sábado, 30 de setembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (122)

122 | Ano A | 26ª Semana Comum | Domingo | Mateus 21,28-32

(01/10/2023)

Jesus está em Jerusalém, no espaço do templo, e a discussão é com a elite religiosa e social (chefes dos sacerdotes e anciãos). Esta é a primeira de três parábolas que Jesus dirige à elite religiosa que o persegue, nas imediações do templo, destino de todas as romarias populares, em Jerusalém. Ele começa com uma pergunta, convocando os interlocutores a tomarem posição, e é Jesus mesmo quem propõe uma interpretação da parábola.

A ênfase da parábola está claramente colocada na figura do pai e na prática concreta da sua vontade. Os dois filhos mencionados na parábola são personagens que correspondem, por um lado, aos pecadores/as, que aceitam a pregação de João Batista e de Jesus e se tornam discípulos/as, e, por outro lado, à elite religiosa, que se fecha tanto a João como a Jesus. Ambos são chamados a trabalhar na vinha. Um se nega, mas depois vai; o outro responde sim, e depois não faz nada.

A interpretação de Jesus não deixa dúvidas. Convocados a emitir um juízo sobre a atitude contrastante dos personagens, os sacerdotes e anciãos se autocondenam. A sentença de Jesus é clara e provocadora: os cobradores de impostos e as prostitutas (dois grupos sociais catalogados pelos judeus piedosos entre os piores pecadores) precedem (no presente!) a elite religiosa no Reino de Deus, porque aceitaram o caminho da justiça e da conversão pregado por João. A elite, em vez disso, não acreditou em João, e, nem mesmo vendo o testemunho deles, mudou de atitude.

Nossa adesão à vontade do Pai deve ser firme e duradoura, e ser demonstrada em ações concretas. Trata-se de um “caminho de justiça”, ou seja, de ação coerente com a pauta de justiça, solidariedade e transformação do Reino de Deus. E jamais podemos esquecer que a lógica de Deus não coincide necessariamente com a nossa lógica. Como no texto que refletimos no último domingo, a ação de Deus em relação ao ser humano não se orienta pelo mérito, mas pela necessidade. Ele não dá a cada pessoa aquilo que ela merece, mas aquilo que ela necessita.

 

Meditação:

§  Releia atentamente a parábola e a interpretação que o próprio Jesus dá a ela, chamando-nos a um caminho de justiça

§  Será que às vezes também nós estaríamos reduzindo a fé a puras intenções, palavras e promessas?

§  Será que também hoje, nós, que animamos nossas Igrejas, não estaríamos sentindo-nos melhores e superiores que os outros/as?

§  Será que a adesão ao Evangelho e a mudança de vida de muitas pessoas pobres e incultas não nos chamam a uma mudança?

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (121)

121 | Ano A | 25ª Semana Comum | Sábado | Lucas  9,43-45

(30/09/2023)

Depois do diálogo formativo e revelador de Jesus com seus discípulos (9,18-22) (que saltamos por causa da festa dos Santos Anjos e Arcanjos), Lucas descreve a cena da transfiguração de Jesus e relata a cura de uma criança epilética (cf. 9,23-42), também eles omitidos porque são indicados na solenidade da transfiguração. Nos três versículos propostos pela liturgia para hoje, Jesus volta a falar aos discípulos sobre seu destino como messias.

Quando o povo manifesta um certo consenso sobre sua identidade profética, Jesus faz questão de insistir no caminho da paixão na cruz, manifestando sua certeza nada ingênua sobre seu futuro. Como os discípulos nada percebem e tem dificuldades de entender, Jesus pede que eles “coloquem na cabeça” este seu anúncio. Sua profecia não é exatamente a mesma dos seus antecessores.

Jesus quer estimular nos seus discípulos/as a coragem frente às hostilidades que ele e seus seguidores seguramente enfrentariam, mas aqueles/as que o seguem mais de perto continuam obcecados e iludidos com um messianismo político e poderoso e não conseguem entender nem aceitar o que Jesus lhes diz. Não há seguimento sem enfrentamento das dificuldades, não há fidelidade ao Evangelho sem discernimento das exigências das circunstâncias!

