sexta-feira, 27 de maio de 2016

ANO C – NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 29.05.2016

A Palavra de Jesus Cristo cura, liberta e guia.

Há tempos ressoa por todos os lados, como um novo evangelho, o anúncio de que vivemos numa aldeia global, que não existem mais fronteiras. Se vivêssemos de fato num mundo sem fronteiras, não poderiam existir cidadãos de segunda classe ou gente excluída da cidadania. Junto com as fronteiras, deveriam desaparecer as hierarquias que dividem e classificam o mundo entre bons e maus, superiores e inferiores, vitoriosos e perdedores, beneficiados e penalizados. O Papa Francisco afirma que o que foi globalizado de verdade foi a indiferença... E isso é o contrário do caminho proposto por Jesus!
O evangelho de hoje começa onde terminam as bem-aventuranças. Jesus havia falado que o Reino de Deus é dos pobres, que os famintos serão saciados, que aqueles que choram seguramente ainda poderão rir. Ensinara que devemos amar até os inimigos e fazer o bem a quem nas faz o mal. Dissera também que é pelos frutos que produzimos que revelamos quem somos, e que seu ensinamento não é para ser admirado, mas colocado em prática. Depois de ensinar isso, Jesus vai a Cafarnaum, lugar de cruzamento de culturas e interesses. Chegara o momento de passar da prédica à prática...
Em Cafarnaum Jesus se encontra com um personagem sem nome, mas ocupante de uma posição social bem definida: chefe de uma centúria romana, um pagão que detinha poder militar. Ele era benquisto pelos judeus, e tinha consciência do poder que exercia sobre os subalternos. Considerando a pregação recém pronunciada por Jesus, a multidão, e especialmente os fariseus, estavam curiosos para ver a atitude de Jesus diante de um homem excluído por causa da sua origem étnica (estrangeiro) e da sua condição religiosa (pagão), mas que ocupava um alto posto na da pirâmide do poder repressivo.
O fato que move este encontro é o servo do centurião, muito estimado pelo seu senhor, que estava doente, à beira da morte, símbolo de todo um povo abandonado a si mesmo e suas dores. É importante observar o que o centurião pede e como faz este pedido chegar a Jesus. O chefe militar não pede nada para si, mas em favor do seu escravo. Usa o poder que exerce e envia um grupo de anciãos para levar a Jesus seu desejo: que Jesus viesse à sua casa para curar seu dependente. Mesmo que as autoridades judaicas insistissem nos méritos do soldado, ele não se sente digno. “Não te incomodes, pois eu não sou digno de que entres em minha casa. Por isso, nem fui pessoalmente ao teu encontro...”
O chefe pagão insiste na força da Palavra de Jesus: “Mas dize uma palavra, e meu servo ficará curado.” Ele sabe que nem o judaísmo, nem o poder do exército romano, podem garantir a vida do povo em geral, e do seu empregado em particular. Ele tem consciência do próprio poder de mando, mas sabe que não serve para nada. Entretanto, acredita que Jesus, com sua Palavra, pode ordenar ao mal que deixe de dominar seu amado empregado. Lucas diz que Jesus ficou admirado com a confiança demonstrada por esta autoridade militar de origem pagã, já que nem em Israel encontrou uma fé tão grande.
Jesus já havia reconhecido e elogiado a fé de um grupo que fizera um paralítico descer com sua maca pelo telhado de uma casa para colocá-lo diante dele e ser curado (cf. Lc 5,17-26). Também ‘viu’ e reconheceu a força da fé um pouco medrosa da mulher doente que o tocou e ficou curada (cf. Lc 8,40-48).  Reconheceu que foi a fé do leproso que o purificou da doença que o excluída da vida social (cf. Lc 17,11-19). E afirmou que foi a fé insistente que salvou o cego de Jericó (cf. Lc 18,35-43). A fé é essa força que dinamiza nossas capacidades e energias na busca de soluções humanas para os problemas humanos.
A mudança que começa com a fé, se desenvolve no ventre do sonho e se nutre da imaginação. “Imagine não existir nenhum inferno, e acima de nós só o céu, e todas as pessoas vivendo para o hoje. Imagine não existir países, nada pelo que matar ou morrer. Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz. Imagine não existir posses, necessidades, ganância ou fome; uma irmandade entre os homens. Imagine todas as pessoas compartilhando todo o mundo... Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único...” Imaginemos o Reino de Deus, novos céus e nova terra, um outro mundo possível!  
Jesus de Nazaré, coração sem fronteiras, liberdade sem hierarquias! Ajuda nossas comunidades a ultrapassar as fronteiras estabelecidas pelo medo ou pelos interesses mesquinhos. Não permite que descafeinemos teu Evangelho e acomodemos tua mensagem a um mundo construído sobre o privilégio de poucos. Não deixes que o medo e o comodismo nos impeçam de ‘imaginar’ e ‘construir’ um mundo sem fronteiras nem hierarquias. E que aprendamos do pagão romano a atitude correta diante de ti: “Senhor, eu não sou digno que entreis na minha morada, mas dizei uma Palavra e eu serei salvo!” Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(1° Livro dos Reis 8,41-43 * Salmo 116 (117) * Carta aos Gálatas 1,1-2.6-10 * Evangelho de S. Lucas 7,1-10)

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Corpus Christi, memoria de Jesus

FAZER MEMÓRIA DE JESUS

Ao narrar a última Ceia de Jesus com os Seus discípulos, as primeiras gerações cristãs recordavam o desejo expresso de forma solene pelo Seu Mestre: «Fazei isto em memória de mim». Assim o recolhem os evangelistas Lucas e Paulo, o evangelizador dos gentios.
Desde a sua origem, a Ceia do Senhor foi celebrada pelos cristãos para fazer memória de Jesus, atualizar a Sua presença viva no meio de nós e alimentar a nossa fé Nele, na Sua mensagem e na Sua vida entregue por nós até à morte. Recordemos quatro momentos significativos na estrutura atual da missa. Temos de os viver desde dentro e em comunidade.
A escuta do Evangelho
Fazemos memória de Jesus quando escutamos nos evangelhos o relato da Sua vida e da Sua mensagem. Os evangelhos foram escritos, precisamente, para guardar a recordação de Jesus alimentando assim a fé e o acompanhamento dos Seus discípulos.
Do relato evangélico não aprendemos doutrina mas, sobretudo, a forma de ser e de atuar de Jesus, que há de inspirar e modelar a nossa vida. Por isso, temos de o escutar em atitude de discípulos que querem aprender a pensar, sentir, amar e viver como Ele.
A memória da Ceia
Fazemos memória da ação salvadora de Jesus escutando com fé as Suas palavras: «Este é o Meu corpo. Vede-me nestes troços de pão entregando-me por vós até à morte… Este é o cálice do Meu sangue. Derramado para o perdão dos pecados. Assim me recordareis sempre. Amei-vos até ao extremo».
Neste momento confessamos a nossa fé em Jesus Cristo fazendo uma síntese do mistério da nossa salvação: “Anunciamos a Tua morte, proclamamos a Tua ressurreição. Vem, Senhor Jesus”. Sentimo-nos salvos por Cristo nosso Senhor.
A oração de Jesus
Antes de comungar, pronunciamos a oração que nos ensinou Jesus. Primeiro, identificamo-nos com os três grandes desejos que levava no Seu coração: o respeito absoluto a Deus, a vinda do Seu reino de justiça e o cumprimento da Sua vontade de Pai. Depois apresentamos Suas quatro petições ao Pai: pão para todos, perdão e misericórdia, superação das tentações e libertação de todo o mal.
A comunhão com Jesus
Aproximamo-nos como pobres, com a mão estendida; tomamos o Pão da vida; comungamos fazendo um ato de fé; acolhemos em silêncio a Jesus no nosso coração e na nossa vida: «Senhor, quero comungar contigo, seguir os Teus passos, viver animado com a Teu espírito e colaborar no Teu projeto de fazer um mundo mais humano».
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

