sábado, 7 de dezembro de 2024

Alegra-te, cheia de graça!

Alegra-te, cheia de graça, porque Senhor está contigo! | 555 |08. 12.2024 | Lucas 1,26-38

Faltando 16 dias para o Natal do Senhor, celebramos a solenidade da imaculada concepção de Maria. E o texto do evangelho segundo Lucas é o escolhido para iluminar esta solenidade mariana. Poderíamos chamar Maria de Nazaré de “Graciosa”, mas essa graça ela a recebe do Pai e compartilha conosco.

Nesta cena, o papel central é reservado ao Mensageiro de Deus, e o clima é de intenso júbilo, assim como o são os capítulos 1 e 2. O Anjo saúda Maria com uma expressão que significa “Esteja bem! Tudo de bom!” E diz que o “charme” dela encantou o próprio Deus. É claro que essa é uma boa notícia, mas isso terá consequências, pois Maria deverá mudar seus planos e participar da dor e da glória do seu filho.

É bastante evidente que, ao dizer que Maria é cheia de graça, o anjo Gabriel não está se referindo apenas à eventual formosura física de Maria de Nazaré, nem à sua virgindade. Ele fala da sua humanidade, original e sem pecado, como a criação sonhada e saída perfeita das mãos de Deus. Ela é a imagem da humanidade como Deus a imaginou, a pessoa humana na qual brilha a imagem de Deus.

Acolhedora, disponível e serviçal, Maria não é uma mulher passiva, sem personalidade, “recatada e do lar”. Antes, mostra-se atenta e reflexiva. Muito longe de se calar e retirar, ela pede explicações ao próprio Anjo, quer compreender, interroga. E descobrirá lentamente a bela ação que Deus realiza nela e através dela, dando prioridade e grandeza aos humildes e marginalizados.

Dizendo que “o poder do altíssimo a cobrirá com sua sombra”, o Anjo se refere à nuvem que escondia e manifestava a glória de Deus no êxodo (uma imagem do Espírito de Deus que dirige e fortalece o povo hebreu no seu êxodo), e apresenta Maria como tenda da presença de Deus no mundo. E o filho que dela nascerá – o fruto bendito do seu ventre – abrirá o caminho de um novo êxodo.

E o próprio Anjo antecipa traços do filho de Maria: ele será grande, será chamado filho do altíssimo, santo, filho de Deus, e herdará o espírito do pastor Davi. No nome que lhe será dado, está sua missão: Deus é salvação. Isso significa que, em Jesus, Deus não se mostrará primariamente juiz ou legislador, mas libertador dos oprimidos.

 

Meditação:

·    Observe o que o anjo antecipa sobre Jesus de Nazaré, o filho recém-anunciado a Maria, razão de ser da nossa espera e da nossa alegria

·    Tome como dirigidas a você as palavras do Mensageiro de Deus: “Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo! Não tenhas medo! Encontraste graça diante de Deus!”

·    Acolha estas palavras como horizonte da sua vocação de ser íntegro/as e irrepreensível e da missão na Igreja e no mundo

·     Procure inserir seu projeto de vida no projeto que Deus tem para a humanidade e para você

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Aquilo que recebemos de graça, nós devemos dar gratuitamente

Aquilo que recebemos de graça, nós devemos dar gratuitamente | 554 |07. 12.2024 | Mateus 9,35-10,8

Jesus está em peregrinação ao santuário das dores e esperanças humanas, anunciando o Reino de Deus, ensinando como acolhê-lo e curando os enfermos para sinalizar que o reino chegou de verdade. Através do que faz e das relações que estabelece, Ele é sinal da “visita de Deus” que estamos preparando no Advento e celebraremos no Natal. Não é uma visita passageira, pois ele veio para ficar!

Jesus se deixa tocar pelo sofrimento dos pobres e marginalizados, mas não fica no simples sentimento. Diante de um povo abandonado à própria sorte pelas autoridades, em meio a um povo cansado e abatido, espoliado e abandonado, Jesus é tomado de profunda compaixão e toma iniciativas concretas para devolver a plena cidadania às pessoas. A compaixão, essa capacidade de se importar profundamente com a dor dos outros, é o segredo dinâmico da sua missão.