Com esse anúncio e com a sua insistência num messianismo de compaixão e despojamento, Jesus quer “jogar um balde de água fria” no fogo do entusiasmo popular e nas aspirações desencontradas e descontroladas dos seus discípulos. Ele baixa a ideia de um messias glorioso para a um messias despojado, compassivo e contra a miséria. Os discípulos e discípulas não entendem e têm medo de perguntar porque resistem a este caminho escolhido por Jesus, que seria também o caminho deles.

Não se trata apenas de uma dificuldade para entender, mas de uma resistência para aceitar. Essa dificuldade é claramente ressaltada por Lucas nestes versículos. A ambição de sucesso e de prosperidade deixa seus discípulos cegos e acorrentados. Quando, ao se referir a si mesmo, Jesus troca o substantivo “messias” por “filho do homem” não pretende outra coisa que desfazer essa ilusão que alimentam sobre ele, e preveni-los em relação ao que os esperaria no futuro. Será que nós, que seguimos Jesus em pleno século XXI, assimilamos sua lição?

 

Meditação:

§  Retome a cena e as orientações de Jesus no evangelho de hoje

§  Deixe-se surpreender pelo encontro com Jesus e com seu ensino e sabedoria, abandonando as expectativas de coisas grandes

§  Como você acolhe o caminho de despojamento solidário em favor da humanidade que Jesus viveu e nos propõe?

O Evangelho dominical (Pagola) - 31.09.2023

ELES LEVAM A DIANTEIRA

A parábola é tão simples que parece indigna de um grande profeta como Jesus. No entanto, não está dirigida ao grupo de crianças que corre à sua volta, mas aos sumos sacerdotes e anciãos do povo, que o perseguem quando se aproxima do templo.

Segundo o relato, um pai pede a dois dos seus filhos que trabalhem em sua vinha. O primeiro responde bruscamente: «Não quero», mas não esquece o apelo do pai e acaba por trabalhar na vinha. O segundo reage com uma disponibilidade admirável: «Claro que vou, senhor», mas tudo fica em palavras. Ninguém o verá trabalhando na vinha.

A mensagem da parábola é clara. Também os líderes religiosos que ouvem Jesus estão de acordo. Diante de Deus, o importante não é falar, mas fazer. Para cumprir a vontade do Pai Celestial, o decisivo não são as palavras, promessas e orações, mas as ações e vida cotidiana.

O surpreendente é a aplicação de Jesus. As Suas palavras não podem ser mais duras. Apenas o evangelista Mateus as recolhe, mas não há dúvida que vêm de Jesus. Só ele tinha essa liberdade frente dos líderes religiosos: «Garanto-vos que os publicanos e as prostitutas vos precederão no caminho do reino de Deus».

Jesus fala desde a sua própria experiência. Os líderes religiosos disseram «sim» a Deus. Eles são os primeiros a falar dele, de sua lei e de seu templo. Mas, quando Jesus os chama a «procurar o reino de Deus e a sua justiça», fecham-se à sua mensagem e não entram por esse caminho. Dizem «não» a Deus com sua resistência a Jesus.

Os cobradores de impostos e as prostitutas disseram «não» a Deus. Vivem fora da lei, estão excluídos do templo. No entanto, quando Jesus lhes oferece a amizade de Deus, escutam o seu convite e dão passos para a conversão.

Para Jesus não há dúvida: o publicano Zaqueu, a prostituta que regou os pés com lágrimas, e tantos outros, vão à frente no caminho do reino de Deus. Neste caminho, não avança quem faz solenes profissões de fé, mas quem se abre a Jesus dando passos concretos de conversão ao projeto do Pai.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (120)

120 | Ano A | Festa de São Miguel, Gabriel e Rafael | João 1,47-51

(29/09/2023)

O calendário litúrgico da Igreja católica nos convida a celebrar hoje a festa dos Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael. Segundo a doutrina católica, os anjos e arcanjos existem realmente, e são servidores e comunicadores de Deus (cf. Catecismo 328-329). Santo Agostinho, por sua vez, nos ensina que o substantivo “anjo” designa mais uma tarefa ou uma ação (uma missão) do que um ser ou uma natureza.

