terça-feira, 31 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (153)

153 | Ano A | 30ª Semana Comum | Terça-feira | Lucas 13,22-30

01/11/2023

O evangelho de hoje nos apresenta uma cena na qual alguém questiona Jesus em relação ao número de pessoas que se salvam, que chegam à plena realização humana e espiritual. Esta pessoa não se interessa pelo caminho que leva à salvação, mas pelo número dos que seriam beneficiados por ela. Na sua resposta, Jesus sublinha que a salvação não dispensa o esforço pessoal contínuo. O caminho da salvação passa pela exigente conversão.

Jesus sublinha também que este engajamento é tarefa para o tempo presente, e não pode ser adiado indefinidamente. Comparando o processo de salvação com uma porta estreita, Jesus ressalta que chegará o tempo em que o dono da casa fechará a porta e não será mais possível entrar. Portanto, é preciso desfrutar com responsabilidade das possibilidades de crescimento que cada momento nos oferece. O tempo propício da salvação é agora, e aqui é o lugar para semear Reino de Deus e ajudá-lo a florescer.

Há gente que pensa que somente a religião pode salvar, que as pessoas realizadas e plenamente humanas ou santas seriam aquelas que rezam bastante, que observam as prescrições religiosas, que regem a vida por uma moralidade estrita, que vivem neste mundo suspirando pelo céu. Mas a religião não pode se divorciar da ética, nem do mundo, inclusive das coisas materiais. A religião propõe uma forma específica de viver no mundo e de se relacionar com as pessoas e coisas. Àqueles que reduzem a religião a um conjunto de prescrições Jesus adverte: “Não sei de onde sois...”

Respondendo à pergunta sobre o número dos que se salvam, Jesus diz que “virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa do Reino de Deus”. Em outras palavras: alguns daqueles que as religiões e instituições descartam ou colocam em último lugar, aos olhos de Deus são os mais importantes e ocupam os primeiros lugares. Todos os homens e mulheres são chamados à salvação e, de um modo que só o Espírito de Deus sabe, participam do mistério pascal de Jesus Cristo. E, mais ainda: “Há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”! Esta é uma verdade que coloca em cheque nossos pretensos méritos e certezas.

 

Meditação:

§  Retome o episódio, não perca as nuances da pergunta e das respostas de Jesus; saboreie aquilo que mais ressoa ou atrai você

§  Em que medida também nós, Igreja de hoje, estamos mais preocupados com o número de fiéis que “entram” na Igreja que com o testemunho?

§  Será que ainda conservamos uma mentalidade segundo a qual pessoa boa é a que frequenta as missas e paga o dízimo?

§  Como entender hoje a imagem da “porta estreita”, evitando que signifique exclusão daqueles que creem diversamente de nós? 

domingo, 29 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (151)

151 | Ano A | 30ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas 13,10-17

31/10/2023

Só não vê quem não quer, para não ter que mudar de atitude: vivemos numa sociedade polarizada, com grupos contrapostos por ideologias e disputas de poder. O argumento moral – “nós, os cidadãos de bem; eles, os malfeitores, preguiçosos” – é usado com muita frequência. E a ideologia da meritocracia acabou oferecendo uma justificação adequada a esta divisão social.

Alguém pode se surpreender ao constatar que esta mesma postura estava presente na sociedade e no contexto cultural no qual Jesus de Nazaré viveu e atuou. Naquele tempo, vigorava o muro ideológico e religioso que separava e opunha puros e impuros. A ideologia da pureza – que misturava critérios sanitários, religiosos, morais, étnicos e sociais – definia quem era puro e impuro, quem era “cidadão de bem” ou “elemento suspeito”.

Na parábola de hoje, estes dois grupos ou setores sociais estão tipificados no fariseu e no publicano. O primeiro, se considera e é tratado como homem correto, merecedor, justo, superior, como um cidadão digno. O segundo, é visto e tratado como suspeito, sujo, herege, sem dignidade e sem direito ao respeito e à cidadania. A oração não os torna iguais perante a Deus, pois expressa atitudes diametralmente opostos e apenas escancara as diferenças.

