sexta-feira, 31 de julho de 2020

Leitura Orante do Evangelho (01.08.2020)


Dia 01 de Agosto | Sábado | 17ª Semana do Tempo Comum
Evangelho segundo Mateus (14,1-12)

A Leitura Orante da Palavra de Deus é um exercício para iluminar e fecundar nossa vida cotidiana com a Palavra de Deus. Pode ser feita individualmente ou em família, em grupo ou em comunidade, inclusive através das redes sociais. Basta combinar com os amigos a mídia, a forma e o horário.

Em tempos de restrições à convivência e movimentação social, imposição que vem se prolongando mais do que esperávamos mas que é necessária, por respeito e cuidado com nosso irmãos e irmãs, a leitura orante é um modo de ir além da simples assistência de celebrações virtuais e de impedir que este seja um tempo pesado e estéril.

Os textos propostos e desenvolvidos aqui são aqueles indicados pela Igreja para a liturgia diária. Mas os grupos organizados podem também escolher outros textos, desde que tenham uma sequência, se evite ficar apenas com os textos que agradam mais e se proponha um roteiro.

Que a Palavra de Deus encontre em cada um de nós um terreno fecundo, e, mesmo nesses tempos inesperadamente difíceis – pela pandemia e pela crise generalizada que vivemos em nosso país – produza bons frutos.

(Missionários da Sagrada Família
https://misafala.org/ | Passo Fundo/RS)

(1)   Coloque-se em atitude de oração
·      Escolha um momento adequado e tranquilo/a para a oração
·      Escolha o lugar no qual você se sinta bem
·      Busque uma posição corporal que lhe ajude a concentrar-se
·      Acenda uma vela e tome a bíblia em suas mãos
·      Tome consciência de si mesmo/a e do momento que vivemos
·      Faça silêncio interior e ative o desejo de ouvir a Palavra de Deus
·      Reze, ouvindo e repetindo o mantra: Que arda como brasa tua Palavra; nos renove esta chama que a boca proclama! (Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=ushj5sKNvUE)

(2)   Leia o texto da Palavra de Deus
·      Leia com toda a atenção o texto de Mateus 14,1-12
·      Leia o texto em voz alta (se possível)
·      Releia o texto uma ou mais vezes (se necessário)
·      Mateus faz uma espécie de parêntesis na sua narração da ação e da pregação de Jesus para apresentar o desfecho da missão profética de João Batista
·      A memória do martírio de João Batista é uma espécie de antecipação do que está sendo tramado contra Jesus e poderá se abater também sobre seus discípulos/as
·      Aquele que veio preparar os caminhos do Messias, comia pouco e não bebia, teve seu martírio tramado numa festa da elite
·      Herodes era um príncipe de pouca importância, violento e medroso, preocupado em agradar o imperador de Roma
·      Feche a bíblia e responda: O que este trecho da Palavra de Deus diz em si mesmo?

(3)   Medite a Palavra de Deus
·      Reconstrua o cenário do texto, incluindo a si mesmo/a na cena
·      Leia atentamente esse relato, e perceba o papel de cada personagem na execução de João Batista
·      O profeta do Jordão não recuou diante das ameaças e riscos, e manteve sua pregação e suas denúncias
·      Recorde o nome de profetas e profetizas que marcaram a vida dos cristãos nos últimos tempos
·      Deixe-se estimular e motivar pelo testemunho de João Batista e dos profetas e profetizas que você recordou
·      Procure perceber: O que a Palavra de Deus diz a você hoje?
·      Saboreie interiormente aquilo que mais ressoa ou atrai você

(4)   Reze com o texto lido e meditado
·      Tome consciência de que este texto é Palavra de Deus
·      Recorde o nome de pessoas, grupos e movimentos quer hoje correm riscos de vida por causa de sua atuação pela justiça e pela vida dos mais pobres e marginalizados
·      Deixe-se inspirar por eles e expresse sua prece de súplica ou de agradecimento
·      Depois de escutar atentamente, agora é sua vez de falar
·      Não mude de assunto, pois sua palavra é sua resposta a Deus
·      Permita que o próprio Deus dirija a sua oração, a sua resposta
·      Não se preocupe com raciocínios e frases bem articuladas
·      Procure perceber o que a Palavra de Deus lhe faz dizer a Deus?