De fato, no Antigo Testamento, o substantivo hebraico mal’ak (que traduzimos por anjo) designa o mensageiro de Javé, uma entidade que fala e age em nome dele. Mas a sagrada Escritura não distingue claramente esse mensageiro do próprio Javé. A bíblia oscila entre a ideia do anjo como personalização da presença e da ação divina e a compreensão dele como um ser autônomo. Em todos os casos, mesmo fazendo parte da doutrina da Igreja católica, os anjos e arcanjos não fazem parte da nossa profissão de fé (Credo).

A cena e a Palavra de Jesus apresentadas pelo evangelho que meditamos hoje estão no contexto do encontro de Jesus com os primeiros discípulos. Natanael, autêntico representante do povo de Israel, faz a experiência de ser escolhido e amado por Jesus antes de conhece-lo. Sua profissão de fé e sua adesão a Jesus estão no horizonte da fé nacionalista do seu povo, e oferece o contexto adequado para a primeira autodeclararão de Jesus.

Apresentando-se como templo, casa ou comunicação de Deus, Jesus nos reporta à imagem da escada que Jacó viu em sonho, ligando a terra ao céu (cf. Gn 28,11-17), e que o levou a reconhecer a presença de Javé naquele lugar aparentemente vazio de Deus. Com isso, Jesus está falando de si como o Anjo do Pai, como o “lugar” ou a mediação da presença, como comunicação ou a relação permanente de Deus com a humanidade.

Acenando à imagem dos anjos que descem e sobem sobre o filho do homem, Jesus dá a entender que nele habita a glória ou o amor compassivo fiel de Deus, e se apresenta como acesso contínuo e permanente a Deus. Jesus não está interessado em provar a existência de anjos, mas em mostrar que ele é essa comunicação e presença que os anjos querem significar.

 

Meditação:

§  Que papel você atribui aos anjos na vivência da sua fé, e o que você pede ou espera deles?

§  O que significa para nós hoje crer que Jesus é o “anjo” de Deus, o espaço e o lugar humano no qual Deus habita e se comunica de modo pleno e permanente com a Humanidade?

§  Como viver o encontro com Jesus e seu Evangelho como um caminho para superar nossas visões limitadas de Deus?

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (119)

119 | Ano A | 25ª Semana Comum | Quinta-feira | Lucas  9,7-9

(28/09/2023)

Pelo que ele mesmo fazia e falava, ou pelo anúncio dos seus enviados, Jesus acabou despertando a atenção de Herodes, um “reizinho” arbitrário e violento, que não respeitava ninguém, nem seu próprio irmão de sangue. Ele deseja conhecer Jesus, mas como um expectador cético, como um curioso que deseja ver uma exibição particular de milagres. Afinal, ele é rei, e merece! Ao que parece, é assim que ele pensa.

Herodes fica intrigado como a pregação e a missão de Jesus. Seu desejo de vê-lo não nasce da busca da vontade de Deus e do propósito de percorrer o caminho de um bom governo. Ele não sabe, ou não quer saber, que só o conhece de verdade quem o segue, quem acolhe o anúncio do Reino de Deus e entra num caminho de conversão. Acabará se encontrando com Jesus mais tarde, na farsa do seu processo de condenação e morte.

Herodes se questiona sobre a identidade de Jesus. Levanta hipóteses, e, nisso, é acompanhado pelo povo. Mas enquanto o seu povo tenta interpretar Jesus no horizonte da prática profética, que conhece muito bem, Herodes, atordoado pela própria violência e pelos fantasmas do medo que dela nasciam, imagina que Jesus seria a reencarnação do profeta João Batista, que ele mandara matar. E teme perder o poder que pensa ter.

Tanto a mentalidade religiosa popular como as elucubrações de Herodes esquecem que Jesus, embora se pareça com os profetas de Israel, não cabe nos modelos antigos, pois é maior que todos eles. Por isso, a resposta madura e esclarecida à pergunta pela identidade de Jesus só será esclarecida e brilhará no seguimento dos seus passos, até à sua morte. Conforme o ditado popular, “é preciso andar devagar com o andor, porque o santo é de barro”.

