domingo, 22 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (144)

144 | Ano A | 29ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas 12,13-21

23/10/2023

Chamando Jesus de mestre, este personagem sem nome da cena do evangelho de hoje não está expressando sua concordância ou sua adesão a ele. Jesus percebe a ironia da saudação e as contradições do demandante, tanto que, respondendo, dá a entender que, se não for aceito como mestre, também não pode ser buscado como juiz. No fundo, Jesus percebe que este indivíduo não é uma pessoa em necessidade e não é candidato a discípulo. Trata-se de alguém queimado pela ganância. Mas essa situação proporciona a Jesus a oportunidade de falar sobre a relação do discípulo com os bens.

“Atenção! Guardai-vos contra todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens”. Esta é a reação de Jesus ao perceber que, por trás de muitos pedidos de “justiça”, não está uma necessidade, nem um desejo de justiça, mas o desejo de possuir bens. E, para sublinhar a seriedade da sua exortação, Jesus propõe uma parábola na qual o protagonista é uma pessoa radicalmente voltada para si mesma, extremamente ambiciosa, que fala e decide tudo sozinha e não se interessa por mais ninguém.

No final de uma safra bem-sucedida, o personagem diz a si mesmo: “Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe e goza da vida”. Como não lembrar aqui a parábola do rico que festejava indiferente à miséria de Lázaro que jazia à sua porta (Lc 16,19-31)? Segundo Jesus, as pessoas que agem assim são desprovidas de qualquer resquício de razão, vazias de qualquer valor humano. São o tipo de indivíduos que, com suas decisões, cavam abismos que os separam dos demais “simples humanos”.

Mas, se o acúmulo desmedido de bens é tolice e pobreza humana, o que significa ‘ser rico diante de Deus’? Está claro que, para Jesus, o problema não está nos bens em si mesmos. O mal dos bens está no obstáculo que podem interpor à liberdade radical e ao engajamento no movimento do Reino de Deus, que passa pela partilha solidária. O Reino de Deus é a pérola preciosa e o tesouro que vale mais que tudo, o terreno no qual brota o trigo que vai para a mesa dos pobres, o ventre no qual é gerada uma nova humanidade. Aos ricos, o que falta não são armazéns novos, mas uma visão mais solidaria. A pessoa rica diante de Deus aumenta o tamanho da mesa, para acolher, e não o celeiro!

 

Meditação:

§  Leia atentamente esse relato de Lucas, e perceba a atitude dos personagens, especialmente o ensino de Jesus

§  Preste atenção nas palavras do protagonista da parábola: o “eu” está no centro de tudo, ocupa todo o seu pensamento

§  Quais as luzes que a parábola e o ensino de Jesus trazem para quem só pensa em acumular, e para quem não tem nem o necessário?

§  O que significar hoje ser “rico diante de Deus” e “não ajuntar tesouros para si mesmo”?

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