terça-feira, 24 de maio de 2016

Preparando o domingo

“Nem em Israel encontrei tanta fé” (Lc 7, 1-10)

Voltando às celebrações dos domingos do Tempo Comum, o nosso texto de hoje abre uma seção de Lucas que vai de 7,1 até 9,6. A mensagem dessa parte do Evangelho tinha muita relevância para as comunidades lucanas, constituídas em grande parte de pessoas provenientes do paganismo. 
As narrativas deste bloco demonstram que Jesus atravessava as fronteiras criadas pelos homens para separar os considerados “puros” dos taxados de “impuros”, e assim restaurar a vida ameaçada.  Inicia-se com duas narrativas que relatam como Jesus curou um homem doente (o empregado do centurião) e ressuscitou um homem morto (filho único da viúva de Naim) em 7, 1-17, e termina com a cura de uma mulher doente (com fluxo de sangue) e a restauração da vida a uma moça morta, a filha de Jairo (8, 40-56).
O relato de hoje prevê a futura missão da Igreja aos gentios.  Gira ao redor de um centurião romano em Cafarnaum (talvez a serviço de Herodes Antipas) cujo empregado está à beira da morte. Tem certo paralelo com a história, também lucana, da conversão do primeiro gentio, no livro de Atos, de um centurião chamado Cornélio (At 10).  Nesta Cornélio também é elogiado como homem que respeitava o povo judeu e dava esmolas (At 10, 1-2).
O texto de hoje fala de uma comitiva de anciãos judeus que pedem que Jesus atenda o centurião porque ele tinha feito boas obras em favor da comunidade do povo judeu. Assim eles o consideram digno de ser atendido, como se fosse judeu e não gentio impuro. Em contraste, o próprio centurião manda dizer que ele não é digno nem merece que Jesus fira a Lei de pureza entrando na sua casa. Ele reconhece o poder da palavra de Jesus de vencer o poder da morte. Jesus afirma que ele é digno de ser atendido não porque tivesse feito boas obras em favor da comunidade judaica local, mas porque ele acredita que Deus vence a morte através de Jesus e da sua palavra. Ele, fora da comunidade religiosa de Israel, tem essa fé enquanto os que podiam e deviam ter não a tem.
Como muitos textos de Lucas, especialmente os tocantes à questão da ação misericordiosa de Deus, este trecho no fundo desafia a mentalidade muitas vezes embutida em pessoas religiosas, sem que elas notem. Mesmo quando se dá a impressão de estarmos agindo movidos pela fé, na verdade subjaz a mentalidade de “troca” ou de “merecimento”. No texto de hoje, por exemplo, embora os anciãos judeus tomem atitude ousada em favor do centurião pagão, é só porque “ele merece”.
A misericórdia de Deus, porém não funciona por “merecimento”, mas por gratuidade.  É o que se demonstra também no capitulo 15 na parábola do Pai misericordioso e dos dois filhos. O “pródigo” não pede para ser aceito como filho, pois “não merece”, mas o pai nem lhe responde... Porque a lógica do perdão e da compaixão é outra.
É um grande desafio para a Igreja e para todos nós nos libertar dessa mentalidade no fundo quase que “comercial” e entrar na lógica de misericórdia e compaixão, como o Pai e também Jesus, nas suas relações com a realidade de homens e mulheres em diversas situações de fraqueza.
Esta é a grande intuição do Papa Francisco, pois é o fundamento da “Boa Nova” – O Evangelho – e por isso cria tantas dificuldades para muitos cristãos que não são conscientes de quanto faltamos com a gratuidade e a compaixão.  Que o nosso modelo seja o verdadeiro Deus de Jesus “cujos caminhos não são os nossos, cujos pensamentos não são os nossos” (Is 55, 8-9).
Tomaz Hughes SVD

ANO C – SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO – 26.05.2016

O corpo de Cristo é a comunidade de irmãos e irmãs! 

Cristo se faz sacramentalmente presente na comunidade dos irmãos e irmãs que se solidarizam na partilha do pão e no dom de si mesmos, que se reúnem para celebrar em torno da Palavra e do Pão e que fazem memória da doação maior de Jesus e da nuvem de testemunhas que o seguiram. Por isso, a Eucaristia não é algo a ser apenas adorado e exposto publicamente, mas memória do amor de Deus por nós, de um amor que chega ao seu ápice quando se torna comunhão e amor ao próximo em nós. A festa de Corpus Christi que hoje celebramos soleniza a beleza da nossa Eucaristia cotidiana ou dominical.
Voltemos nossa atenção para o Evangelho que nos é proposto para este dia. Pouco antes desta cena, Jesus havia convocado e enviado os Doze com “poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças” (Lc 9,1). Quando eles voltam desta espécie de estágio missionário, Jesus os leva para descansar fora do território judaico. Então, os apóstolos contam, animados, o sucesso que haviam experimentado. Mesmo estando num lugar deserto, as multidões necessitadas vão atrás de Jesus e dos discípulos. Sem se incomodar com isso, Jesus lhes fala do reino de Deus e cura muitas pessoas doentes.
Mas parece que o repentino e recente sucesso pastoral havia subido à cabeça dos apóstolos. Parece que eles se sentem uma elite especial e separada do resto do povo, um grupo que ocupa um grau hierárquico superior, um grêmio fechado e dotado de poder e autoridade recebida de Deus. No fim do dia, os Doze se aproximam de Jesus e ousam dar-lhe uma ordem: “Despede a multidão para que possam ir aos povoados e sítios vizinhos procurar hospedagem e comida...” Esqueceram que comunidade cristã existe para dar uma resposta efetiva às angústias e esperanças das pessoas e grupos humanos concretos...
Jesus reage sublinhando, sem meias-palavras, que são eles mesmos que devem cuidar do povo. Jesus não se importa se eles têm ou não provisões suficientes, e pede que organizem o povo em comunidades. Depois de se apropriar dos poucos pães e dos peixes dos apóstolos, como um pai de família, Jesus eleva, abençoa, parte e dá aos discípulos para que distribuam. É possível que aquela multidão necessitada fosse gente excluída do judaísmo, gente que não era sequer considerada pelas autoridades religiosas. Essa gente recebe atenção prioritária da parte de Jesus, e o mesmo deve valer para a Igreja.
Com Jesus, termina o tempo do “cada um para si” e começa o tempo do convívio, da partilha e do serviço. Inaugura-se o tempo de comunhão. “Todos comeram e se saciaram.” Depois que estes forem servidos, a sobra – 12 cestos, 12 tribos de Israel – vai para os demais! A atenção dos cristãos é inclusiva e universal, mas dá prioridade aos últimos ou excluídos, e viver a Eucaristia é entrar nesta lógica do dom, da prioridade dos últimos e mais frágeis. Diante deste sacramento não se deve dizer “se aproxime quem for digno e estiver preparado”, mas “Senhor, eu não sou digno de participar da tua mesa...”
Santo Tomás de Aquino diz que na Eucaristia temos o “documento do imenso amor de Cristo pela humanidade”, e nela “fazemos memória da altíssima caridade que Cristo demonstrou na sua paixão”. Quando Jesus ordena a seus discípulos “façam isso em memória de mim”, não está instituindo um rito a ser repetido com reverência, mas propondo uma forma de vida a ser assumida com coerência. A Eucaristia é um sinal sacramental que aponta para algo mais profundo e transcendente: em Jesus, Deus se faz dom por nós, a fim de que a nossa vida adquira forma de dom solidário pelo próximo.
A questão central não é tanto a presença real de Jesus no pão quanto seu caminho de amor apaixonado e solidário pela humanidade. O mais importante não é a transubstanciação do pão e do vinho mas a presença real e contínua de Cristo nos nossos gestos de partilha e solidariedade. “Vos sois o corpo de Cristo e, individualmente, sois membros deste corpo”, diz Paulo (1Cor 12,27).  A nossa vocação é ser o corpo histórico de Cristo no mundo: um corpo feito dom e comunhão, no qual os membros são iguais, diferentes e reciprocamente solidários, e onde os membros mais frágeis são tratados com maior atenção.
Jesus de Nazaré, filho amado do Pai e pão para a vida do mundo! Também nos queremos hoje sair às ruas, movidos por tua sede de comunhão e agradecidos pelo teu amor-doação. Mas não cantaremos “hóstia branca, no altar consagrada...” ou “queremos Deus, homens ingratos”. Cantaremos com alegria, “entra na roda com a gente também! Você é muito importante! Vem!” E continuaremos com o convite: “Desempregados, pecadores, desprezados e os marginalizados... Venham todos se ajuntar à nossa marcha para a nova sociedade. Quem nos ama de verdade, pode vir que tem lugar!” Afinal, quiseste que teu corpo fosse o pão partilhado, a comunidade de irmãos e irmãs! Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Livro do Genesis 14,18-20 * Salmo 109(110) * 1ª. Carta aos Corintios 11,23-36 * Evang. de Lucas 9,11-17)

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Golpe & retrocesso

A DIREITA DE CORPO INTEIRO
Para quem se dedicava a dizer que direita e esquerda eram categorias superadas, o Brasil é um choque de realidade. Fazia tempo que um governo não se mostrava, de corpo inteiro, como expressão da direita, em todos os campos. (Quem alegar que se trata de uma exceção, basta olhar para Argentina e verá a confirmação do que estamos dizendo.)
No período histórico atual, a direita defende o neoliberalismo como modelo econômico. As lutas de fundo da nossa época se dão entre quem defende esse modelo, que busca mercantilizar tudo, fazer com que tudo tenha preço, tudo se compre, tudo se venda, e as alternativas e buscas de sua superação, afirmando os direitos de todos. Uns governam para os que interessam ao mercado, os outros tratam de governar para todos.
A direita do nosso tempo é seletiva, excludente, porque se baseia nos mecanismos de mercado, da eficiência, da lucratividade. Por isso os mais frágeis são suas primeiras vítimas. A austeridade grega começou terminando com os remédios gratuitos para os idosos, medida que também se implantou na Argentina e que se anuncia aqui. Estão fora do mercado, já não são produtivos, nem consumidores de produtos de luxo, não têm influência na formação da opinião pública. E agora vivem mais tempo, transformando-se em ônus para a sociedade mercantil. E assim se segue em outros setores da sociedade: crianças e jovens negros, deficientes físicos, artistas da periferia, mulheres donas de casa, entre outros, generalizando-se para todos os pobres, a grande maioria da nossa sociedade.
Um malthusianismo social se instala, que seleciona conforme os critérios de mercado. Não são necessários tantos trabalhadores, basta apenas uma certa quantidade de especializados, os outros sobreviverão na precariedade. Não é necessário produzir para alimentar o lucro das empresas, basta especular, comprar papeis baratos e vender caros, tomar dinheiro dos clientes a um preço e emprestar 10 vezes mais caro. Quem se der bem, sobrevive, quem não, fica pelo caminho, não foi capaz de corresponder às exigentes necessidades do mercado.
A ação interina do governo Temer passa a limpo todas as políticas sob essa ótica. Empresa estatal tem que dar lucro, não que prestar serviço à sociedade. Banco público não é para fazer política social, se não produzir lucro, não serve. Já existem os bancos privados. Programas sociais que desperdiçam recursos devem ser revistos e passados a limpo. O governo não existe para sustentar pessoas improdutivas. Empresários têm que pagar menos impostos, para que disponham de mais recursos para fazer seus negócios.
O Estado tem que ser mínimo e o mercado máximo. O Estado é fonte de burocracia, de desperdício, de corrupção e por isso deve ser reduzido a uma mínima dimensão. O mercado é a fonte da expansão econômica, da produtividade, ele pune os incompetentes e remunera os competentes.
A educação não é uma política social, ela faz parte da economia, deve preparar mão de obra para a indústria. Enem, Fies, ProUni são custos excessivos sem retornos econômicos. Nas universidades públicas, tudo o que der, deve ser pago. Médicos de fora do Brasil, nem pensar, temos os profissionais competentes aqui mesmo. SUS, saúde para todos, é um luxo que não podemos nos permitir. "Quanto mais gente tiver plano de saúde privado, melhor", disse o novo ministro da saúde, cuja campanha eleitoral teve esses planos como seus principais financiadores.
O Estado não deve ser proprietário de empresas, essa é uma função da economia privada. Compete ao Estado dar o apoio para a acumulação privada de riquezas, com financiamentos subsidiados, isenções, infraestrutura e outras formas de baratear os custos das empresas privadas.
Cultura, direitos humanos, igualdade racial, direitos de mulher – são temas secundários e devem estar integrados a outros ministérios. Ministério da Justiça vai se ocupar dos direitos humanos, Ministério da Educação da Cultura e assim por diante. Quanto à ciência e Tecnologia, não temos que inventar a roda, basta importar tecnologias dos países mais desenvolvidos.
A função de imprensa já está em mãos das empresas privadas secularmente, a mídia pública deve se limitar a dar os comunicados oficiais do governo e a prestar serviços de informação das atividades do governo à população.
Enfim, o Estado atua em função do mercado, o país se adaptar às dimensões e necessidades do mercado, as políticas do governo promover a eficácia econômica, as contas ajustadas, que as pessoas se adaptem ao Estado que, por sua vez, se adapta ao mercado.
Quem tinha se esquecido do que é a direita, em toda sua extensão e radicalidade, tem agora uma fotografia de corpo inteiro, com toda a frieza e a crueldade que elas contem. Quanto à esquerda, em todas as suas correntes, privilegia as necessidades das pessoas, busca tornar o Estado um instrumento da democratização econômica, social, política e cultural, trata de ser governo para todos. Diferenças abismais, como aquelas que hoje separam e contrapõem o governo golpista e as imensas e fantásticas mobilizações de rejeição a esse governo.