Os discípulos farão este caminho de crescimento e amadurecimento da fé. Mas Herodes, mesmo se encontrando com Jesus como parte interessada do processo que o condenou à morte, e mesmo tendo oportunidade de fazer diversas perguntas a ele, (cf. Lc 23,8-12), não o conheceu de fato. Ele só deseja ver um milagre e se divertir. Por isso, quando o encontra, trata Jesus com desprezo, caçoa dele e se alia à hipocrisia violenta e mortal de Pilatos. É possível conhecer alguém só para controla-lo ou eliminá-lo mais facilmente.

             

Meditação:

§  Retome a cena e as orientações de Jesus, ativando seu desejo sincero de encontrar Jesus e compreender sua Palavra

§  Deixe-se surpreender pelo encontro vivo com Jesus e seu Evangelho, abandonando a busca de eventos grandiosos e miraculosos

§  Que perguntas você se faz sobre Jesus, e em que grupo de personagens você o coloca? O que você diz dele?

terça-feira, 26 de setembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (118)

118 | Ano A | 25ª Semana Comum | Terça-feira | Lucas  9,1-6

(27/09/2023)

Hoje somos convidados/as a meditar o episódio do envio missionário do “grupo dos doze”. Estamos diante da crônica de uma nomeação solene, onde cada nome é citado com ênfase. Isso acontece pouco antes de Jesus iniciar sua peregrinação a Jerusalém, e sabemos que, entre o chamado (cf. 5,1-12) e o envio dos discípulos, Jesus se dedica à formação diligente daqueles que doravante o precederiam e u representariam.

Lucas não nos apresenta propriamente o conteúdo doutrinal da missão, mas nos oferece uma espécie de “estatuto da missão” e descreve o estilo de vida daqueles que Jesus envia à sua frente. O foco da missão é claramente pressuposto: o anúncio do Reino de Deus, mostrando através de ações e sinais (curas e exorcismos) que Deus chega para libertar de todas as escravidões. Jesus envia seus escolhidos para fazer o mesmo que ele faz, e é ele o responsável por essa iniciativa.

Quanto ao estilo de vida dos missionários/as, Jesus enfatiza alguns poucos elementos: ir a todo canto, fronteira ou periferia, sem demora e sem exclusões ou omissões; não levar nada em termos de apoio poderoso e ostensivo, e confiar plenamente na hospitalidade dos interlocutores; não esperar sucesso ou reconhecimento pela missão realizada; contar com a incompreensão e a rejeição; manter-se desapegado e livre de tudo.

Sem prometer facilidades nem prosperidade a quem é enviado/a em seu nome, Jesus assegura, entretanto, a mesma força e o mesmo dinamismo que o sustenta, que Lucas chama de poder e autoridade. Mas se trata de força e autoridade que brotam da fidelidade e da coerência de vida, e têm como finalidade anunciar o Reino de Deus, acolher, curar e libertar com eficácia, como faz o próprio. Não é da espécie de poder ou autoridade para mandar ou dominar ninguém!

O despojamento que Jesus pede dos seus enviados/as não significa desprezo pelos bens materiais, mas focalizar tudo no anúncio e no testemunho das novas relações suscitadas pelo reino de Deus. E ele deixa claro também que não nos envia para multiplicar louvores e invocações, nem para ensinar doutrinas e impor uma certa moral, mas para anunciar o Reino de Deus.

 

Meditação:

§   Coloque sua experiência de vida eclesial e social, aquilo que você faz, sob a luz desse envio de Jesus

§   Em que consiste sua prática missionária? Qual é o conteúdo e quais são os gestos? Eles traduzem uma boa notícia aos pobres e sofredores?

§   Como está sua confiança na hospitalidade daqueles/as a quem você é enviado em missão?

O Evangelho de cada dia (117)

117 | Ano A | 25ª Semana Comum | Terça-feira | Lucas  8,19-21

(26/09/2023)

Como já percebemos, os três versículos de hoje estão inseridos numa seção literária maior, na qual Jesus sublinha a importância de ouvir corretamente seu Evangelho. Em outros textos, ele sublinha que escutar a Palavra de Deus implica em guardá-la, praticá-la, fazê-la frutificar na vida (cf. 6,46-49; 11,27-28).  Esta palavra de Deus compreende o conjunto do antigo testamento, assim como a vida e o ensinamento de Jesus. Neste sentido, Maria já fora apresentada como a ouvinte e servidora exemplar da Palavra de Deus.

