quinta-feira, 31 de agosto de 2023

O Evangelho de cada dia (95)

Ano A | 21ª Semana Comum | Quinta-feira | Mateus 25,1-13

(01/09/2023)

Na meditação sobre o evangelho de ontem sublinhamos a condição dos cristãos no mundo: vigilantes e atentos para reconhecer os sinais da presença de Jesus Cristo; ativos e generosos no serviço aos irmãos e irmãs; sóbrios em relação à posse e uso de bens e expectantes em relação ao futuro.

Com esta parábola, Jesus continua sua insistência na preparação e na prontidão para acolher e promover o Reino de Deus, mesmo quando ele parece demorar. O caminho do discipulado tem um tempo indeterminado, um fim imprevisível e um desfecho desconhecido. Supõe ânimo e disposição para perseverar na luta até o fim.

A parábola das dez moças põe diante dos olhos da nossa imaginação dois grupos contrastantes de pessoas, ou duas atitudes contrastantes: o grupo das moças sensatas e prudentes; o grupo das moças desligadas e insensatas. Estes grupos representam todos/as os/as discípulos/as, homens e mulheres, de origem judia e de origem pagã. O foco da parábola são as moças, e não o noivo, que representa Jesus. Estranho é que a noiva não aparece...

Com o atraso do noivo para celebrar suas bodas, todas as dez moças dormem. Mas cinco delas, as moças sensatas, providenciam uma reserva de óleo. Estas representam o discipulado fiel, obediente e perseverante. As outras cinco são insensatas: ouvem o Evangelho e não o colocam em prática ou não o levam a sério. Com a demora ou a aparente insignificância dos sinais do Reino de Deus, o grupo das moças insensatas perde o foco e se perde no caminho. São como terreno ruim, no qual o Evangelho não consegue criar raízes nem frutificar. São falsas discípulas que Jesus não reconhece, enquanto que as sensatas são acolhidas na festa.

Portanto, a exortação de Jesus é que estejamos sempre prontos/as a encontrá-lo, reconhecê-lo e acolhê-lo, vigilantes no sonho do Reino e no serviço solidário aos irmãos e irmãs. Jesus e o Reino de Deus podem tardar, mas estão vindo! Que nada nos distraia diante da absoluta primazia da fraternidade e da solidariedade.

 

Meditação:

§  Retome calmamente as duas comparações que Jesus oferece sobre a correta atitude em tempos de espera e demora

§  O que você pode fazer para ajudar a evitar que as comunidades cristãs fujam da sua responsabilidade com a transformação do mundo e se refugiem no culto e no moralismo?

§  Como você tem se preparado para a “nova normalidade”? Tem conseguido rever e qualificar o estilo de vida?

§  Qual é o “óleo” que tem ajudado vocês a permanecer lúcidos e atenciosos, sal e fermento do Reino em tempos difíceis?

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (94)

Ano A | 21ª Semana Comum | Quinta-feira | Mateus 24,42-51

(31/08/2023)

Estamos refletindo sobre as críticas e denúncias de Jesus contra os mestres Depois de uma longa e dura crítica aos fariseus e mestres da lei, circulando e pregando em Jerusalém, nas proximidades do templo, Jesus anuncia a total destruição do templo e do poder dos impérios, assim como dos sinais e sofrimentos que a acompanham (23,33 a 24,35). Mas Jesus não cede a qualquer especulação, e não fala da data em que isso acontecerá.

Em vez disso, Jesus chama seus discípulos/as à vigilância e estarem sempre devidamente preparado/a. Parece que, com o passar do tempo e com a demora da consolidação do Reino de Deus, a comunidade dos discípulos/as corria o risco de cair na excessiva penitência, ou então desanimar e relaxar.

Jesus insiste que é preciso viver o dinamismo discreto, mas efetivo, do Reino de Deus em meio às situações complexas e difíceis. Ele jamais deu a entender que a aventura de segui-lo e de participar de sua missão seria um mar de rosas. Esperar com lucidez e sensação o reino de Deus significa vigiar mantendo a atitude de serviço, fecundada e sustentada por essa utopia.

Para ilustrar a atitude correta, Jesus recorre à metáfora do ladrão e à parábola do servo fiel. Como o ladrão, o reino de Deus e Jesus chegam quando ninguém espera. Por isso, os discípulos/as precisam se comportar como o servo fiel e sensato, que, na ausência do patrão, cumpre fielmente sua missão de servir seus companheiros.