Emir Sader

O evangelho dominical: 22.05.2016

ABRIR-NOS AO MISTÉRIO DE DEUS

Ao longo dos séculos, os teólogos realizaram um grande esforço para se aproximar do mistério de Deus formulando, com diferentes construções conceptuais, as relações que vinculam e diferenciam as pessoas divinas no seio da Trindade. Foi e é um esforço, sem dúvida, legítimo, nascido do amor e do desejo de Deus.
Jesus, no entanto, não segue esse caminho. A partir da Sua própria experiência de Deus, convida os Seus seguidores a relacionar-se de forma confiada com Deus Pai, a seguir fielmente os Seus passos de Filho de Deus encarnado, e a deixar-nos guiar e alentar pelo Espírito Santo. Ensina-nos assim a abrir-nos ao mistério santo de Deus.
Antes de mais nada, Jesus convida os Seus seguidores a viver como filhos e filhas de um Deus próximo, bom e profundamente querido, que todos podemos invocar como Pai querido. O que caracteriza este Pai não é o Seu poder e a Sua força, mas a Sua bondade e a Sua compaixão infinita. Ninguém está só. Todos temos um Deus Pai que nos compreende, nos quer e nos perdoa como ninguém.
Jesus mostra-nos que este Pai tem um projeto nascido do Seu coração: construir com todos os Seus filhos e filhas um mundo mais humano e fraterno, mais justo e solidário. Jesus chama-o «reino de Deus» e convida a todos a entrar nesse projeto do Pai procurando uma vida mais justa e digna para todos começando pelos Seus filhos mais pobres, indefesos e necessitados.
Ao mesmo tempo, Jesus convida os Seus seguidores a confiar Nele: «Não se turve o vosso coração. Acreditais em Deus; acreditai também em mim». Ele é o Filho de Deus, imagem viva do Seu Pai. As Suas palavras e os Seus gestos mostram-nos como nos quer o Pai de todos. Por isso, convida a todos a segui-lo. El nos ensinará a viver com confiança e docilidade ao serviço do projeto do Pai.
Com o Seu grupo de seguidores, Jesus quer formar uma família nova onde todos procurem «cumprir a vontade do Pai». Esta é a herança que quer deixar na terra: um movimento de irmãos e irmãs ao serviço dos mais pequenos e desvalidos. Essa família será símbolo e semente do novo mundo querido pelo Pai.
Para isso necessitam acolher o Espírito que alenta o Pai e o Seu Filho Jesus: «Vós recebeis a força do Espírito Santo que virá sobre vós e assim sereis as minhas testemunhas». Este Espírito é o amor de Deus, o alento que partilham o Pai e o Seu Filho Jesus, a força, o impulso e a energia vital que fará dos seguidores de Jesus as Suas testemunhas e colaboradores ao serviço do grande projeto da Trindade santa.

José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

quinta-feira, 19 de maio de 2016

ANO C – SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – 22.05.2016

Em Deus vivemos, caminhamos, amamos e esperamos.

A festa da Santíssima Trindade nos convida a mergulhar no mistério de Deus, deixando que ele nos envolva, abrace e dinamize. Dialogando com os intelectuais de Atenas, Paulo afirma que em Deus “vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). Deus é o fundamento de todas as formas de vida, o dinamismo de todas as transformações, o horizonte do sentido definitivo. Nossa vida se desenrola no Filho, o Caminho; sob o Espírito Santo, o Guia; em direção ao Pai, Origem e meta. Celebremos e meditemos sobre o mistério de Deus revelado em Jesus Cristo, conscientes de que falar sobre Deus é falar sobre o mistério mais profundo do ser humano. E esta é uma tarefa tão difícil quanto necessária.
No Evangelho de hoje, Jesus fala aos discípulos no clima de apreensão que envolve sua última ceia. Ele não está preocupado em falar sobre Deus de forma abstrata. Seu objetivo é prevenir os discípulos a respeito das dificuldades que deverão enfrentar e encorajá-los frente às perseguições. Sublinha que sua vida e seu ensino têm consequências que eles ainda não são capazes de compreender. “Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não sois capazes de compreender agora.” E acena para o dom do Espírito da Verdade, à luz do qual eles saberão entender o caminho do amor e da compaixão.
Como discípulos e discípulas, precisamos efetivamente viver, caminhar e nos inspirar em Deus. Deus é um horizonte e um caminho de vida, e não uma equação matemática ou uma muralha inexpugnável. Ao elaborar o conceito ‘trindade’ ou ‘tri-unidade’, a tradição cristã não está propondo uma charada ou um enigma a ser decifrados. Sobre Deus é preciso falar em termos de profundidade e de intimidade, e não em termos de quantidade. Não há porque quebrar a cabeça na tentativa de conjugar as três pessoas com uma única natureza. Esta não é a questão fundamental!
O conceito ‘trindade’ pretende sublinhar, em primeiro lugar, que Deus é mistério de comunhão que acolhe, confirma e liberta. E isso é muito importante no contexto de uma cultura que reduz tudo a fragmentos isolados e a relações fluídas, e numa visão de Igreja centrada na autoridade hierárquica e na obediência submissa. Sendo dinamismo vivo de comunhão mediante o reconhecimento do outro e o dom generoso de si, Deus é caminho e imagem de uma humanidade aberta, relacional e solidária, como também de uma Igreja que se organiza como uma comunidade de dons e ministérios.
É a partir desta comunhão essencial que podemos entender e realizar nossa vocação à liberdade. Na Trindade, a liberdade se expressa como força de ação e dinamismo de doação que não se submete ao imperativo da preservação de si mesmo e dos próprios interesses, mas se rege pelo princípio da afirmação da dignidade e da integridade do outro. Daqui emerge uma proposta de Igreja liberta da tentação de agir mediante o medo e a imposição, e uma imagem de pessoa humana centrada no reconhecimento da dignidade do próximo. É livre quem afirma e multiplica liberdades!
Em outras palavras, o conceito ‘trindade’ sublinha que Deus é dinamismo de amor e de lealdade. Mas só conseguimos compreender o que o verbo amar realmente significa olhando para a vida concreta de Jesus Cristo. “Compreendemos o que é o amor porque Jesus deu a sua vida por nós...” (1 Jo 3,16). Esta é a glória e o brilho de Deus e, ao mesmo tempo, a honra e a celebridade conferidas à pessoa humana pelo Espírito Santo. Paulo não hesita em afirmar que nossa honra está na glória de um Deus que, por causa do seu amor leal, não foge à cruz.  A qualidade do nosso amor se manifesta na lealdade às pessoas e causas.
O Pai é a Fonte e origem de um amor que se comunica no Filho e permanece com Ele na sua compaixão pela humanidade. O Filho é o Amado do Pai, aquele que responde amando sem medida Aquele que o ama e os seres humanos, gerados neste mesmo amor. O Espírito é este dinamismo pessoal de Dom de si, comum ao Pai e ao Filho e derramado em todas as criaturas. O Filho e o Espírito, cada um a seu modo, são como que as duas mãos abertas do Pai, que nos asseguram que este amor perdura no tempo. Deus nos ama desde o seio materno e mesmo depois das nossas muitas e reiteradas faltas.
Glória a ti, Deus Pai e Mãe, fonte de todas as formas de vida! O louvor que a ti devemos ressoa na boca dos mais pequeninos, pois os lábios dos prepotentes e orgulhosos frequentemente te insultam, na medida em que humilham, desprezam e condenam os pobres. Mas nós também ousamos dizer: Glória a ti, Deus-conosco, libertador de todas as prisões, caminho de vida! Glória a ti, Espírito Santo, motor da integral libertação, derramado gratuita e abundantemente em todas as criaturas como bondade e beleza. Glória a ti, Deus-comunidade de quem tudo e todos recebem a vida, o movimento e a existência. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Livro dos Provéerbios 8,22-31 * Salmo 8 * Carta aos Romanos 5,1-5 * Evangelho de Joao 16,12-15)

