domingo, 27 de outubro de 2024

Apóstolo é aquele que testemunha, anuncia e atualiza o Evangelho

Apóstolo é aquele que testemunha, anuncia e atualiza o Evangelho | 516 | 2.10.2024 | Lucas 6,12-19

Voltamos ao capítulo 6 do evangelho segundo Lucas para iluminar a festa de hoje (São Judas e São Simão). São Judas Tadeu não é o traidor convertido, como pensam alguns! É um segundo Judas, irmão (ou filho) de Tiago e parente de Jesus. Uma tradição antiga diz que ele era o noivo da festa de Caná, mas não há provas históricas sobre isso. Seu nome significa, literalmente, amigo íntimo, “amigo do peito”, próximo do coração. Este nome já é, por si mesmo, prenhe de significados.

São Judas nos deixou uma breve carta, que faz parte do Novo Testamento. Nela, o apóstolo sublinha os valores da vida comunitária e mostra-se muito preocupado com algumas falsas lideranças que estavam causando danos às comunidades cristãs do seu tempo. São Judas diz que essas lideranças são como nuvens promissoras que não trazem chuva, como árvores que não têm raízes, como ondas revoltosas e violentas, como astros errantes, como os seguidores de Caim. São imagens muito fortes!

Na carta, ele também pede aos fiéis que edifiquem a si mesmos sobre o alicerce da fé e perseverem no amor de Deus. E manda que conjuguem a compaixão com a cautela, e fortaleçam os cristãos vacilantes. Por isso, precisamos sublinhar que, mais que um socorro nas causas difíceis – como é amplamente conhecido em todas as partes do Brasil – São Judas Tadeu é, com os outros apóstolos, lâmpada da fé e coluna da verdade, como diz São Cirilo de Alexandria.

Mesmo que alguns dos Doze discípulos escolhidos e enviados sejam pouco conhecidos, Jesus os escolheu “a dedo”. Antes de os escolher, passou uma noite em oração, para não se enganar na escolha, e para que eles fossem símbolo do novo povo de Deus. Portanto, nenhum deles simplesmente aparece na lista para completar o número. Ser Apóstolo significa ser enviado, ser porta-voz, delegado, embaixador. Os Doze são participantes da missão do próprio Jesus Cristo, fazem o que ele fez, têm a sua dignidade, assumem sua meta e trilham seu caminho.

Celebrando a festa de São Simão (que não é Pedro) e São Judas (que não é o Iscariotis) no finalzinho do mês dedicado às missões, a comunidade cristã é convocada a renovar seu ardor missionário, a potencializar seu testemunho, a dar sua resposta ao Senhor que chama através dos clamores e esperanças do nosso povo ainda ameaçado por disputas sem fim e guerras destruidoras. Estamos respondendo com a vida ao envio para dar testemunho num círculo cada vez mais amplo?

 

Meditação:

§  Retome a cena, os gestos, perguntas e palavras de Jesus, as reações da mulher encurvada, dos chefes da sinagoga e do povo

§  Acompanha passo a passo o retiro orante, a escolha nominal e o envio dos Doze Apóstolos, embaixadores do Reino de Deus

§  Deixe que ressoe também em você e hoje o chamado e a escolha de Jesus: “Eu te amo, te chamo, te formo e te envio!”

sábado, 26 de outubro de 2024

Jesus purifica nosso olhar

Jesus purifica nosso olhar e liberta nossos pés e nossas mãos | 515 | 27.10.2024 | Marcos 10,46-52

Jesus está na última etapa do seu caminho de “subida” a Jerusalém. Ele chega à cidade de Jericó, cantada e idealizada pelos peregrinos, situada na área suburbana e a poucos quilômetros da capital. Nessa região, os mendigos, dependentes das intensas e constantes peregrinações populares, aparecem cada vez mais frequentemente. Por outro lado, os discípulos continuam cegos e fechados à proposta de Jesus, e os ricos desertam desanimados com as exigências.