(5)   Contemple a vida à luz da Palavra
·      Procure contemplar a realidade do mundo com o olhar de Deus
·      Busque meios para colocar em prática o que Deus lhe fala
·      Perceba o que você precisa mudar a partir dessa meditação
·      Como ajudar nossas comunidades e nossas Igrejas a não se acovardarem diante das ameaças das elites e podres poderes?
·      Que iniciativas podemos tomar para apoiar as pessoas e grupos ameaçados (como os bispos que estão sendo desacreditados por terem se manifestado criticamente sobre o Governo Federal)?
·      Responda: O que Deus está pedindo que eu mude ou faça?
·      Assuma um compromisso pessoal de conversão e mudança

(6)   Retorne à vida cotidiana
·      Se considerar conveniente, leia, na página seguinte, o subsídio proposto para ajudar na compreensão do texto lido
·      Recite o Pai Nosso e a Ave Maria, ou faça uma oração pessoal que resuma a experiência de oração desse dia.
·      Recite ou cante a invocação: Jesus, Maria e José: acolhei-nos, iluminai-nos e ajudai-nos!
·      Ouça e cante o refrão: Eu sei, eu sei, eu sei em quem acreditei! Eu sei! Eu sei em quem acreditei! (Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=trZaqZnfNpY)
·      Apague a vela, guarde a Bíblia e conclua seu tempo de oração
SUBSÍDIO
Embora possa parecer, a notícia detalhada sobre a trama que levou o profeta João Batista à morte não é uma espécie de parênteses sem muita relevância na apresentação da missão de Jesus. O episódio é uma antecipação daquela que seria a sorte de Jesus e um alerta aos discípulos/as: eles precisam ser profeticamente lúcidos e corajosos, não fechar os olhos frente à prepotência e não ter medo.
Herodes é judeu que exerce um poder limitado, concedido pelo imperador de Roma e a serviço dele. É um príncipe pequeno e insignificante, que entra em colisão com o Reino de Deus e age com prepotência contra seu irmão, se apossando de sua esposa. É contra essa prepotência, e contra outros desmandos e injustiças que reinavam na sociedade e no judaísmo, que João Batista se levanta.
Mateus deixa claro que Herodes desejava eliminar o incômodo profeta. Ele temia que sua pregação acabasse suscitando uma revolta popular, e, dada a popularidade de João Batista, tinha que esperar a ocasião perfeita, para não perder completamente o apoio do povo. E a ocasião se lhe oferece numa festa que reúne a elite masculina e chama as mulheres como parte da diversão e das orgias. Dançar no meio dos homens significava insinuar-se o oferecer serviços sexuais.
E João Batista, que não come nem bebe, tem seu destino definido numa festa com comida, bebida e dança. Atendendo ao pedido de sua mulher, Herodes valoriza mais os códigos de honra e de família que os mandamentos da religião que professa e impedem de matar. Ele se aproveita de tudo isso, inclusive do pedido da mulher, para eliminar um crítico incômodo e assegurar a benevolência do império.
Jesus é informado do desfecho da vida do profeta e amigo, mas isso não o intimida nem esmorece sua fidelidade no anúncio e na construção do Reino de Deus.
 (Itacir Brassiani msf)

quinta-feira, 30 de julho de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 02.08.2020


CRIAR FRATERNIDADE

Um provérbio diz que «quando o dedo do profeta aponta para a lua, o tolo olha para o dedo». Algo semelhante poderia ser dito de nós quando nos fixamos exclusivamente no caráter portentoso dos milagres de Jesus, sem alcançar a mensagem que eles contêm.
Jesus não foi um milagreiro dedicado a realizar prodígios de propaganda. Os Seus milagres são sinais que abrem uma brecha neste mundo de pecado e injustiças e apontam já para uma realidade nova, meta final do ser humano.
Concretamente, o milagre da multiplicação dos pães convida-nos a descobrir que o projeto de Jesus é alimentar os homens e reuni-los numa fraternidade real na qual saibam como partilhar o Seu pão e o Seu peixe como irmãos e irmãs.
Para o cristão, a fraternidade não é uma exigência ao lado de tantas outras. É a única maneira de construir, entre os homens, o reino do Pai. Essa fraternidade pode ser mal entendida. Com demasiada frequência confundimos com «um egoísmo vivo que sabe comportar-se muito decentemente» (Karl Rahner).
Pensamos que amamos o nosso próximo simplesmente porque não lhe fazemos nada especialmente mau, embora mais tarde vivamos num um horizonte mesquinho e egoísta, despreocupados de todos, movidos apenas pelos nossos próprios interesses.
Por ser sacramento de fraternidade, a Igreja é chamada a promover, em cada momento da história, novas formas de estreita fraternidade entre os homens. Os crentes devem aprender a viver com um estilo mais fraterno, escutando as novas necessidades do homem de hoje.
A luta pelo desarmamento, a proteção do meio ambiente, a solidariedade com os famintos, a partilha com os desempregados em consequências da crise econômica, a ajuda aos drogados, a preocupação com os idosos sozinhos e esquecidos são outras tantas exigências para quem se sente irmão e quer multiplicar para todos o pão que as pessoas necessitam para viver.
O relato do evangelho lembra-nos que não podemos comer tranquilos o nosso pão e o nosso peixe enquanto junto a nós há homens e mulheres ameaçados por tantas fomes. Os que vivem tranquilos e satisfeitos devem ouvir as palavras de Jesus: «Dai-lhes vós de comer».
José Antonio Pagola
(Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez)

