Crer em Jesus significa
continuar sua missão libertadora
O belo e
sério diálogo de Jesus com seus discípulos, descrito hoje pelo evangelista,
transcorre na noite da última ceia, após o lava-pés. O clima é de sincera amizade e de apreensão
frente às ameaças; de alegria de quem se entrega inteiramente e de dúvida de
quem não consegue entender o caminho do serviço; de perturbação dos discípulos e
de Jesus também! É neste clima que Jesus fala de um lar cálido e com muitos lugares, do caminho para o Pai, da presença do Pai na sua vida e nas suas
ações.
Como os
discípulos depois da ceia de aliança e despedida, às vezes nos sentimos
envolvidos por nuvens tenebrosas. O horizonte
utópico se escurece, não sabemos o rumo que devemos seguir e nada parece
disposto a hospedar nossos sonhos. É neste contexto que Jesus promete: “Existem
muitas moradas na casa do meu Pai”. Podemos
estar seguros de que, no coração de Deus há um lugar para aqueles que percorrem
o caminho do êxodo, rumo a uma terra onde a justiça beija a paz.
E quem
quiser chegar ao Pai e ao mundo por ele sonhado tem um caminho seguro: este caminho é o próprio Jesus Cristo, o
Cordeiro de Deus, aquele que coloca os últimos em primeiro lugar, que acolhe
enobrecido o perfume que uma mulher mal-vista derrama nos seus pés, que se
reparte no pão, que se ajoelha para lavar os pés dos discípulos, que nos ama
como amigos e amigas, que perdoa o ladrão arrependido. Este é o Caminho seguro que leva infalivelmente
ao Pai.
Naquilo
que diz e naquilo que faz, Jesus Cristo é também a Verdade que nos acalma e enche de alegria. A verdade sobre a
pessoa humana e sobre Deus. A verdade
mais profunda do ser humano é sua capacidade de ternura e solidariedade. A
verdade mais profunda de Deus é sua aliança e lealdade com seu povo, sua
companhia insuperável. Esta é uma verdade que exerce uma incrível atração sobre
nós, que lança-nos para fora e para frente, e não é algo de que podemos nos apropriar.
Em tudo o
que fez e viveu, inclusive no aparente abandono sofrido na cruz, Jesus estava no
Pai e o Pai estava nele. Ele aprendeu e ensinou aos seus discípulos que não há alimento mais saudável e nutritivo
que realizar a vontade libertadora de Deus, e é isso que significa estar no
Pai. Ele agiu sem medo, cansaço ou limites no resgate da dignidade e da vida
das pessoas necessitadas, e isso quer dizer que Deus estava nele. É por isso
que, respondendo ao convite do salmista, exultamos de alegria.
A comunidade
apostólica nos mostra claramente que a fé
em Jesus é dinamismo para agir e intuição para criar. Nenhuma pessoa
necessitada deve ficar sem auxílio e nenhuma comunidade pode ficar sem anúncio
da Boa Notícia. Pelo testemunho do
socorro aos pobres em suas necessidades e pelo anúncio explícito dos apóstolos,
a Palavra do Senhor se espalha, corre
o mundo, é assimilada por pessoas e culturas. É esta Palavra que ressoa hoje
com sabor de novidade na celebração dominical. E é ela que nos alimenta e nos
constitui discípulos e missionários!
Pedro fala
de Jesus como a pedra rejeitada pelos
construtores, mas preciosa para Deus e para aqueles que acreditam nele. Aquele
homem que os poderes do mundo rejeitaram é acolhido como mais digno e precioso
por Deus e pelo povo de Deus. Aquele homem crucificado e achincalhado é a
própria imagem viva de Deus. Naquele homem vindo da periférica Nazaré e da
suspeita Galiléia, que sentou à mesa com pecadores, que defendeu prostitutas,
que curou pessoas impuras estava vivo e ativo o próprio Deus.
Na
intuição de Pedro, somos todos pedras vivas que, unidas a Jesus Cristo, a pedra
angular, são indispensáveis na
construção do templo vivo no qual a vida plena é a mais bela oferta a Deus.
Somos um povo comprado a preço de ouro por Deus, constituídos como povo eleito,
sacerdócio de sangue real e nação santificada. Deus trata como povo amado e especial aqueles que os poderes e
instituições tendem a considerar como nada ou uma nulidade.
Deus Pai e Mãe, presença ativa e
encorajadora em Jesus e na comunidade daqueles que o seguem: dá-nos a criativa
fidelidade e a responsável liberdade dos discípulos da primeira hora. Afasta de
nós o medo da inovação, o receio do engajamento no socorro às vítimas e na
denúncia dos que oprimem. Corrige na tua Igreja o mau-gosto de situar-se
comodamente ao lado dos poderosos e a tendência de pensar que a pluralidade
vital é relativismo total. Não deixes que a tua Igreja se perturbe diante da
complexidade, dos desafios e das possibilidades do mundo. E ajuda-nos a continuar a obra de Jesus.
Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
(Atos
dos Apóstolos 6,1-7 * Salmo 32 (33) * Primeira Carta de Pedro 2,4-9 * João
14,1-12)
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