sábado, 16 de novembro de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 17.11.2024

FAZENDO AS GRANDES PERGUNTAS

O homem contemporâneo não se atemoriza com os discursos apocalípticos sobre o fim do mundo. Tampouco se detém a escutar a mensagem esperançosa de Jesus, que, usando essa mesma linguagem, anuncia, no entanto, o nascimento de um mundo novo. O que o preocupa é a crise ecológica. Não se trata só de uma crise do ambiente natural. É uma crise do próprio homem. Uma crise global da vida neste planeta. Crise mortal não só para o ser humano, mas também para os outros seres animados que a sofrem desde algum tempo.

Pouco a pouco começamos a dar-nos conta de que entramos num beco sem saída, colocando em crise todo o sistema de vida do mundo. Hoje, progresso não é uma palavra de esperança como era no século passado, pois teme-se cada vez mais que o progresso termine levando-nos à morte. A humanidade começa a ter o pressentimento de que não pode ser certo um caminho que conduz a uma crise global, desde a extinção dos bosques até à propagação das neuroses, desde a poluição das águas até ao vazio existencial de tantos habitantes de cidades massificadas.

Para deter o desastre é urgente mudar de rumo. Não basta substituir as tecnologias «sujas» por outras «mais limpas» ou a industrialização selvagem por uma mais civilizada. São necessárias mudanças profundas nos interesses que hoje orientam o desenvolvimento e o progresso das tecnologias. Aqui começa o drama do homem moderno. As sociedades não se mostram capazes de introduzir mudanças decisivas no seu sistema de valores e de sentido.

Os interesses econômicos imediatos são mais fortes do que qualquer outra abordagem. E consideram melhor desdramatizar a crise, desqualificar os três ou quatro ambientalistas exaltados e encorajar a indiferença. Não é chegado o momento de nos colocarmos as grandes questões que nos permitam recuperar o sentido global da existência humana sobre a Terra e de aprender a viver uma relação mais pacífica entre os homens e com a criação inteira?

O que é o mundo? É um bem sem dono que nós podemos explorar de forma impiedosa e sem qualquer consideração, ou a casa que o Criador nos dá para torná-la cada dia mais habitável? O que é o cosmos? Uma matéria-prima que podemos manipular à vontade, ou a criação de um Deus que, através do seu Espírito, vivifica tudo e conduz os céus e a terra à sua consumação definitiva?

O que é o homem? Um ser perdido no cosmos, lutando contra a natureza, mas destinado a extinguir-se sem remédio, ou um ser chamado por Deus a viver em paz com a criação, colaborando na orientação inteligente da vida para a sua plenitude no Criador?

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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