Para Jesus e seu Evangelho, ninguém pode se arrogar o status de melhor, superior, honrado, merecedor. Todos, fariseus e publicanos, são pecadores e necessitam de conversão. O fariseu, que manifesta na oração seu orgulho e desprezo pelos outros, exatamente por isso também é pecador. A diferença é que o publicano, explicitando a dor da exclusão e a percepção das próprias contradições, é acolhido e justificado, enquanto que o fariseu, que se considera justo, melhor e superior aos demais, continua devendo.

A humildade não é um simples ou falso sentimento de inferioridade, mas a consciência justa e correta daquilo que somos: vazio, dependência, ambiguidade, desejo. É o reconhecimento de que somos todos devedores uns aos outros, de que ninguém – começando por mim mesmo/a – é maior e melhor que ninguém. Somos o que somos por graça de Deus.

 

Meditação:

§  Situe-se no templo, como quem foi rezar com o fariseu e o publicano, e observe a postura e as palavras de cada um

§  Com qual deles você se parece quando reza? Você se apresenta diante de Deus ostentando seus méritos?

§  Você considera a humildade uma limitação à sua personalidade e o orgulho e o mérito uma expressão de sua grandeza?

§  Como assumir com serenidade e verdade diante de Deus a nossa condição de pecadores e devedor necessitados de misericórdia?

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (149)

149 | Ano A | Festa de São Judas, Apóstolo | Lucas 6,12-19

28/10/2023

Voltamos ao capítulo 6 do evangelho segundo Lucas para iluminar a festa de hoje. São Judas Tadeu não é o traidor convertido, como pensam alguns! É um segundo Judas, irmão (ou filho) de Tiago e parente de Jesus. Uma tradição antiga diz que ele era o noivo da festa de Caná, mas não há provas disso. Seu nome significa, literalmente, amigo íntimo, “amigo do peito”, próximo do coração. Este nome já é por si mesmo prenhe de significado.

São Judas nos deixou uma breve carta, que faz parte do Novo Testamento. Nela, o apóstolo sublinha os valores da vida comunitária e mostra-se muito preocupado com algumas falsas lideranças que estavam causando danos às comunidades cristãs. São Judas diz que essas lideranças são como de nuvens que não trazem chuva, como árvores que não têm raízes, como ondas revoltosas e violentas, como astros errantes, como seguidores de Caim.

Na carta, ele também pede aos fiéis que edifiquem a si mesmos sobre o alicerce da fé e perseverem no amor de Deus. E manda que conjuguem a compaixão com a cautela, e fortaleçam os cristãos vacilantes. Por isso, precisamos sublinhar que, mais que um socorro nas causas difíceis, Judas Tadeu é, com os outros apóstolos, lâmpada da fé e coluna da verdade, como diz Cirilo de Alexandria.

Mesmo que alguns dos Doze discípulos escolhidos e enviados sejam pouco conhecidos, Jesus os escolheu “a dedo”. Antes de os escolher, passou uma noite em oração, para não se enganar na escolha, e para que eles fossem símbolo do novo povo de Deus. Ser Apóstolo significa ser enviado, ser porta-voz, delegado, embaixador. Os Doze são participantes da missão do próprio Jesus Cristo, fazem o que ele fez, têm a sua dignidade, assumem sua meta e trilham seu caminho.

Celebrando esta festa no finalzinho do mês dedicado às missões, a comunidade cristã é convocada a renovar seu ardor missionário, a potencializar seu testemunho, a dar sua resposta ao Senhor que chama através dos clamores e esperanças do nosso povo ainda ameaçado pela pandemia. Estamos respondendo com a vida ao envio para dar testemunho num círculo cada vez mais amplo?