O novo golpe da velha elite

A volta da classe do privilégio

O principal problema brasileiro que atravessa toda nossa história é a monumental desigualdade social que reduz grande parte da população à condição de ralé.
Os dados são estarrecedores. Segundo Marcio Pochman e Jessé Souza, que substituiu Pochman na presidência do IPEA são apenas 71 mil pessoas (ou 1% da população que representa apenas 0,05%  dos adultos), multibilionários brasileiros, que controlam praticamente nossas riquezas e nossas finanças e através delas o jogo político. Essa classe dos endinheirados, que Jessé Souza chama de classe do privilégio, além de perversa socialmente é extremamente hábil pois se articula nacional e internacionalmente de tal forma que sempre consegue  manobrar o poder de Estado em seu benefício.
Estimo que seu maior feito atual foi vergar a orientação da política dos governos Lula-Dilma na direção de seus interesses econômicos e sociais, apesar das intenções originais do governo  de praticar uma política alternativa, própria de um filho da pobreza e do caos social, como era o caso de Lula.
A pretexto de garantir a governabilidade e de evitar o caos sistêmico, como se alegava, essa classe do privilégio  conseguiu impor o que lhe interessava: a manutenção inalterável da lógica acumuladora do capital. Os projetos sociais do Governo não a obrigava a renunciar a nada, antes, eram funcionais a seus propósitos. Chegavam a dizer entre si, que em vez de nós, da elite, governarmos o país, é melhor que o PT governe, mantendo intocáveis nossos interesses históricos, com a vantagem de não termos mais nenhuma oposição. Ele assina em baixo de nossos projetos essenciais.
Essa classe de endinheirados coagia o governo a pagar a dívida pública antes de atender as demandas históricas da população. Assim quitava-se a dívida monetária com sacrifício da dívida social, que era o preço  para poder fazer as políticas sociais. Estas, nunca havidas antes, foram robustas e  incluíram cerca de  40 milhões de pobres no consumo.
Os mais críticos perceberam  que esse caminho era demasiadamente irracional e desumano  para ser prolongado.  Foi aqui que se instalou um estremecimento entre os movimentos sociais e o governo Lula-Dilma.
Tudo indicava que, com quatro eleições ganhas, apesar dos constrangimentos sistêmicos, se consolidava um outro sujeito de poder, vindo de baixo, das grandes maiorias oriundas da senzala e dos movimentos sociais. Estas começaram a ocupar os lugares e usar os meios antes reservados à classe média e aos da classe do privilégio que, no fundo nunca aceitou o operário Lula e nunca se reconciliou com o povo, antes o desprezava e humilhava. Foi aí que os antigos donos do poder despertaram raivosamente, pois poderiam pela via do voto nunca mais chegar ao poder.
Instaurada uma crise político-econômica sob o governo Dilma, crise cujos contornos são globais, a classe do privilégio aproveitou a oportunidade para agravar a situação e, pela porta dos fundos chegar ao Planalto. Criou-se uma articulação nada nova, já ensaiada contra Vargas, Jango e Juscelino Kutischek assentada sobre o tema moralista do combate à corrupção, salvar a democracia (a deles que é de poucos). Para isso era necessário suscitar a tropa de choque que são os partidos da macroeconomia capitalista (PSDB,PMDB e outros), apoiados pela imprensa empresarial que foi o braço estendido das forças mais conservadores e reacionárias de nossa história com jornalistas que se prestam à distorção, à difamação e diretamente  à difusão de mentiras.
A narrativa é antiga, pois sataniza o Estado como o antro da corrupção e magnifica o mercado como o lugar das virtudes econômicas e da inteireza dos negócios. Nada mais falso. Nos Estados, mesmo dos países centrais, vigora corrupção. Mas onde ela é mais selvagem é no mercado, pois sua lógica não se rege pela cooperação mas pela competição, onde praticamente vale tudo, um procurando engolir o outro. Há milionárias sonegações de impostos e grandes empresários  escondem seus ganhos absurdos em contas no exterior, em paraísos ficais como se tem denunciado recentemente  pela Zelotes, Lava-Jato e Panamá-papers. Portanto, é pura falsidade atribuir as boas obras ao mercado e as más ao Estado.
Mas essa narrativa, martelada continuamente pela mídia empresarial, conquistou a classe média. Diz Jessé Souza com acerto que “em literalmente todos os casos a classe média conservadora foi usada como massa de manobra para derrubar os governos de Vargas, Jango e agora Lula-Dilma e conferir o “apoio popular” e a consequente legitimidade para esses golpes sempre no interesse de meia dúzia de poderosos”(A tolice de inteligência brasileira,2015,p. 207).
Na base está  uma mesquinha visão mercantilista da sociedade, sem qualquer interesse pela cultura e  que exclui e humilha os mais pobres, roubando-lhes o tempo de vida nos transportes sem qualidade, nos baixos salários e na negação de qualquer perspectiva de melhora já que são destituídos de capital social (educação, tradição familiar etc). Para garantir sucesso nessa empreitada perversa se criou uma articulação que envolve grandes bancos, a FIESP, a MP, a PF e setores do judiciário. No lugar das baionetas funcionam agora os juízes justiceiros que não relutam em passar por cima dos direitos humanos e da presunção de inocência dos acusados com prisões preventivas e pressão psicológica para a delação premiada com conteúdos sigilosos divulgados pela imprensa.
O atual processo de impeachment à presidenta Dilma se inscreve dentro desta quadro golpista  pois se trata de tirá-la do poder não por via eleitoral mas pela exacerbação de práticas administrativas consideradas crime de responsabilidade. Por eventuais erros (concedido mas não aceito) se pune com o supremo castigo uma pessoa honesta contra a qual não se reconhece nenhum crime. A injustiça é o que mais fere a dignidade de uma pessoa. Dilma não merece essa dor, pior do que aquela sofrida nas mãos dos torturadores.

