sábado, 30 de novembro de 2024

Preparemos o Natal permanecendo vigilantes

Preparemos o Natal permanecendo vigilantes no amor e no serviço | 548 |01. 12.2024 | Lucas 21,25-36

A preparação para o natal de Jesus não é coisa fácil. Na verdade, é luta! Não é por acaso que, no evangelho, Jesus pede atenção, coragem e prontidão. E lança um alerta: que os excessos e as preocupações, a gula e a embriaguez não apaguem nossa sensibilidade.  Preparar o natal de Jesus e entrar na lógica do Reino de Deus supõe engajamento incansável para palmilhar caminhos de justiça e fraternidade.

Fácil é seguir as placas de indicação que nos levam ao templo do consumo, aos palácios da indiferença, às praças do faturamento. À nossa embotada sensibilidade, tudo isso parece tão aprazível, luminoso e tão precioso. Temos a ilusão de que nisso estão os fundamentos sólidos de uma vida feliz. Uma simples diminuição do poder de consumo basta para que as nações se angustiem e as pessoas mergulhem no medo. Jesus diz que estas forças, aparentemente invencíveis, serão abaladas, e isso é bom!

“Verdade e amor são os caminhos do Senhor”, diz o salmista. “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais”, diz Paulo. Nisso precisamos progredir sempre, pois estamos assustados e feridos pela violência e pela intolerância que marca a vida política e social do Brasil. E, mais ainda, preocupados com o perigoso namoro de certos grupos políticos, sociais, empresariais e eclesiais com o autoritarismo e com o obscurantismo.

Precisamos mergulhar no espírito do Advento a aguçar a evangélica sensibilidade que nos ajudará a identificar os pequenos sinais que teimam em aparecer nos ventres de mulheres humilhadas, nas estrebarias das periferias, nas mãos abertas e desarmadas de gente que confia na fraqueza, nos corações generosos que compartilham sonhos, nos movimentos que se erguem como Davi diante do Mercado gigante e idólatra. Precisamos levantar a cabeça diante dos que venceram pela mentira e pretendem governar pela intimidação.

Quem nos mantém de pé é o Filho do Homem, aquele que mostrou a divina humanidade das suas entranhas, aquele que é caminho por sua solidariedade, verdade por sua acolhida indiscriminada e vida pelo dom desmedido de si mesmo; o resto é embriaguez e armadilha.

 

Meditação:

·        Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, relacionando-as a atitude de atenção, vigilância e confiança que marcam o Advento

·        Quais são os excessos que hoje provocam em nós insensibilidade, embriaguez e preocupações que mudam nosso foco e nos dispersam?

·        Você cultiva a esperança de que, com o nascimento de Jesus, “um outro mundo é possível”, ou não acredita em mais nada?

·        O que significa para você, hoje, no meio de tantas incertezas e dificuldades, ficar atento/a e rezar?

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Festa de Santo André, discípulo e apóstolo de Jesus

André trocou o mar pelas estradas e a pesca pelo discipulado | 547 |30. 11.2024 | Mateus 4,18-22

No finalzinho da última semana do tempo comum, somos convidados a contemplar a figura do Apóstolo Santo André, um dos Doze chamados a estar com Jesus e enviados pessoalmente por ele, no início do seu ministério na Galileia. Seu nome, de origem grega, significa “homem”, masculino, viril. Contemplemos esta figura basilar da comunidade cristã no horizonte do fim do ano litúrgico.

André e seu irmão Simão Pedro foram discípulos de João Batista. Foi ele que, segundo o evangelista João, no deserto e diante do povo faminto, indicou a Jesus o menino que levava cinco pães e dois peixes. Foi também ele que, junto com Filipe, apresentou Jesus aos pagãos que desejavam conhecê-lo, depois da ressurreição de Lázaro e um pouco antes da última ceia e do lava-pés.

São João Crisóstomo escreve: “Tendo André permanecido com Jesus e aprendido com ele, não escondeu o tesouro só para si mas correu à procura do seu irmão para fazê-lo participar da sua descoberta. Demonstra assim o valor do Mestre que o persuadira, como também o zelo daqueles que, desde o princípio, já estavam atentos”. Eis o dinamismo fundamental da missão cristã.

