segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Maria, Mãe de Deus - Ano Novo (Pagola)

ALEGRIA PARA TODO O POVO

Há coisas que só as pessoas simples sabem entender; verdades que só o povo é capaz de intuir; alegrias que só os pobres podem desfrutar. Assim é o nascimento do Salvador em Belém. Não é algo para os ricos e abastados, um acontecimento que só os cultos e os sábios podem entender; algo reservado às minorias selecionadas. É um acontecimento popular, uma alegria para todo o povo.

Ainda mais. São pobres pastores, considerados na sociedade judaica como pessoas pouco honradas, marginalizados por muitos como pecadores, os únicos que estão acordados para ouvir as notícias. Também hoje é assim, embora, com frequência, os mais pobres e marginalizados tenham ficado tão longe da nossa Igreja.

Deus é livre. Por isso é acolhido mais facilmente pelo povo pobre do que por aqueles que pensam poder adquirir tudo com dinheiro. Deus é simples e está mais próximo das pessoas humildes do que daquelas que vivem obcecadas por ter sempre mais. Deus é bom, e é melhor entendido por aqueles que sabem amar-se como irmãos do que por aqueles que vivem egoisticamente, presos ao seu bem-estar.

Continua sendo verdade o que sugere o relato do primeiro Natal. Os pobres têm um coração mais aberto a Jesus do que aqueles que vivem satisfeitos. O seu coração contém uma sensibilidade ao Evangelho que nos ricos foi muitas vezes atrofiada. Têm razão os místicos quando dizem que para acolher Deus é necessário esvaziar-nos, despojar-nos e tornar-nos pobres.

Enquanto vivermos procurando a satisfação dos nossos desejos, alheios ao sofrimento dos outros, conheceremos diferentes graus de excitação, mas não a alegria que se anuncia aos pastores de Belém. Enquanto continuarmos a alimentar o desejo de posse, não se poderá cantar entre nós a paz que foi cantada em Belém.

A ideia de que se pode fomentar a paz enquanto se alentam os esforços de posse e lucro é uma ilusão. Teremos cada vez mais coisas para desfrutar, mas elas não preencherão o nosso vazio interior, o nosso tédio e solidão. Alcançaremos conquistas cada vez mais notáveis, mas crescerá entre nós a rivalidade, o conflito e a competição implacável.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: