sexta-feira, 30 de maio de 2014

Festa da Visitação de Nossa Senhora em Nazaré

Como pode a mãe do meu Senhor vir me visitar?
Terminando o mês de maio e celebrando a visitação de Nossa Senhora, reedito a crônica que escrevi no dia 31 de maio do ano passado, visitando Nazaré, na Galiléia.

Hoje é o último dia do mês de maio. O mês que a espiritualidade católica dedica a Maria termina com a bela Festa da Visitação de Nossa Senhora. E por coincidência humana e graça de Deus, estou terminando esse dia exatamente em Nazaré, onde viveu essa jovem graciosa e corajosa, e de onde ela saiu apressadamente para visitar sua parente Isabel.
A missa na basilica da Anunciaçao
Hoje  deixamos de lado o comportamento de turistas religiosos e voltamos ao que realmente somos: discípulos e missionários de Jesus, o filho de Maria de Nazaré. Estimulados pela Irmã Religiosa que dirige a casa que nos hospeda, fomos à basílica da Anunciação, aquela construída sobre a casa de Maria, para participar, com a comunidade local, da oração do terço, da missa e da procissão.
Tudo foi celebrado em árabe, mas isso não impediu nossa participação. A basílica – que não é pequena! – estava totalmente lotada por uma multidão vibrante de crianças, jovens, adultos e idosos, em porções equilibradas. A impressão é de que a comunidade católica de Nazaré, apesar de ser minoritária frente aos muçulmanos, é muito viva e vibrante.
Já ao descer as escadarias do beco que nos leva da casa das Irmãs do Rosário à basílica – uns 10 minutos de descida – íamos conversando sobre o que significa pisar o mesmo chão que Maria, José e Jesus pisaram. Quantas vezes eles teriam subido e descido esta ladeira? Teriam cultivado algo por aqui? Teriam subido a ladeira para visitar algum vizinho ou ajudar alguém necessitado?
Mas um pouco antes, fora aqui que Maria ouvira pela primeira vez e de modo único e irrepetível aquela saudação que repetimos cinquenta vezes na oração que delicadamente chamamos de rosário: "Ave Maria! Tu és cheia de graça! O Senhor está contigo!” Sabemos que Maria ficou um pouco perturbada e desconcertada. Mas isso diz muito pouco daquilo que significou esta experiência para aquela moça da vila de Nazaré.
Detalhe da procissao saindo da basilica
Como podemos pronunciar estas mesmas palavras sem ter presente tudo o que elas acarretariam para Maria e acarretam para nós? Como sustentar a convicção de que os caminhos de Deus não passam pelo suntuoso templo de Jerusalém, pelo rigor legalista da sinagoga ou pelo poder sedutor dos palácios? Como não parecer ridículo dizendo que Deus dirigiu sua palavra a uma mulher simples e anônima?
Fiquei meditando também sobre o que pode significar ser cristão em Nazaré. Que perguntas e desafios a maioria muçulmana poderia dirigir à comunidade cristã? Como sustentar diante do homem moderno e das demais religiões que no seio de uma moça aqui desta vila perdida no mapa o Deus infinito se fez carne e o Altíssimo se esvaziou e assumiu a cotidiana vida dos homens e mulheres?
Não sei se é um privilégio ser cristão aqui em Nazaré. Talvez seja mais um desafio e um ônus que um privilégio. No seu tempo Jesus já dissera que normalmente as pessoas têm  dificuldade de aceitar os santos e profetas da própria casa. Por mais que a comunidade possa se alegrar por celebrar na casa que foi de Maria e por tê-la como um dos seus antepassados, não é fácil ter olhos para ver o que se passa nos níveis que não sejam o da superficialidade.
Gosto daquela velha e simples canção do Pe. Zezinho: “Maria de Nazaré, Maria me cativou. Fez mais forte a minha fé, e por filho me adotou. Às vezes eu páro e fico a pensar, e sem perceber, me vejo a rezar, e meu coração se põe a cantar pra Virgem de Nazaré. Menina que Deus amou e escolheu pra Mãe de Jesus, o Filho de Deus. Maria que o povo inteiro elegeu Senhora e Mãe do céu...”
A bela imagem da filha mais ilustre de Nazaré
Mas a festa de hoje nos lembra que essa menina, amada e escolhida por Deus, se fez companheira e servidora. “Como são belos teus pés, ó Maria: descendo os montes, paz anuncias! Companheira mais fiel deste meu povo nos caminhos do amanhã, do mundo novo!” E na casa de Isabel Maria, em geral tão calada e restrita ao essencial, solta a língua e diz coisas que até hoje temos dificuldade de compreender e aceitar...
Mistérios!... Coisas quase extravagantes de uma religião que que prega a descida de um Deus que cresce no ventre de uma moça aqui de Nazaré e caleja as mãos numa carpintaria;  que crê na força da compaixão; que espera a ressurreição da carne; que diz que o amor fraterno é a moradia mais amada e desejada por Deus nesta terra. Coisas quase incríveis. Coisas maravilhosas. Sonhos e delírios de uma fé que nasceu e sobreviveu aos rigores dos desertos, perseguições e traições, vindas de fora ou sofridas por dentro...

Itacir Brassiani msf

quinta-feira, 29 de maio de 2014

A ascensão de Jesus

A ascensão é a elevação daquele que foi rebaixado
Ascensão lembra geralmente subida, elevação, distanciamento e superioridade. Mas é também uma metáfora que expressa a idéia e a experiência de ser destacado, promovido, e reconhecido. Parece ser este o sentido original e mais profundo da boa notícia pregada pelos cristãos a respeito de Jesus de Nazaré: a ascensão é uma outra forma de proclamar sua ressurreição, de afirmar que a pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra principal, de renovar a adesão a ele e o engajamento na missão que ele cumpriu e confiou em testamento as seus discípulos.
São Paulo experimenta pessoalmente que Espírito Santo revela Deus em sua amável nudez e ajuda a conhecê-lo em profundidade. Conhecer Deus assim como ele se revelou em Jesus de Nazaré significa reconhecer e assimilar a esperança para a qual nos chamou e a herança gloriosa que nos deixou: ser seu corpo vivo na história, corpo sob o qual tudo o mais foi colocado e acima do qual nada de significativo existe, fora o próprio mistério de Deus. E é isso que Paulo anuncia e deseja que também nós experimentemos: que o Espírito nos conduza ao conhecimento de Deus e à fidelidade ao seu amor.
O Jesus Cristo no qual cremos e em nome do qual vivemos não é um espírito que se compraz em esvoaçar acima do mundo. Ele compartilhou conosco a corporeidade e sentiu fome; experimentou conosco a busca e a sede; dividiu conosco a angústia e a ternura; provou o mel do amor e o fel da traição; abriu conosco e para nós um caminho de vida no frio corredor da morte; espalhou sementes de liberdade nas terras infectadas pela erva daninha da indiferença. É assim, nnesta concretude humana e histórica, que ele nos revela o mistério mais profundo de Deus.
A ascensão, celebrada dentro do tempo pascal, enfatiza que a vida cristã é muito mais que espera da plenitude celeste. Os discípulos de Jesus de Nazaré não podem se acomodar na simples contemplação de alguém que subiu ao céu, mesmo que este alguém seja o próprio Jesus Cristo. “Por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” Professando a ascensão de Jesus, a comunidade cristã quer ressaltar mais uma vez que aquele corpo humano e marcado pelo trabalho, aquele homem constestado e condenado é assumido e reconhecido pelo próprio Deus como a expressão plena e cabal de si mesmo.
Mas a ascensão não é algo que tem a ver apenas com Jesus de Nazaré. Ele é o primogênito de muitos irmãos e irmãs. Ele é a cabeça de um corpo composto de muitos e variados membros. À glorificação do primogênito segue a honra dos seus irmãos e irmãs, começando pelos considerados menores. À elevação da cabeça segue o reconhecimento da dignidade daqueles que realizam sua vontade. É famosa inversão enfatizada por Jesus na sua pregação: na lógica do Reino de Deus, os últimos passam a ser os primeiros. E isso não vale só para um futuro incerto: é fato e convicção já agora.
Então, a ascensão de Jesus Cristo não é unicamente o fim de sua presença física no meio de nós: é também o início de nossa missão em seu nome. A liturgia da ascensão está inteiramente focada nesta responsabilidade intransferível e inadiável da comunidade cristã. Convictos de que o Crucificado foi exaltado, os cristãos vencem o medo e se tornam testemunhas de Jesus Cristo no coração do mundo e nos pulmões da história. E, nesta missão, se recusam a reconhecer fronteiras políticas e culturais e não se intimidam diante da própria fraqueza.
Sendo uma forma de manter viva a memória de Jesus de Nazaré, este testemunho tem força de transformação. Amparados na certeza da glorificação de Jesus, ostentamos em nosso corpo as marcas da crucifixão de Jesus Cristo. Na qualidade de testemunhas, anunciamos Jesus Cristo, defendemos aqueles por quem ele deu a vida, atestamos a veracidade do seu caminho e a beleza do seu projeto de vida. E descobrimos que é o próprio Sopro de Deus que nos faz testemunhas “em Jerusalém, na Judéia, na Samaria e até os confins do mundo... Estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos...”
Deus Pai e Mãe, mistério de amor que acolhe e envia, que gera comunhão e dispersa em missão: aqui estamos para pedir que em nós se cumpra tua promessa. Envia à tua Igreja e a cada fiel o fogo do teu Espírito. Faze de nós uma comunidade em missão, um povo que congregue no seu seio todos os homens e mulheres de boa vontade, que seja uma imensa caravana empenhada no resgate da cidadania e da dignidade dos teus filhso e filhos, em todos os quadrantes da terra. Ajuda as Igrejas a buscarem a unidade, sem superficilismos nem desculpas. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 1,1-11 * Salmo 46 (47) * Carta aos Efésios 1,17-23 * Mateus 28,16-20)

