terça-feira, 8 de agosto de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (73)

Ano A | 18ª Semana Comum | Quarta-feira | Mateus 15,21-28

(09/08/2023)

O texto proposto para a meditação de hoje omite os versículos que registram a explicação que Jesus oferece aos discípulos que o interrogam sobre o sentido da parábola com a qual fala daquilo que realmente torna a pessoa impura (v. 15-20). Depois da dura crítica aos mestres da lei e aos fariseus, e depois da instrução incisiva ao povo e aos discípulos, Jesus, mais uma vez, desembarca, com seus discípulos, em pleno território pagão.

Ali Jesus é procurado por uma mulher desprezada e marginalizada por ser pagã, por ser mulher, por ser estrangeira e por ser mãe solteira, viúva ou abandonada pelo marido (pois não há nenhuma referência a irmãos e marido). Essa mulher faz parte de um povo que a tradição judaica trata como amaldiçoado por Deus, mas ela se aproxima de Jesus e pede sua ajuda em favor de sua filha psiquicamente perturbada. É a primeira mulher a falar no evangelho de Mateus!

Inicialmente, mesmo sendo invocado como filho de Davi, o defensor ideal dos indefesos, Jesus não se importa com o grito da mulher que pede socorro, e a trata no horizonte da ideologia da supremacia dos judeus sobre os demais povos. Jesus dá a entender que foi enviado prioritariamente aos judeus, e é isso que ele se sente obrigado a fazer. Ou essa seria a ideologia que tentava os discípulos/as missionários/as na época em que Mateus escreve seu evangelho?

Os discípulos querem se livrar da mulher, mas ela não desiste, e questiona a ideologia do privilégio de Israel diante de Deus e da supremacia diante dos demais povos! Então Jesus se dirige diretamente a ela, mas para reforçar a prioridade do seu povo sobre os pagãos. E a mulher, que surge na cena como uma pessoa frágil e necessitada, manifesta explicitamente sua fé, se aventura a discutir teologia, e reinterpreta a afirmação excludente de Jesus. Ela, que apareceu tímida, atreve-se a desobedecer às repreensões dos discípulos e até a discutir com Jesus. Exemplo de uma espantosa consciência da própria dignidade.

Jesus acaba reconhecendo na luta persistente daquela mulher contra a exclusão étnica e religiosa uma clara manifestação de fé. Esta fé produz frutos, e a necessidade daquela mulher é atendida. Graças à persistência de um personagem considerado excluído e tratado como inferior, o cristianismo se abriu aos diversos povos e suas culturas. Acolhamos agradecidos/as o testemunho inquieto das mulheres numa Igreja de ministros masculinos.

 

Meditação:

§  Participe da cena: o desembarque de Jesus, os gritos da mulher, a indiferença de Jesus, a insistência da mulher e a reação de Jesus

§  Será que também nossa Igreja ainda prioriza setores privilegiados e descarta pessoas e grupos por preconceitos diversos?

§  Somos capazes de reconhecer na luta perseverante e até raivosa de algumas pessoas e grupos sinais de fé aguerrida? 

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