Aproxima-se de Jesus um homem chamado Bartimeu, cego e mendigo, cujo nome significa “filho da impureza”, “sujo”, ou “impuro”. Os discípulos, que pensam enxergar bem, acompanham Jesus pelo caminho, mas Bartimeu está fixo à terra e depende da boa vontade dos peregrinos; enquanto os discípulos imaginam esperam que Jesus seja um messias poderoso e vitorioso, o mendigo o invoca no horizonte de um messianismo popular, identificado com a causa dos pobres (“filho de Davi”).

E mais ainda: Jesus faz ao cego Bartimeu a mesma pergunta que fez aos filhos de Zebedeu, mas enquanto Tiago, João e, provavelmente, todos os outros 10, desejam e pedem privilégios, o mendigo e cego deseja e pede unicamente que seus olhos se abram. O jovem rico não é capaz de distribuir seus bens e seguir Jesus, enquanto que Bartimeu abandona o manto, o único bem que possui, e põe-se a caminho. Os ricos e nobres acabam sendo os últimos, enquanto os pobres e “sujos” são os primeiros a reconhecer, acolher e seguir Jesus.

Bastimeu é um personagem oposto ao jovem rico, e é o absoluto protagonista nesta cena: grita, torna a gritar, não obedece quando querem que ele se cale, faz Jesus parar, desfaz-se do manto, dá um pulo, põe-se de pé, dialoga, pede, caminha. Por isso, ele é uma metáfora de toda pessoa habitada pelo desejo de ver e conhecer, um modelo ideal ou paradigma de discípulo. E, de tabela, é também um “teólogo popular”, pois, mesmo cego, reconhece em Jesus o herdeiro de Davi, e invoca a compaixão daquele que representa o líder popular que sabe o que significa ser suspeito, excluído e marginalizado, inclusive pelo pai e pelos irmãos maiores.

 

Meditação:

·      Recomponha a cena, relendo as sucessivas cenas, gesto por gesto, palavra por palavra, percebendo os sentimentos mais profundos

·      Observe bem o papel de protagonista do cego mendigo, enumere as ações que ele realiza (os verbos que as descrevem)

·      Você percebe a diferença radical entre aquilo que Tiago e João pedem e aquilo que o mendigo Bartimeu pede a Jesus?

·      Bartimeu é o primeiro personagem a chamar Jesus de “filho de Davi”; as palavras que você usa para se dirigir a Jesus falam de que?

·      Qual é seu desejo mais profundo, que queima suas entranhas, e pelo qual você seria capaz de deixar tudo o mais?

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 27.10.2024

SENTADOS À BEIRA DO CAMINHO

No seu início, o Cristianismo era conhecido como «o Caminho» (cf. At 18,25-26). Mais do que entrar numa nova religião, tornar-se cristão era encontrar o caminho acertado da vida, caminhando pelos passos de Jesus. Ser cristão significa para eles seguir Cristo. Isto é o fundamental.

Hoje as coisas mudaram. O cristianismo conheceu durante estes vinte séculos um desenvolvimento doutrinário muito importante e gerou uma liturgia e um culto muito elaborado. Já há muito tempo que o cristianismo é considerado como uma religião.

Por isso não é estranho encontrar pessoas que se sentem cristãs simplesmente porque estão batizadas e cumprem os seus deveres religiosos, embora nunca tenham considerado a vida como um seguimento de Jesus Cristo. Este fato, bastante difundido hoje, teria sido inimaginável nos primeiros tempos do Cristianismo.

Esquecemos que ser cristãos significa seguir Jesus Cristo: mover-nos, dar passos, caminhar, construir a nossa vida seguindo as suas pegadas. O nosso cristianismo fica por vezes numa fé teórica e inoperante ou numa prática religiosa rotineira. Não transforma a nossa vida num seguir a Jesus.

Depois de vinte séculos, a maior contradição dos cristãos é fingir que o são, mas sem seguir Jesus. Aceita-se a religião cristã (como se poderia aceitar outra), pois dá segurança e tranquilidade diante do desconhecido, mas não se entra na dinâmica do seguimento fiel a Cristo.