Mas Jesus percebe claramente que esta missão é grande ultrapassa suas forças e possibilidades. Ele não dará conta de fazer tudo sozinho, e precisa contar com muito mais gente nesse ministério da compaixão, que vence a indiferença e reconstrói a vida. Diante da exiguidade de recursos e da pequenez da comunidade dedicada a esta missão, Jesus não desiste nem se desespera: antes, ele nos estimula e ensina a pedir a Deus Pai com insistência mais operários. E, ao mesmo tempo, a buscar e preparar gente que colabore generosamente nela.

Mas pedir ao Pai que suscite e sustente pessoas generosas que se dediquem à imensa e urgente tarefa de tornar esse mundo melhor, e de anunciar esta possibilidade, não é algo a ser feito sem empenho pessoal. Antes de tudo, ele mesmo nos ensina a compaixão, nos chama e nos envia como discípulos missionários para fazer exatamente o que ele veio fazer: anunciar, ensinar, libertar. E tudo de graça, sem exigências nem imposições, como de graça é o que dele recebemos.

É desde uma humilde casa de família em Nazaré e do estábulo de Belém que ele nos envia com uma prioridade: as ovelhas perdidas, as pessoas vulneráveis, os povos ameaçados. E não apenas para rezar e abençoar, mas para curar todo tipo de doenças. E sem omitir o anúncio jubiloso: “O reino de Deus está próximo! Deus está conosco e armou sua tenda entre nós!”

 

Meditação:

§ Também hoje, o trabalho de construir uma humanidade única e fraterna é imenso e precisa de muita gente generosa

§ Sozinhos/as, nós, nossas comunidades e nossas Igrejas não dão conta e podem ceder ao cansaço e ao desânimo

§ Quem compartilha a visceral compaixão de Jesus sabe reconhecer e congregar gente de fora das nossas igrejas nesse caminho

§ Muitos são os chamados e enviados a trabalhar com generosidade e gratuidade em favor das “ovelhas perdidas”

Solenidade da Imaculada Conceição de Maria

Maria vai com as outras?!

As comunidades católicas celebram, no próximo domingo, a solenidade da Imaculada Concepção da Bem-Aventurada Virgem Maria. Houve tempo em que a simples invocação do nome de Maria soava como insulto ou blasfêmia aos ouvidos dos irmãos protestantes. Hoje não é mais bem assim, mas a pergunta é pertinente: é possível refletir sobre Maria, a Mãe de Jesus, numa perspectiva ecumênica e com base numa visão moderna da mulher?

Martin Lutero, o fundador do movimento protestante, escreveu um belo e profundo tratado sobre o cântico de Maria (cf. Lc 1,46-55).  Na sua reflexão teológica e social, Lutero não hesita em tratar Maria como “doce mãe de Cristo”, “Virgem Maria” e “mãe de Deus”. Para ele, o que há de mais belo e precioso na “Bendita Mãe de Deus” é a humildade, a disponibilidade e a confiança com que Ela se põe à disposição da Vontade de Deus.

Para Lutero, inspirar-se em Maria significa permitir que Deus atue em nós, colaborar para que sua vontade seja plenamente realizada. Por isso, não basta afirmar que ela não se alegra por sua virgindade, mas por sua humildade. Ela se alegra pela “graciosa observação divina”. O que deve ser destacado em Maria não é sua humildade, mas a atenção com que Deus a trata, a mesma atenção que dá a todos os humildes e humilhados.

Para celebrar esta solenidade, as comunidades cristãs católicas buscam luzes no texto de Lucas (1,26-38). Ali encontramos a inusitada manifestação de Deus a uma mulher da Galileia. É inusitada porque Deus não se dirige a um homem destacado por seu saber ou por sua piedade, e isso não acontece no templo ou da Sinagoga. Não é uma pessoa cumpridora meticulosa das leis e prescrições a escolhida e declarada “cheia de graça”...