Ao mesmo tempo, Jesus reprova a postura do empregado que, diante da demora do patrão, pensa unicamente em seus interesses e age com violência em relação aos demais. Tais discípulos/as são equiparados aos hipócritas (fariseus e mestres da lei) que Jesus denunciara anteriormente.

Os discípulos/as sensatos/as são aqueles/as que ouvem e praticam o Evangelho, e, assim, constroem suas casas sobre a rocha. E isso significa importar-se com a vida e o bem-estar do próximo, mantendo acesa a chama da esperança, mesmo quando parece que nada acontece ou nada vale a pena.

 

Meditação:

§  Retome calmamente as duas comparações que Jesus oferece sobre a correta atitude em tempos de espera e demora

§  O que você pode fazer para ajudar a evitar que as comunidades cristãs fujam da sua responsabilidade de mudar o mundo e antecipar o reinado de Deus e se refugiem no culto e no moralismo?

§  Como você, sua família e sua comunidade tem vivido este longo tempo de espera que a pandemia passe?

§  Lembre o exemplo de tantas pessoas, de ontem e de hoje, que esperaram e preparam responsavelmente o futuro esperado

terça-feira, 29 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (93)

Ano A | 21ª Semana Comum | Quarta-feira | Mateus 23,27-32

(30/08/2023)

Estamos refletindo sobre as críticas e denúncias de Jesus contra os mestres da lei e fariseus. O evangelista fala dos fariseus, mas pensa nos discípulos de Jesus. Ele quer alertar e chamar à conversão e à coerência de vida os discípulos/as de todos os tempos. No texto que foi omitido ontem, por causa da festa de São Bartolomeu, Jesus apresentou uma série de cinco “ais” ou maldições contra os líderes religiosos.

No texto de hoje, temos a sexta e a sétima “maldições”, que continuam as cinco primeiras. Na primeira das duas, Jesus denuncia a incoerência entre a aparência e a realidade concreta da vida dos escribas e fariseus. Na segunda, afirma que, mesmo disfarçando, eles continuam a tradição assassina de seus antepassados, perseguindo e eliminando os profetas.

Acuados pela busca da pureza cultual, os judeus pintavam as sepulturas para que ninguém corresse o risco de se contaminar pisando nos cadáveres. Mas Jesus muda um pouco o sentido dessa imagem, e diz que os fariseus e mestres da lei são como sepulturas enfeitadas para esconder o mal e a podridão que eles mesmos alimentam e guardam dentro de si.

Além disso, ao enfeitar as tumbas dos profetas e recordar o destino deles, em vez de fazê-lo para honrar os profetas o fazem para esconder a violência com a qual perseguem os profetas do seu tempo, João Batista e Jesus à frente, e os/as discípulos/as depois. Estranho modo de honrá-los!

Para Jesus, com esta prática eles não apenas continuam a história de violência dos antepassados, mas a completam e levam ao ponto mais alto. Por isso, Jesus associa as suas cidades aos lugares mais detestados pela história, símbolo de fechamento e violência: Tiro, Sidônia e Sodoma.

Ser cristão é ser discípulo//a de Jesus, seguir seu modo de viver. A preocupação fundamental não pode ser a pureza ritual e exterior, mas a pureza de mente e de coração. Ser cristão é ser diferente, transparente e coerente com Jesus Cristo e seu Evangelho. O alerta está dado!

 

Meditação:

§  Seguindo o que fala Jesus, identifique as principais incoerências e contradições dos líderes cristãos e políticos de hoje

§  Identifique e dê nome às contradições e incoerências que ameaçam você, sua família e sua comunidade

§  Seria possível identificar situações concretas em que os cristãos perseguem e excluem pessoas e grupos que denunciam suas contradições e traições ao Evangelho de Jesus?

§  Você consegue perceber em você mesmo/a injustiças e hipocrisias que se escondem atrás da aparência de justiça?

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (92(

Ano A | Memória do Martírio de João Batista | Marcos 6,17-29

(29/08/2023)

A presença de João Batista nos evangelhos evidencia seus vínculos com o Evangelho de Jesus Cristo. Além de preparar os caminhos para a missão de Jesus, o profeta do deserto e do rio Jordão antecipa o desfecho da sua missão. Suas posições claras contra os desvios éticos do seu tempo, e a coragem com que enfrenta os poderosos de plantão, valeram-lhe a decapitação.