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Unidade dos cristaos

Em busca da unidade perdida
Tentei acompanhar de perto a visita do papa Francisco aos “lugares santos” da Palestina e de Israel para comemorar os cinquenta anos da histórica visita de Paulo VI àquelas terras, no ano de 1964, em pleno período da realização do Concílio Vaticano II. Aquelas terras possuem um valor afetivo muito grande para boa parte da humanidade, uma vez que são o berço do cristianismo, o espaço da atuação de Jesus de Nazaré, de seus primeiros discípulos e das primeiras comunidades cristãs.
Mesmo que um cristão nunca tenha ido até lá, aquela região permanece para ele um referencial simbólico de grande monta. Logo, o que ali acontece se reveste de um caráter profundamente afetivo e termina mexendo com todo o inconsciente coletivo cristão. Mas, antes mesmo do cristianismo, aquelas terras são a razão de ser do povo hebreu, povo sofrido e maltratado até hoje, em cujo seio nasce a experiência do seguimento de Jesus, do qual o cristianismo herda um patrimônio espiritual incalculável. Sem o povo judeu não haveria cristianismo. Além disso, aquela região tem ainda um significado muito grande para o povo islâmico e, de modo particular, para o povo palestino, obrigado até hoje a viver na incerteza, na insegurança, na dor e no sofrimento, sem ter direito a um reconhecimento pleno e definitivo de sua pátria. A convivência pacífica dessas três grandes religiões e o reconhecimento real de uma pátria para o povo palestino é de fundamental importância para o futuro da paz mundial. Assim sendo, urge encontrar um caminho para se chegar a essa tão sonhada paz.
Acompanhei de modo particular o encontro do papa Francisco, bispo da Igreja de Roma, líder mundial dos católicos, com o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, líder da grande e valiosíssima Igreja Ortodoxa, portadora de uma grande riqueza espiritual para todo o cristianismo. Fiz questão de seguir ao vivo pela televisão este momento histórico, pois não puder fazer isso a cinquenta anos atrás, quando Paulo VI e Atenágoras se encontraram. Quis seguir este momento por estar convencido de que a unidade do cristianismo no futuro passará por aquilo que acontecer entre essas duas grandes Igrejas.
Confesso que esperava gestos mais ousados de ambas as partes, após cinquenta anos do primeiro grande encontro, no qual os dois líderes de então retiraram a mútua excomunhão que vigorava entre as duas Igrejas, desde a triste ruptura no século XI. Senti muito formalismo e pouca espontaneidade no encontro. Os estudiosos dizem que a fisionomia das pessoas costuma revelar muita coisa. Fiz questão de observar atentamente este detalhe: os rostos dos que estavam presentes ao encontro. Não havia alegria, nem mesmo nos dois principais protagonistas; aquela alegria que devia caracterizar o reencontro de irmãos, depois de um longo período sem se ver. O que se via eram expressões de uma profunda tensão. Os dois líderes pareciam estar menos tensos, mas a platéia ao seu redor manifestava visivelmente sinais de muita tensão. Aliás, em alguns rostos era bem visível a raiva, o ódio, o fechamento. Fiz um esforço, mas não consegui em nenhum momento enxergar pelo menos o esboço de um sorriso na face dos outros padres e bispos que rodeavam o papa e o patriarca. Isso, para mim, diz muita coisa.
Sabe-se que o ambiente onde se deu o encontro entre Francisco e Bartolomeu, tido como o sepulcro de Jesus e o local de onde partiu o anúncio da ressurreição, é ainda hoje palco de verdadeiras disputas entre as Igrejas cristãs. Têm-se conhecimento inclusive de cenas recentes de violência física entre membros das diferentes Igrejas neste local, que deveria ser um ponto de comunhão, de união e de convivência amorosa. Há uma verdadeira luta pelo controle dos espaços físicos e isso só nos pode causar dor e tristeza.
Ora, isso não pode continuar acontecendo. A unidade dos cristãos é indispensável para o futuro da humanidade. Não podemos continuar insistindo na paz mundial, se os seguidores daquele que foi considerado “o Senhor da paz” (2Ts 3,16) continuam se digladiando, a começar do local em que, segundo a tradição, teria sido colocado o corpo do Mestre, após a sua crucifixão, e de onde ele teria saído vitorioso sobre a morte. Todos os apelos das Igrejas pela paz no mundo se tornam insignificantes se a humanidade sabe que os cristãos continuam divididos, disputando entre si inclusive a posse pelos “lugares santos”. Os discípulos e as discípulas de Jesus têm o grave dever de buscar a unidade, se não quiserem continuar sendo acusados de serem os responsáveis pelas divisões existentes hoje no mundo. Historicamente o cristianismo é o grande responsável por grandes tragédias mundiais, como a primeira e a segunda guerra mundial. Os países envolvidos nestas tragédias são herdeiros da cultura cristã, incapaz de fomentar, ainda hoje, a harmonia e a paz entre os povos.
No que diz respeito à busca da unidade entre as Igrejas cristãs históricas há que se voltar ao modelo anterior às grandes rupturas entre a Igreja de Roma e a Igreja do Oriente, no século XI, e entre a Igreja Romana e os herdeiros de Lutero e Calvino no século XVI. E o que existia antes? Inicialmente cada Igreja local tinha a sua autonomia, como núcleo de discípulos e discípulas de Jesus. Estas Igrejas, na medida em que iam se constituindo, escolhiam alguém para presidi-las e, consequentemente, para presidir a ceia do Senhor ou Eucaristia. Este presidente tinha nomes diferentes, conforme a cultura do local em que se encontrava a Igreja. Podiam ser chamados de bispos, presbíteros e diáconos. Quando, por acaso, surgia entre elas alguma dificuldade isso era resolvido através de encontros, de reuniões, de sínodos e, mais tarde, de concílios. Tal costume foi introduzido ainda na época dos apóstolos, como nos atestam os escritos neotestamentários (At 15,13-35).
Algum tempo depois, quando as Igrejas adotam o sistema piramidal vigente no Império, os bispos passam a deter o poder de consagrar os novos bispos, os presbíteros e os diáconos. Aos poucos as Igrejas locais vão se constituindo ao redor dos bispos, os quais, sempre segundo o esquema imperial, passam a ter também funções de administração de um grupo de Igrejas locais de uma determinada região. Com o passar do tempo, as Igrejas vão se aglutinando em torno de três grandes Igrejas locais: Roma, Alexandria e Antioquia. Mais tarde, especialmente durante o concílio de Éfeso e de Calcedônia, reconheceu-se o direito de algumas Igrejas locais se reunirem em torno da Igreja de Jerusalém, tido como a primeira Igreja. Em 381 se reconhece a posição da Igreja de Constantinopla, capital do império oriental.
Assim sendo, as Igrejas locais, todas com sua autonomia, vão se congregando em torno de cinco grandes Igrejas que se situavam em pontos estratégicos do Império romano: Roma, Alexandria, Antioquia, Jerusalém e Constantinopla. E com isso foi se criando a tradição de que os cinco bispos destas Igrejas formavam uma espécie de pentarquia. As cinco Igrejas passam a ser consideradas patriarcados e os cinco bispos, chamados patriarcas, tidos como sucessores dos apóstolos e pastores supremos, são vistos como escolhidos pelo Espírito Santo para guiar a Igreja em posição de igualdade. Isso se baseava numa tradição segundo a qual estas cinco Igrejas eram de origem apostólica, isto é, tinham sido fundadas por apóstolos de Jesus.
Um pouco antes da formação dos patriarcados, provavelmente ainda no final do primeiro século da era cristã, se introduziu o costume de se apelar para a Igreja de Roma, quando surgia algum tipo de problema entre as Igrejas locais. Isto porque não era mais possível reunir todos os bispos que presidiam as Igrejas, uma vez que o número de Igrejas locais tinha aumentado e a realização de um concílio se tornava cada vez mais difícil e oneroso. Muita coisa era resolvida através de sínodos ou concílios regionais ou provinciais. Mas quando não se conseguia um consenso, apelava-se para a Igreja de Roma, cujo bispo era convidado a dar a palavra final sobre o assunto. E o que o bispo de Roma dizia era tido por todas as Igrejas como a palavra definitiva sobre a questão. Disso surgiu a expressão latina: Roma locuta, causa finita est, ou seja, “Roma falou, a causa está encerrada.
Este costume de apelar para Roma surgiu a partir de uma tradição, segundo a qual os apóstolos Pedro e Paulo teriam sido martirizados naquela cidade. E por serem considerados os apóstolos mais representativos do anúncio do Evangelho de Jesus ao mundo (Gl 2,7), a Igreja de Roma passa a ser vista como aquela que tem a primazia sobre as demais Igrejas, ou seja, aquela que pode dar uma palavra final sobre determinadas questões. Porém, inicialmente esta primazia não significava um primado e nem o bispo de Roma era considerado sucessor de Pedro. Não se atribuía ao bispo de Roma as prerrogativas que lhe serão atribuídas mais tarde, inclusive com a interpretação literal de textos bíblicos, como aquele de Mateus (16,17-19).
Uma interpretação desse tipo vai aparecer pela primeira vez no século V, com o papa Bonifácio I (418-422); se radicaliza com o papa Gregório VII. Este papa, reagindo à intromissão de imperadores e príncipes na Igreja, empreende uma reforma que culmina na absolutização do poder papal. Gregório VII (1073-1085) entendia que o poder do papa, tornado automaticamente santo a partir do momento em que era eleito (daí o título de “santidade” ou de “santo padre” atribuído ao papa), estava acima de todos e acima de tudo. Somente o papa recebeu o “poder das chaves”, ou seja, o poder de “ligar e desligar” (Mt 16,19). Por essa razão todas as pessoas da Terra devem se submeter ao seu poder. Tal interpretação chega ao seu auge no final do século XIX, quando o primeiro Concílio realizado no Vaticano, por forte pressão do papa Pio IX, decreta a infalibilidade papal.
Pode-se concluir, então, que a primazia da Igreja de Roma, que vigorou durante o primeiro milênio, não incluía uma centralização de poder absoluto, a ponto de fazer do bispo de Roma um super bispo e da Cúria Romana uma monarquia absoluta, com poderes absolutos, a ponto de intervir autoritariamente e indevidamente sobre a vida das Igrejas locais. A primazia era da caridade, ou seja, para ajudar as Igrejas locais a viverem em paz e concórdia. Jamais foi pensada em termos absolutos, autoritários e de dominação, como lamentavelmente aconteceu no segundo milênio, sendo inclusive uma das causas das muitas divisões na Igreja. Por essa razão, para se chegar à unidade desejada, é indispensável que a Igreja de Roma volte a ser o que era no início, renunciando a todo tipo de autoritarismo e de mando sobre as demais Igrejas. Que volte a ser serviço de caridade para a unidade e não exercício de poder monárquico absoluto sobre todo o cristianismo. É indispensável também que as demais Igrejas, inclusive aquelas nascidas a partir da Reforma, acolham esta função da primazia da Igreja local de Roma. Sem esse esforço mútuo, a unidade entre os cristãos não virá e a mensagem do Evangelho será cada vez mais enfraquecida pelo contra-testemunho da divisão.