No evangelho que ilumina esta festa memorável, André e Pedro, sendo atentos por profissão – eram experientes pescadores! – reconhecem naquele pregador itinerante que vinha de Nazaré a promissora novidade que as sagradas escrituras anunciavam. Eles deixaram imediatamente seus barcos e suas redes e seguiram Jesus, pois se descortinou diante deles uma missão intransferível e inadiável.

Eles descobriram que a nobreza de um pescador está em se lançar nos mares do mundo para atrair, reunir e inserir as pessoas no Reino de Deus, na dinâmica que leva à vida abundante. Como o mar, que se apresenta calmo ou revolto, convidativo ou assustador, o campo da missão tem seus desafios, possibilidades e riscos de fracasso. Mas eles não esboçam sequer um sinal de dúvida diante do convite de Jesus. Que eles nos estimulem a conhecer, acolher e aderir a Jesus.

André e Pedro, assim como os outros apóstolos, não mudam apenas de ofício: de pescadores a discípulos missionários. Eles também mudam de endereço e constituem uma nova pertença: deixam o pai, passam a viver com Jesus e a ter as estradas como endereço e, como nova família, a comunidade dos discípulos missionários. A novidade anunciada por Jesus começa a ser realidade na comunidade dos discípulos.

 

Meditação:

§  Procure colocar-se na cena, à beira do lago, acompanhando os pescadores, visualizando Jesus que se aproxima e observa

§  Observe como Jesus demonstra apreço por aqueles quatro trabalhadores da pesca, e valoriza a experiência deles

§  Veja Jesus chamando-os, escute Jesus chamando você hoje, e procure dar sua resposta pronta e integral, como fizeram eles

Primeiro domingo do Advento (01.12.2024)

SEM MATAR A ESPERANÇA

Jesus foi um criador incansável de esperança. Toda a sua existência consistiu em despertar nos outros a esperança que ele próprio vivia desde o mais profundo do seu ser. Hoje ouvimos o seu grito de advertência: «Levantai-vos, levantai a cabeça; aproxima-se a vossa libertação. Mas tende cuidado: não se vos entorpeça a mente com o vício, a bebida e a preocupação do dinheiro».

As palavras de Jesus não perderam atualidade, pois também hoje continuamos a matar a esperança e a estragar a vida de muitas maneiras. Não pensemos naqueles que, à margem da fé vivem segundo o «comamos e bebamos, porque amanhã morreremos», mas naqueles que, chamando-se cristãos, podem cair numa atitude não muito diferente: «Comamos e bebamos, porque amanhã virá o Messias».

Quando numa sociedade se tem como objetivo quase único da vida a satisfação cega dos desejos, e na qual cada um se fecha no seu próprio gozo, aí morre a esperança. Os satisfeitos não procuram nada realmente novo. Não trabalham para mudar o mundo. Não lhes interessa um futuro melhor. Não se rebelam contra as injustiças, os sofrimentos e os absurdos do mundo presente. Na realidade, este mundo é para eles o céu ao qual aspirariam para sempre. Podem permitir-se ao luxo de não esperar nada melhor.

Que tentador resulta sempre adaptar-nos à situação, instalar-nos confortavelmente no nosso pequeno mundo e viver tranquilos, sem grandes aspirações. Quase inconscientemente, temos em nós a ilusão de poder conseguir a própria felicidade sem mudar em nada o mundo. Mas não esqueçamos: Só aqueles que fecham os olhos e os ouvidos, só aqueles que ficam insensíveis, podem sentir-se à vontade num mundo como este.

Quem ama verdadeiramente a vida e se sente solidário com todos os seres humanos sofre ao ver que a grande maioria ainda não consegue viver de forma digna. Este sofrimento é sinal de que ainda estamos vivos e conscientes de que algo está errado. Devemos continuar a procurar o reino de Deus e a sua justiça.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Os poderes e tronos passarão

Os poderes e tronos passarão, mas o Evangelho de Jesus permanecerá | 546 |29. 11.2024 | Lucas 21,29-33

Faltam dois dias para concluirmos o ano litúrgico, e, no penúltimo trecho do nosso conhecido “discurso escatológico” que Jesus pronunciou em pleno templo. Por mais que sua linguagem nos assuste, Jesus fala do fim de um tempo, de um mundo, e do começo de outro mundo e de outro tempo, muito melhores: o tempo em que o Reino de Deus se mostra mais claramente e mais ativamente.