No texto de hoje, o protagonista é Herodes. Herodes é judeu, mas, como de resto todas as elites sociais e políticas, cumpre a Lei da sua religião apenas quando lhe convém. Ele tinha medo de Jesus, e pensava que ele era uma espécie de reencarnação de João Batista, a quem havia mandado matar. O delito de Herodes vai além do roubo da mulher do seu irmão e da conivência com a morte de João Batista. A presença dos grandes da Galileia na sua festa de aniversário revela a quem ele servia, e de quem dependia.

Marcos nos apresenta uma caricatura sarcástica de Herodes e das elites que o apoiam. Suas festas davam asas às paixões incontroláveis e aos seus caprichos assassinos. Como em toda a realeza, o casamento tinha fortes conotações de aliança para adquirir sustentação política. O juramento ou promessa de Herodes à filha da sua concubina revela o modo escuso como as elites tomam suas decisões políticas: matam para salvar a própria honra.

João não se intimida, nem se cala, mas não é um homem apenas preocupado com o culto ou com a moralidade dos costumes. Uma leitura atenta dos evangelhos nos mostra um profeta engajado num movimento de mudança, no corte raso das instituições que encobrem ou sustentam injustiças e violências, e numa partilha radical. É nesse horizonte que ele enfrenta Herodes.

Marcos situa a narração do martírio de João Batista no capítulo 6 do seu evangelho, onde a discussão é sobre a identidade de Jesus. Com isso, o evangelista evidencia o destino de todo aquele/a q1ue anuncia e inaugura uma nova ordem social e religiosa. E, além de uma antecipação do destino de Jesus, o destino de João soa como um alerta.

 

Meditação:

·    Retome calmamente a cena, desde o seu início até seu desfecho, observando com atenção a trama que leva à execução do profeta

·    Perceba a força política, social e religiosa da atuação corajosa de João Batista, profeta da Judeia que estende sua missão à Galileia

·    Como você e sua comunidade cristã tem se posicionado diante de um governo belicista e contrário aos avanços sociais no Brasil?

·    Como podemos evitar polêmicas religiosas parciais e estéreis, mas sem abandonar a necessária dimensão política da fé?

·    Você tem medo dos conflitos provocados pela atuação profética dos cristãos em nome do Evangelho? Por que?

sábado, 26 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (91)

Ano A | 21ª Semana do Tempo Comum | Domingo | Mateus 16,13-20

(27/08/2023)

Jesus deixou a região marginal da Galileia, onde revelara sua compaixão pela multidão faminta e tomara a iniciativa de alimentá-la, e chegou à região de Cesaréia de Filipe. No passado, esta região fora famosa pelo santuário dedicado a Pã, divindade protetora dos rebanhos e pastores. Posteriormente, o rei Filipe rebatizara a cidade com o nome de Cesaréia, em homenagem a César Augusto. Este nome mexia com a questão da soberania política de um povo.

A primeira pergunta que Jesus dirige aos discípulos, justamente neste lugar carregado de significado político, soa como uma espécie de enquete: “Quem dizem os homens que é o Filho do homem?” A expressão ‘Filho do homem’ destaca os vínculos de Jesus com os homens e mulheres comuns, e é o nome que ele mesmo prefere e usa com mais frequência.

Entre os discípulos fez-se silêncio, e eles se esforçaram para recordar aquilo que o povo dizia depois de ter escutado Jesus. As respostas que eles resumem vinculam Jesus claramente ao movimento profético. O povo identifica a ação e a pregação de Jesus com a missão dos grandes profetas, aqueles homens que falavam e agiam em nome de Deus e defendiam o direito dos oprimidos.

Jesus escuta atentamente a resposta dos discípulos, mas não comenta. Faz-se novamente silêncio. Olhando os discípulos nos olhos, Jesus pergunta-lhes enfaticamente: “E vocês, quem dizem que eu sou?” O que interessa a Jesus são as fantasias e expectativas que povoam a mente e o coração dos homens e mulheres que seguem seus passos e escutam suas palavras.

A pergunta tocava direto nas expectativas que eles alimentavam sobre Jesus e colocava em questão a relação que tinham com ele. No fundo, Jesus perguntava “que lugar eu ocupo na vida, no projeto e nas opções de vocês?” Com voz insegura, mas com serenidade e até uma certa ousadia, Pedro fala em nome dos demais discípulos: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.