Leonardo Boff

quarta-feira, 18 de maio de 2016

"Pacote de bondades"

POBRE PAGA CONTA DE RICO

Um dos equívocos dos governos do PT foi implementar uma política neodesenvolvimentista que nem sequer pode ser qualificada de pós-neoliberal. Enquanto o orçamento do Bolsa Família para este ano é de R$ 28 bilhões, e o déficit primário do governo chega a R$ 120 bilhões, o “bolsa empresário” é de R$ 270 bilhões – quase dez vezes superior. Pai severo com os pobres, o governo atuou como mãe supergenerosa com os ricos. Nem assim o PT logrou aplacar o ódio de classe contra o partido.
A fortuna do “bolsa empresário” é o resultado da soma de subsídios, desonerações e regimes tributários diferenciados para portos, indústrias químicas, agronegócio, empresas de petróleo e fabricantes de equipamentos de energia eólica.
A agricultura, por exemplo, quase nada recolhe para a Previdência Social, e a maioria dos produtores rurais sonega impostos ao se enquadrar na Receita Federal como pessoa física e não jurídica.
No bolo da sonegação legal, destaca-se o Sistema S (Senai, Sesc, Sesi, Senac, Senar, Sescoop e Sest), que mescla seu orçamento com o de inúmeras entidades empresariais, e não prima pela transparência em suas prestações de contas.
Outro pacote de bondades ao empresariado é o FI-FGTS, fundo de investimento abastecido por recursos dos trabalhadores, que aplica quase R$ 23 bilhões em projetos privados. É gerido pela Caixa Econômica Federal, e a referência de retorno para o fundo é a TR (Taxa Referencial), de cerca de 0,2%, mais 6% ao ano – percentual generoso comparado às taxas de juros cobradas pelos bancos de quem toma dinheiro emprestado.
Neste ano, o total de benefícios tributários, financeiros e creditícios soma R$ 385 bilhões! (Fonte: Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas). Uma pequena parte desse montante é destinada à desoneração da cesta básica, e descontos e isenções para creches e transporte escolar. A parcela maior, de R$ 270 bilhões, será embolsada pelo setor empresarial privado. Quem garante que haverá retorno para a economia do país e a sociedade?
Quando se reclamava que o pacote de bondades era exagerado, o governo alegava que o corte de impostos ou a sonegação legal visava a fomentar o desenvolvimento das regiões mais pobres do Brasil. Ora, os dados demonstram que 52% do total de gastos tributários beneficiam, este ano, o Sudeste, a área mais rica do país.
Só o horário eleitoral “gratuito” livra TVs e rádios de pagarem, em impostos, R$ 562 milhões. O que ninguém nunca me explicou é por que o sistema radio televisivo do Brasil, sendo propriedade da União, merece ficar livre de tributação, já que os concessionários veiculam peças publicitárias regiamente pagas?
No início do governo Dilma, as desonerações ou sonegações legais eram de R$ 197 bilhões. No fim, R$ 385 bilhões. Desse total, R$ 267 bilhões é o que o governo deixou de arrecadar, dos quais 29% consumidos pela área social (educação, saúde, cultura, meio ambiente, cidadania, assistência social, trabalho) e 71% ou R$ 190 bilhões embolsados pelo setor empresarial (agronegócio, indústria, comércio e serviços).
Enquanto não houver reforma tributária e o imposto passar a ser progressivo (quem ganha mais, paga mais), no Brasil os pobres continuarão a pagar as contas dos ricos.

Frei Betto

Preparando a solenidade da Trindade - 22.05.2016

Quando vier o Espírito da Verdade (João 16,12-15)

“A verdade vos libertará, libertará!” (cf. João 8,32). Palavras de um canto de alguns anos atrás. Palavras que cantávamos com paixão. Palavras que vieram à lembrança ao ler esta memória das comunidades dos discípulos e das discípulas amadas.
Com o canto, vieram umas interrogações: O que Jesus ainda havia de dizer que não podiam suportar? O que o Espírito da Verdade haveria de revelar? Em que caminhos haveria de guiar os discípulos e as discípulas amadas?
Senti-me convidada e retomar o caminho desde o início do Evangelho desta comunidade. De noite, Nicodemos, perplexo, havia perguntado a Jesus: Como um homem pode nascer de novo? Da água e do Espírito, que como vento sopra onde quer, ouves o ruído e não sabes de onde vem nem aonde vai... (cf. João 3,4-11). Parece que Nicodemos não compreendeu! Junto ao poço, a Samaritana desafiou Jesus: Onde adorar? Esta é a hora de adorar em Espírito e em Verdade... (cf. João 4,19-24). A Samaritana compreendeu, pois havia experimentado a hora em sua vida.
Espírito, Verdade, Hora são anéis da mesma corrente, a corrente do discipulado. A hora de Jesus é a hora em está para deixar quem o segue pelo caminho. É sua presença que revela o Deus libertador, o Deus presente na Vida, na História. Esta hora tornara-se insuportável ao “mundo” e aos donos da “religião” que ele havia denunciado e que já o tinham condenado à morte (João 11,49-52).
A hora é o agora em que Jesus, o Mestre, está para subir a uma morte violenta. Porém, eles e elas ainda não penetraram a realidade profunda do homem Jesus de Nazaré, aquele que revela o Pai. Hora que se torna hora da consolação e da promessa da presença fiel e permanente do Espírito da Verdade. Espírito da Verdade que fala através da metáfora: “Quando a mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora chegou; quando, porém, dá a luz à criança ela já não se lembra dos sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um ser humano” (João 16,20-22).
O caminho do discipulado é o caminho de conhecer a hora, como a mulher conhece em seu corpo o mistério da “hora”. A hora para a qual ela se preparou a vida inteira. A hora da espera, a hora da gravidez, a hora de dar à luz. A hora da dor e da alegria. A hora de ter nos braços a criança para acalentá-la, alimentá-la, amá-la. Hora de reter e de deixar ir. Hora de a comunidade adulta ser testemunha daquilo que experimentou, caminhando com seu Mestre, Belo Pastor (João 10,11).
O Espírito da Verdade, a Divina Ruah que conduziu o homem Jesus de Nazaré, será presença constante e fiel que fará brilhar sua experiência com Jesus de nova luz, que o levará a compreender e viver em plenitude a sua “hora”. A hora para Jesus: Ele antecipa a hora por causa da necessidade da comunidade (João 2,4); anuncia a nova hora ao se encontrar com o diferente (João 4,21); identifica sua hora com a hora da mulher (João 16,21); vive sua hora como o grão de trigo que gera vida (João 12,23-26).
A hora de Jesus é a hora da cruz. A hora em que do seu coração vai jorrar sangue e água. A hora do brotar das águas para dar à luz o novo homem e a nova mulher, para dar à luz a nova comunidade. A hora de Jesus se torna a hora da comunidade: “dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa... tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (João 19,27.30).
A hora da comunidade, lá onde mulher e homem vivem o discipulado de iguais na diaconia: no serviço da hora que transforma a água em vinho tornando a festa mais festa; no serviço dos sinais que restauram a vida; no serviço da universalidade do crer e do amar que bebe no poço da água viva; no serviço da intrepidez, da ousadia que faz suas as palavras da confissão: Tu és o Cristo; no serviço do bálsamo derramado, boa notícia de mulher até hoje; no serviço da solidariedade aos pés da cruz que se torna amor de oblação que oferece e acolhe; no serviço que busca, e no jardim encontra, reconhece, anuncia o homem e a mulher renascidas.
O Espírito da Verdade manifestará a sua glória que é a glória da hora. A hora do amor ágape que recorda – acorda! – testemunha o seu mistério que é seu ministério: ministério da antecipação; ministério da parceria; ministério da dignidade; ministério da diaconia; ministério da profecia; ministério do anúncio; ministério da vida.
Tea Frigerio

