A “casa
comum” é o templo de Deus, e não arena de exploração | 539|22. 11.2024 | Lucas 19,45-48
Com o coração carregado de boas recordações e
lições que ensinara na longa caminhada de subida da Galileia a Jerusalém, ao
longo da qual esparramou sinais da compaixão libertadora do Pai, Jesus
contemplara, fazia pouco, a cidade de Jerusalém, cantada em prosa e verso,
idealizada como refúgio dos pobres. Entrando nela, Jesus vai diretamente ao
templo, que já conhecia.
De fato, Jesus já estivera no templo, depois da
apresentação, num primeiro confronto, quando tinha apenas doze anos. E lá
provavelmente voltara tantas vezes, em alegre peregrinação com seus vizinhos,
familiares e amigos. Jesus sabia muito bem que aquele espaço imaginado e
celebrado como lugar de memória e utopia, como espaço de asilo seguro dos
perseguidos, já não era mais o mesmo, e havia sido transformado em espaço de
dominação comercial e religiosa.
No período das festas pascais, a cidade fervilhava
ainda mais, e as moedas caíam tilintando e em abundante quantidade nas bolsas
das famílias sacerdotais, que controlavam o comércio de animais para os
sacrifícios de louvor e de purificação. Ali se reuniam e agiam com mão de fero
as lideranças religiosas e nacionais. O templo se parecia mais com um “bunker”
de rapinadores que com uma porta do céu.
Então, Jesus toma uma medida corajosa e profética
para denunciar o templo desvincular a imagem de Deus dos negócios que exploram
as pessoas mais frágeis. Ele toma posse do templo e o resgata como lugar de
encontro e fermentação da união solidária do que restara das “tribos de Javé”.
Um pouco mais tarde, ali se travará o confronto “crucial” entre o Deus da vida
e o deus dinheiro e poder, já antecipado 20 anos atrás, quando resolvera
permanecer uns dias ali.
Naqueles breves e tensos momentos vividos no
templo, Jesus exercita sua missão de mestre e profeta, ensinando e advertindo.
Ali, como dantes, ele se opõe de forma clara e corajosa ao culto formal e
exterior e ao uso da religião para oprimir os pobres e entesourar vantagens
pessoais. Depois de “fazer a limpeza” do templo, Jesus ensina a pequena
multidão que o cerca, e o povo ficava fascinado com sua pregação.
O texto não
fala no conteúdo da ´pregação de Jesus, mas, nas entrelinhas, percebe-se que
ele reivindica um templo que seja lugar de encontro com Deus e com os irmãos, e
num esconderijo para tramar a morte. E, como diz João no seu evangelho, o
templo de Deus é o próprio corpo de Jesus, e, por extensão, o corpo de cada ser
humano.
Meditação:
§ Retome esta cena tentando fazer-se presente
nela, acompanhando o gesto e as palavras de Jesus
§ Observe a reação dos comerciantes e dos
sacerdotes e mestres da lei, membros da classe dirigente do templo
§ O que este gesto e estas palavras de Jesus
significam para nossas comunidades e templos? O que nos ensinam?
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