Espírito Santo: Sopro
divino que dá vida todas as coisas!
Depois
de um percurso, marcado por discretos encontros com o Senhor ressuscitado e que
durou sete semanas, chegamos à celebração de Pentecostes. O derramamento do
Espírito Santo é a culminância da experiência pascal. Como a comunidade apostólica reunida em Jerusalém,
reunimo-nos para pedir que o Espírito renove em nós os prodígios que realizou
no início do cristianismo, esperando que o Sopro de Deus nos dê respiro e vida,
nos ajude a testemunhar e anunciar o Reino de Deus na língua das diversas
culturas, derrube os muros que nossos medos e prepotências ergueram, abra as
portas das nossas Igrejas sitiadas pelas leis e dogmas e nos empurre para fora,
em ritmo de missão.
O
dom do Espírito Santo derramado sobre nós impede que sejamos como papagaios, repetidores de palavras
e discursos que não entendemos. Um dos primeiros frutos da ação do Espírito
Santo é a palavra. Com a força do Espírito, as pessoas caladas vencem o medo e
começam a falar. Trata-se, antes de tudo, da palavra de protesto que sai da
boca dos marginalizados, de um clamor que reivindica reconhecimento e respeito
à própria dignidade. Mas é também uma palavra profética: denuncia as injustiças
praticadas contra os oprimidos e anuncia teimosamente uma nova ordem social e
rompe com as velhas lições.
O
Espírito suscita também uma palavra orante e celebrativa, um cântico novo, que
reconhece e louva a ação libertadora de Deus no coração das pessoas e da
história. Esta palavra é despertada por uma compreensão espiritual das
Escrituras, não mais lidas como coisa do passado ou simples doutrina, mas como Palavra
viva e plena de sentido e orientação para os homens e mulheres de hoje. Esta
palavra nova, suscitada pelo Espírito, assume a gramática das diversas culturas
e anuncia o Reino de Deus de tal modo que os povos possam compreender na sua
própria cultura. “Todos ouviam na sua própria língua...”
O
Espírito também nos livra da ameaça de sermos fragmentos desarticulados, perdidos no tempo e no espaço. Ele cria
vínculos de amor, amizade e solidariedade. Onde o Espírito age e é acolhido, as
pessoas isoladas se reúnem, os membros formam um corpo, um povo novo se dá as
mãos e caminha. Cria-se uma comunhão que transcende os indivíduos e o tempo: o Espírito
une pessoas e gerações diferentes numa unidade familiar, étnica e nacional.
Reúne também pessoas e culturas numa comunidade eclesial, centrada na memória de
Jesus de Nazaré, e na comunhão viva entre as diferentes Igrejas cristãs.
A
presença do Espírito Santo é força que nos livra do risco de sermos sempre e
apenas escravos, indivíduos que
reproduzem, sob pressão e por medo, as ações determinadas pelos senhores. A
experiência do Espírito Santo nos faz pessoas livres, capazes de agir por
iniciativa própria. Aos macacos fica bem a imitação e a repetição, mas não aos
filhos e filhas de Deus e às comunidades cristãs! O Espírito nos é dado para
superar a condição de escravos e alcançar a condição de filhos e filhas
maiores, livres de todas as tutelas, herdeiros do Reino de Deus. Onde está o
Espírito, ali está a liberdade!
Esta
liberdade não é apenas ‘liberdade de’ algo que oprime mas ‘liberdade para’
alguma coisa nova. O Espírito nos faz livres da dependência das forças da
natureza, dos condicionamentos inconscientes, do poder de persuasão dos meios
de comunicação social, do constrangimento das instituições e sistemas
políticos, econômicos, culturais e religiosos... O Espírito é um Defensor que
nos assegura a liberdade radical e nos possibilita agir sem medos e restrições
em favor da vida dos outros, em vista da criação de uma realidade social nova,
baseada na paz, na liberdade, na cooperação e na solidariedade.
O
Espírito Santo impede também que sejamos mortos-vivos,
pois ele não se coaduna com os sistemas e instituições que impõem silêncio, com
o individualismo narcisista, com a submissão medrosa e com a passividade
omissa. Ele é a força de ação de Deus na história e a força da ação libertadora
de Jesus Cristo. Aos cristãos ele é enviado como dinamismo missionário, como
capacidade de agir no plano do homem novo: partilhar o pão, curar as doenças,
perdoar e acolher os pecadores, anunciar a Boa Notícia aos pobres, percorrer o
êxodo missionário. “Envias teu Espírito e assim renovas a face da terra...”
Vem Espírito Santo, faz em nós tua morada e suscita em nós o desejo e a
capacidade de fazermo-nos dom, de engajarmo-nos na luta para que todos tenham
vida, mesmo que isso nos leve a perder a vida. Não permitas que te aprisionemos
na intimidade do coração ou no silêncio dos templos! Faz com que nossa vida
pessoal e eclesial seja semente de liberdade, de solidariedade e de eternidade.
E que o Messias, o Filho do Homem ungido por ti, Aquele que vive porque deu a
vida, seja o Caminho que percorremos, a Verdade que acolhemos e a Vida que
aspiramos ardentemente e promovemos generosamente. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 2,1-11
* Salmo 103 (6104 * 1ª Coríntios 12,3-7.12-13 * Evangelho de João 20,19-23)
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