José Lisboa Moreira de Oliveira

terça-feira, 27 de maio de 2014

Fatos & Personagens: André, o louco de Cristo

André, o louco

A veneração de um santo é determinada sobretudo pelo ideal evangélico que através da sua figura é transmitido de geração em geração. Somente assim podemos compreender a extraordinária importância de André, o primeiro “louco de Cristo” da Igreja bizantina.

As notícias históricas sobre ele são contraditórias, a ponto de muitos duvidarem da sua existência. Tudo indica que seja um escravo originário da Scizia. Segundo seu biógrafo, um tal de Nicéforo, presbítero da igreja de Santa Sofia, André foi educado por seu senhor, que o fez seu secretário.

Depois, ainda muito jovem e repentinamente, André começou a mostrar claros sinais de loucura. Seu senhor o prendeu com correntes junto à igreja de Santa Anastácia, mas foi inútil: já havia começado a aventura do mais amado “louco de Cristo” de Constantinopla. Doravante, ele viverá simulando tal degrado exterior que provocava asco até aos animais. Segundo a tradição, fazia isso para poder servir às pessoas na humildade e no escondimento.

Visionário e fascinado pelo futuro do ser humano, André expressou com a vida e com numerosos diálogos a sua espera do Reino de Deus e do juízo e final dos tempos que as Escrituras anunciam para a fim da história. Quem o acompanhava como interlocutor era Epifânio, uma pessoa dotada de bom juízo, que se tornará patriarca de Constantinopla.

Diferentemente de seu predecessor de Emesa, Simão o louco, André não simulava a loucura para desmascarar os pecados das pessoas que encontrava, mas dedicou a toda sua vida para indicar um mundo invisível, uma sabedoria diversa. Talvez seja por isso que ele é muito amado pelos monges bizantinos, que dedicaram a ele inúmeras pequenas igrejas, nos lugares mais impensáveis.

Na Igreja russa, a memória de André está ligada à festa da proteção da Mãe de Deus, profetizada por ele numa das suas mais célebres visões.


(Comunità de Bose, Il libro dei testimoni, San Paolo, Milano, 2002, p. 261-262)

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Sexto Domingo da Pascoa (Ano A - 2014)

Espírito  da Verdade, consola e emancipa o povo de Deus!

A experiência  de orfandade é semelhante à situação de uma pessoa que perdeu as referências fundamentais e, sendo publicamente acusada, não encontra ninguém que a defenda. É como alguém que é processado e não conta com um advogado que fale em seu nome. Denota falta de assistência, de proteção, de defesa, de consolação, enfim, uma situação de vulnerabilidade. Nestas circunstâncias, por mais clara que seja a inocência, sua liberdade e dignidade correm sérios riscos
É assim que se sentiam os apóstolos naquela misteriosa noite de despedida narrada pelo evangelista. Eles haviam partilhado pão e vinho e visto Jesus se inclinar e lavar seus pés. Haviam ouvido da sua própria boca que um deles o trairia, outro o negaria e todos se dispersariam. Sentiam que a imagem de Deus que tinham construído se dissolvia diante do ensino e dos gestos de Jesus. Anteviam o destino de Jesus – prisão, condenação e execução – e sentiam-se inseguros e órfãos da utopia do Reino.
É neste contexto que Jesus promete enviar um outro advogado/defensor: alguém que falaria por eles e em lugar deles nas acusações e nos tribunais. Este defensor agiria como os pais, que, além de serem o fio que liga as novas gerações ao passado e os indivíduos a uma família, assumem a defesa e a tutela dos filhos menores. Agiria como Jesus, que assumiu esta dupla missão junto aos discípulos: ser o advogado de defesa e o irmão primogênito que revela e torna presente o Pai.
Daí a promessa consoladora e encorajadora de Jesus Cristo aos discípulos: “O pai dará a vocês outro Defensor... Eu não vos deixarei orfãos...” O Espírito da Verdade-Fidelidade nos ajuda a superar a orfandade e nos faz filhos de Deus e herdeiros do Reino anunciado e iniciado por Jesus Cristo. Ele nos faz também perseverantes no dinamismo do Amor a Jesus Cristo e ao próximo, especialmente aqueles que padecem as maiores necessidades. O amor a Jesus Cristo se mostra na atitude cuidar do seu rebanho, e nada pode ser posto acima do amor a Jesus Cristo e aos pobres nos quais ele vive.
Entretanto, este amor não é apenas uma questão ética, um simples e inflexível imperativo categórico. O amor é um movimento livre e libertador, original e originante, que brota do núcleo mais profundo dos discípulos de Jesus como sopro novo do Espírito Santo. Neste dinamismo de êxodo de nós mesmos para entregarmo-nos e descobrirmo-nos no Outro fazemos a experiência de estar em Deus, de habitar nele em segurança, de ter um Pai real, amável, presente e próximo.
E não é só isso. Na medida em que percorrem responsavelmente este êxodo de nós mesmos em direção ao outro e ao futuro, experimentamos também o advento do próprio Deus no nosso corpo, no coração do mundo. Mediante o amor solidário não é apenas o ser humano que está em Deus, mas o próprio Deus vem habitar nesta sua amante criatura e faz dela sua morada definitiva. “Vocês compreenderão que eu estou no Pai, vocês em mim e eu em vocês...”
Alguém disse que a forma mais eficaz de acabar com o amor é torná-lo obrigatório. Mas poderíamos acrescentar: a forma mais eficaz de esterilizá-lo é reduzi-lo a um sentimento. O amor é uma relação num ambiente de aliança, uma atitude que supera a veleidade dos sentimentos. Se tivermos dúvida sobre o que significa amar, olhemos para o que fez Jesus Cristo, ensina São João. Nele certamente encontraremos mais que meros sentimentos.
Pedro pede que estejamos sempre prontos a tornar públicas as razões da esperança que nos faz viver, mas também sugere que o façamos com mansidão, respeito e delicadeza. Estejamos pois dispostos a sofrer por causa da esperança e do amor que nos faz próximos daqueles que estão longe. E que esta ação portadora do sopro do Espírito de Deus impressione e seduza os homens e mulheres e os leve a prostarem-se diante do Deus que realiza isso mediante seus servos e servas.
Deus querido e amável, Pai que defende e Mãe que consola: Vem em nosso socorro e permanece conosco nas muitas travessias que nos encantam e amedrontam. Ensina a Igreja a permanecer no teu amor, a flexibilizar seu corpo enrijecido pelo hábito das leis e pelo medo da liberdade. Que o Espírito de Lealdade e de Verdade nos mantenha no caminho do amor que teu Filho percorreu e ensinou, nos ajude a entender sua mensagem com a mente, o coração e as mãos, e nos guie como discípulos e missionários ao coração do mundo e da história. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 8,5-8.14-17 * Salmo 65 (66) * Primeira Carta de Pedro 3,15-18 * João 14,15-21)

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Fatos & Personagens: John D. Rockefeller




A fabricação do poder

No dia 23 de maio de 1937 morreu John D. Rockefeller, dono do mundo, rei do petróleo, fundador da Standard Oil Company.

Tinha vivido quase um século.