A quem gosta de imaginar Maria como uma mulher “recatada e do lar”, pronta a obedecer às ordens daqueles que se consideram o gênero superior, convido a observar como Maria ousa questionar o próprio Mensageiro de Deus. Ela é uma mulher livre e empoderada, que não se cala nem diante de quem fala em nome de Deus. Seu jeito de fazer a vontade de Deus passa pelo questionamento e pela reflexão (cf. Lc 2,19.51).

Nisso, Maria de Nazaré não está sozinha. Ela “vai com as outras”, pois se soma às outras mulheres corajosas do povo hebreu, como as parteiras do Egito, que ousam desobedecer às ordens do Faraó (cf, Ex 1,12-21); a viúva Judite, que enfrenta o general Holofernes (cf. Jd 8-9), a rainha Ester, que pede ao rei vida para seu povo (cf. Est 7,1-4), a mãe dos jovens Macabeus, que os encoraja a desobedecer ao rei Antíoco (cf. 2Mc 7). E como Ana, Isabel, Madalena, Marta, Maria, Lídia e tantas outras mulheres da aurora do cristianismo.

Maria também está com outras mulheres do nosso tempo, como Maria Quitéria, Rosa de Luxemburgo, Edith Stein, Nísia Floresta, Teresa de Calcutá, Indira Gandhi, Dorothy Stang, Zilda Arns. Não quero dizer que ela não passa de uma mulher extraordinária, mas desejo sublinhar que vejo em Maria de Nazaré, traços humanos que outras mulheres, de alguma forma, também expressaram. Ela “vai com as outras”, com muitas outras, que compartilham com ela a bem-aventurada humanidade, talvez a santidade.

Dom Itacir Brassiani msf

Bispo de Santa Cruz do Sul

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Cremos que Jesus pode dar-nos um novo olhar?

Cremos que Jesus pode nos ajudar a ver tudo com um novo olhar? | 553 |06. 12.2024 | Mateus 9,27-31

Na caminhada do Advento, que inaugura um novo tempo espiritual, a alegre expectativa pelo que está sendo gestado e logo nascerá é a luz que ilumina os textos bíblicos propostos para cada dia. Precisamos ajustar o nosso olhar para reconhecermos os sinais da “visita” de Deus em trajes de pobreza, de simplicidade, de proximidade, e nos abre ao sonho, à esperança, à generosidade ativa.

O texto de hoje está situado numa etapa de plena e intensa atividade missionária de Jesus, conjugada com uma esmerada formação para os discípulos. Neste movimento guiado pela compaixão, Jesus multiplica fecundos sinais da chegada do reino de Deus. Não são demonstrações de poder, mas ações concretas que vêm em socorro aos pobres, doentes e desvalidos. Entre estes estão os cegos, socialmente vulneráveis e objetos de chacota de muitas “pessoas de bem”.

Não sem dificuldades, os cegos seguem Jesus em seu movimento missionário. Esta atitude de pessoas marginalizadas, como é o caso deles, expressa a dinâmica do discipulado cristão: mesmo sem “ver” Jesus, eles o seguem, movidos pelo desejo; querem alcançar a visão, para saber o caminho e ver as pessoas e acontecimentos como Deus os vê. Jesus valoriza este desejo profundo como sinal de uma fé pura e profunda. Essa fé tem força, e rompe com a inércia e com o fatalismo.

Os cegos invocam Jesus como “filho de Davi”, como o fazem todas as pessoas e categorias cansadas e abatidas, que anseiam por mudanças radicais na ordem social. Eles pedem “piedade” (misericórdia), que não é um mero sentimento, mas atitude e ação que seja capaz de mudar de modo efetivo e palpável a difícil condição que vivem. Assim, mesmo cegos, reconhecem Jesus como o Messias ou Enviado de Deus para instaurar uma nova ordem social, favorável aos pobres.