Depois de falar simbolicamente de sinais nos céus e na terra, de divisões e traições nos círculos mais íntimos das nossas relações, de ocupação e destruição de Jerusalém e do seu templo por povos pagãos, Jesus recorre a uma metáfora (o rebrote das árvores anunciando nova estação) para dizer que tudo isso é sinal jubiloso de algo bom que se desenha no horizonte e que está pedindo para nascer.

Na verdade, os acontecimentos e sinais históricos ou imaginários aos quais Jesus se refere são sinais e antecipações proféticas do fim de uma história: a história feita pelos grandes e poderosos, de cima para baixo, com recurso ao poder e à intimidação, assegurando privilégios a uns poucos e excluindo ou perseguindo as maiorias. E o Reino de Deus está cada vez mais perto, e vem para reverter tudo isso! O Reino de Deus não é um território, nem uma nova autoridade, mas relações novas.

Jesus convoca seus discípulos e discípulas de todos os tempos e quadrantes a acompanhar atentamente estes acontecimentos e a discernir neles os sinais do Reino que está em gestação, agindo como fermento na massa, como semente enterrada no chão e como sal nos alimentos. Como os brotos novos da figueira prenunciam a proximidade e a certeza da chegada do verão, há sinais anunciando a certeza e a iminência do Reino de Deus.

Aqueles que rejeitam e perseguem Jesus e seus discípulos (“esta geração”) verão estupefatos a novidade acontecendo, e eles sim devem temer. A Boa Notícia de Deus, que Jesus encarna e anuncia, é segura e estável apenas para quem, como Jesus, põe nele a sua confiança e tem nele o seu escudo. O Reino de Deus (a nova humanidade, os novos céus e a nova terra) é mais seguro e estável que o templo, mais que o firmamento, mais que os alicerces da terra. Deus ama o direito e a justiça e defende os pobres e indefesos: essa é a Palavra que nos dá alento e que jamais passará.

 

Meditação:

§  Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção à metáfora dos brotos de figueira

§  Você mantém a esperança em um país, o mundo e uma Igreja melhores, ou já “entregou os pontos” e não crê em mais nada?

§  Você consegue identificar pequenos sinais da manifestação certa e segura do Reino de Deus em nosso meio?

§  Onde você encontra as forças que necessita para continuar lutando e sonhando em meio às dificuldades?

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O Filho do Homem se nos revela nas ações de amor e serviço

O Filho do Homem se nos revela nas ações de amor e serviço | 545 |28. 11.2024 | Lucas 21,20-28

A linguagem usada por Jesus nos diversos trechos do evangelho que estamos meditando nos últimos dias pode assustar e provocar medo. Há muitas imagens que nos levam a pensar em destruição, castigo e punição. Tudo nos parece muito próximo, real e estarrecedor. Afinal, não faltam sinais desse tipo, aqui no Vale do Taquari, nas depressões econômicas e existenciais e na política internacional.

Mas Jesus nunca se prestou a provocar medo. Tanto sua pregação como suas ações revelam sempre e unicamente a irrupção do Reino de Deus, que é boa notícia e libertação para os pobres e oprimidos. Eventuais advertências e chamados à conversão estão a serviço disso. Pregações feitas para despertar e manter o medo não ajudam Jesus e o Evangelho, e sempre estão a serviço de interesses escusos.

Jesus fala da manifestação final e vitoriosa do Reino de Deus neste mundo. Esta vitória coincide com a revelação e entronização do Filho do Homem. Para falar disso, Jesus recorre a uma linguagem metafórica que fala de abalo e destruição dos poderes opressores que sempre parecem estáveis e indestrutíveis. E aplica estas imagens a fatos históricos que acontecem no seu tempo.

A preocupação de muitas pessoas, inclusive dos discípulos e discípulas, é quando isso acontecerá. Mas Jesus enfatiza a atitude de vida que espera dos seus discípulos durante o tempo que separa o presente de dificuldades e o futuro esperado. Enquanto uns desmaiam e outros se desesperam, quem segue Jesus deve manter-se lúcido, de pé, perseverante no amor e na luta, cheio de esperança.

Jesus recorre à descrição de cenas históricas terríveis e um pouco assustadoras para sublinhar que tudo isso está considerado por Deus em seu plano de libertação, e nada escapa à sua providência. Tudo faz parte do roteiro! A progressiva manifestação do Reino de Deus destrói os sistemas e poderes que assustam e oprimem os pequenos. E isso não deve ser temido, mas buscado, esperado e celebrado.