Na autópsia, não foi encontrado nenhum sinal de escrúpulo.

(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012, p. 169)

Fatos & Personagens: Savonarola


Jerônimo de Savonarola

No dia 23 de maio de 1498, em Florença, sobiu ao patíbulo o Frei Jerônimo Savonarola, pregador dominicano cujos restos mortais foram depois queimados e jogados no rio Arno. Foi o inevitável epílogo de uma vida consumida pelo fogo devorante do amor por Deus e pelo seu Reino.

Jerônimo nasceu em Ferrara, em 1452, e desde jovem se sentiu chamado a denunciar profeticamente os pecados da igreja. Admitido ao convento dominicano de Bologna, Jerônimo se tornou um renomado pregador. Homem de constante colóquio interior com o Senhor, acreditou poder transformar com a força da sua pregação apocalíptica a cidade de Florença, onde se tornara prior do Convento São Marcos.

Recorrendo a métodos não-violentos focalizados na persuasão, mesmo se às vezes de evangelicidade duvidosa, Frei Jerônimo pregou a conversão a uma sociedade que se dizia cristã, mas era corrupta e estava distante da lógica do Reino. Entrou diretamente na política internacional da elite de Florença, e suas opiniões se mostraram constrastantes com as da Santa Sé. Isso o levou a sofrer a excomunhão, em 1497. E junto com os favores do Papa, Jerônimo perdeu logo também os favores da cidade, que começou a duvidar das suas profecias.

Levado à prisão, Savonarola acabou vítima das próprias debilidades e, sob tortura, desmentiu grande parte daquilo que fizera e dissera. Foi condenado à morte como herético e cismático, mesmo que no plano doutrinal não tivesse pregado nada que fosse contrário à tradição da igreja.

Próximo da morte, Jerônimo compôs no cárcere estraordinárias orações nas quais reconhecia a própria miséria, se confiava à misericórdia de Deus e dos irmãos, e pedia perdão pelas próprias fraquezas. Savonarola morreu junto com dois companheiros que lhe restaram fiéis, bendizendo a multidão que acorria para presenciar o espetáculo da sua humilhação.

(Comunità de Bose, Il libro dei testimoni, San Paolo, Milano, 2002, p. 248)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Os opositores do Papa Francisco

A dimensão conflitiva do seguimento de Jesus

Alguns sites de notícia vêm mostrando com mais frequência o fato de que, cada vez mais, grupos católicos ultraconservadores estão entrando em “rota de colisão” com o papa Francisco e, mais especificamente, com as ideias e as ações do pontífice. Nota-se, não tanto nesses sites, mas em alguns católicos, certa perplexidade, como se conflitos no cristianismo fossem coisas negativas ou novidades. Algumas pessoas ainda vivem mergulhadas na ingenuidade de certo irenismo, ou seja, de que se deve buscar a unidade a qualquer custo. Alguns ainda acreditam que a unidade deve estar acima de tudo.
Pensar assim, além de ser ilusão, é falso. Jamais podemos esquecer que, como cristãos, somos seguidores de um “bandido”, crucificado porque se recusou a negociar com o poder religioso de sua época e de seu povo e com o poder romano dominador. Recusou uma falsa unidade. O próprio Jesus, segundo as quatro versões dos Evangelhos, não enganou ninguém e não prometeu tranquilidade, sombra e água fresca para seus seguidores. Pelo contrário, advertiu severamente que o seu seguimento era muito perigoso e que a opção por ele e pelo Reino provocaria divisões muito sérias: “Vocês pensam que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu lhes digo, vim trazer divisão” (Lc 12,51). Uma divisão que chegaria a arrebentar por completo o núcleo mais duro da sociedade da sua época e de sua cultura: a família. A opção por ele provocaria, sem dúvida alguma, rupturas profundas entre pai e filho, mãe e filha, sogra e nora etc. (Lc 12,53). Uma excelente metáfora para deixar bem claro o que significaria para as pessoas a decisão de colocar-se no seu seguimento.
O conflito provocado pelo seguimento de Jesus seria tão violento, a ponto dele mesmo advertir os discípulos sobre a real possibilidade de perder a vida (Mc 8,34-37). Alguns estudiosos da Bíblia afirmam que esse “perder a vida” significava concreta e claramente a possibilidade de ser assassinado pelo sistema religioso e político, morrendo de forma ignominiosa, o que era considerado, dentro da cultura religiosa da época, uma verdadeira maldição divina (Gl 3,13). E ao que tudo indica isso deixou os discípulos apavorados, a ponto de Pedro tentar dissuadir Jesus (Mc 8,32-33), propondo retornar ao modelo que foi proposto ao Mestre no início de seu ministério: o caminho da fama e do compromisso sem compromisso, o querer agradar as massas (Mc 1,37). Coisa que Jesus rechaça peremptoriamente (Mc 1,38-39; 8,33).
Porém, este pressuposto não dá ao cristianismo o direito de ser beligerante, de provocar conflitos ou até massacres, como lamentavelmente aconteceu no período das Cruzadas e da Inquisição. Os discípulos e as discípulas de Jesus não provocam conflitos e guerras. Eles sofrem perseguições e podem ser martirizados por causa de suas opções concretas. O que o Mestre pede deles e delas é que não fujam do conflito, tendo que renunciar à profecia ou fazer pactos ambíguos, com a finalidade de salvar a própria pele. Por isso os textos neotestamentários apresentam dois motivos que podem levar os seguidores e as seguidoras de Jesus a se encontrarem, de repente, no meio de conflitos. Esses motivos se tornam também critérios decisivos para não abandonar o conflito, pois abandoná-lo seria o mesmo que trair a causa do Mestre.
O primeiro motivo é a defesa do povo, colocando-se contra a intransigência da religião que oprime, massacra, exige, não usa de misericórdia, pune, escraviza e excomunga. Como Jesus, os discípulos e as discípulas precisam, sem meios-termos, denunciar a arrogância do sistema religioso que, com a sua prepotência, substitui os mandamentos divinos por meros preceitos humanos (Mc 7,1-23). Ora, tal atitude põe os seguidores e as seguidoras de Jesus em confronto direto com a religião oficial, representada antigamente pelos escribas e fariseus, e hoje pela ala ultraconservadora das Igrejas. Nessa defesa do povo está incluída também uma posição de denúncia contra os sistemas políticos opressores que exploram o ser humano, transformando-o em mercadoria, em coisas, em objetos a serem descartados (Tg 5,1-6). A reação do sistema político é violenta e o conflito é certo. Aliás, o sistema religioso e o sistema político costumam se unir para defender seus interesses (At 13,50). Por trás de um discurso religioso conservador está sempre a defesa dos interesses econômicos das elites e poderosos, e todo discurso político de direita costuma se amparar sempre em sistemas religiosos ultraconservadores. Assim, por exemplo, na ditadura chilena, Pinochet comungava nas missas celebradas pelo então núncio Ângelo Sodano, e esse frequentava a casa, os almoços e os jantares opulentos oferecidos pelo ditador.
O segundo motivo capaz de colocar os cristãos e as cristãs no meio do conflito – e também critério para não fugir dele – é a opção pelos pobres, consequência da atitude de se colocar do lado do povo. Segundo o próprio Jesus, a Boa-Notícia que ele veio trazer é destinada antes de tudo aos pobres, aos quais é anunciada a libertação e proclamada o fim da opressão (Lc 4,18-19). Por isso, desde o início do cristianismo, a opção pelos pobres é um dos sinais da autenticidade do seguimento de Jesus (Mt 11,4-6). A falta de opção pelos pobres é a expressão mais evidente de que a comunidade cristã se encontra numa situação de pecado, ou seja, de ruptura com Deus (Tg 2,1-13).
Por essa razão, a unidade sonhada por Jesus para a sua comunidade (Jo 17,20-21) só pode ser feita em torno desses dois critérios. A unidade não pode ser imposta a partir de dogmas e de excomunhões e nem também por meio de consensos genéricos e ambíguos. A unidade se faz única e exclusivamente a partir da livre adesão dos discípulos e das discípulas a esses dois princípios. Sem livre adesão não há unidade; há autoritarismo ou falsidade. Foi o que entenderam as primeiríssimas comunidades cristãs, ainda no tempo dos apóstolos. Quando surge o primeiro grande conflito no cristianismo, os apóstolos se reúnem para conversar. E depois de muito diálogo chegam à conclusão que se devia deixar aos seguidores e às seguidoras de Jesus a máxima liberdade, exceto em três coisas indispensáveis e inegociáveis: o rompimento com a idolatria, a exclusão das uniões ilegítimas (At 15,28-29) e a opção pelos pobres (Gl 2,10). O rompimento com a idolatria é rompimento com toda religiosidade e religião que escraviza e desumaniza. A exclusão das uniões ilegítimas significava romper com uma relação que não considera a mulher como ser humano; uma relação sem compromisso com a dignidade da companheira. Portanto também uma opção pela pessoa mais frágil, mais pobre.
Em recente diálogo com David Lyon, Zygmunt Bauman afirmou que ser ético não significa ter uma receita para uma vida fácil e confortável. Afirmou também que ser ético não é conformar-se às normas aceitas e obedecidas pela maioria, como pensam alguns, mas, quase sempre, resistência e ruptura com elas. E, quem resiste e rompe, paga um preço (Vigilância líquida, Zahar, 2014, p. 140-141). Penso que, olhando atentamente os Evangelhos, se possa dizer o mesmo do seguimento de Jesus.
Assim sendo, acreditamos que o papa Francisco já se encontra no meio do conflito e não pensa numa falsa unidade que junte o que não pode estar junto. Não se pode, por exemplo, juntar a Igreja representada por João XXIII e a Igreja representada por Pio IX e João Paulo II. São modelos eclesiológicos inconciliáveis, como a água e o óleo. Mesmo assim, cremos que Francisco, forçado na recente canonização de papas a juntar partes inconciliáveis que o sistema religioso anterior uniu artificialmente, prosseguirá no seguimento de Jesus, convocando a Igreja Católica inteira a fazer o mesmo. Resta saber se ele encontrará pessoas católicas com a mesma coragem, ou se irá se deparar cada vez mais com opositores resistentes ou, o que é pior, com sabotadores disfarçados de “santos do pau-oco”. Esses “santos”, geralmente vestidos impecavelmente de clergyman ou de batina, que, embora não afrontem diretamente o papa, induzirão o povo a permanecer numa religiosidade melosa, idolátrica, opressora, que esquece os pobres e sofredores, silenciando de propósito acerca dos recentes apelos do atual pontífice. Vamos esperar para ver ou vamos fazer alguma coisa?