 

Meditação:

§  Retome a cena, os gestos, perguntas e palavras de Jesus, as reações da mulher encurvada, dos chefes da sinagoga e do povo

§  Acompanha passo a passo o retiro orante, a escolha nominal e o envio dos Doze Apóstolos, embaixadores do Reino de Deus

§  Deixe que ressoe também em você e hoje o chamado e a escolha de Jesus: “Eu te amo, te chamo, te formo e te envio!”

O Evangelho dominical (Pagola) - 29.10.2023

PAIXÃO POR DEUS E COMPAIXÃO PELO SER HUMANO

Quando se esquecem do essencial, as religiões mergulham facilmente nos caminhos da piedosa mediocridade ou da casuística moral, que não só as incapacitam para uma relação saudável com Deus, como podem prejudicar gravemente as relações entre as pessoas. Nenhuma religião escapa a este risco.

A cena que se narra nos Evangelhos tem como fundo um ambiente religioso em que sacerdotes e doutores da lei classificam centenas de mandamentos da Lei divina em mandamentos fáceis e mandamentos difíceis, graves e leves, pequenos e grandes. É quase impossível mover-se com um coração saudável nesta rede.

A pergunta que colocam a Jesus procura recuperar o essencial, descobrir o espírito perdido: qual é o mandato principal, o mandamento essencial, onde está o núcleo de tudo? A resposta de Jesus, como a de Hilel e de outros mestres judeus, recolhe a fé básica de Israel: «Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu ser». «Amarás o teu próximo como a ti mesmo».

Que ninguém pense que, ao falar do amor de Deus, se está a falar de emoções ou sentimentos para com um Ser imaginário, nem de convites a orações e devoções. «Amar a Deus com todo o coração» é reconhecer humildemente o Mistério último da vida; orientar confiadamente a existência segundo a sua vontade: amar a Deus como Pai, que é bom e nos ama com incomparável bondade.

Tudo isso marca decisivamente a vida, pois significa louvar a existência desde suas raízes; participar da vida com gratidão; optar sempre pelo bom e pelo belo; viver com um coração de carne e não de pedra; resistir a tudo o que atraiçoa a vontade de Deus negando de forma teórica ou prática a vida e a dignidade de seus filhos e filhas.

Por isso o amor a Deus é inseparável do amor aos irmãos. Assim o recorda Jesus: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Não é possível o amor real a Deus sem escutar o sofrimento dos seus filhos e filhas. Que religião seria aquela em que a fome dos desnutridos ou o excesso dos satisfeitos não suscitassem nenhuma dúvida ou inquietação aos crentes? Não estão enganados aqueles que resumem a religião de Jesus como «paixão por Deus e compaixão pela humanidade».

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (148)

148 | Ano A | 29ª Semana Comum | Sexta-feira | Lucas 12,54-59

27/10/2023

No episódio que refletimos ontem, Jesus nos dizia que veio lançar fogo do Espírito para que incendeie, revele e purifique nossas intenções e projetos. Falando desse Dom Dinâmico, Jesus fala do dom de si mesmo, feito de uma vez por todas no alto do Calvário, dom que inunda o mundo qual enxurrada, que espalha o fogo como um fogo que acende mil outros focos de incêndio. Dizia também que é urgente que isso aconteça, e que nossa lealdade com a justiça do Reino de Deus está acima dos laços familiares.

No trecho que estamos rezando hoje, Jesus continua enfatizando a transcendência de cada momento que vivemos e a urgência de entendê-lo bem e não adiar nem fazer de menos da nossa missão de reconciliar, de recriar a fraternidade dentre pessoas e povos, como nos ensina o Papa Francisco. Para ilustrar a importância do tempo que se chama hoje, Jesus lança mão de duas pequenas parábolas e de uma experiência acessível às pessoas do seu tempo.