Em meio a tudo isso se dá o encontro definitivo com o Filho do Homem, experimentado e testemunhado na missão vivida por seus discípulos missionários em todos os tempos. E isso é um sinal de que a esperança não engana.

 

Meditação:

·    Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção às imagens e comparações, mesmo que inicialmente assustem

·    Você também se vê assustado e angustiado com essa linguagem de Jesus, e se pergunta como e onde isso acontecerá?

·    Perceba como Jesus menciona fatos históricos de destruição para enfatizar que nada está fora do plano de Deus

·    Acolha o chamamento à perseverança alegre e esperançosa em meio às dificuldades, inclusive as consequências da pandemia

Dia Nacional de Ação de Graças

Em tudo dai graças!

Hoje, 28 de novembro, celebramos o Dia Nacional de Ação de Graças. No Brasil, esta data foi estabelecida em 1949, pelo presidente Gaspar Dutra. Posteriormente, foi alterada pelo presidente Castelo Branco. A celebração não é propriamente das igrejas cristãs, é popular nos Estados Unidos, e suas raízes vêm do século XVII, quando grupos de imigrantes ingleses chegavam aos Estados Unidos fugindo da perseguição religiosa.

Há quem questione se faz sentido celebrar um dia de ação de graças quando o mundo vive o terror de guerras, o aquecimento global coloca o planeta no risco a extinção, a região amazônica sofre as feridas de uma seca nunca vista e nós, no Vale do Rio Taquari e do Rio Pardo ainda temos expostas as feridas de enchentes devastadoras. Parece que temos mais motivos para lamentar, temer e protestar que para agradecer.

Se considerarmos a história do povo hebreu, ele teve motivos de sobra para lamentar, protestar e desesperar. Inumeráveis foram os exílios, as invasões, as guerras, as tragédias, as divisões internas e as lutas fraticidas, as secas e as rapinas. No entanto, no final do Antigo Testamento, um crente escrevia: “Em tudo, Senhor, engrandeceste o teu povo: tu o honraste e não o desprezaste, assistindo-o em todo tempo e lugar” (Sb 19,22).

O Cântico dos jovens na fornalha (cf. Dn 3,52-79) nos desafia a louvar a Deus desde dentro das tribulações. Ao invés de lamentar as perseguições, o fogo e as tragédias, eles convidam a natureza a fazer coro com eles no louvor a Deus. Eles nos ensinam que a natureza não é nossa inimiga, mas sujeito ativo da bênção e do louvor. Ela não é apenas o lugar físico dos acontecimentos, mas companheira e aliada na resistência e no canto.

No início dos anos 50 dC, os cristãos da Tessalônica viviam momentos difíceis. A maioria, deles havia sido escravo e recebeu o Evangelho como confirmação dos seus anseios de dignidade e liberdade. E, por isso mesmo o receberam “em meio a muita tribulação” (cf. 1,6). Sabedor disso, Paulo escreve: “Alegrai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque essa é a vontade de Deus, em Cristo Jesus, a vosso respeito” (1Ts 5,16-18).

As gerações posteriores conheceram acusações, perseguições, prisões, martírio, exílio. Mas em vez de pedir a Deus que os livrasse disso, pediam coragem para continuar dando testemunho (cf. At 4,23-31), e viam o futuro com esperança: “Eu vi um novo céu e uma nova terra. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque todas as coisas de antes passaram” (Ap 21,1-4).

Cercados por essa nuvem de testemunhas, damos graças a Deus ainda em meio aos destroços das enchentes, pois não esquecemos as muitas mãos que estendemos e nos foram estendidas. Damos graças a Deus porque crescemos na consciência de que a natureza não é nossa inimiga, nem apenas uma fonte inesgotável de recursos, mas fonte de bênção e de vida; ela se junta a nós na ação de graças. E damos graças a Deus também por tantos irmãos e irmãs que despertaram e passaram a cuidar com mais carinho e respeito as criaturas que Deus confiou à humanidade.