A resposta de Pedro não nasce dos medos ou desejos infantis de onipotência, nem é ensinada pelos doutores de plantão. O reconhecimento de Deus presente na carne humana é dom concedido aos pequenos. Não precisamos de fé para aderir a um deus identificado com os poderosos e as grandes obras, mas ele é indispensável para reconhecer Deus na história e colaborar com sua missão.

 

Meditação:

§  Procure deixar em segundo plano as respostas aprendidas e responda à pergunta de Jesus dizendo o lugar que ele ocupa na sua vida, e como ele influi nas suas relações, ações e opções

§  Recorde as consequências e incidências que esta resposta tem na sua vida e na vida da sua comunidade

§  Deixe ressoar em você a palavra de Jesus: “Feliz és tu, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai!”

O Evangelho dominical (Pagola) - 27.08.2023

A NOSSA IMAGEM DE JESUS

A pergunta de Jesus, «Quem dizeis que eu sou?» continua a pedir uma resposta aos crentes do nosso tempo. Nem todos temos a mesma imagem de Jesus. E isto não só pelo carácter inesgotável da sua personalidade, mas, sobretudo, porque cada um de nós vai elaborando a sua imagem de Jesus a partir dos nossos interesses e preocupações, condicionados pela nossa psicologia pessoal e pelo meio social a que pertencemos, e marcados pela formação religiosa que recebemos.

E, no entanto, a imagem de Cristo que cada um de nós elabora é de importância decisiva para a nossa vida, pois condiciona nossa maneira de entender e viver a fé. Uma imagem empobrecida, unilateral, parcial ou falsa de Jesus conduzir-nos-á a uma vivência empobrecida, unilateral, parcial ou falsa da fé. Daí a importância de evitar possíveis distorções da nossa visão de Jesus e de purificar a nossa adesão a Ele.

Por outro lado, é pura ilusão pensar que alguém crê em Jesus Cristo porque crê num dogma ou porque está disposto a crer naquilo em que a Santa Madre Igreja crê. Na realidade, cada crente crê naquilo em que crê, isto é, naquilo que vai descobrindo pessoalmente no seu seguimento de Jesus Cristo, embora, naturalmente, o faça no seio da comunidade cristã.

Infelizmente, são muitos os cristãos que entendem e vivem a sua religião de tal forma que provavelmente nunca terão uma experiência um pouco viva do que é de se encontrar pessoalmente com Cristo. Já numa fase muito inicial da vida fizeram uma ideia infantil de Jesus, quando talvez ainda não tivessem colocado com suficiente lucidez as perguntas e interrogações a que Cristo pode responder. Mais tarde, não voltaram a repensar a sua fé em Jesus Cristo, seja porque a consideram algo trivial e sem importância alguma para as suas vidas, seja porque não se atrevem a examinar com seriedade e rigor, seja porque se contentam em conserva-la de forma indiferente e apática, sem qualquer eco no seu ser.

Desgraçadamente, muitas dessas pessoas não suspeitam do que Jesus poderia ser para eles. Marcel Légaut escrevia esta frase dura, mas talvez muito real: “Estes cristãos não sabem quem é Jesus e estão condenados pela sua própria religião a nunca o descobrir”.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (90)

Ano A | 20ª Semana do Tempo Comum | Sábado | Mateus 23,1-12

(26/08/2023)

Esta página do ensino de Jesus aos discípulos, a partir da observação crítica da atitude dos fariseus e doutores da lei, ocorre em Jerusalém, no interior do templo, que era o reduto deles, alguns dias antes da sua prisão e condenação à morte. Do ponto de vista literário, este episódio está situado antes dos sete “ais” dirigidos aos fariseus, e antecipa cinco exemplos do esforço deles para causar boa impressão no povo. Por fim, a partir da hipocrisia dos fariseus, Jesus dá ordens aos discípulos.

É preciso considerar que o objetivo desta cena, apesar da linguagem polêmica e do recurso aos clichês, não é propriamente acusar os fariseus e os escribas, mas instruir e prevenir aqueles/as que seguem a Jesus. Na intenção de Mateus, os interlocutores de Jesus são membros da comunidade. E Jesus quer que eles/as façam uma autocrítica madura e responsável.