quinta-feira, 12 de maio de 2016

ANO C – SOLENIDADE DE PENTECOSTES – 15.05.2016

Espírito Santo: Sopro divino que dá vida todas as coisas!

Depois de um percurso, marcado por discretos encontros com o Senhor ressuscitado e que durou sete semanas, chegamos à celebração de Pentecostes. O derramamento do Espírito Santo é a culminância da experiência pascal.  Como a comunidade apostólica reunida em Jerusalém, reunimo-nos para pedir que o Espírito renove em nós os prodígios que realizou no início do cristianismo, esperando que o Sopro de Deus nos dê respiro e vida, nos ajude a testemunhar e anunciar o Reino de Deus na língua das diversas culturas, derrube os muros que nossos medos e prepotências ergueram, abra as portas das nossas Igrejas sitiadas pelas leis e dogmas e nos empurre para fora, em ritmo de missão.
O dom do Espírito Santo derramado sobre nós impede que sejamos como papagaios, repetidores de palavras e discursos que não entendemos. Um dos primeiros frutos da ação do Espírito Santo é a palavra. Com a força do Espírito, as pessoas caladas vencem o medo e começam a falar. Trata-se, antes de tudo, da palavra de protesto que sai da boca dos marginalizados, de um clamor que reivindica reconhecimento e respeito à própria dignidade. Mas é também uma palavra profética: denuncia as injustiças praticadas contra os oprimidos e anuncia teimosamente uma nova ordem social e rompe com as velhas lições.
O Espírito suscita também uma palavra orante e celebrativa, um cântico novo, que reconhece e louva a ação libertadora de Deus no coração das pessoas e da história. Esta palavra é despertada por uma compreensão espiritual das Escrituras, não mais lidas como coisa do passado ou simples doutrina, mas como Palavra viva e plena de sentido e orientação para os homens e mulheres de hoje. Esta palavra nova, suscitada pelo Espírito, assume a gramática das diversas culturas e anuncia o Reino de Deus de tal modo que os povos possam compreender na sua própria cultura. “Todos ouviam na sua própria língua...”
O Espírito também nos livra da ameaça de sermos fragmentos desarticulados, perdidos no tempo e no espaço. Ele cria vínculos de amor, amizade e solidariedade. Onde o Espírito age e é acolhido, as pessoas isoladas se reúnem, os membros formam um corpo, um povo novo se dá as mãos e caminha. Cria-se uma comunhão que transcende os indivíduos e o tempo: o Espírito une pessoas e gerações diferentes numa unidade familiar, étnica e nacional. Reúne também pessoas e culturas numa comunidade eclesial, centrada na memória de Jesus de Nazaré, e na comunhão viva entre as diferentes Igrejas cristãs.
A presença do Espírito Santo é força que nos livra do risco de sermos sempre e apenas escravos, indivíduos que reproduzem, sob pressão e por medo, as ações determinadas pelos senhores. A experiência do Espírito Santo nos faz pessoas livres, capazes de agir por iniciativa própria. Aos macacos fica bem a imitação e a repetição, mas não aos filhos e filhas de Deus e às comunidades cristãs! O Espírito nos é dado para superar a condição de escravos e alcançar a condição de filhos e filhas maiores, livres de todas as tutelas, herdeiros do Reino de Deus. Onde está o Espírito, ali está a liberdade!
Esta liberdade não é apenas ‘liberdade de’ algo que oprime mas ‘liberdade para’ alguma coisa nova. O Espírito nos faz livres da dependência das forças da natureza, dos condicionamentos inconscientes, do poder de persuasão dos meios de comunicação social, do constrangimento das instituições e sistemas políticos, econômicos, culturais e religiosos... O Espírito é um Defensor que nos assegura a liberdade radical e nos possibilita agir sem medos e restrições em favor da vida dos outros, em vista da criação de uma realidade social nova, baseada na paz, na liberdade, na cooperação e na solidariedade.
O Espírito Santo impede também que sejamos mortos-vivos, pois ele não se coaduna com os sistemas e instituições que impõem silêncio, com o individualismo narcisista, com a submissão medrosa e com a passividade omissa. Ele é a força de ação de Deus na história e a força da ação libertadora de Jesus Cristo. Aos cristãos ele é enviado como dinamismo missionário, como capacidade de agir no plano do homem novo: partilhar o pão, curar as doenças, perdoar e acolher os pecadores, anunciar a Boa Notícia aos pobres, percorrer o êxodo missionário. “Envias teu Espírito e assim renovas a face da terra...”
Vem Espírito Santo, faz em nós tua morada e suscita em nós o desejo e a capacidade de fazermo-nos dom, de engajarmo-nos na luta para que todos tenham vida, mesmo que isso nos leve a perder a vida. Não permitas que te aprisionemos na intimidade do coração ou no silêncio dos templos! Faz com que nossa vida pessoal e eclesial seja semente de liberdade, de solidariedade e de eternidade. E que o Messias, o Filho do Homem ungido por ti, Aquele que vive porque deu a vida, seja o Caminho que percorremos, a Verdade que acolhemos e a Vida que aspiramos ardentemente e promovemos generosamente. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 2,1-11 * Salmo 103 (6104 * 1ª Coríntios 12,3-7.12-13 * Evangelho de João  20,19-23)