Estamos cegos e não vemos onde está o essencial da fé cristã. O episódio da cura do cego de Jericó é um convite a sair da nossa cegueira. No início do relato, Bartimeu está sentado à beira do caminho. É um homem cego e desorientado, fora do caminho, sem capacidade de seguir Jesus. Curado da cegueira por Jesus, ele não só recupera a luz, mas também se torna um verdadeiro seguidor do seu Mestre. A partir daquele dia, seguiu Jesus pelo caminho. É a cura que precisamos.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

Precisamos reconhecer e não desperdiçar a hora da graça

Precisamos reconhecer e não desperdiçar a hora da graça | 514 | 26.10.2024 | Lucas 13,1-9

No evangelho que meditamos ontem Jesus nos dizia que deseja ardentemente que o fogo do Espírito se espalhe em toda a terra, mesmo que isso provoque algumas rupturas. Ele dá a entender que o tempo urge, e a última possibilidade para refazer as relações de fraternidade é aqui e agora. A reconciliação com os adversários ainda a caminho do tribunal é sinal de sabedoria, e não de fraqueza.

No trecho que meditamos hoje, o ensino de Jesus é motivado por duas violentas tragédias, bem conhecidas dos seus contemporâneos. A primeira, ocorrida a pouco e comunicada a Jesus naquele momento por algumas pessoas, é a violenta repressão desencadeada por Pilatos sobre um grupo de galileus, no interior do próprio templo sagrado. A segunda, que o próprio Jesus acrescenta, reforçando a primeira chamando a atenção dos seus ouvintes, havia acontecido anteriormente: a queda acidental de uma torre de guarda sobre algumas pessoas.

Jesus parte destes dois acontecimentos para corrigir uma visão parcial e errônea dos seus discípulos e demais contemporâneos, e para chamar todos à conversão ao Reino de Deus. Muita gente via acontecimentos semelhantes como a punição de Deus reservada aos pecadores. Por isso, a pergunta incisiva de Jesus: “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém?”

Jesus quer desfazer a ideia de que as vítimas são as culpadas, e lê estes acontecimentos numa perspectiva profética: precisamos perceber neles um chamado à mudança de vida e de mentalidade. “Se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”, repete Jesus, como um refrão. Trata-se de “fazer as pazes”, ou de viver de modo fraterno e solidário com as pessoas que consideramos culpáveis e condenáveis, enfim, com nossos inimigos.

Mas isso deve ser feito sem nenhuma demora, com senso de urgência. Deus tem paciência com quem não produz frutos, mas ele tem seu calendário! À figueira estéril, que persistia sem frutos, ele dá só mais um ano! Ele cuida e trata com atenção e delicadeza, mas não é bobo. Aprendamos a contar nossos dias, não percamos a hora da graça, não deixemos para amanhã os passos que podemos dar hoje.

 

Meditação:

·    Você percebe, em você, na sua família e na sua comunidade, a velha ideia de que as tragédias são castigos de Deus?

·    Quais são as consequências pessoais e eclesiais da afirmação de que ninguém é mais pecador que ninguém?

·    Será que, num certo sentido, alguns grupos religiosos atuais não estão presos à mesma mentalidade que Jesus reprova neste texto?

·    O que fazer para levar a sério a parábola dos adversários que precisam fazer as pazes antes de chegar ao tribunal?

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Dai-nos Sabedoria para discernir e agir coerentemente

Dai-nos Sabedoria para discernir e agir coerentemente | 513 | 25.10.2024 | Lucas 12,54-59

No episódio do evangelho de ontem, Jesus nos dizia que veio atiçar o fogo do Espírito para que incendeie, revele e purifique nossas intenções e projetos. Falando desse Dom Dinâmico, Jesus fala do dom de si mesmo, feito de uma vez por todas no alto do Calvário, dom que inunda o mundo qual enxurrada, que espalha o fogo que acende mil outros focos de incêndio. Dizia também que é urgente que isso aconteça, e que nossa lealdade com a justiça do Reino de Deus está acima dos laços familiares.

No trecho que lemos e meditamos hoje, Jesus continua enfatizando a transcendência de cada momento que vivemos e a urgência de entendê-lo bem e não adiar nem fazer de menos da nossa missão de reconciliar, de recriar a fraternidade dentre pessoas e povos, como nos ensina o Papa Francisco. Para ilustrar a importância do tempo que se chama hoje, Jesus lança mão de duas pequenas parábolas e de uma experiência acessível às pessoas do seu tempo. Precisamos adquirir um faro afinado para discernir o que é justo e bom, o que é urgente, o que é necessário; e para discernir entre aquilo que, à luz do Evangelho, é essencial e aquilo que é secundário.

Jesus está dirigindo-se à multidão, em meio à qual estão seus discípulos. As parábolas se referem às nuvens e ao vento, que, para as pessoas experientes, prenunciam chuva ou calor. A sabedoria dos bons observadores do tempo interpela e estimula os discípulos de Jesus na capacidade e na urgência de compreender os pequenos sinais do Reino presentes na história, e de acolhê-los como oportunidade e chamado à responsabilidade. Não é sábio e suficiente apenas recordar e repetir o passado, pois, com frequência, “é uma roupa que não nos serve mais”! Não é bom sinal repetir velhos princípios que, de tão universais, servem para tudo.

Quem segue Jesus e o assume como Mestre de sua vida precisa aprender a identificar o querer de Deus inscrito nos acontecimentos, e colocá-lo em prática. Se a repetição de costumes do passado não é suficiente, é irresponsabilidade deixar tudo para amanhã, ou terceirizar tudo, imaginando que Deus fará aquilo que compete a nós. O tempo urge, e o aqui e agora representa a última possibilidade para refazer as relações de fraternidade. A experiência da reconciliação dos adversários ainda a caminho do tribunal não é sintoma de medo ou de fraqueza, mas sinal de sabedoria e esperteza aprendidas no caminho com Jesus.

 

Meditação:

§  Retome e reconstrua o fato, a parábola e a conclusão de Jesus, prestando atenção à força das palavras e comparações

§  Acolha este ensino que Jesus dirige ao povo em geral, e deixe-se iluminar pelas metáforas da nuvem e do vento

§  O que você, sua família e sua comunidade podem fazer para não perder “o trem da história” a viver já aqui, e em todas as relações, a novidade do Reino de Deus.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Comungar é tornar-se um perigo

“Comungar é tornar-se um perigo, e viemos para incomodar...” | 512 | 24.10.2024 | Lucas 12,49-53

No trecho do evangelho de ontem, fomos advertidos por Jesus para que não aconteça que, mesmo conhecendo a vontade de Deus, vivamos “na sombra e água fresca”, não preparemos nada e nos comportemos como chefes violentos e sem compromisso, prontos a beber, dominar com violência e discriminar. O foco do trecho de hoje é outro, mas a tensão para a construção do Reino de Deus e o tom de urgência continuam. Esperamos o Reino de Deus articulando a paz com a justiça.

A imagem à qual Jesus recorre, assim como sua primeira afirmação, assustam, especialmente quem quer reduzir a proposta de Jesus a um inocente “paz e amor”. Ele diz claramente que não vem trazer paz, e sim divisão; que não vem apagar os incêndios da ira, mas espalhar o fogo. E mais ainda: ele espera que seus discípulos e discípulas façam o mesmo! Como entender corretamente estas palavras de Jesus? Elas fazem sentido? Os anjos não cantaram “paz na terra” quando ele nasceu? Ele não é o príncipe da paz, sonhado pelo profeta Isaías?

