ALEGRIA PARA TODO O POVO
Há coisas que só as pessoas simples
sabem entender; verdades que só o povo é capaz de intuir; alegrias que só os
pobres podem desfrutar. Assim é o nascimento do Salvador em Belém. Não é algo
para os ricos e abastados, um acontecimento que só os cultos e os sábios podem
entender; algo reservado às minorias selecionadas. É um acontecimento popular,
uma alegria para todo o povo.
Ainda mais. São pobres pastores,
considerados na sociedade judaica como pessoas pouco honradas, marginalizados
por muitos como pecadores, os únicos que estão acordados para ouvir as
notícias. Também hoje é assim, embora, com frequência, os mais pobres e
marginalizados tenham ficado tão longe da nossa Igreja.
Deus é livre. Por isso é acolhido mais
facilmente pelo povo pobre do que por aqueles que pensam poder adquirir tudo
com dinheiro. Deus é simples e está mais próximo das pessoas humildes do que
daquelas que vivem obcecadas por ter sempre mais. Deus é bom, e é melhor
entendido por aqueles que sabem amar-se como irmãos do que por aqueles que
vivem egoisticamente, presos ao seu bem-estar.
Continua sendo verdade o que sugere o
relato do primeiro Natal. Os pobres têm um coração mais aberto a Jesus do que
aqueles que vivem satisfeitos. O seu coração contém uma sensibilidade ao
Evangelho que nos ricos foi muitas vezes atrofiada. Têm razão os místicos
quando dizem que para acolher Deus é necessário esvaziar-nos, despojar-nos e
tornar-nos pobres.
Enquanto vivermos procurando a
satisfação dos nossos desejos, alheios ao sofrimento dos outros, conheceremos
diferentes graus de excitação, mas não a alegria que se anuncia aos pastores de
Belém. Enquanto continuarmos a alimentar o desejo de posse, não se poderá
cantar entre nós a paz que foi cantada em Belém.
A ideia de que se pode fomentar a paz
enquanto se alentam os esforços de posse e lucro é uma ilusão. Teremos cada vez
mais coisas para desfrutar, mas elas não preencherão o nosso vazio interior, o
nosso tédio e solidão. Alcançaremos conquistas cada vez mais notáveis, mas
crescerá entre nós a rivalidade, o conflito e a competição implacável.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez
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