+ Dom Itacir Brassiani msf

Bispo Diocesano de Santa Cruz do Sul

terça-feira, 26 de novembro de 2024

É permanecendo firmes que nós honramos e vida

É permanecendo firmes que nós honramos e vida e testemunhamos a fé | 544 |27. 11.2024 | Lucas 21,12-19

É claro que a destruição do templo, anunciada por Jesus no trecho do evangelho que refletimos ontem, não tem nada de punição de Deus contra os judeus. Foi a miopia política e a cegueira religiosa das lideranças de Israel que levaram a esse desastre. Ao mesmo tempo, do ponto de vista do Evangelho, essa destruição é um fato positivo, pois põe fim a um dos instrumentos de opressão do povo.

No episódio de hoje, Jesus fala das dificuldades e tribulações que os discípulos e discípulas enfrentarão no futuro, as mesmas tribulações que ele teve que enfrentar. São sofrimentos que vêm de fora, não exatamente dos pagãos, mas do próprio judaísmo, que eles professaram e ao qual pertenceram honestamente. Mas vêm também de dentro das famílias de origem e das comunidades cristãs. Jesus e o evangelista são tremendamente realistas também nisso.

Parece que Jesus sabe por experiência que, no fim, tudo ficará mais difícil. Mas ele não faz nada para nos poupar disso. É para estas situações que Jesus quer nos preparar. Ele fala disso desde o início da formação dos discípulos. Ele nos promete e nos dá seu Espírito, que é o Espírito do Pai, para que ele sustente no testemunho, e nos ajude a lidar com a falta de fé das comunidades e com suas insistentes divisões.

No texto que estamos refletindo, para falar das perseguições e tensões que enfrentaremos, Jesus recorre a imagens de conflitos étnicos, culturais, políticos, para acontecimentos naturais e até para questões de saúde. Fala também de perseguições por parte da própria família, pois o Reino de Deus põe em questão todas as nossas relações. A oposição pode vir dos nossos círculos de relações mais íntimas, tanto familiares como de outros grupos primários.

Entretanto, Jesus fala disso para que estejamos prevenidos, para que possamos caminhar destemidos, com o olhar fixo nele, a testemunha fiel, o profeta perseguido, a pedra descartada que se tornou pedra fundamental. Nossa incolumidade está garantida pelo Pai, que se interessa até pelos cabelos dos seus escolhidos e escolhidas. Precisamos confiar nele, mas sem relaxamento e improviso. Perseverar e ser um sinal de contraste traz seus frutos, seguramente, e é nossa única possibilidade de salvação.

 

Meditação:

§  Leia atentamente esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção às comparações misteriosas, mesmo que assustem

§  Você consegue ver no mundo de hoje sinais de intolerância e perseguição aos cristãos e outras pessoas de boa vontade?

§  Onde você busca conforto quando lhe sobrevém dificuldades e tribulações de qualquer ordem?

§  Como você trata as divisões ideológicas entre você e seus familiares e amigos, entre diferentes correntes políticas?

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Nossa esperança nos guia

Nossa esperança nos guia, mas não esperemos passivamente! | 543|26. 11.2024 | Lucas 21,5-11

No trecho do evangelho que lemos e meditamos ontem, Jesus denunciava o modo descarado como o templo e os doutores da lei exploravam as viúvas e demais pessoas pobres, especialmente através do dízimo e das doações. No episódio que estamos meditando hoje, na última semana do tempo comum, Jesus continua criticando o templo, e afirma que ele não é mais o lugar de Deus.

É importante levar em conta que o templo de Jerusalém tem pouco a ver com os templos de hoje, como a Basílica de São Pedro (Roma), a Basílica de Nossa Senhora Aparecida (São Paulo) ou o Santuário do Divino Pai Eterno (Trindade). No tempo de Jesus, o templo de Jerusalém era um símbolo da identidade nacional, uma espécie de banco central dos judeus e o lugar onde se reunia o tribunal do Sinédrio. Em suma, era uma espécie de praça dos três poderes, como a que temos em Brasília.

Jesus havia dito que, não obstante sua origem e sua história, há muito tempo o templo deixara de ser um lugar de culto e um espaço respeitado como asilo, e se tornara uma espelunca de rapinadores. Mesmo assim, a grandiosidade do edifício, a riqueza da sua decoração, o movimento intenso de fiéis que ele atraía, o vultoso comércio que girava em torno dele, causava forte impressão no povo. Os peregrinos contemplavam sua suntuosidade o viam como sinal de estabilidade e de relevância.

