sábado, 7 de outubro de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) 08.10.2023

DURA CRÍTICA AOS DIRIGENTES RELIGIOSOS

A parábola dos vinhateiros homicidas é sem dúvida a mais dura que Jesus pronunciou contra os líderes religiosos de seu povo. Não é fácil voltar ao relato original, mas provavelmente não era muito diferente do que podemos ler hoje na tradição evangélica.

Os protagonistas mais destacados da parábola são, sem dúvida, os agricultores encarregados de trabalhar a vinha. Sua atuação é sinistra. Agem de modo muito diferente do dono, que cuida da vinha com solicitude e amor para que nada lhe falte.

Não aceitam o senhor a quem pertence a vinha. Querem ser os únicos proprietários. Vão eliminando um depois do outro os servos que ele lhes envia com uma paciência incrível. Não respeitam nem o seu filho. Quando chega, expulsam-no da vinha e matam-no. A sua única obsessão é ficar com a herança.

O que pode fazer o dono da vinha? Terminar com estes vinhateiros e confiar a sua vinha a outros que lhe entreguem os frutos. A conclusão de Jesus é trágica: «Em verdade vos digo, o reino de Deus vos será tirado e será dado a um povo que produza os seus frutos».

Após a destruição de Jerusalém no ano 70, a parábola foi lida como uma confirmação de que a Igreja tinha tomado o lugar de Israel, mas nunca foi interpretada como se no novo Israel estivesse garantida a fidelidade ao dono da vinha.

O reino de Deus não é da Igreja. Não pertence à hierarquia. Não é propriedade destes ou daqueles teólogos. Seu único dono é o Pai. Ninguém tem de se sentir dono da sua verdade ou de seu espírito. O reino de Deus está no povo que produz seus frutos de justiça, compaixão e defesa dos últimos.

A maior tragédia que pode acontecer ao cristianismo hoje e de sempre é que mate a voz dos profetas, que os sumos sacerdotes se sintam donos da vinha do Senhor e que, entre todos, lancemos o Filho fora, abafando seu Espírito. Se a Igreja não responde às esperanças que nela depositou o seu Senhor, Deus abrirá novos caminhos de salvação nos povos que produzem frutos.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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