Repudio do golpe parlamentar

Aos traidores, o meu desprezo; ao povo, minha solidariedade!
Decepção, indignação e preocupação: estes são os sentimentos que me envolvem nesta manhã, ao receber o resultado, ademais esperado, da votação do Senado, aprovando a abertura do processo de impedimento contra a presidenta Dilma.
Decepção com um Parlamento divorciado daquele que é o sujeito do qual emana qualquer poder republicano, o Povo, o demos da Democracia.
Indignação diante da empáfia daqueles que deveriam ser legisladores e, por isso, os primeiros a respeitar a ordem legal, mas rasgam a Constituição e, com o apoio da grande imprensa – devedora, vendida, mentirosa e imperdoavelmente golpista – incriminam com argumentos politicamente interesseiros a mais alta mandataria da nação.
Preocupação porque o que está sendo incriminado não é uma Presidenta mas um pensamento, um projeto de nação, aprovado pelas urnas mas traído pelo vice-presidente, substituído por um projeto entreguista, decidido a privilegiar os privilegiados de sempre e explorar até a morte as classes populares.
Não gostaria de viver com meu povo aquilo que está para vir, mas esta é a história que me é dada viver, e a viverei com a lucidez e a firmeza que nos vem de Jesus de Nazaré, também ele e seu projeto crucificados e eliminados, mas ressuscitados e revitalizados nas brechas da história por homens e mulheres que não se curvaram os vitoriosos e cínicos de plantão.
Sim, eu também quero um novo Brasil, mas me recuso a aceitar o projeto excludente de uma elite desavergonhada e desalmada, que sequer merece o respeito dos seus próprios familiares e partidários. Se alguns políticos de nojenta lavra subissem no alto da própria hipocrisia e se lançassem abaixo, virariam pó. Para eles, diálogo significa conchavo espúrio com os que partilham o mesmo pensamento. Quem não pensa como eles, não existe, e, se existe, deve ser silenciado e eliminado.
Decepção, indignação e preocupação... Tenho vergonha do Brasil que essa corja mantém sob suas garras. Tenho nojo da maior parte dos membros do Congresso. Meu estômago não me permite ler, ver e escutar o que a imprensa comercial veicula todos os dias. Não aceito este golpe, não reconheço o traidor Temer e seus capachos como mandatários do Brasil. Eles passarão à história e estão gravados na memória do povo brasileiro como aquilo que são: execráveis traidores!
Respeito os diversos pensamentos políticos, desde que seja pensamento, mas não me submeto a decisões criminosas e inconstitucionais. Prefiro perder, sempre, a celebrar a vitória com os canalhas. E viva o povo brasileiro! Viva a Utopia de um Brasil de todos, que virá! “Apesar de vocês, amanhã vai ser um Novo Dia...” Faz escuro, mas eu canto, e luto!

Pe. Itacir Brassiani msf

terça-feira, 10 de maio de 2016

O Evangelho dominical: Solenidade de pentecostes

Jesus faz morada conosco (Jo 14,23-29)

O texto para este domingo do Pentecostes é a parte final do discurso de despedida de Jesus, antes da sua paixão. Este discurso começa no capítulo 13, depois da prática do lava-pés e continua nos capítulos 15-17.
Jesus se despede de seus discípulos e suas discípulas, mas, ao mesmo tempo diz para a comunidade do seguimento o que devem fazer durante a espera de seu retorno. Nós também somos a comunidade do seguimento de Jesus que escuta esta palavra hoje.
Na primeira parte do discurso de despedida, Jesus nos indica o caminho que conduz a Deus que é Pai e Mãe. Na segunda parte, Jesus fala da comunhão dele com sua comunidade. Na terceira, fala de sua partida e do dom da paz.
No discurso de adeus para os discípulos e discípulas, Jesus assegura que um dia estaria voltando. Agora percebemos que Jesus não fala mais para aquele grupo de discípulos e discípulas presentes na ceia, mas para a comunidade do Quarto Evangelho e para cada um e cada uma de nós hoje, partilhando de que forma podemos nos alegrar com a presença de Jesus neste tempo de separação.
Somos pessoas chamadas ao discipulado do Filho que é Jesus para entrar em comunhão com Ele. Existe uma relação de amor que une a discípula e o discípulo ao Filho Jesus, e o Pai e o Filho aos discípulos. Se estivermos na caminhada do discipulado de Jesus na construção do seu Reino, Jesus faz morada conosco e com Ele o Pai porque são uma só pessoa.
Morada é uma palavra repleta de sentido. No primeiro testamento, morada por excelência era o Templo de Jerusalém (Sl 121,1; 131,3-132,14; Is 6; 60). Jesus, o Verbo de Deus pela sua Encarnação, cumpriu a promessa da Presença de Deus no meio da humanidade. Para o Quarto Evangelho, a morada definitiva do Pai é a comunidade do seguimento do Filho.
Judas Tadeu pediu para Jesus: "Senhor, porque te manifestarás a nós e não ao mundo?" Jesus responde agora a esta pergunta: o mundo são aquelas pessoas que recusam a proposta de Jesus e, com esta, recusam a pessoa de Deus Pai. A presença do Filho e do Pai está estritamente ligada à escuta e à prática da Palavra de Jesus, que é a palavra do Pai. Jesus diz para a comunidade do seu discipulado que virá o Espírito Santo Consolador que o Pai enviará em nome de Jesus.
O Pai, o Filho e o Espírito são a mesma Pessoa no Amor. O Espírito Santo será quem ensinará e fará recordar. Na bíblia, o verbo significa muitas vezes interpretar autenticamente as Escrituras e atualizá-las no tempo presente. Porém, no Evangelho de João existe uma novidade: o Espírito Santo Consolador ensinará, não só as Escrituras, mas a Verdade, tudo o que Jesus comunicou ao Pai, a mesma Pessoa de Jesus e do Pai! O Espírito Santo não só ensina: a Divina Ruah, faz recordar, faz voltar ao coração o profundo sentido de cada acontecimento à luz da vitória da Ressurreição sobre todo forma de morte.
Esta experiência de conseguir interpretar não só o tempo passado, mas o presente não é dom para uma pessoa, mas para uma comunidade. O Espírito Santo, a Divina Ruah, faz da comunidade o lugar privilegiado da revelação da pessoa do Pai em Jesus.
Ao término de seu discurso, Jesus volta a falar ao tempo presente para a comunidade dos discípulos e das discípulas que irão vivenciar sua paixão e morte. Para esta comunidade é a Paz de Jesus. O texto do Evangelho não está falando aqui do dom da paz, da tranquilidade ou da ausência de conflitos. Jesus não deseja a paz, ele doa a sua Paz.
A Paz de Jesus é a presença do Pai no Filho! Sabemos que também de "pax" (de paz) falava o império romano. Esta "pax" era fruto de opressão, de violência e de impostos que tiravam toda a vida do povo, sobretudo dos mais empobrecidos. A comunidade do evangelho de João insiste em dizer que a paz na pessoa de Jesus, e no seu projeto que é o Reino, nunca vai ser a paz do mundo dos opressores! Mas a certeza de que estar no Filho e no Pai, no ensino e na recordação do Espírito Santo Consolador, faz com que a comunidade não tema nenhum tipo de violência e perseguição.
A comunidade do Quarto Evangelho nos diz que a partida e a nova vinda de Jesus na ressurreição são duas facetas do mesmo acontecimento. Para a comunidade do Quarto Evangelho foi importante fazer esta memória de Jesus para poder compreender a paixão de Jesus no seu sentido pleno, e não como uma derrota, como uma traição por parte de Deus.
Maria Soave