Na perspectiva de Jesus, a paz que todos desejamos é fruto do abraço com a justiça, resultado de uma escolha difícil e exigente que precisamos refazer todos os dias. Não há paz que mereça este nome fora do âmbito da justiça do reino de Deus. E essa justiça se mostra na compaixão solidária e ativa com as vítimas, com todas as categorias de pessoas excluídas e marginalizadas. A paz não pode ser fruto da contemporização com o mal e com a injustiça.

Jesus diz que veio lançar fogo na terra, porque o fogo do Espírito, experimentado por ele no batismo e manifestado na fidelidade até à cruz, revela, distingue e purifica nossas intenções e projetos pessoais e sociais. Este Espírito é o dom de si mesmo, feito de uma vez por todas no alto do Calvário, dom esse que inunda o mundo qual enxurrada, que espalha um fogo que acende mil outros focos de incêndio.

As várias manifestações da divisão das quais fala Jesus no evangelho de hoje não são frutos de um desejo doentio ou violento, de uma mentalidade sectária e litigiosa, mas consequências de um posicionamento lúcido e firme contra a ordem e os hábitos dominantes. Nossa lealdade com a novidade e a justiça do Reino de Deus está acima dos laços familiares e pode até provocar cisão e distanciamento.

 

Meditação:

§  Retome e reconstrua o fato, a parábola e a conclusão de Jesus, deixando que as imagens e palavras ressoem em você

§  Acolha as palavras incisivas de Jesus, sem deixar-se assustar por elas, mas também sem esvaziá-las de sua natural urgência

§  Como você vem tentando proporcionar o encontro entre a justiça e a paz, entre o amor e a fidelidade ao Evangelho?

§  Recorde situações em que, por fidelidade a Jesus e seu Evangelho, você provocou tensões nos círculos mais próximos


terça-feira, 22 de outubro de 2024

A quem muito foi dado, muito será também exigido!

A quem muito foi dado, muito será também exigido! | 511 | 23.10.2024 | Lucas 12,39-48

O Reino de Deus virá, e nenhum discípulo de Jesus pode duvidar, nem esperar “jogando-se nas cordas”. Precisamos ser como o pessoal encarregado do cuidado de uma casa, que espera o chefe voltar de uma festa: viver uma fé vigilante, acendendo luzes na escuridão, para que todos possamos caminhar com segurança. Esta é a lição do texto imediatamente anterior ao que acabamos de ler.

No texto de hoje, Jesus amplia essa lição, comparando a irrupção do Reino de Deus à ação de um ladrão esperto: ele chega improvisamente, e num momento inesperado. Em outras palavras: precisamos esperar Jesus e a irrupção do Reino de Deus vigilantes, como quem não quer ser surpreendido por um ladrão que invade a casa na calada da noite. A caminhada de fé é uma existência aberta ao futuro, na espera de um encontro. O dia e a hora, porém, ninguém sabe, e isso pouco importa.

Em nome de todos os discípulos, Pedro pergunta se Jesus está dizendo isso somente a eles ou a todo o povo. Jesus não responde diretamente à inquietação de Pedro, mas deixa entender que a espera vigilante e militante é a marca de toda pessoa que nele crê e se dispõe a seguir seus passos, mas quem recebeu mais, quem o segue mais de perto, tem maior responsabilidade. Estes são como o administrador fiel a quem Jesus confia o cuidado de todo o “pessoal da casa”.

A comunidade cristã é a “casa de Deus”, abrigo seguro do povo de Deus, e os administradores (ministros) não podem deixar-se levar pela preguiça, pelas comodidades, pela lei do menor esforço, abusando do poder e descuidando-se daquilo que é essencial. Como a tarefa do administrador da parábola, os ministérios e estruturas são transitórios, e, na Igreja, todos são servos e irmãos, ninguém é chefe. Nada de chicotear o povo com o fantasma do comunismo ou com o moralismo!

Não aconteça que nós, mesmo conhecendo a vontade de Deus, vivamos “na sombra e água fresca”, não preparemos nada e atuemos como chefes sem compromisso e violentos, prontos a encher a cara, dominando e discriminando. Tempo de espera é tempo de missão, e missão é, antes de tudo, testemunho de vida nova e fraterna!