Leitura Orante do Evangelho (31.07.2020)


Dia 31 de julho | Sexta-feira | 17ª Semana do Tempo Comum
Evangelho segundo Mateus (13,54-58)

A Leitura Orante da Palavra de Deus é um exercício para iluminar e fecundar nossa vida cotidiana com a Palavra de Deus. Pode ser feita individualmente ou em família, em grupo ou em comunidade, inclusive através das redes sociais. Basta combinar com os amigos a mídia, a forma e o horário.

Em tempos de restrições à convivência e movimentação social, imposição que vem se prolongando mais do que esperávamos mas que é necessária, por respeito e cuidado com nosso irmãos e irmãs, a leitura orante é um modo de ir além da simples assistência de celebrações virtuais e de impedir que este seja um tempo pesado e estéril.

Os textos propostos e desenvolvidos aqui são aqueles indicados pela Igreja para a liturgia diária. Mas os grupos organizados podem também escolher outros textos, desde que tenham uma sequência, se evite ficar apenas com os textos que agradam mais e se proponha um roteiro.

Que a Palavra de Deus encontre em cada um de nós um terreno fecundo, e, mesmo nesses tempos inesperadamente difíceis – pela pandemia e pela crise generalizada que vivemos em nosso país – produza bons frutos.

(Missionários da Sagrada Família
https://misafala.org/ | Passo Fundo/RS)

(1)   Coloque-se em atitude de oração
·      Escolha um momento adequado e tranquilo/a para a oração
·      Escolha o lugar no qual você se sinta bem
·      Busque uma posição corporal que lhe ajude a concentrar-se
·      Acenda uma vela e tome a bíblia em suas mãos
·      Tome consciência de si mesmo/a e do momento que vivemos
·      Faça silêncio interior e ative o desejo de ouvir a Palavra de Deus
·      Reze, ouvindo e repetindo o mantra: Que arda como brasa tua Palavra; nos renove esta chama que a boca proclama! (Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=ushj5sKNvUE)

(2)   Leia o texto da Palavra de Deus
·      Leia com toda a atenção o texto de Mateus 13,54-58
·      Leia o texto em voz alta (se possível)
·      Releia o texto uma ou mais vezes (se necessário)
·      Nos capítulos 11 a 16, Mateus nos apresenta vários episódios que evidenciam a dificuldade que diferentes grupos de pessoas tem de reconhecer a identidade messiânica de Jesus
·      A mesma dificuldade aparece em relação à compreensão do mistério do Reino de Deus, do qual Jesus é o agente
·      No episódio de hoje, a dificuldade se manifesta nos próprios conterrâneos de Jesus, que conhecem bem sua origem, e, o que é impressionante, no seu próprio círculo familiar
·      Seus conhecidos mais próximos não conseguem vê-lo fora do estreito horizonte de sua origem de sangue e da profissão desprezível do seu pai
·      Feche a bíblia e responda: O que este trecho da Palavra de Deus diz em si mesmo?

(3)   Medite a Palavra de Deus
·      Reconstrua o cenário do texto, incluindo a si mesmo/a na cena
·      Em que medida, e em que ocasiões, você também foi vítima do preconceito das pessoas mais próximas e conhecidas?
·      Não aconteceu de você se escandalizar diante da Palavra ou da ação de Jesus? Nestas circunstâncias, o que você faz?
·      Como Jesus Cristo e seu Evangelho podem nos ajudar a não reduzir as pessoas aos seus limites, aos seus erros, à profissão que exerce ou à origem familiar?
·      Será que a mentalidade fechada e o preconceito às vezes também não nos impedem de crer em processos de mudança das pessoas e da situação social?
·      Procure perceber: O que a Palavra de Deus diz a você hoje?
·      Saboreie interiormente aquilo que mais ressoa ou atrai você