Jesus está dirigindo-se à multidão, em meio à qual estão seus discípulos/as. As parábolas se referem às nuvens e ao vento, que, para as pessoas experientes, prenunciam chuva ou vento quente. A sabedoria dos bons observadores do tempo interpela e estimula os/as discípulos/as de Jesus a compreender os pequenos sinais do Reino presentes na história, e a acolhê-los como oportunidade e chamado à responsabilidade. Não é sábio e suficiente apenas recordar e repetir o passado! Não é responsável e cristão repetir velhos princípios que, de tão universais, servem para tudo.

Quem segue Jesus e o assume como Mestre de sua vida precisa aprender a identificar o querer de Deus inscrito nos acontecimentos, e colocá-lo em prática. Se a repetição de costumes do passado não é suficiente, é irresponsabilidade deixar tudo para amanhã, ou terceirizar tudo, imaginando que Deus fará aquilo que compete a nós. O tempo urge, e o aqui e agora representa a última possibilidade para refazer as relações de fraternidade. A experiência da reconciliação dos adversários ainda a caminho do tribunal não é sintoma de medo ou de fraqueza, mas sinal de sabedoria e esperteza aprendidas no caminho com Jesus.

 

Meditação:

§  Retome e reconstrua o fato, a parábola e a conclusão de Jesus, prestando atenção à força das palavras e comparações

§  Acolha este ensino que Jesus dirige ao povo em geral, e deixe-se iluminar pelas metáforas da nuvem e do vento

§  O que você, sua família e sua comunidade podem fazer para não perder “o trem da história” a viver já aqui, e em todas as relações, a novidade do Reino de Deus.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (147)

147 | Ano A | 29ª Semana Comum | Quinta-feira | Lucas 12,49-53

26/10/2023

No trecho do evangelho de ontem, fomos advertidos por Jesus para que não aconteça que, mesmo conhecendo a vontade de Deus, vivamos “na sombra e água fresca”, não preparemos nada e nos comportemos como chefes violentos e sem compromisso, prontos a beber, dominando com violência e discriminando. O foco do trecho de hoje é outro, mas a tensão para a construção do Reino de Deus e o tom de urgência continuam.

A imagem à qual Jesus recorre, assim como sua primeira afirmação, assustam, especialmente quem quer reduzir a proposta de Jesus a um inocente “paz e amor”. Ele diz claramente que não vem trazer paz, e sim divisão; que não vem apagar os incêndios da ira, mas espalhar o fogo. E mais ainda: ele espera que seus discípulos e discípulas façam o mesmo! Como entender corretamente estas palavras de Jesus? Elas fazem sentido?

Na perspectiva de Jesus, a paz que todos desejamos é fruto do abraço com a justiça, resultado de uma escolha difícil e exigente que precisamos refazer todos os dias. Não há paz que mereça este nome fora do âmbito da justiça do reino de Deus. E essa justiça se mostra na compaixão solidária e ativa com as vítimas e com todas as categorias de pessoas excluídas e marginalizadas. A paz não pode ser fruto da contemporização com o mal e a injustiça.

Jesus diz que veio lançar fogo na terra, porque o fogo do Espírito, experimentado por ele no batismo e manifestado na fidelidade até à cruz, revela, distingue e purifica nossas intenções e projetos pessoais e sociais. Este Espírito é o dom de si mesmo, feito de uma vez por todas no alto do Calvário, dom esse que inunda o mundo qual enxurrada, que espalha um fogo que acende mil outros focos de incêndio.

As várias manifestações da divisão das quais fala Jesus no evangelho de hoje, não são frutos de um desejo doentio ou violento, mas consequências de um posicionamento lúcido e firme contra a ordem e os hábitos dominantes. Nossa lealdade com a novidade e a justiça do Reino de Deus está acima dos laços familiares e pode até provocar cisão e distanciamento.

