domingo, 29 de dezembro de 2024

Dia Mundial da Paz (01)

Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz!

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O 58º DIA MUNDIAL DA PAZ (01.01.2025)

 

Na escuta do grito da humanidade ameaçada

Na aurora deste novo ano que nos é dado pelo nosso Pai celeste, um tempo jubilar dedicado à esperança, dirijo os meus mais sinceros votos de paz a cada mulher e a cada homem, especialmente àqueles que se sentem prostrados pela sua condição existencial, condenados pelos seus próprios erros, esmagados pelo julgamento dos outros e já não veem qualquer perspectiva para a sua própria vida. A todos vós, esperança e paz, porque este é um Ano de Graça, que vem do Coração do Redentor!

Em 2025, a Igreja Católica celebra o Jubileu, um acontecimento que enche os corações de esperança. O jubileu remonta a uma antiga tradição judaica, quando a cada quarenta e nove anos o toque da trombeta anunciava um tempo de clemência e de libertação para todo o povo. Este apelo solene deveria ecoar por todo o mundo, a fim de restabelecer a justiça de Deus nos diferentes âmbitos da vida: no uso da terra, na posse dos bens, na relação com o próximo, sobretudo os mais pobres e os que tinham caído em desgraça. O toque da trombeta recordava a todo o povo, aos ricos e a quem tinha empobrecido, que ninguém vem ao mundo para ser oprimido: somos irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai, nascidos para ser livres.

Também nos dias de hoje, o Jubileu é um acontecimento que nos impele a procurar a justiça libertadora de Deus em toda a terra. Em vez da trombeta, no início deste Ano de Graça, nós gostaríamos de estar atentos ao desesperado grito de ajuda que, como a voz do sangue de Abel, o justo, se eleva de muitas partes da terra e que Deus nunca deixa de escutar. Nós, por nossa vez, sentimo-nos chamados a unir-nos à voz que denuncia tantas situações de exploração da terra e de opressão do próximo. Estas injustiças assumem, por vezes, o aspecto daquilo a que São João Paulo II definiu como estruturas de pecado, porque não se devem apenas à iniquidade de alguns, mas estão enraizadas e contam com uma cumplicidade generalizada.

Cada um de nós deve sentir-se, de alguma forma, responsável pela devastação a que a nossa casa comum está sujeita, a começar pelas ações que, mesmo indiretamente, alimentam os conflitos que assolam a humanidade. Assim, fomentam-se e entrelaçam-se os desafios sistêmicos, distintos, mas interligados, que afligem o nosso planeta. Refiro-me às desigualdades de todos os tipos, ao tratamento desumano dispensado aos migrantes, à degradação ambiental, à confusão gerada intencionalmente pela desinformação, à rejeição a qualquer tipo de diálogo e ao financiamento ostensivo da indústria militar. Todos estes são fatores de uma ameaça real à existência de toda a humanidade.

No início deste ano, portanto, queremos escutar este grito da humanidade para nos sentirmos chamados, juntos e de modo pessoal, a quebrar as correntes da injustiça para proclamar a justiça de Deus. Alguns atos esporádicos de filantropia não serão suficientes. Em vez disso, são necessárias transformações culturais e estruturais, para que possa haver também uma mudança duradoura.

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