O pedido dos cegos é atendido por Jesus. Como todas as pessoas que se encontram de fato com Jesus, os cegos curados não se calam, e se tornam discípulos e testemunhas. Quem encontra Jesus e prova sua compaixão não pode calar-se ou cruzar os braços. Caminhando para o Natal, como José e Maria e como os pastores, movidos pelo sincero desejo de ver o nascimento de “um outro mundo possível”, deixemos que o Deus Menino nos toque, abra nossos olhos e guie nossos passos.

 

Meditação:

·    O evangelho de hoje nos orienta para uma atitude madura e adequada na preparação do Natal: o desejo de ver bem

·    Acompanhando Maria e José, não basta olhar para Maria ou para Jesus Menino; precisamos olhar com ele, com o olhar dele

·    Nossa fé em Jesus ajusta nosso olhar ao dele, chama-nos ao testemunho e ao engajamento humanitário

·    Que nossos olhos se abram aos múltiplos sinais de solidariedade que sobrevivem e se multiplicam em tempos complexos e sombrios

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Não sejamos pessoas sem juízo!

Não sejamos pessoas sem juízo! Que a escuta desemboque na ação! | 552 |05. 12.2024 | Mateus 7,21-27

A espiritualidade do advento é a luz que ilumina com cores especiais os textos bíblicos deste tempo litúrgico. Ela ajusta nosso olhar para podermos reconhecer os sinais da “visita” de Deus em trajes humanos, trajes de pobreza, de simplicidade, de proximidade. E nos estimula e sensibiliza ao sonho, à esperança, à generosidade.

Hoje, a Palavra de Deus nos adverte sobre uma forma deficiente e imatura de ouvir e acolher o Evangelho de Jesus: reduzi-lo a um motivo para exultação, suspiros e gemidos, cânticos e linguagens estranhas. Jesus provoca e encoraja seus discípulos missionários a levar o Evangelho para a vida, como dinamizador de ações, iniciativas, decisões e relações concretas, em todos os âmbitos.

Acolher Jesus – no Natal ou fora dele! – significa fazer-se seu discípulo, companheiro de caminhada; assumir seus sentimentos e pensamentos; tornar-se membro da sua família; participar da sua missão. A ação verdadeiramente evangélica nasce da escuta atenta da Palavra, que nos fala pela Bíblia e pela Vida. Ler, escutar ou meditar o Evangelho e não agir de acordo com ele equivale a desobedecer.

Infelizmente, tanto no tempo de Jesus como hoje, há quem queira ser cristão sem uma ação correspondente. Tem o nome de Jesus sempre nos lábios, mas usa-o para promoção pessoal ou das suas igrejas (ou negócios religiosos). Ou até para condenar e excluir pessoas e iniciativas que não coincidem com sua ideologia. E há instituições que embelezam seus espaços e ambientes com símbolos e canções natalinas, mas não querem saber do Evangelho de Jesus. Preferem o “bom velhinho” à manjedoura...

A autenticidade do discípulo se faz patente e evidente numa vida centrada em Jesus e no Reino de Deus. No discipulado cristão não há espaço para as fachadas (humanas e comerciais), tão enfeitadas quanto falsas. Não é aceitável usar o nome de Jesus como fórmula mágica e como afirmação de poder. Isso é insensatez ou falta de juízo, como diz Jesus. Ou é como construir um edifício sobre terreno movediço.

Chega a causar revolta ver a fé sendo usada por alguns setores para não assumir a causa ambiental e não enfrentar as urgências climáticas. Há quem prefira culpar Deus ao invés de assumir as responsabilidades como pessoa e como sociedade. Evitemos essa hipocrisia. Tenhamos isso presente em nossa caminhada para o Natal!