Inicialmente, Jesus pede que seus discípulos/as escutem o que os escribas leem e proclamam (as leis e os profetas) mas não a interpretação que fazem. Pede também que não imitem suas atitudes. A fé em Deus e a conversão ao Reino de Deus implica na coerência entre ler, falar e agir. E é nisso que, segundo Jesus, os escribas e fariseus pecam, e é isso que seus discípulos devem evitar.

A crítica de Jesus aos fariseus se concentra em três atitudes: eles fazem tudo para serem vistos e causar boa impressão sobre o povo; eles multiplicam preceitos e proibições sem levar em conta o peso que representam para o povo; eles se recusam a mexer um dedo para ajudar este mesmo povo. E ainda buscam os primeiros lugares e querem ser chamados e tratados como mestres, líderes e pais.

Isso não pode ser imitado, de modo nenhum, pelos/as discípulos/as de Jesus! Todos somos irmãs/os, servidores/as uns dos outros/as, iguais em dignidade, filhos/as do único Pai, guiados/as e instruídos/as por Jesus, o único Mestre. A igualdade, a fraternidade, a coerência e o serviço configuram nossa identidade como discípulos/as missionários/as de Jesus.

 

Meditação:

§  Leia atentamente, palavra por palavra, a crítica de Jesus aos escribas e fariseus, assim como o que ele pede dos/as discípulos/as

§  O que Jesus critica nos fariseus e escribas? Que exemplos de ambiguidade deles Jesus apresenta?

§  Você acha que essas atitudes ainda estão presentes em nossas comunidades e na Igreja como um todo?

§  O que Jesus manda e pede aos seus discípulos? Como vivemos hoje este tríplice mandamento?

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (89)

Ano A | 20ª Semana do Tempo Comum | Mateus 22,34-40

(25/08/2023)

Já dissemos que os capítulos 21 e 22 de Mateus apresentam o confronto permanente entre Jesus e o reino de Deus com a elite dirigente do judaísmo e a lógica excludente do templo. Nos trechos omitidos entre os textos de ontem e de hoje (v. 15-33), Jesus discute com os saduceus sobre a ressurreição e a legitimidade do imposto exigido pelo império romano. Com suas respostas e argumentos, Jesus calou a boca dos saduceus.

Mas o silêncio dos saduceus não é vergonha, capitulação ou inércia. Eles se aliam aos fariseus e mestres da lei para colocar Jesus novamente à prova. Desta vez, provocam Jesus a distinguir, entre os muitos mandamentos, aqueles que seriam grandes e relevantes, e aqueles que poderiam ser tratados como secundários e transgredidos. Jesus responde sublinhando a unidade dos mandamentos, e não a hierarquização. As leis da aliança e a perspectiva profética se entrelaçam na prática do amor.

Jesus responde à provocação acenando para aquilo que o livro do Deuteronômio apresenta no capítulo 6: o horizonte dos mandamentos é o amor profundo e integral a Deus, inseparável do amor social e cotidiano ao próximo. Não se trata de atos ocasionais de amor, e muito menos de simples sentimentos, mas de uma visão social e estrutural, que conjuga o amor ao próximo ao amor a Deus, do qual decorre.

Como Jesus havia anunciado no capítulo 5 de Mateus, a Lei e os Profetas, ou seja, todas as escrituras, dependem disso! Em outras palavras: o maior e mais importante dos mandamentos é a fidelidade e a perseverança integral e diária na prática da compaixão ativa, humanizadora e libertadora nas relações com os irmãos. E isso não é um entre outros mandamentos, mas o coração pulsante da inteira experiência e vontade de Deus na história.

Para Jesus, isso constitui o núcleo ou fio de ouro da sua pregação e do caminho ético que ele propõe. Sem esse amor, a fé se torna moralismo e legalismo vazio, e os projetos de promoção social se esvaziam em políticas de ocasião. É nesse amor, na afirmação prática da dignidade do outro e no serviço solidário e perseverante às suas necessidades, que se revela e sustenta a verdade e a solidez da fé. Nada vem antes nem está acima disso!

 

Meditação:

§  Você leva a sério a centralidade do amor integral e fiel a Deus e ao próximo no qual está presente como a síntese da lei e da profecia?

§  Você percebe em você e na sua comunidade a tentação de acentuar exageradamente a obediência a Deus e a moral em detrimento do amor ativo e compassivo ao próximo?

§  Como a Igreja poderia ensinar e explicitar melhor esse fio vermelho em seu ensino e em sua prática pastoral?