No breve texto de hoje, Lucas nos informa que Jesus estava ensinando seus discípulos e o povo, e que sua mãe e seus irmãos aproximaram, mas não puderam chegar perto dele por causa da multidão. Podemos imaginar que também eles, especialmente a mãe, queriam ouvi-lo e aprender como viver a fé. Então, um mensageiro avisou Jesus da chegada dos seus familiares.

“Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem te ver”, diz o mensageiro a Jesus. Sem ressentimento em relação a ninguém, e mostrando profundo apreço àqueles/as que o escutam sequiosos, Jesus dá uma resposta um pouco estranha, com aparência de desprezo à sua própria mãe, na qual afirma que seus irmãos e sua mãe são as pessoas que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática. É isso que cria e sustenta a relação com ele.

Os discípulos/as são sua grande e nova família, e a escuta e a prática da Palavra de Deus é o dinamismo que a congrega. Para Jesus, as exigências dessa Palavra são claras: relacionamento fraterno e igualitário; perdão recíproco; prioridade aos pequenos; superação dos estreitos laços de sangue, de nação e de etnia. Não é possível ser discípulo/a e ignorar estes imperativos.

Jesus não se deixa prender por laços de sangue, nem cai na tentação de formar guetos ou seitas fechadas. Ele veio iniciar uma relação profunda e total nas relações humanas, sociais, espirituais e políticas, e nem as relações familiares ficam de fora. Também a família deve entrar na lógica do reino de Deus. É claro que podemos imaginar, sem perder o foco, que Maria e os parentes que a cercam se agregarão, pouco a pouco, ao círculo daqueles/as que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.

 

Meditação:

§  Retome a breve cena oferecida por Lucas, procurando interagir com os personagens: a mãe e os irmãos de Jesus; o mensageiro; a atitude e a palavra de Jesus; o olhar atento e agradecido dos/as discípulos/as que o circundam

§  Como você vive concretamente a relação entre os vínculos familiares e os vínculos com Jesus e com a comunidade?

§  Como está a escuta e a prática – sua, da sua família e da sua comunidade – da Palavra de Deus, especialmente neste mês?

domingo, 24 de setembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (116)

116 | Ano A | 25ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas  8,16-18

(25/09/2023)

Com a parábola do semeador, que estudamos no sábado passado, Jesus pedia de nós uma escuta atenta e generosa, um aprofundamento responsável e uma sólida perseverança na escuta da Palavra. O discípulo/a se torna missionário/a, chamado a anunciar (semear) o Evangelho a todas as pessoas e grupos, sempre com confiança na força da semente e com esperança de que frutifique, pois a pequena parte que a acolhe bem produz pelas demais.

Os poucos versículos do texto de hoje estão no mesmo horizonte e dão sequência ao tema. Neles Jesus põe em destaque a atitude daqueles que lemos ou escutamos sua Palavra. “Prestai atenção à maneira como vós ouvis!”, adverte ele. E, para ilustrar o que quer enfatizar, recorre à metáfora da lâmpada, advertindo quem o escuta sem atenção e sem discernimento.

É da experiência comum que ninguém acende uma lâmpada para escondê-la ou para cobri-la, e nenhum eletricista com um mínimo de juízo instala uma lâmpada num lugar que possa limitar seu raio de iluminação. A luz existe para ajudar a ver as coisas, e não como para servir de decoração ou ostentação! Não olhamos a lâmpada, mas aquilo que ela ilumina.

Assim é a Palavra de Deus na vida pessoal e eclesial. Ela não está aí para decorar nossas mesas e estantes. Nas celebrações, ela não deve simplesmente ser exposta com destaque, saudada com aplausos e acolhida com danças rituais, mas está lá para ser proclamada, ouvida e entendida. Ela está presente para iluminar e ajudar a entender o que Deus nos fala pelos acontecimentos e pelos sinais dos tempos.

Assim, compreendemos a sentença final de Jesus no texto de hoje. Quem proclama, escuta, lê ou estuda com atenção a Palavra de Deus verá crescer ainda mais seu entendimento. Mas quem a trata como decoração ou amuleto, como uma palavra qualquer, descobrirá desolado/as que sequer leu ou escutou a Palavra de Deus, que aquele livro que aplaudiu ou em torno do qual dançou, não passa de um livro desconhecido ou uma lâmpada encoberta.

