quinta-feira, 30 de julho de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 02.08.2020


CRIAR FRATERNIDADE

Um provérbio diz que «quando o dedo do profeta aponta para a lua, o tolo olha para o dedo». Algo semelhante poderia ser dito de nós quando nos fixamos exclusivamente no caráter portentoso dos milagres de Jesus, sem alcançar a mensagem que eles contêm.
Jesus não foi um milagreiro dedicado a realizar prodígios de propaganda. Os Seus milagres são sinais que abrem uma brecha neste mundo de pecado e injustiças e apontam já para uma realidade nova, meta final do ser humano.
Concretamente, o milagre da multiplicação dos pães convida-nos a descobrir que o projeto de Jesus é alimentar os homens e reuni-los numa fraternidade real na qual saibam como partilhar o Seu pão e o Seu peixe como irmãos e irmãs.
Para o cristão, a fraternidade não é uma exigência ao lado de tantas outras. É a única maneira de construir, entre os homens, o reino do Pai. Essa fraternidade pode ser mal entendida. Com demasiada frequência confundimos com «um egoísmo vivo que sabe comportar-se muito decentemente» (Karl Rahner).
Pensamos que amamos o nosso próximo simplesmente porque não lhe fazemos nada especialmente mau, embora mais tarde vivamos num um horizonte mesquinho e egoísta, despreocupados de todos, movidos apenas pelos nossos próprios interesses.
Por ser sacramento de fraternidade, a Igreja é chamada a promover, em cada momento da história, novas formas de estreita fraternidade entre os homens. Os crentes devem aprender a viver com um estilo mais fraterno, escutando as novas necessidades do homem de hoje.
A luta pelo desarmamento, a proteção do meio ambiente, a solidariedade com os famintos, a partilha com os desempregados em consequências da crise econômica, a ajuda aos drogados, a preocupação com os idosos sozinhos e esquecidos são outras tantas exigências para quem se sente irmão e quer multiplicar para todos o pão que as pessoas necessitam para viver.
O relato do evangelho lembra-nos que não podemos comer tranquilos o nosso pão e o nosso peixe enquanto junto a nós há homens e mulheres ameaçados por tantas fomes. Os que vivem tranquilos e satisfeitos devem ouvir as palavras de Jesus: «Dai-lhes vós de comer».
José Antonio Pagola
(Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez)

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