Um caminho de esperança: três ações
possíveis
Se deixarmos que o nosso coração
seja tocado por estas necessárias mudanças, o Ano de Graça do Jubileu pode
reabrir o caminho da esperança para cada um de nós. A esperança nasce da
experiência da misericórdia de Deus, que é sempre ilimitada.
Deus, que não deve nada a ninguém,
continua a conceder incessantemente graça e misericórdia a todos os homens.
Isaque de Nínive, um Padre da Igreja Oriental do século VII, escreveu: “O teu
amor é maior do que as minhas dívidas. Pouca coisa são as ondas do mar
comparadas com a quantidade dos meus pecados, mas se eu pesar os meus pecados,
comparados com o teu amor, eles desaparecem como se nada fossem”. Deus não
calcula o mal cometido pelo homem, mas é imensamente “rico em misericórdia, por
causa do grande amor com que nos amou” (Ef 2,4).
Ao mesmo tempo, ouve o grito dos pobres e da terra. Bastar-nos-ia parar por um
momento, no início deste ano, e pensar na graça com que Ele sempre perdoa os
nossos pecados e anistia todas as nossas dívidas, para que o nosso coração se
encha de esperança e de paz.
Por isso, Jesus, na oração do Pai
Nosso, depois de termos pedido ao Pai a remissão das nossas ofensas,
exigentemente afirma “assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Para
perdoar uma dívida aos outros e dar-lhes esperança, é preciso que a própria
vida esteja cheia dessa mesma esperança que vem da misericórdia de Deus. A
esperança é superabundante em generosidade, não é calculista, não olha para a contabilidade
dos devedores, não se preocupa com o seu próprio lucro, mas tem um único
objetivo: levantar os caídos, curar os quebrantados de coração, libertar de
todas as formas de escravidão.
Gostaria de sugerir, no início
deste Ano de Graça, três ações que podem devolver a dignidade à vida de
populações inteiras e colocá-las de novo no caminho da esperança, para que a
crise da dívida possa ser ultrapassada e todos possam voltar a reconhecer-se
como devedores perdoados.
Antes de mais, retomo o apelo lançado
por São João Paulo II, por
ocasião do Jubileu do ano 2000, para que se pense numa consistente redução, se
não mesmo no perdão total da dívida internacional, que pesa sobre o destino de
muitas nações. Reconhecendo a dívida ecológica, os países mais ricos
sentir-se-ão chamados a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para perdoar as
dívidas dos países que não estão em condições de pagar o que devem. Certamente,
para que não se trate de um ato isolado de beneficência, que corre o risco de
desencadear de novo um ciclo vicioso de financiamento-dívida, é necessário, ao
mesmo tempo, desenvolver uma nova arquitetura financeira que conduza à criação
de um acordo financeiro global, baseado na solidariedade e na harmonia entre os
povos.
Além disso, faço apelo a um firme
compromisso de promover o respeito pela dignidade da vida humana, desde a
concepção até à morte natural, para que cada pessoa possa amar a sua vida e
olhar para o futuro com esperança, desejando o desenvolvimento e a felicidade
para si e para os seus filhos. Com efeito, sem esperança na vida, é difícil que
surja no coração dos jovens o desejo de gerar outras vidas. Particularmente
neste sentido, gostaria de convidar, uma vez mais, para um gesto concreto que
possa favorecer a cultura da vida. Refiro-me à eliminação da pena de morte em
todas as nações. Em realidade, esta punição, além de comprometer a
inviolabilidade da vida, aniquila toda a esperança humana de perdão e de renovação.
Atrevo-me também a lançar um outro
apelo às jovens gerações, recordando São Paulo VI e Bento XVI, neste tempo marcado pelas guerras: utilizemos pelo menos
uma percentagem fixa do dinheiro gasto em armamento para a criação de um fundo
mundial que elimine definitivamente a fome e facilite a realização de
atividades educativas nos países mais pobres que promovam o desenvolvimento
sustentável, lutando contra as alterações climáticas. Devemos tentar eliminar
qualquer pretexto que possa levar os jovens a imaginar o seu futuro sem
esperança, ou como uma expectativa de vingar o sangue derramado por seus entes
queridos. O futuro é um dom que permite ultrapassar os erros do passado e
construir novos caminhos de paz.
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