 

Meditação:

§  Retome e reconstrua o fato, a parábola e a conclusão de Jesus, deixando que as imagens e palavras ressoem em você

§  Acolha as palavras incisivas de Jesus, sem deixar-se assustar por elas, mas também sem esvaziá-las de sua natural urgência

§  Como você vem tentando proporcionar o encontro entre a justiça e a paz, entre o amor e a fidelidade ao Evangelho?

§  Recorde situações em que, por fidelidade a Jesus e seu Evangelho, você provocou tensões nos círculos mais próximos

terça-feira, 24 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (146)

146 | Ano A | 29ª Semana Comum | Quarta-feira | Lucas 12,39-48

25/10/2023

O Reino de Deus virá, e nenhum/a discípulo/a de Jesus pode duvidar, nem esperar “jogando-se nas cordas”. Precisamos ser como o pessoal encarregado do cuidado de uma casa, que espera o chefe voltar de uma festa: precisamos nos mover numa fé vigilante e viver acendendo luzes na escuridão, para que nós e todos possamos caminhar com segurança. Esta é a lição do texto imediatamente anterior ao que acabamos de ler.

No texto de hoje, Jesus amplia essa lição, comparando a irrupção do Reino de Deus com a ação de um ladrão experto: ele chega improvisamente, e num momento inesperado. Em outras palavras: precisamos esperar Jesus e a irrupção do Reino de Deus vigilantes, como quem não gosta nem quer ser surpreendido por um ladrão que invade a casa na calada da noite. A caminhada de fé é uma existência aberta ao futuro, na espera de um encontro. O dia e a hora, porém, ninguém sabe, e isso importa menos.

Em nome de todos/as os/as discípulos/as, Pedro pergunta se Jesus está dizendo isso somente a eles ou a todo o povo. Jesus não responde diretamente, mas deixa entender que a espera vigilante e militante é a marca de toda pessoa que nele crê e se dispõe a seguir seus passos, mas quem recebeu mais, quem o segue mais de perto, tem maior responsabilidade. Estes são como o administrador fiel a quem Jesus confia o cuidado de todo o “pessoal da casa”.

A comunidade cristã é a “casa de Deus”, abrigo seguro do povo de Deus, e os administradores (ministros) não podem deixar-se levar pela preguiça, pelas comodidades, pela lei do menor esforço, abusando do poder e descuidando-se daquilo que é essencial. Como a tarefa do administrador da parábola, os ministérios e estruturas são transitórios, e, na Igreja, todos são servos e irmãos, ninguém é chefe. Nada de chicotear o povo com o fantasma do comunismo!

Não aconteça que nós, mesmo conhecendo a vontade de Deus, vivamos “na sombra e água fresca”, não preparemos nada e atuemos como chefes sem compromisso e violentos, prontos a encher a cara, dominando com violência e discriminando. Tempo de espera é tempo de missão!

 

Meditação:

§  Retome e reconstrua o fato, a parábola, observe as palavras e imagens, assim como a conclusão de Jesus

§  Acolha as palavras incisivas de Jesus, deixe-se inspirar pelas parábolas do ladrão e do administrador

§  Imagine-se dentro das parábolas, vigilante para não ser surpreendido dormindo, ativo e serviçal aos iguais

§  Você percebe situações em que você e a comunidade estão “baixando a guarda” ou agindo como se não fôssemos todos iguais?

§  O que podemos dizer dos líderes religiosos que, movidos por medos e interesses, assustam o povo com fantasmas, como o comunismo?

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (145)

145 | Ano A | 29ª Semana Comum | Terça-feira | Lucas 12,35-38

24/10/2023

Depois de falar sobre a relação com os bens materiais, subordinando-os à lógica da partilha no horizonte do Reino de Deus, Jesus fala sobre a beleza imerecida e gratuita dos lírios do campo (texto omitido na sequência que estamos refletindo). E adverte os ouvintes: ninguém pode acrescentar nada, por esforço e preocupação, à própria vida. Por fim, pede que os/as discípulos saibam investir em “fundos seguros”, ou seja, no Reino de Deus. Este é o tesouro que os ladrões não roubam e a ferrugem não come.