 

Meditação:

§  O evangelho de hoje nos orienta para uma atitude madura e adequada na preparação do Natal

§  Esta festa não pode se resumir em comida e bebida abundantes ou em presentes, em músicas e cartões, em luzes e pinheiros

§  Celebraremos o Natal como família e discípulos de Jesus vivendo a compaixão e a fraternidade em todas as nossas relações

§  O verdadeiro presépio – lugar da manifestação de Jesus – deve ser edificado com fundamento: nossas atitudes de amor solidário

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Venha, Senhor, o teu Reino

Venha, Senhor, o teu Reino, para que a festa da vida seja plena | 551 |04. 12.2024 | Mateus 15,19-37

A espiritualidade do advento é a lente que devemos usar para ler e meditar os textos bíblicos indicados para as celebrações deste tempo litúrgico. É o advento que ajusta nosso ouvido e nosso olhar para reconhecermos a “visita” de Deus em trajes humanos de pobreza, de simplicidade, de proximidade. E nos sensibiliza e nos abre ao sonho, à esperança, à generosidade.

No trecho do Evangelho que meditamos hoje, o evangelista nos apresenta Jesus em plena ação missionária, antecipando a festa dos pequenos, a festa que celebra a preciosidade da vida dos pobres, a festa que celebra a irrupção do Reino de Deus. Na montanha, lugar de reunião e de encontro, de revelação e de aliança, Jesus cura as pessoas machucadas pela sociedade e pela vida, e alimenta os famintos. Ali se concretiza a “filantropia” de Deus, esperada sinalizada no Natal de Jesus.

Nesta cena, o evangelista nos mostra que a festa da vida, sonhada e esperada, não se realiza no templo, como esperavam e apregoavam os sacerdotes e doutores da lei, mas no encontro com Jesus nas margens. E os protagonistas não são as pessoas piedosas ou poderosas, mas aquelas que são jogadas nas margens da convivência social e do espaço religioso. O objetivo de Jesus é ajustar nosso olhar para que sejamos capazes de ver as necessidades dos outros e ser compassivos.

De fato, o que move Jesus em seu falar e em seu agir é a compaixão. E a compaixão não é um sentimento ocasional, mas uma força que coloca a dor e a vida dos outros acima e antes de tudo. É esta compaixão vivida por Jesus em todas as relações que atrai a ele as pessoas pobres e “estropiadas”. É esta compaixão que ele quer despertar em todos os seus discípulos missionários, pois é ela que nos ajuda a encontrar soluções humanas para os problemas humanos.

O pão que alimenta a multidão é fruto direto da compaixão e resultado da superação do egoísmo dos discípulos e discípulas. Aqueles que o possuem, mesmo em pouca quantidade, cedem a prioridade a quem tem maior necessidade. É esse o sentido profundo do Natal: Deus ama o mundo com tal intensidade que envia a ele seu Filho. Seja este o Natal que nos empenhamos em preparar. Que a montanha do egoísmo seja rebaixada, que os vales que separam os fartos dos famintos sejam aterrados.

 

Meditação:

§  Faça um esforço para recriar a cena, colocando-se entre os personagens, contracenando e dialogando com eles

§  Como repercute em você a declaração de Jesus “Tenho compaixão desse povo que não tem nada para comer”?

§  Participe das ações de Jesus e da alegria incontida e do louvor a Deus que brota da boca das pessoas curadas e alimentadas

§  O que isso tem a ver conosco, com a preparação e a celebração do Natal que se aproxima?

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Deus é amor que se faz pequeno

Deus é amor que se faz pequeno, e os humildes o reconhecem | 550 |03. 12.2024 | Lucas 10,21-24

A espiritualidade do advento são os óculos que devemos usar para ler e entender os textos bíblicos sugeridos à nossa meditação e oração neste período tão intenso da vida litúrgica. E estes óculos dirigem nosso olhar para os pequenos sinais, para os grandes sonhos, para a preparação e a acolhida de algo novo e determinante para nossa vida e para a história, que está acontecendo sutilmente no mundo.

O pequeno trecho do evangelho de Lucas que hoje nos ilumina e alimenta é o coração da sua obra: a reação jubilosa e calorosa de Jesus à breve ação missionária dos setenta e dois discípulos e discípulas. Neles, Jesus vê a abertura e a disponibilidade à novidade libertadora de Deus. Com isso, Jesus nos chama à simplicidade, à abertura e ao discernimento que nos fazem capazes de reconhecer e acolher o “Deus Pequeno” que nos vem morar entre nós e ser nosso companheiro e libertador.

