Ano A | Memória
do Martírio de João Batista | Marcos 6,17-29
(29/08/2023)
A presença de João Batista nos
evangelhos evidencia seus vínculos com o Evangelho de Jesus Cristo. Além de
preparar os caminhos para a missão de Jesus, o profeta do deserto e do rio
Jordão antecipa o desfecho da sua missão. Suas posições claras contra os desvios
éticos do seu tempo, e a coragem com que enfrenta os poderosos de plantão,
valeram-lhe a decapitação.
No texto de hoje, o protagonista é
Herodes. Herodes é judeu, mas, como de resto todas as elites sociais e
políticas, cumpre a Lei da sua religião apenas quando lhe convém. Ele tinha
medo de Jesus, e pensava que ele era uma espécie de reencarnação de João
Batista, a quem havia mandado matar. O delito de Herodes vai além do roubo da
mulher do seu irmão e da conivência com a morte de João Batista. A presença dos
grandes da Galileia na sua festa de aniversário revela a quem ele servia, e de
quem dependia.
Marcos nos apresenta uma caricatura
sarcástica de Herodes e das elites que o apoiam. Suas festas davam asas às
paixões incontroláveis e aos seus caprichos assassinos. Como em toda a realeza,
o casamento tinha fortes conotações de aliança para adquirir sustentação
política. O juramento ou promessa de Herodes à filha da sua concubina revela o
modo escuso como as elites tomam suas decisões políticas: matam para salvar a
própria honra.
João não se intimida, nem se cala,
mas não é um homem apenas preocupado com o culto ou com a moralidade dos
costumes. Uma leitura atenta dos evangelhos nos mostra um profeta engajado num
movimento de mudança, no corte raso das instituições que encobrem ou sustentam
injustiças e violências, e numa partilha radical. É nesse horizonte que ele
enfrenta Herodes.
Marcos
situa a narração do martírio de João Batista no capítulo 6 do seu evangelho,
onde a discussão é sobre a identidade de Jesus. Com isso, o evangelista
evidencia o destino de todo aquele/a q1ue anuncia e inaugura uma nova ordem
social e religiosa. E, além de uma antecipação do destino de Jesus, o destino
de João soa como um alerta.
Meditação:
· Retome
calmamente a cena, desde o seu início até seu desfecho, observando com atenção
a trama que leva à execução do profeta
· Perceba
a força política, social e religiosa da atuação corajosa de João Batista,
profeta da Judeia que estende sua missão à Galileia
· Como
você e sua comunidade cristã tem se posicionado diante de um governo belicista
e contrário aos avanços sociais no Brasil?
· Como
podemos evitar polêmicas religiosas parciais e estéreis, mas sem abandonar a
necessária dimensão política da fé?
· Você
tem medo dos conflitos provocados pela atuação profética dos cristãos em nome
do Evangelho? Por que?
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