No texto de hoje, o assunto do ensino de Jesus é a espera vigilante e ativa do Reino de Deus, especialmente quando ele parece demorar ou não vir. Ele se dirige aos discípulos, e sua fala está marcada pelo tempo pós-pascal, com a crise da espera e da confiança que os discípulos enfrentavam com o adiamento do “retorno” de Jesus. A espera vigilante é essencial para quem segue os passos de Jesus. Ninguém pode, sob nenhum pretexto, “baixar a guarda”. Viver esperando significa viver de espera, mas vigilantes.

Jesus ilustra esta espera ativa com duas imagens (o cinto que cinge os quadris e as lâmpadas acesas) e com três parábolas (das quais hoje meditamos apenas a primeira). Para esperar adequadamente o retorno do patrão da festa de casamento, o pessoal da casa deve estar preparado: acordado, com as lâmpadas da casa acesas e com o cinto apertado, para que as vestes não impeçam os movimentos necessários. E isso mesmo que a hora for adiantada. Assim, podem abrir a porta, sem demora nem obstáculos. Isso é viver de modo sábio e responsável.

Relendo a parábola no horizonte do discipulado, entendemos que, se Jesus partiu, ele voltará, pois partir não significa necessariamente ir embora. Disso os discípulos/as não podemos duvidar, nem esperar “atirando-nos nas cordas”. Precisamos ser como o pessoal da casa da parábola de Jesus. Ele foi celebrar a aliança, e crer nele significa mover-se numa fé vigilante, ativa e perseverante no serviço. É ela que acende luzes na escuridão e ajuda a caminhar com segurança. A recompensa é a participação na mesa dos/as amados/as de Deus, do povo que ele amou, escolheu e enviou. O próprio Jesus, Servo bom e fiel, os servirá à mesa.

 

Meditação:

§  Retome e reconstrua o fato, a parábola e a conclusão de Jesus, acolha suas palavras e incisivas, deixe-se levar pelas imagens do cinto e da luz

§  Imagine-se dentro da parábola do pessoal da casa que espera a volta do patrão, ansiosos e atentos

§  Identifique as situações em que você cede à tentação de “baixar a guarda”, de simplesmente “levar a vida”

domingo, 22 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (144)

144 | Ano A | 29ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas 12,13-21

23/10/2023

Chamando Jesus de mestre, este personagem sem nome da cena do evangelho de hoje não está expressando sua concordância ou sua adesão a ele. Jesus percebe a ironia da saudação e as contradições do demandante, tanto que, respondendo, dá a entender que, se não for aceito como mestre, também não pode ser buscado como juiz. No fundo, Jesus percebe que este indivíduo não é uma pessoa em necessidade e não é candidato a discípulo. Trata-se de alguém queimado pela ganância. Mas essa situação proporciona a Jesus a oportunidade de falar sobre a relação do discípulo com os bens.

“Atenção! Guardai-vos contra todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens”. Esta é a reação de Jesus ao perceber que, por trás de muitos pedidos de “justiça”, não está uma necessidade, nem um desejo de justiça, mas o desejo de possuir bens. E, para sublinhar a seriedade da sua exortação, Jesus propõe uma parábola na qual o protagonista é uma pessoa radicalmente voltada para si mesma, extremamente ambiciosa, que fala e decide tudo sozinha e não se interessa por mais ninguém.

No final de uma safra bem-sucedida, o personagem diz a si mesmo: “Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe e goza da vida”. Como não lembrar aqui a parábola do rico que festejava indiferente à miséria de Lázaro que jazia à sua porta (Lc 16,19-31)? Segundo Jesus, as pessoas que agem assim são desprovidas de qualquer resquício de razão, vazias de qualquer valor humano. São o tipo de indivíduos que, com suas decisões, cavam abismos que os separam dos demais “simples humanos”.