Jesus se defrontou com a arrogância e a autossuficiência dos líderes religiosos e das elites culturais, sociais e econômicas do seu tempo. Elas tendiam a manipular o nome a imagem de Deus em benefício deles mesmos e contra as pessoas simples. Por isso, Jesus diz que o Deus verdadeiro, o Pai seu e nosso, decidiu conscientemente não se revelar aos membros dessas elites, mais ainda, que Deus esconde a eles seu rosto.

Jesus conhecia também a profundidade e a sinceridade da fé das pessoas simples e humildes. Elas não são eticamente superiores a ninguém, mas estão em condições de reconhecer e acolher com alegria a revelação de Deus, porque essa revelação não é um saber, mas uma capacidade de amar e servir. Essa revelação não nos faz mais sabidos, mas mais dóceis e generosos. E se a docilidade e a generosidade vêm de Deus, não são mérito de ninguém e não conhecem limites.

Jesus exulta profundamente diante desse duplo movimento conscientemente desejado por Deus: revelar seu rosto e o mistério da sua vontade aos pequenos e humildes e escondê-los aos sábios e arrogantes. E associa seus discípulos a essa revelação, pois eles o seguem e nele acreditam. Jesus sabe tudo dos mistérios do Pai, e o Pai o ama e confia nele. E é no encontro vivo e missionário com Jesus, e não com a lei ou com o templo, que alcançamos a salvação, chegamos a ser pessoas plenamente livres e realizadas. Sigamos pelo caminho dos pequenos e humildes.

 

Meditação:

§  Leia atentamente esta cena e estas palavras de Jesus, relacionando-as com o conjunto do seu ensinamento

§  A espiritualidade do advento nos oferece uma perspectiva muito própria para a escuta e a compreensão do Evangelho

§  Este tempo nos convida à vigilância do porteiro, à escuta despojada, à atenção aos pequenos sinais

§  Quem conhece suas atitudes, dirá que você está entre os sábios e doutores ou entre os simples e humildes?

domingo, 1 de dezembro de 2024

Senhor, tua palavra se faz carne e cura todas as paralisias

Senhor, tua palavra se faz carne e cura todas as paralisias sociais | 549 |02. 12.2024 | Mateus 8,5-11

Depois d e apresentar a primeira etapa do processo de formação que Jesus oferece aos seus discípulos, Mateus inicia a fase narrativa de seu evangelho, descrevendo o Reino de Deus em ação. Também nisso Jesus forma e educa e orienta seus discípulos missionários. Ontem, iniciando o advento, ouvíamos Jesus sublinhar que a figura desse mundo injusto passa, e há sinais de novidade no ar.

Mateus nos mostra como Jesus derruba os muros e atravessa as fronteiras nacionais, étnicas, religiosas e sociais. E faz isso evitando os centros de poder e deslocando-se sempre em direção às margens e periferias sociais. Ele usa os meios da Palavra e do toque, da compaixão e da misericórdia, sem recorrer a ações para impressionar. São ações que beneficiam os necessitados, e não subjugam ninguém.

No início da cena de hoje se confrontam dois reinos (o romano e o de Deus) e duas etnias (os judeus e os pagãos). Nos versículos finais também são colocadas frente a frente duas classes (um chefe militar e uma mulher sem nome). O escravo do oficial romano é um homem sem voz, que não conta para nada, e Jesus faz por ele o que império romano não faz, e corrige aquilo que a dominação provoca.

A figura do oficial romano é ambivalente, pois ele faz parte da estrutura de violência do império romano, mas, ao mesmo tempo, é um pagão, e, como tal, é desprezado pelos judeus. Pela confiança radical na força libertadora da pessoa e da Palavra de Jesus para curar alguém tratado por ele como simples propriedade, este oficial chama a atenção e suscita o elogio de Jesus. A atitude desse pagão inspira a vida cristã. A fé desse soldado pagão é exemplo até para os judeus mais piedosos, e para os cristãos mais engajados. Em cada missa, repetimos suas palavras com o desejo de assimilar sua atitude. “Senhor, eu não sou digno que entres em minha casa, mas uma palavra tua basta para curar-me”.