(4)   Reze com o texto lido e meditado
·      Tome consciência de que este texto é Palavra de Deus
·      Retome mentalmente e imaginativamente a cena, acompanhando Jesus no retorno à sua terra natal
·      A partir de sua experiência de fé, procure ensaiar respostas aos questionamentos que seu povo se faz
·      Recorde pessoas que, atualmente, são vítimas de preconceito que as impedem de desabrochar e amadurecer para a vida
·      Depois de escutar atentamente, agora é sua vez de falar
·      Não mude de assunto, pois sua palavra é sua resposta a Deus
·      Permita que o próprio Deus dirija a sua oração, a sua resposta
·      Não se preocupe com raciocínios e frases bem articuladas
·      Procure perceber o que a Palavra de Deus lhe faz dizer a Deus?

(5)   Contemple a vida à luz da Palavra
·      Procure contemplar a realidade do mundo com o olhar de Deus
·      Busque meios para colocar em prática o que Deus lhe fala
·      Perceba o que você precisa mudar a partir dessa meditação
·      Responda: O que Deus está pedindo que eu mude ou faça?
·      Assuma um compromisso pessoal de conversão e mudança

(6)   Retorne à vida cotidiana
·      Se considerar conveniente, leia, na página seguinte, o subsídio proposto para ajudar na compreensão do texto lido
·      Recite o Pai Nosso e a Ave Maria, ou faça uma oração pessoal que resuma a experiência de oração desse dia.
·      Recite ou cante a invocação: Jesus, Maria e José: acolhei-nos, iluminai-nos e ajudai-nos!
·      Ouça e cante o refrão: Eu sei, eu sei, eu sei em quem acreditei! Eu sei! Eu sei em quem acreditei! (Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=trZaqZnfNpY)
·      Apague a vela, guarde a Bíblia e conclua seu tempo de oração

SUBSÍDIO

Depois de uma longa seção dedicada ao anúncio do Reino de Deus às multidões em forma de parábolas, e de algumas catequeses especiais dirigidas aos discípulos/as, Jesus volta à sua terra e vai à sinagoga de Nazaré, onde seus amigos e familiares costumavam se reunir. A notícia da sua ação transformadora (milagres), assim como a clareza e pertinência do seu ensino, impressionaram a todos/as.
Mas também nessa ocasião e nesse episódio emerge a dificuldade que os diversos grupos de interlocutores tem de reconhecer na ação e no ensino libertários de Jesus a ação de Deus. Essa dificuldade para discernir a identidade de Jesus é abordada por Mateus do capítulo 11 até 16 da sua versão do Evangelho, mas o que surpreende é que ela se estende aos seus conterrâneos e familiares.
Fica claro que seus familiares e conhecidos de Nazaré, mesmo se encantando e admirando com seu ensino e com o poder transformador da sua compaixão, eles tropeçam nos preconceitos próprios das pequenas cidades e das pessoas que o conhecem de perto. Começam a se perguntar onde ele foi buscar essa sabedoria e esse poder se tem uma origem humilde e não pertence a nenhuma elite cultural ou religiosa. Não conseguem defini-lo fora do seu contexto familiar.
Para o senso comum, ter origem humilde e ser filho de carpinteiro nega a possibilidade de ser o agente ungido e enviado por Deus. A sinagoga acaba sendo o que aparece no meio do trigo, e a querida Nazaré acaba se comportando como Corazim, Betsaida e Cafarnaum, fechando-se à novidade escandalosa e provocativa do Reino de Deus.
Jesus interpreta a rejeição dos seus familiares e conterrâneos como a histórica resistência e perseguição sofrida por todos os profetas. A notória falta de fé impede a ação salvífica de Jesus na sua própria cidade.
 (Itacir Brassiani msf)

quarta-feira, 29 de julho de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | DÉCIMO-OITAVO DOMINGO | 02.08.2020