José Lisboa Moreira de Oliveira

Quinto Domingo da Pascoa (Ano A - 2014)

Crer em Jesus significa continuar sua missão libertadora
O belo e sério diálogo de Jesus com seus discípulos, descrito hoje pelo evangelista, transcorre na noite da última ceia, após o lava-pés.  O clima é de sincera amizade e de apreensão frente às ameaças; de alegria de quem se entrega inteiramente e de dúvida de quem não consegue entender o caminho do serviço; de perturbação dos discípulos e de Jesus também! É neste clima que Jesus fala de um lar cálido e com muitos lugares, do caminho para o Pai, da presença do Pai na sua vida e nas suas ações.
Como os discípulos depois da ceia de aliança e despedida, às vezes nos sentimos envolvidos por nuvens tenebrosas.  O horizonte utópico se escurece, não sabemos o rumo que devemos seguir e nada parece disposto a hospedar nossos sonhos. É neste contexto que Jesus promete: “Existem muitas moradas na casa do meu Pai”.  Podemos estar seguros de que, no coração de Deus há um lugar para aqueles que percorrem o caminho do êxodo, rumo a uma terra onde a justiça beija a paz.
E quem quiser chegar ao Pai e ao mundo por ele sonhado tem um caminho seguro: este caminho é o próprio Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, aquele que coloca os últimos em primeiro lugar, que acolhe enobrecido o perfume que uma mulher mal-vista derrama nos seus pés, que se reparte no pão, que se ajoelha para lavar os pés dos discípulos, que nos ama como amigos e amigas, que perdoa o ladrão arrependido. Este é o Caminho seguro que leva infalivelmente ao Pai.
Naquilo que diz e naquilo que faz, Jesus Cristo é também a Verdade que nos acalma e enche de alegria. A verdade sobre a pessoa humana e sobre Deus. A verdade mais profunda do ser humano é sua capacidade de ternura e solidariedade. A verdade mais profunda de Deus é sua aliança e lealdade com seu povo, sua companhia insuperável. Esta é uma verdade que exerce uma incrível atração sobre nós, que lança-nos para fora e para frente, e não é algo de que podemos nos apropriar.
Em tudo o que fez e viveu, inclusive no aparente abandono sofrido na cruz, Jesus estava no Pai e o Pai estava nele. Ele aprendeu e ensinou aos seus discípulos que não há alimento mais saudável e nutritivo que realizar a vontade libertadora de Deus, e é isso que significa estar no Pai. Ele agiu sem medo, cansaço ou limites no resgate da dignidade e da vida das pessoas necessitadas, e isso quer dizer que Deus estava nele. É por isso que, respondendo ao convite do salmista, exultamos de alegria.
A comunidade apostólica nos mostra claramente que a fé em Jesus é dinamismo para agir e intuição para criar. Nenhuma pessoa necessitada deve ficar sem auxílio e nenhuma comunidade pode ficar sem anúncio da Boa Notícia.  Pelo testemunho do socorro aos pobres em suas necessidades e pelo anúncio explícito dos apóstolos, a Palavra do Senhor se espalha, corre o mundo, é assimilada por pessoas e culturas. É esta Palavra que ressoa hoje com sabor de novidade na celebração dominical. E é ela que nos alimenta e nos constitui discípulos e missionários!
Pedro fala de Jesus como a pedra rejeitada pelos construtores, mas preciosa para Deus e para aqueles que acreditam nele. Aquele homem que os poderes do mundo rejeitaram é acolhido como mais digno e precioso por Deus e pelo povo de Deus. Aquele homem crucificado e achincalhado é a própria imagem viva de Deus. Naquele homem vindo da periférica Nazaré e da suspeita Galiléia, que sentou à mesa com pecadores, que defendeu prostitutas, que curou pessoas impuras estava vivo e ativo o próprio Deus.
Na intuição de Pedro, somos todos pedras vivas que, unidas a Jesus Cristo, a pedra angular, são  indispensáveis na construção do templo vivo no qual a vida plena é a mais bela oferta a Deus. Somos um povo comprado a preço de ouro por Deus, constituídos como povo eleito, sacerdócio de sangue real e nação santificada. Deus trata como povo amado e especial aqueles que os poderes e instituições tendem a considerar como nada ou uma nulidade.
Deus Pai e Mãe, presença ativa e encorajadora em Jesus e na comunidade daqueles que o seguem: dá-nos a criativa fidelidade e a responsável liberdade dos discípulos da primeira hora. Afasta de nós o medo da inovação, o receio do engajamento no socorro às vítimas e na denúncia dos que oprimem. Corrige na tua Igreja o mau-gosto de situar-se comodamente ao lado dos poderosos e a tendência de pensar que a pluralidade vital é relativismo total. Não deixes que a tua Igreja se perturbe diante da complexidade, dos desafios e das possibilidades do mundo.  E ajuda-nos a continuar a obra de Jesus. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 6,1-7 * Salmo 32 (33) * Primeira Carta de Pedro 2,4-9 * João 14,1-12)