Iniciando a caminhada de preparação para a celebração litúrgica do nascimento de Jesus, também nós somos convidados a acolher essa Palavra que ilumina, forma, guia e cura. Ela é que nos trará vida e felicidade. Sua palavra abre portas e constrói pontes para reunir a humanidade numa só família. Não a substituamos pelo “bom velhinho” e seu saco de presentes! Ele não passa de fantasia e estratégia comercial...

 

Meditação:

§  Preste atenção na atitude, nos gestos e nas palavras do oficial romano: ele pede em favor de um escravo, que é uma das suas propriedades, que e talvez ele mesmo tenha torturado, conforme facultava a lei da escravidão

§  O oficial expressa sua fé na força da Palavra e da compaixão de Jesus por aqueles que não tem voz nem vez

§  Você deseja que Jesus entre na sua casa e faça, anuncie seu Evangelho e lhe indique o caminho para o bem viver?

sábado, 30 de novembro de 2024

Preparemos o Natal permanecendo vigilantes

Preparemos o Natal permanecendo vigilantes no amor e no serviço | 548 |01. 12.2024 | Lucas 21,25-36

A preparação para o natal de Jesus não é coisa fácil. Na verdade, é luta! Não é por acaso que, no evangelho, Jesus pede atenção, coragem e prontidão. E lança um alerta: que os excessos e as preocupações, a gula e a embriaguez não apaguem nossa sensibilidade.  Preparar o natal de Jesus e entrar na lógica do Reino de Deus supõe engajamento incansável para palmilhar caminhos de justiça e fraternidade.

Fácil é seguir as placas de indicação que nos levam ao templo do consumo, aos palácios da indiferença, às praças do faturamento. À nossa embotada sensibilidade, tudo isso parece tão aprazível, luminoso e tão precioso. Temos a ilusão de que nisso estão os fundamentos sólidos de uma vida feliz. Uma simples diminuição do poder de consumo basta para que as nações se angustiem e as pessoas mergulhem no medo. Jesus diz que estas forças, aparentemente invencíveis, serão abaladas, e isso é bom!

“Verdade e amor são os caminhos do Senhor”, diz o salmista. “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais”, diz Paulo. Nisso precisamos progredir sempre, pois estamos assustados e feridos pela violência e pela intolerância que marca a vida política e social do Brasil. E, mais ainda, preocupados com o perigoso namoro de certos grupos políticos, sociais, empresariais e eclesiais com o autoritarismo e com o obscurantismo.

Precisamos mergulhar no espírito do Advento a aguçar a evangélica sensibilidade que nos ajudará a identificar os pequenos sinais que teimam em aparecer nos ventres de mulheres humilhadas, nas estrebarias das periferias, nas mãos abertas e desarmadas de gente que confia na fraqueza, nos corações generosos que compartilham sonhos, nos movimentos que se erguem como Davi diante do Mercado gigante e idólatra. Precisamos levantar a cabeça diante dos que venceram pela mentira e pretendem governar pela intimidação.

Quem nos mantém de pé é o Filho do Homem, aquele que mostrou a divina humanidade das suas entranhas, aquele que é caminho por sua solidariedade, verdade por sua acolhida indiscriminada e vida pelo dom desmedido de si mesmo; o resto é embriaguez e armadilha.

 

Meditação:

·        Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, relacionando-as a atitude de atenção, vigilância e confiança que marcam o Advento

·        Quais são os excessos que hoje provocam em nós insensibilidade, embriaguez e preocupações que mudam nosso foco e nos dispersam?

·        Você cultiva a esperança de que, com o nascimento de Jesus, “um outro mundo é possível”, ou não acredita em mais nada?

·        O que significa para você, hoje, no meio de tantas incertezas e dificuldades, ficar atento/a e rezar?