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (88)

Ano A | Festa do Apóstolo São Bartolomeu | João 1,45-51

(24/08/2023)

A tradição cristã sempre viu em Natanael a figura de Bartolomeu, cuja festa celebramos hoje, e que é um dos discípulos e apóstolos de Jesus. A cena conta o final de uma corrente de encontros e testemunhos que reúne em torno de Jesus o primeiro grupo de discípulos. A notícia da novidade de Jesus corre como um fio de pólvora e incendeia a imaginação utópica dos mais pobres.

É assim que Filipe procura Natanael para lhe comunicar sua marcante experiência no encontro com Jesus. Ele fala em nome da pequena comunidade, e suas palavras revelam que ainda não conhecem Jesus em profundidade. Mas são movidos pelo desejo de entrar na vida de Jesus e desvendar o mistério de sua pessoa.

Filipe apresenta Jesus como “o filho de José, de Nazaré”, em quem reconhece “Aquele de quem Moisés escreveu na lei, e também os profetas”. Nazaré é uma região periférica, habitada por um povo mestiço, tanto do ponto de vista étnico como religioso. Por isso, como judeu, Natanael não consegue conectar o Messias com essa região.

Filipe convida Natanael a fazer a experiência de conviver com Jesus, e ele se aproxima. Mas Jesus o havia visto e fixado seu olhar nele bem antes, e elogiou sua autenticidade, inclusive na atitude preconceituosa que compartilha como judeu. Natanael representa o resto fiel do povo de Israel, que só consegue ver em Jesus um mestre ao estilo dos fariseus e um messias nos moldes de rei.

Aqui temos a primeira declaração solene de Jesus sobre si mesmo: ele é o humano (“Filho do Homem”) que possibilita a comunicação plena e permanente de Deus com a humanidade. Ele se apresenta como presença de Deus no Ser humano, enquanto que Natanael ainda separa Homem e Deus. Deus não se manifesta na realeza de Davi, mas na plenitude humana.

Com Natanael e os demais discípulos, somos convidados/as a fazer a experiência do olhar de Jesus fixado amorosamente em nós e de caminhar com ele, aprendendo e participando da sua vida. Como ele, nunca mais esqueceremos o momento do encontro!

 

Meditação:

·      Participe afetivamente da cena: do comunicado de Filipe, da reação de Natanael, do encontro com Jesus

·      Acolha uma a uma as palavras e comparações de Jesus, e penetre no sentido profundo e espiritual que elas têm

·      Aceite o olhar fixo e amoroso de Jesus, convidando a fazer a passagem dos lugares comuns a uma experiência transformadora

·      Se possível, leia o texto de Gn 28,10-17, que está relacionado com as palavras de Jesus no final do texto

terça-feira, 22 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (87)

Ano A | Festa de Santa Rosa de Lima | Mateus 13,44-46

(23/08/2023)

Estamos diante das últimas parábolas dessa espécie de “cartilha das parábolas” que é o capítulo 13 do evangelho segundo Mateus. O capítulo será concluído pouco mais adiante, com algumas novas explicações sobre este gênero de pregação e suas aplicações na vida. Aqui temos aquelas que conhecemos como parábolas do tesouro escondido e encontrado por acaso, e da pérola preciosa ardentemente buscada. Ambas falam, obviamente, da preciosidade incomparável do reino de Deus e da reação de quem se encontra com ele.

Já lembramos muitas vezes e de modos diversos que o Reino de Deus é o horizonte que dá sentido e direção a tudo o que Jesus busca, anuncia e faz. Seu conteúdo é uma vida plena, fraterna e solidária acessível a todas as pessoas, um mundo no qual há lugar para todas as criaturas.

Pode parecer surpreendente e incompreensível que haja quem se feche a este anúncio, quem o rejeite e se oponha a ela. Na verdade, há quem tenha essa atitude, tanto no tempo de Jesus como hoje: gente que não admite que todos somos iguais em dignidade e possamos compartilhar os mesmos lugares e os mesmos bens; gente que não abre mão de usufruir de algumas coisas com exclusividade, e que considera a promoção dos outros como uma ameaça aos seus privilégios.

Por isso, as parábolas sublinham a preciosidade, o valor incalculável do Reino de Deus, assim como a reação esperada e adequada de quem se depara com ele. Na primeira parábola, ao que parece o diarista que trabalha no campo encontra o tesouro por acaso. Mas o que ele faz é justo, e nos representa: arrisca todo o pouco que tem e “aposta todas as fichas”, com incontida alegria, no mundo assim como foi imaginado e criado por Deus, e promovido por Jesus.

