado é totalmente imaginário e inverossímil.

A resposta de Jesus ao questionamento segue dois caminhos. O primeiro, é um apelo à lógica dos tempos finais, que é da lógica diferente do tempo presente. Quando o ser humano chega à plena comunhão com Deus, não tem mais necessidade da procriação, nem morre. É isso que significa ser igual aos anjos: estar livre da necessidade de procriar e da lei da morte.

A segunda linha de argumento de Jesus é chamar a atenção para as próprias escrituras aceitas pelos saduceus. Jesus cita as palavras de Moisés, que fala de Deus como o Deus dos seus antepassados Abraão, Isaac e Jacó. Se eles estivessem mortos, Deus seria um Deus dos mortos, ou um Deus morto.

Mas as duas linhas de argumento de Jesus têm um só fundamento: a natureza ou identidade de Deus. A fé na ressurreição é uma aposta no poder de Deus, que cria e recria. A ressurreição não é uma possibilidade inscrita no ser humano ou uma questão de biologia ou de antropologia, mas algo baseado no poder de Deus, ou uma questão teológica.

 

Meditação:

§  Retome esta cena tentando fazer-se presente nela, acompanhando a artimanha dos saduceus e a resposta serena de Jesus

§  Qual é o fundamento e quais são as consequências da nossa fé na ressurreição dos mortos, que faz parte do nosso credo?

§  Será que não alimentamos uma visão ingênua da ressurreição, como se tudo continuasse igual ao presente, como se os cadáveres revivessem?

§  Em que medida a nossa fé na ressurreição é uma força que nos leva a arriscar generosamente nossa vida para que todos tenham vida?

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (176)

176 | Ano A | 33ª Semana Comum | Sexta-feira | Lucas 19,45-48

24/11/2023

Com o coração carregado de boas recordações e lições ensinadas na longa caminhada de subida da Galileia a Jerusalém, ao longo da qual esparramou sinais da compaixão libertadora do Pai, Jesus contemplara, fazia pouco, a cidade de Jerusalém, cantada em prosa e verso, idealizada como refúgio dos pobres. Entrando nela, Jesus vai diretamente ao templo, que já conhecia.

De fato, Jesus já estivera no templo, depois da apresentação e num primeiro confronto, quando tinha apenas doze anos. E lá provavelmente voltara tantas vezes, em alegre peregrinação com seus vizinhos, familiares e amigos. Jesus sabia muito bem que aquele espaço imaginado e celebrado como lugar de memória e utopia, como espaço de asilo seguro dos perseguidos, já não era mais o mesmo e havia sido transformado em espaço de dominação.

No período das festas pascais, a cidade fervilhava ainda mais, e as moedas caíam e tilintavam em abundante quantidade nas bolsas das famílias sacerdotais, que controlavam o comércio de animais para os sacrifícios de louvor e de purificação. Ali se reuniam e agiam com mão de fero as lideranças religiosas e nacionais. O templo se parecia mais com um “bunker” de rapinadores que com uma porta do céu.

Então, Jesus toma uma medida corajosa e profética para desvincular a imagem de Deus dos negócios que exploram as pessoas mais frágeis. Ele toma posse do templo e o resgata como lugar de encontro e fermentação da união solidária do que restara das “tribos de Javé”. Um pouco mais tarde, ali se travará o confronto “crucial” entre o Deus da vida e o deus dinheiro e poder, já antecipado 20 anos atrás, quando resolvera permanecer uns dias ali.

Naqueles breves e tensos momentos vividos no templo, Jesus exercita sua missão de mestre e profeta, ensinando e advertindo. Ali, como dantes, ele se opõe de forma clara e corajosa ao culto formal e exterior e ao uso da religião para oprimir os pobres e entesourar vantagens pessoais. Depois de “fazer a limpeza” do templo, jesus ensina a pequena multidão que o cerca.

Jesus reivindica um templo que seja lugar de encontro com Deus e com os irmãos. E, como diz João no seu evangelho, o templo de Deus é o próprio corpo de Jesus, e, por extensão, o corpo de cada ser humano.

 

Meditação:

§  Retome esta cena tentando fazer-se presente nela, acompanhando o gesto e as palavras de Jesus

§  Observe a reação dos comerciantes e dos sacerdotes e mestres da lei, membros da classe dirigente do templo

§  O que este gesto e estas palavras de Jesus significam para nossas comunidades e templos? O que nos ensinam?

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (175)

175 | Ano A | 33ª Semana Comum | Quinta-feira | Lucas 19,41-44

23/11/2023

Depois de uma longa e frutuosa viagem da Galileia até Jerusalém, durante a qual manifestou a novidade libertadora do Reino de Deus e formou seus discípulos na vivência dessa novidade, Jesus chega às portas da cidade de Jerusalém. Na entrada, no Monte das Oliveiras, é saudado e aclamado pelos seus discípulos como Messias esperado, sob o olhar vigilante e o semblante estupefato dos fariseus.

Enquanto as lideranças olham com suspeita para Jesus e seus discípulos e discípulas, Jesus contempla, comovido, a cidade que abriga o templo para onde acorrem as “tribos de Javé”, e onde deveria estar a “sede da justiça”. Ele percebe que, por causa da cegueira religiosa e da miopia política dos seus responsáveis, Jerusalém já não é mais o “caminho da paz” e o refúgio dos pobres. Por isso, seu olhar é turvado pelas lágrimas.

Mas o desabafo comovido de Jesus ressoa como lamento e advertência profética à espera de conversão que como ameaça que como ameaça. Em sua lucidez, ele é capaz de perceber a destruição que se desenha sobre a cidade amada e cantada, e a ruína que se avizinha dos seus habitantes. Tudo provocado pela cegueira religiosa e pela miopia política, e não como destino inexorável resultado da ação de um Deus que se compraz em punir.

Como haviam reconhecido com surpresa muitas pessoas que tiveram a venturosa oportunidade de encontrar Jesus no seu caminho de subida a Jerusalém, nele é Deus que visita e salva seu povo. Necessário se faz levar a sério essa visita, abrir-lhe as portas da vida e da cidade, não desperdiçar a “hora” de Deus. O tempo de conversão é agora! Hoje é o dia da salvação! Não podemos adiar nossa adesão, e não há como desperdiçar a oportunidade.

Os dois últimos versículos não são uma ameaça, como pode parecer aos desavisados. Lucas escreve seu evangelho na década 80 da era cristã, depois da destruição de Jerusalém pelo império romano. O que Lucas faz é “colocar na boca de Jesus” uma interpretação teológica e retroativa desse acontecimento: ele decorre da “cabeça dura” dos dirigentes do judaísmo, que, aferrados aos seus preconceitos, fecharam-se à novidade de Jesus.

 

Meditação:

§  Retome esta cena inserindo-se nela, com os discípulos/as e com Jesus

§  Observe as reações do seu rosto, o tom carregado de emoção do seu lamento, as palavras e expressões que usa

§  Procure o que Jesus está dizendo hoje às pessoas que dirigem as Igrejas que falam em nome dele, e os que dirigem nosso país

§  E se Jesus se dirigisse à sua família e à sua comunidade, qual seria o tom das suas palavras e o que ele diria?