sexta-feira, 4 de agosto de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 06.08.2023

DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER!

O evangelista Mateus não se preocupa com os detalhes do relato. Só lhe interessa enquadrar a cena apresentando Jesus no meio do povo numa atitude de compaixão. Ele faz isso também noutras ocasiões. Esta compaixão está na origem de toda a sua ação.

Jesus não vive de costas para o povo, fechado nas suas ocupações religiosas e indiferente à dor de todo aquele povo. “Vê a multidão, sente lástima deles e cura os doentes”. A sua experiência de Deus o faz viver aliviando o sofrimento e saciando a fome daquelas pobres gentes. É assim que deve viver uma Igreja que queira tornar Jesus presente no mundo de hoje.

O tempo passa e Jesus continua ocupado em curar. Os discípulos interrompem-no com uma proposta: “É muito tarde; o melhor é despedir-se dessas pessoas e deixar que cada um compre algo para comer”. Eles não aprenderam nada com Jesus. Ignoram os famintos e abandonam-nos à sua sorte: “Que comprem comida!...” O que farão aqueles que não podem comprar?

Jesus responde-lhes com uma ordem cortante, que os cristãos satisfeitos dos países ricos nem sequer queremos escutar: «Dai-lhes vós de comer». Diante da proposta de “comprar”, Jesus propõe “dar de comer”. Não o pode dizer de forma mais clara. Ele vive clamando ao Pai: “Dai-nos hoje o pão nosso de cada dia”. Deus quer que todos os seus filhos e filhas tenham pão, mesmo aqueles que não podem comprá-lo.

Os discípulos continuam cépticos. Entre as pessoas há apenas cinco pães e dois peixes. Para Jesus é suficiente: se partilharmos o pouco que temos, pode-se saciar a fome de todos; inclusive podem «sobrar» doze cestos de pão. Esta é a alternativa: uma sociedade mais humana, capaz de partilhar o pão com os famintos, terá recursos suficientes para todos.

Num mundo onde morrem de fome milhões de pessoas, os cristãos só podem viver envergonhados. A Europa não tem alma cristã e rejeita como criminosos aqueles que vêm à procura de pão. E, entretanto, quem são aqueles que, na Igreja, caminham na direção marcada por Jesus? Por desgraça, a maioria de nós vive surda ao seu chamado, distraída pelos nossos interesses, discussões, doutrinas e celebrações. Por que nos chamamos seguidores de Jesus?

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez


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