 

Meditação:

§  Retome e reconstrua o fato, a parábola, observe as palavras e imagens, assim como a conclusão de Jesus

§  Acolha as palavras incisivas de Jesus, deixe-se inspirar pelas parábolas do ladrão e do administrador

§  Imagine-se dentro das parábolas, vigilante para não ser surpreendido dormindo, ativo e serviçal aos iguais

§  Você percebe situações em que você e a comunidade estão “baixando a guarda” ou agindo como se não fôssemos todos iguais?

§  O que podemos dizer dos líderes religiosos que, movidos por medos e interesses, assustam o povo com fantasmas, como o comunismo?

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Vivamos despertos, pois a noite está no fim, mas o dia ainda não raiou!

Vivamos despertos, pois a noite está no fim, mas o dia ainda não raiou! | 510 | 22.10.2024 | Lucas 12,35-38

Depois de falar sobre a relação com os bens materiais, subordinando-os à lógica da partilha no horizonte do Reino de Deus, Jesus fala sobre a beleza imerecida e gratuita dos lírios do campo (texto omitido na sequência que estamos refletindo). E adverte os ouvintes: ninguém pode acrescentar nada, por esforço e preocupação, à própria vida. Por fim, pede que os discípulos saibam investir em “fundos seguros”, ou seja, no Reino de Deus. Este é o tesouro que os ladrões não roubam e a ferrugem não come. E é essa a atitude esperada daqueles a quem foi oportunizada uma grande colheita.

No texto de hoje, o assunto do ensino de Jesus é a espera vigilante e ativa do Reino de Deus, especialmente quando ele parece demorar ou uma simples ilusão. Jesus se dirige aos discípulos, e sua fala está marcada pelo tempo pós-pascal, com a crise da espera e da confiança que os discípulos enfrentavam com o adiamento do “retorno” de Jesus. A espera vigilante é sempre essencial para quem segue os passos de Jesus. Ninguém pode, sob nenhum pretexto, “baixar a guarda”. Viver esperando significa viver de espera, mas vigilantes, significa esperançar as buscas e a espera.

Jesus ilustra esta espera ativa com duas imagens (o cinto que cinge os quadris e as lâmpadas sempre acesas) e com três parábolas (das quais hoje meditamos apenas a primeira). Para esperar adequadamente o retorno do patrão da festa de casamento, o pessoal da casa deve estar preparado: acordado, com as lâmpadas da casa acesas e com o cinto bem ajustado, para que as vestes não impeçam os movimentos necessários para acolher e servir. E isso mesmo que a hora for adiantada e o sono começar a pesar no corpo. Assim, podem abrir a porta, sem demora nem obstáculos. Isso é viver de modo sábio e responsável.

Relendo a parábola no horizonte do discipulado, entendemos que, se Jesus partiu, ele não disse adeus, e voltará, pois partir não significa necessariamente ir embora. Disso os discípulos não podemos duvidar, nem esperar “atirando-nos nas cordas”. Precisamos ser como o pessoal da casa da parábola de Jesus. Jesus “se ausentou do nosso meio” porque foi celebrar a aliança, e crer nele significa mover-se numa fé vigilante, ativa e perseverante no serviço. É ela que acende luzes na escuridão e ajuda a caminhar com segurança, pois a noite está no fim, mas a aurora ainda não raiou. A recompensa é a participação na mesa dos amados de Deus, do povo que ele ama, escolhe, educa e envia. O próprio Jesus, Servo bom e fiel, os servirá à mesa.

 

Meditação:

§  Retome e reconstrua o fato, a parábola e a conclusão de Jesus, acolha suas palavras e incisivas, deixe-se levar pelas imagens do cinto e da luz

§  Imagine-se dentro da parábola do pessoal da casa que espera a volta do patrão, ansiosos e atentos

§  Identifique as situações em que você cede à tentação de “baixar a guarda”, de simplesmente “levar a vida”