Como já sabemos, Jesus não se deixa impressionar pela suntuosidade e estabilidade do templo. Ele tem a convicção de que Deus fora expulso de lá fazia tempo. Por mais que que ele parecesse sólido e indispensável, viria a ser destruído, e não sobraria nada daquele edifício imponente. E isso não seria ruim para o povo, mas uma libertação, o fim de uma época de exploração, uma reviravolta desejada por Deus.

Mas não adianta tentar adivinhar quando isso deverá acontecer, e que sinais que o anunciarão. Alarmistas e falsos messias existirão sempre. O importante é não se apavorar, pois trata-se da destruição das estruturas de opressão. Mas não há lugar também para uma espera passiva, sem fazer nada. Jesus e a comunidade dos discípulos e discípulas substituem o templo. Onde dois ou três se reúnem em seu nome e para prosseguir o que ele fez, Deus está ali. Deus está no calvário, entre os crucificados, e nas encruzilhadas, entre os pobres e lutadores. Essa é a boa notícia.

 

Meditação:

§  Releia com calma esta cena e as palavras de Jesus, dando atenção às comparações misteriosas

§  Será que os cristãos levamos a sério de verdade que o templo de Deus somos nós, que ele está onde nos reunimos em seu nome?

§  Que atitudes e caminhos precisamos tomar para evitar as pregações que assustam e intimidam o povo?

§  Quais são hoje os sinais que anunciam de modo discreto ou impressionante que um Novo Tempo está despontando?

domingo, 24 de novembro de 2024

Que nossa fé não tolere nem justifique a exploração

Que nossa fé não tolere nem justifique a exploração dos pobres! | 542|25. 11.2024 | Lucas 21,1-4

Uma interpretação muito comum dessa passagem sublinha e elogia a generosidade da viúva: ela simbolizaria a atitude de todos os pobres, daquelas pessoas que entregam tudo a Deus e vivem unicamente da confiança nele. Nisso se diferenciariam dos ricos, que o são porque só confiam em si mesmos e porque são pouco generosos no dar a Deus ou à Igreja.

Uma interpretação correta deve levar em consideração que Jesus, em sua missão profética, não alimenta nenhuma simpatia pelo templo. Ele sabe muito bem que o templo se tornou meio para roubar e oprimir os pobres. Um pouco antes da cena de hoje, ele havia expulsado os vendedores que comercializavam no templo (19,45-48). E, minutos antes da cena de hoje, pedira cuidado com os doutores da lei, pois eles “devoram as casas das viúvas” e disfarçam o roubo com orações”.

Ao que parece, estando no templo, Jesus não se dedica à oração ou ao oferecimento de sacrifícios, mas observa atentamente o que fazem os ricos e o que os pobres devem fazer no templo. E vê na cena de hoje exatamente um exemplo de como os doutores da lei, agindo no templo com aparente piedade e retidão, roubam os bens das viúvas. Jesus não elogia a viúva, mas acusa os doutores da lei, que dirigem o templo!

Observando tanto a viúva como os ricos, Jesus afirma que, ofertando apenas duas moedas, a viúva depositou “mais do que todos”. Na verdade, pressionada pela pregação dos doutores da lei e dos fariseus, ela acaba entregando ao templo “tudo quanto tinha para viver”. Eis a razão da ira de Jesus contra essa gente hipócrita! As palavras de Jesus condenam a exploração da viúva.

Interpretando o Evangelho dessa forma não estamos traindo o ensino de Jesus. Ao contrário, desmascaramos as interpretações feitas sob medida para expropriar dos pobres e humilhados as migalhas que lhes restam, como ainda hoje costumam fazer muitos “apóstolos”, em nome de Jesus. Jesus e sua Igreja precisam ser uma boa notícia para os pobres, e não uma espécie alfândega legalista e sem coração, direcionada ao enriquecimento de quem já tem muito.

 

Meditação:

§   Releia com paciência e demoradamente esta cena, assim como os versículos que a antecedem

§   As palavras de Jesus são um elogio para a viúva pobre ou uma acusação aos ricos e aos doutores da lei?

§   Você observa algo semelhante nas igrejas e templos de hoje?

§   O que fazer para que, ensinando que todos são iguais perante a lei, não escondamos a exploração dos mais fracos?

§   Como evitar que o dízimo, que é expressão de partilha responsável, se converta em uma prática injusta?