A condição do negociante de pérolas é diferente: ele se dedica incansavelmente à procura de pérolas finas e valiosas. Quando seu empenho alcança um bom resultado, ele se recusa a vender a pérola preciosa. Ele vende tudo, abandona o ofício de comerciante e passa a dedicar-se integralmente ao Reino de Deus. Ele descobre que o que vale mesmo todas as penas é buscar o Reino de Deus e a sua justiça. O resto, inclusive as perseguições, vêm por acréscimo. Mas esse é o tesouro que o ladrão não rouba e a traça do tempo não corrói.

 Meditação:

·      Escute e leia as duas parábolas com a maior atenção possível, acompanhando com a imaginação a ação e a reação dos personagens

·      Você acha que a Igreja tem conseguido sublinhar adequadamente o valor precioso e desejável do Reino de Deus aos seus membros?

·      Em que medida o reino de Deus e a sua justiça é, para você, a única coisa necessária, o valor pelo qual você tudo troca?

·      Nossa catequese e nossas celebrações conseguem despertar nos cristãos a busca, a alegria e a ousadia? Por quê?

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (86)

Ano A | Memória de Nossa Senhora Rainha | Lucas 1,26-38

(22/08/2023)

No contexto da caminhada do tempo comum, dois dias depois da solenidade da Assunção de Nossa Senhora, celebramos a festa de Nossa Senhora Rainha, mesmo que o título ressoe estranho e ultrapassado. E o texto do evangelho segundo Lucas ilumina esta solenidade mariana. Minha amiga Inez chama Maria de “Graciosa”, mas essa graça ela a recebe do Filho e compartilha conosco.

Nesta cena, o papel central é desempenhado pelo Anjo Gabriel, e o clima é de intenso júbilo. O Mensageiro de deus saúda Maria com uma expressão que pode ser traduzido por “Esteja bem!” ou “Tudo de bom!” E diz que o “charme” (graça) dela encantou o próprio Deus. Mas isso terá suas consequências, pois Maria terá que mudar os planos que traçara, e participará da dor e da glória do seu filho.

É claro que o anjo Gabriel não está se referindo à eventual formosura física de Maria de Nazaré. Ele fala da sua humanidade, original e sem pecado, como a criação perfeita sonhada e saída das mãos de Deus. Ela é a imagem da humanidade como Deus imaginou, a pessoa humana na qual brilha a sua imagem.

Acolhedora, disponível e serviçal, Maria não é mulher passiva, um ser humano sem personalidade. Antes, mostra-se uma pessoa atenta e reflexiva. Ela pede explicações, quer compreender, interroga até o próprio mensageiro de Deus. E descobrirá lentamente a bela ação que Deus realiza nela e através dela, dando prioridade e grandeza aos humildes e marginalizados.

Dizendo que “o poder do altíssimo a cobrirá com sua sombra”, o Anjo se refere à nuvem que escondia e manifestava a glória de Deus no êxodo, e apresenta Maria como tenda da presença de Deus no mundo. E o filho que dela nascerá – o fruto bendito do seu ventre – abrirá o caminho de um novo êxodo para uma nova terra.

E o próprio anjo antecipa traços do filho de Maria: ele será grande, será chamado filho do altíssimo, santo, filho de Deus, e herdará o espírito do pastor Davi. No nome que lhe será dado, está sua missão: Deus é salvação. Isso significa que, em Jesus, Deus não se mostrará juiz ou legislador, mas libertador dos oprimidos.

 

Meditação:

§  Releia atentamente o texto, imaginando-se presente e ativo/a na anunciação, naquele lugar perdido e obscuro da Galileia

§  Observe o que o anjo antecipa sobre Jesus de Nazaré, o filho recém-anunciado a Maria, razão de ser da nossa espera e da nossa alegria

§  Tome como dirigidas a você as palavras do Mensageiro de Deus: “Alegra-te, cheia/o de graça! O Senhor está contigo! Não tenhas medo! Encontraste graça diante de Deus!”

§  Acolha estas palavras como fundamento da sua vocação de ser íntegro/as e irrepreensível e da missão na Igreja e no mundo

§   Procure inserir seu projeto de vida no projeto que Deus tem para a humanidade e para você