338 | Ano B | festa de São Filipe e São Tiago | João
14,6-14
03/05/2024
Esta passagem faz parte da comovida catequese que Jesus desenvolve
logo depois da ceia e do lava-pés, e ilumina a festa litúrgica dos apóstolos
São Filipe e São Tiago. Filipe pede que Jesus lhes mostre o Pai. “Senhor,
mostra-nos o Pai, e isso nos basta”! É um pedido quase desesperado diante do
desconcerto de um Messias que se inclina diante do Homem para lavar seus pés e
dar sua vida.
Jesus já havia deixado claro que é nele que temos acesso ao Pai,
pois ele é o caminho, a verdade e a vida. Por isso, responde quase que
lamentando a dificuldade de Filipe e dos demais discípulos em ver nele o rosto
do Pai: “Se me conheceis, conhecereis também o meu Pai. Há tanto tempo estou
convosco e não me conheces? Quem me vê, vê o Pai. Crede, ao menos, por causa
destas obras...”
O problema de Filipe é o problema da Igreja, o nosso problema.
Custa-nos aceitar que o Deus que revestimos de onipotência e colocamos no
altíssimo nos é dado a conhecer nas ações concretas de Jesus de Nazaré. Não é
que queiramos ver mais; queremos ver outras coisas, menos concretas, mais
abstratas e passíveis de manipulação; coisas mais doutrinais e menos
interpeladoras, como é lavar é os pés dos/as irmã/os, alimentar os famintos,
resgatar a cidadania de quem está à margem e dar a vida sem reservas.
O problema continua, e se torna ainda mais sério, quando e na
medida em que queremos dar a impressão de que conhecemos Jesus, e fazemos o
possível para impor a imagem que fazemos dele a quem crê diversamente. A
tentação da qual não nos livramos é a de fazer Jesus vestir o figurino que de
antemão preparamos para ele, de obrigá-lo a fazer aquilo que decidimos em
nossas faculdades de teologia e gabinetes doutrinais.
Imagino Jesus dirigindo-se hoje a nós, e dizendo em tom de
advertência: “Há tanto tempo estou com vocês e vocês não me conhecem!” Crer
nele é fazer aquilo que ele faz, prosseguir sua ação libertadora, entrar no
caminho da compaixão, armar a tenda dos nossos sonhos e projetos no chão da
humanidade ferida e sedenta de vida. O resto é culto às vaidades que passam,
serviço aos poderes que oprimem, fuga das responsabilidades que podem nos fazer
humanamente maduros/as.
Meditação:
· Recomponha na memória os gestos as
palavras desse diálogo de Jesus com os seus discípulos
· Será que também nós partilhamos da
cegueira de Filipe, e não conseguimos reconhecer Deus naquilo que Jesus faz e
pede?
· O que o processo de crescimento e renovação do apóstolo Filipe e do discípulo tardio Tiago nos ensinam hoje?
Como podemos nós, em nosso tempo, recriar esta ação de Jesus, inclusive com maior alcance e eficácia?