domingo, 11 de maio de 2014

Um bispo intercede por um crismando preso

Filho agradecido e pastor enternecido
(testemunho de Dom Edson Damian, no dia das mães)

Hoje, como não podia deixar de ser, vezes sem conta lembrei de vocês e de nossa querida mãe. Lembrei principalmente dos momentos de angústia e expectativa que vocês viveram durante a complicada cirurgia e a lenta recuperação da mãe:  29 dias de hospital. Quem está mais perto sofre mais. O reconhecimento da mãe por tudo o que vocês fizeram, ela expressou no momento de minha  despedida, no portão da nossa casa. apontando para a Isabel e a Dina, me fez esta recomendação: "Cuide bem destes dois anjos". Além deste dois, ela teve muitos outros anjos ao redor dela...
Ontem e hoje, nas missas celebradas pelas mães, lembrei um poeminha que, na minha memória teria sido recitado na escola pelo mano João. Mas, na conversa telefônica desta manhã, disse-me que não lembrava. Talvez tenha sido declamado pelo Adalberto. É muito singelo, mas  diz uma verdade muito profunda. Por isso, quero dedicá-lo a vocês, queridas mães de nossa família e mãe amigas: "Eu vi minha mãe rezando / aos pés da Virgem Maria. / Era uma santa escutando / o que a outra santa dizia".
Há pouco confirmei que Deus escuta a oração de nossas mães. Na primeira missa de hoje, conferi o Sacramento da Crisma a vários jovens. Na entrega das lembranças, percebi que havia faltado um deles chamado Gilson. A catequista me informou que ele tinha sido preso na sexta-feira de madrugada. Ela estava triste porque este jovem tinha acompanhado com vivacidade e interesse os encontros preparatórios durante dois anos e meio. A mãe dele tinha ido à delegacia, mãe não liberaram o filho para que pudesse ser crismado.
Após o almoço fui à delegacia e consegui retirar o Gilson e também seu irmão, que tinha sido preso com ele. Motivo: bebedeira e briga na rua, às 02h da madrugada. É a fragilidade de muitos parentes indígenas daqui. Mas percebi que era o momento  de ajudar estes irmãos e alegrar a pobre mãe justamente no seu dia.
E foi o que aconteceu. Por volta das 13h00 levei dos dois à casa materna. A mãe é viúva e moram com ela mais duas filhas, uma delas casada. Já tinham almoçado, mas a mãe tinha guardado almoço para os dois filhos pródigos que chegaram famintos. Rezamos juntos, dei bons conselhos: "Se vocês forem levados outra vez à cadeia, não pensem que o bispo irá tirá-los...” Para completar a alegria de todos, o Gilson será crismado, às 19h30, com a turma da catedral. Pedi que toda a família o acompanhasse.
No Domingo do Bom Pastor Ressuscitado, não tinha outra alternativa a não se esta: buscar o jovem que tinha se perdido. Depois, eram dois. Oxalá perseverem no caminho de Jesus com a força dos dons do Espírito Santo.
Assim vou tentando praticar o que nos ensina o querido papa Francisco: "Fazer as pequenas coisas de todos o dias com um coração grande (macrocórdia) e aberto a Deus e aos irmãos...dentro de grandes horizontes".
Abraço e beijo vocês com afeto de irmão menor no Amor de Jesus, nosso Bom Pastor Ressuscitado.
+ edson damian

bispo de São Gabriel da Cachoeira, AM

sábado, 10 de maio de 2014

Celebrando o dia das mães

Dia das mães: celebrar sim, comemorar não!


Neste segundo domingo de maio, como em todos os demais, celebraremos o Dia das Mães. Celebrar não é o mesmo que comemorar. Comemorando já estão a mídia e o comércio: a primeira ‘vendendo’ a imagem da ‘mãe ideal’ – elegante, sorridente, jovem, moderna; o segundo ‘ensinando’ filhos e filhas a transformar em realidade aquela imagem...
Celebremos, portanto, ao invés de simplesmente comemorar...
Celebremos a mãe sem charme, que esquece de si mesma, dia após dia, pois seus recursos não chegarão nunca para comprar moda: ela precisa alimentar os filhos.
Celebremos as mães cheias de rugas prematuras, que não têm tempo para a academia, pois, do nascer ao pôr do sol, cuidam de seus filhos especiais.
Celebremos as mães muito jovens e inexperientes, que sequer tiveram tempo de se preparar para a maternidade, pois, driblando o sono, seus olhos assustados e sua intuição procurar adivinhar, no choro do bebê, o que lhe falta em conhecimento e prática.
Celebremos as mães sem sorriso que visitam seus filhos nas clínicas de recuperação de dependentes químicos ou nas prisões, pois, a despeito de seus esforços, não conseguiram que seu carinho se sobrepusesse à tentação de sensações inusitadas ou do dinheiro fácil, num país onde a honestidade é mal remunerada e a corrupção em todos os níveis faz escola.
Celebremos as mães idosas, confinadas a asilos onde perdem a identidade e os laços, pois, sem recursos ou sem tempo, os filhos que ela deu ao mundo já não se lembram da própria dívida de amor e de cuidado.
Celebremos as mães que já se despediram desta vida e estão, com certeza, abençoando sem cessar seus filhos que lutam pela vida.
Celebremos, sim, e lembremos – cada um de nós – de todas as mães que nos cercam e que merecem, hoje e sempre, não importa quem e como sejam, a gratidão de quem recebeu, através delas, o mais precioso dos dons: a vida.

 Maria Elisa Zanelatto

Assembléia da CNBB

Querido amigo,
Querida amiga!