 

Meditação:

§  Retome, com toda a atenção possível estes três versículos que prosseguem a parábola do semeador e a explicação de Jesus

§  A simplicidade das parábolas do Reino de Deus não pode ser tomada como sinal de superficialidade e irrelevância

§  Será que não estamos tratando o ensino e a prática do Reino de Deus como uma lâmpada que acendemos e escondemos dentro do sacrário, do templo ou do coração, impedindo que ele ilumine e transforme o mundo?

§  Estamos levando a sério de verdade a Palavra de Deus que lemos, ouvimos e estudamos?

sábado, 23 de setembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (115)

115 | Ano A | 25ª Semana Comum | Domingo | Mateus 20,1-16

(24/09/2023)

Quem quiser ser discípulo/a de Jesus precisa ter sabedoria e decisão para encarnar o reino de Deus em todas as suas relações. No horizonte da utopia de Jesus, justiça e a bondade não estão no mérito e na aplicação da lei do “cada um recebe o que merece”. A lógica do Reino de Deus inverte os valores, e estabelece a prioridade dos últimos e desprezados sobre os ricos e privilegiados

Na parábola de hoje, o personagem central é um chefe de família patriarcal (não exatamente um rei ou um patrão). A primeira cena trata da contratação de diaristas para trabalhar no seu campo. Mas tudo está focado na segunda cena, ou seja, no acerto de contas pelo trabalho realizado pelos trabalhadores contratados em diferentes horas do dia. A todos o chefe da família prometera pagar o que seria justo, e não um valor estabelecido.

As pessoas contratadas na primeira hora assistiram ao pagamento das últimas, que receberam, por poucas horas de trabalho, um valor que permitia a subsistência diária, e isso estimulou-lhes a expectativa de que receberiam bem mais, pois haviam feito por merecer. Mas o contratante não se orienta pela meritocracia, e sim pela justiça e pela bondade, e retribui a todas igualmente.

O grupo que se julga merecedor de uma retribuição maior se irrita por ter sido igualado aos demais. De fato, o pai de família não age conforme o costume, não reforça a superioridade, a competição e a distinção de classes. A irritação deles brota da inconformidade por terem sido igualados aos mais necessitados. Eles protestam contra a afirmação da igualdade fundamental de todos! A atitude do pai de família corrói o sistema de competição, que consagra a desigualdade.

Com esta parábola, Jesus nos convoca a tomar uma posição radical, como ele mesmo o fez: assumir um estilo de vida alternativo também na economia, agindo na perspectiva do Reino de Deus, guiando-se pela necessidade das pessoas e pela gratuidade, ou pela economia do dom, como a chama o Papa Francisco.

Será que também nós, depois de dois mil anos de cristianismo, caímos na armadilha de nos sentir melhores que os outros? Em que medida ainda tratamos as pessoas, grupos, religiões e classes sociais a partir daquilo que achamos que ‘merecem”? Chegamos a perceber que a lógica de Deus é outra, é diferente?

 

Meditação:

§  Com esta parábola, Jesus provoca fortemente as pessoas, tanto os judeus como seus discípulos, a superar a lógica do mérito

§  Ser bom e perfeito, como desejava o jovem rico, implica em desfazer a lógica que sobrepõe classes, nações e gêneros, e que coloca uns acima dos outros

§  Deixe ressoar em você a afirmação clara e provocativa de Jesus mediante a parábola do patriarca generoso e solidário

§  Peça a Jesus a graça de se comprometer e se alegrar com os pequenos e grandes sinais de emancipação dos pobres

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 24.09.2023

A BONDADE ESCANDALOSA DE DEUS

Provavelmente era outono, e nas cidades da Galileia vivia-se intensamente a vindima. Jesus via nas praças aqueles que não tinham terra própria, esperando ser contratados para ganhar o sustento do dia. Como ajudar a essas pobres pessoas a sentir a misteriosa bondade de Deus para com todos?

Jesus contou-lhes uma parábola surpreendente. Contou-lhes de um homem que contratou todos os trabalhadores que podia. Ele mesmo foi à praça da cidade uma e outra vez, em horários diferentes. Ao final do dia, embora o trabalho tivesse sido absolutamente desigual, a todos lhes deu um denário: o que as suas famílias precisavam para viver.