"Quando as cercas caírem no chão e as mesas se encherem de pão..."
Há um preceito que não está escrito na Constituição nem na Bíblia, mas é ensinado em lições, do berço à sepultura. Esta lei diz que “cada um deve viver pra si e Deus se ocupará de todos”. Uma variante afirma que quem “pode mais sempre chora menos”. Estes princípios são assimilados tranquilamente na arena política, no sistema econômico, e até no âmbito da religião. Deus acaba sendo uma espécie de avalista da ambição individual, tanto na dimensão social como econômica. Poucos se dão conta que isso contraria o Evangelho.
O Evangelho assinala que, depois de ter provocado escândalo na sua própria terra e de ter tomado conhecimento da prisão e do martírio de João Batista, Jesus parte para uma região deserta e afastada. Ele toma distância dos lugares onde o poder mostra mais sua ferocidade. Não quer entrar num jogo de cartas marcadas e assume conscientemente a margem. Sente necessidade de outros ares e de buscar inspiração em utopias mais divinamente enraizadas e mais humanamente concretizadas.
Sabendo disso, as multidões cansadas e abatidas deixam as cidades e seguem Jesus à pé. Têm a intuição de que é da periferia que pode nascer uma alternativa. Sabem que os centros de poder são como uma figueira estéril e estão pavimentados com o trabalho dos pobres e tintos de sangue inocente. Jesus vê a multidão e, movido pela compaixão, cura, emancipa e reinsere na sociedade muitas pessoas doentes e marginalizadas. Para ele, socorrer e libertar seu povo não é um apêndice da missão, mas sua própria razão de ser!
No fim da longa jornada, no entardecer das possibilidades de ajuda, os discípulos percebem a fome do povo, mas não conseguem vislumbrar solução para este drama a não ser dentro da lógica do império. Sem um plano alternativo, pedem que Jesus despeça a multidão para que cada se vire. Querem entregar os famintos às frias leis do mercado, bem ao estilo do “cada um pra si e Deus por todos”. A resposta de Jesus é direta, e sua proposta abate mortalmente tanto o espiritualismo escapista como o elitismo corrosivo dos discípulos.
“Eles não precisam ir embora. Vocês é que têm de lhes dar de comer.” Os discípulos reagem e tentam disfarçar o egoísmo elitista que os move sublinhando os exíguos recursos disponíveis frente a tão grande necessidade. O que representariam cinco pães e dois peixes para uma multidão de dez mil famintos? Mas está longe do pensamento de Jesus uma Igreja feita apenas de doutrina e de ritos religiosos! Nada tem a ver com ele uma comunidade que se compraz em lavar as mãos diante das tragédias que se abatem sobre o povo. Ele não tolera instituições que entregam seus membros à implacável lógica dos impérios! Ele sonha com o dia bonito em que “as cercas caírem do chão e as mesas se encherem de pão”, como diz a canção.
“Tragam isso aqui”, determina o Mestre. Ele sabe, e quer deixar bem claro a quem o segue, que a saída não é nem cada um pensar em pra si, nem considerar o povo faminto um simples objeto de caridade. Do ponto de vista de Jesus e do seu Evangelho, o povo é soberano e as autoridades religiosas e políticas devem estar a seu serviço. E é claro que não se trata de povos nacionais, mas do único povo de Deus, pois, para os cristãos, as nações modernas são realidades fictícias e, às vezes, violentas, cujos confins foram traçados com lanças e baionetas. Não é cristão um amor que se preocupa apenas com a vida dos compatriotas!
O alimento suficiente para saciar a multidão faminta aparece quando Jesus assume o protagonismo e os discípulos colaboram com ele. Se ele deixasse a solução às leis do mercado teríamos assistido à catástrofe de um povo, ao cinismo da religião e ao enriquecimento dos aproveitadores. Hoje, o cumprimento da ordem “deem vocês mesmos de comer” começa com a adoção de um estilo de vida sóbria pelos setores sociais e povos ricos e com a erradicação da exploração comercial dos países ricos sobre os pobres. Mas deve prosseguir na conquista da soberania alimentar dos povos e na denúncia dos sistemas econômicos injustos, que sempre encontram defensores e servidores, inclusive em nome do combate à corrupção.
Deus, pai justo e mãe compassiva! Tu queres que ninguém fique fora da festa da vida, e que nossa felicidade não seja o aumento da posse e do consumo de bens mas a redução dos desejos e necessidades. Suscita e sustenta em nós a mesma compaixão que moveu Jesus no cuidado aos doentes, na acolhida aos marginalizados, na libertação dos oprimidos e no socorro aos famintos. Ensina aos nossos ministros ordenados e às nossas comunidades a responsabilidade de ensaiar formas de vida mais sóbrias e solidárias, sem medo de, diante da fome que não pode esperar, repartir o pão com quem tem fome. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 55,1-3 | Salmo 144 (145)
Carta de Paulo aos Romanos 8,35-39 | Evangelho de São Mateus 14,13-21