Participei da 52ª assembléia Geral da CNBB. Forma aprovados dois documentos que vinham sendo estudados. Que bom que só agora foram aprovados. Saíram enriquecidos, e como, pela Exortação Apostólica Evangelli Gaudium e outros valiosos ensinamentos do querido Papa Francisco. Excelentes citações do papa permeiam os dois textos.
Os textos aprovados são: “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. Uma conversão pastoral da paróquia”; “A Igreja e a questão agrária brasileira no início do século XXI”. Ambos muito oportunos.
Também os leigos apresentaram um documento considerado prioritário; "Os cristãos leigos na Igreja e na sociedade". Recebeu muitas emendas e sugestões. Foi aprovado como tema de estudos. Deverá amadurecer para ser aprovado na próxima assembléia.
Profética foi a sessão privativa sobre a Igreja na Amazônia. Foi coordenada pelo Cardeal Cláudio Hummes, presidente da comissão e pelo Dom Erwin, presidente do CIMI. Considero-os embaixadores e fiéis interpretes das propostas corajosas e concretas cobradas pelo papa.
Na fila do povo falei sobre a Igreja indígena de São Gabriel da Cachoeira. Vários bispos, velhos amigos, comentaram comigo que foi uma sessão histórica. "Foi preciso esperar trinta anos, disse-me um deles, para que muitos bispos pudessem expressar-se com liberdade sem o perigo de serem logo denunciados ao papa e à cúria romana".
Mas, como foi uma sessão privativa, deixo você à espera de futuros desdobramentos, que certamente virão. Alguns solicitaram que as propostas apresentadas constituam o cerne da pauta da assembléia do próximo ano. Vou adiantado alguma coisa. O Cardeal Hummes, a pedido do papa, visitará São Gabriel da Cachoeira. Permanecerá conosco durante uma semana de estudos sobre evangelização inculturada. Vai nos ajudar no discernimento sobre ministérios às lideranças indígenas.
"Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar à próprias seguranças" (E G 49).
Unido na oração e na alegria de amar e servir, abraço você com afeto de irmão menor no Amor de Jesus, o Bom Pastor Ressuscitado.

+ edson damian
Bispo de S. Gabriel da Cachoeira - AM

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Quarto Domingo da Pascoa (Ano A - 2014)

Jesus é pastor, porta e caminho que leva à vida abundante
O quarto domingo do tempo pascal é marcado pela bela imagem do bom pastor. É uma metáfora poética que nos conduz ao mundo pastoril e sugere presença, conhecimento, orientação, carinho, ternura, segurança. Reunida em torno do ressuscitado e convicta de que ele nos daria quantas vidas tivesse, a comunidade cristã pede a Deus que, apesar de sua fraqueza e contradições, encontre segurança no pastor bom, aprenda a reconhecer sua voz, como a mãe conhece os sussurros dos filhos e se comprometa com a missão de despertar, chamar, formar e enviar as diversas vocações eclesiais.
O Espírito Santo, dom que nos vem do Pai pelo Filho, possibilita aos discípulos e discípulas de Cristo, não obstante as barreiras do tempo e do pecado, uma relação pessoal com Jesus Cristo. E esta relação começa com a experiência de ser chamado pelo nome, pelo que somos realmente. A Deus não importam as funções hierárquicas, os papéis sociais ou eclesiais, os títulos de crédito ou de honra, as fraquezas éticas e morais, mas unicamente o nome, a realidade humana que existe e subsiste sob toda esta maquiagem ou sujeira. O nome expressa nossa identidade mais profunda e original.
Reconhecendo a voz daquele que nos chama pelo nome, descobrimos também que Jesus nos conduz para fora. Ao bom pastor não interessa atrair o rebanho para dentro de um redil e conservá-lo seguro, mesmo que este redil se chame Igreja. Ele não quer conduzir as pessoas a uma vida interior projetada como indiferença para com o mundo exterior. Como bom pastor, ele chama pelo nome e conduz aqueles que o ouvem para fora de si mesmos e para fora de um sistema que anestesia e, concomitantemente, separa, hierarquiza e aprisiona as pessoas. Ele chama a sair às periferias!
Neste percurso, o próprio Jesus caminha à nossa frente, livre e solidário, militante e sonhador, cordeiro e pastor. Ele não considera suficiente despertar os homens e mulheres e mostrar-lhes um caminho. Ele se faz caminho e companheiro de caminhada, um pouco à frente para dissipar medos e incertezas, mas sempre próximo para curar feridas e fortalecer nos tropeços. No fim, ele é porta aberta em forma de cruz, passagem-páscoa para a liberdade, seta que aponta para um outro mundo possível e urgente. O importante é reconhecer sua voz que nos chama pelo nome e sair porta a fora de nós mesmos.
Enquanto pastor, além de manter uma relação personalizada com cada pessoa, Jesus também reúne um rebanho, uma comunidade, uma coletividade. O caminho de saída, sem deixar de ser pessoal e tocar a cada um, é sempre comunitário, solidário. Somos ovelhas do seu rebanho, membros de um povo solidário no pecado e na graça. Recebemos o bônus e o ônus de estarmos ligados a um povo e a um mundo que caminha para a liberdade tropeçando nos próprios pés, mas que também mantem o olhar fixo naquele que vai à sua frente. Deus quis nos salvar constituindo-nos como povo!
O sonho de Deus, afirmado, firmado e confirmado por Jesus Cristo, é que a vida floresça em todas as dimensões e criaturas. Não se trata de uma vida miúda, apertada, resignada e severina, mas de uma vida abundante, transbordante, de um bem viver. Esta vida não germina senão na terra do dom de si. É entrando e saindo do redil de Jesus Cristo, vivendo nossa vida como dom, que encontraremos pastagem. É na ousadia de ir além dos limites e muros erguidos para defender privilégios e ideologias mesquinhas que encontraremos o alimento que sustenta esta vida tão sonhada quanto realizada.
Escrevendo a uma comunidade imersa numa situação de dura perseguição, Pedro convida os cristãos a suportar com paciência, como Jesus, os sofrimentos causados por terem feito o bem. Isso porque a vida abundante é um milagre que costuma contar com o engajamento crítico e profético de homens e mulheres que, conscientes de serem chamados para fora, se engajam na política, nas iniciativas e movimentos que protestam, reivindicam e transformam as estruturas sociais, jurídicas e econômicas e, com isso, acabam atraindo incompreensões e perseguições.
Senhor da messe e pastor do rebanho: faz que reconheçamos tua voz e tua presença no meio de nós e à nossa frente. Ajuda-nos a suportar com serenidade as perseguições que nosso trabalho e testemunho porventura causarem. Dá-nos coragem e liberdade para fazer da Igreja um lugar de passagem, um espaço onde entramos e de onde saímos para transformar o mundo. Concede-nos mais operários para o trabalho do Reino, mas também a corajosa liberdade de remover os entulhos de leis e tradições que impedem a tantos irmãos e irmãs realizar sua própria vocação. Assim seja! Amém!

Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 2,14.36-41 * Salmo 22 (23) * Primeira Carta de Pedro 2,20-25 * João 10,1-10)