O primeiro grupo protesta. Eles não reclamam de receber mais ou menos dinheiro. O que os ofende é que o Senhor os «tratou os últimos como tratou a eles», ou seja: consolidou a igualdade entre eles. A resposta do homem ao porta-voz é admirável: «Tens inveja porque sou bom?».

A parábola é tão revolucionária que seguramente depois de vinte séculos ainda não nos atrevemos a levá-la a sério. É verdade que Deus é bom até para aqueles que mal conseguem ficar diante dele com méritos e obras? Será verdade que no coração do Pai não há privilégios baseados no trabalho mais ou menos meritório de quem trabalhou na sua vinha?

Todos os nossos esquemas são abalados quando aparece o amor gratuito e insondável de Deus. Por isso nos parece escandaloso que Jesus pareça esquecer os piedosos, carregados de méritos, e se aproxime precisamente dos que não têm direito a nenhuma recompensa de Deus: pecadores que não observam a Aliança, ou as prostitutas que não têm acesso ao templo.

Às vezes encerramo-nos nos nossos cálculos, sem permitir que Deus seja bom para todos. Não toleramos a sua bondade infinita para com todos: pensamos que há pessoas que não a merecem. Parece-nos que Deus deveria dar a cada um o que merece, e só o que merece. Ainda bem que Deus não é como nós. Do seu coração de Pai, sabe dar o seu amor salvador a essas pessoas que nós não sabemos amar.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

O Evangelho na vida de cada dia (114)

114 | Ano A | 24ª Semana Comum | Sábado | Lucas 8,4-15

(23/09/2023)

No trecho do Evangelho que nos propomos a meditar hoje, Jesus se dirige à multidão que vem a ele de várias cidades. Mas, quando relata esse acontecimento, Lucas tem presente também sua comunidade concreta, que, 50 anos depois da páscoa de Jesus, se pergunta pelas razões do aparente fracasso da missão que estão a desenvolver.

No texto, Jesus chama a atenção dos seus ouvintes e interlocutores: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” Ele propõe e sublinha o modo correto de ouvir a Boa Notícia do Reino de Deus, e a parábola do semeador, especialmente a interpretação que ele mesmo dá da parábola, ajuda a ilustrar exatamente isso.

Na verdade, o centro da história não é o semeador, nem a semente, mas a qualidade do terreno que a recebe, a diferente sorte da semente do reino de Deus misturado na história humana. Com isso, fica bastante claro que Jesus põe em pauta as condições para uma autêntica escuta do Evangelho e para que ele venha a produzir frutos bons e abundantes.

Jesus deixa claro que o que impede que o Evangelho frutifique não é apenas a perseguição e as pressões externas, mas também a falta de uma decisão firme de uns e a intercorrência de outros interesses que não são os de Deus: as rotinas cotidianas, a falta de aprofundamento, a ambição de riquezas, etc.

Além de pedir de nós uma escuta atenta e generosa, um aprofundamento maduro e responsável, e uma sólida perseverança na escuta da Palavra, Jesus pede também que não deixemos de anunciar (semear) o Evangelho a todas as pessoas e grupos, em todos os tipos de terreno, e que o façamos sempre com confiança na força da semente e com esperança de que frutifique, pois a pequena parte que a acolhe produz pelas demais.

Como imagina o profeta Ezequiel, somente quem “come, mastiga e digere” a palavra de Deus, repleta de clamores, dores e cantos de vitória do povo sofredor, está em condições de anunciá-la, praticá-la e testemunhá-la. Quando o Evangelho que ouvimos germina, lança raízes e frutifica em nós, então poderá ser anunciado eficazmente.

 

Meditação:

§  Retome, com todas nuances, a parábola de Jesus e a cena descrita pelo evangelho segundo Lucas

§  Você já viveu, ou vive, a sensação de que a luta pela justiça e o testemunho de uma vida ética e coerente não produzem nada?

§  Que tipo de terreno você tem sido, como você tem ouvido o Evangelho, especialmente neste tempo de pandemia?

§  Que frutos o Evangelho tem produzido em você e sua família? Há algo que o está sufocando e impedindo os frutos?