Mas, se o acúmulo desmedido de bens é tolice e pobreza humana, o que significa ‘ser rico diante de Deus’? Está claro que, para Jesus, o problema não está nos bens em si mesmos. O mal dos bens está no obstáculo que podem interpor à liberdade radical e ao engajamento no movimento do Reino de Deus, que passa pela partilha solidária. O Reino de Deus é a pérola preciosa e o tesouro que vale mais que tudo, o terreno no qual brota o trigo que vai para a mesa dos pobres, o ventre no qual é gerada uma nova humanidade. Aos ricos, o que falta não são armazéns novos, mas uma visão mais solidaria. A pessoa rica diante de Deus aumenta o tamanho da mesa, para acolher, e não o celeiro!

 

Meditação:

§  Leia atentamente esse relato de Lucas, e perceba a atitude dos personagens, especialmente o ensino de Jesus

§  Preste atenção nas palavras do protagonista da parábola: o “eu” está no centro de tudo, ocupa todo o seu pensamento

§  Quais as luzes que a parábola e o ensino de Jesus trazem para quem só pensa em acumular, e para quem não tem nem o necessário?

§  O que significar hoje ser “rico diante de Deus” e “não ajuntar tesouros para si mesmo”?

sábado, 21 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (143)

143 | Ano A | 29ª Semana Comum | Domingo | Mateus 22,15-21

22/10/2023

Com ironia, hipocrisia e cinismo, os doutores da lei, escribas e herodianos preparam uma armadilha para surpreender Jesus e, assim, obter as provas que necessitam para a condenação. A ironia e o cinismo ficam evidentes nos elogios dirigidos a Jesus pelos seus emissários. Mesmo sem querer, seus adversários apresentam o perfil verdadeiro e inatacável de Jesus.

Jesus é um profeta que não se sente inibido na sua opção pelos pobres, nem frente à pressão dos poderosos; não abandona os caminhos de Deus, mesmo diante das alternativas que oferecem sucesso e êxito; não foge das questões espinhosas, nem apela à neutralidade política, a uma indefinida vida interior ou às coisas da alma; sabe distinguir o reconhecimento e a adesão humilde à sua proposta dos elogios falsos, interesseiros e enganadores.

O que está em discussão não é a simplória questão de pagar ou não pagar impostos. O que as elites querem saber é se, diante do poder opressivo dos impérios, Jesus e seus discípulos são colaboradores ou subversivos; se mantém sua profecia ou abaixam a cabeça e calam a boca, deixando os fracos à sua própria sorte; se o projeto de Deus entra na história ou se dirige apenas ao coração e a uma fé privatizada e intimista.

O imposto cobrado dos povos colonizados pelo império romano era um meio de subjugá-los, e a própria moeda servia como estratégia de propaganda do imperador e de afirmação do seu status divino. Diante da prova da moeda, Jesus não se submete à fácil solução de separar fé e política, poder temporal e crítica profética. Sua resposta sábia e corajosa é mais um caminho que uma evasiva: “Devolvam a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Jesus pede que se devolva ao imperador a moeda, instrumento de propaganda e de exploração, e que se reserve a Deus a vida e a dignidade do seu povo. Assim, Jesus contextualiza e relativiza o poder colonialista e a lealdade às autoridades. Sem recorrer à violência, e falando em nome de Deus, exercita a profecia e subverte a ordem estabelecida. E isso não tem nada a ver com a separação da fé da política. Precisamos desenvolver a atitude de discípulos missionários que tenham coração grande para amar e forte para lutar.

 

Meditação:

§  Retome e reconstrua o texto, percebendo a bajulação interesseira e a armadilha maliciosa que os fariseus e herodianos preparam para Jesus

§  Procure entender o sentido profundo e atual da ordem de “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”

§  Evite a tentação da ideologia burguesa, que pretende separar a fé e a política, como se a fé não fosse sal e fermento

§  Perceba como a vida de Jesus demonstra exatamente o inverso