144 | Ano A | 29ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas 12,13-21
23/10/2023
Chamando Jesus de mestre, este personagem sem nome
da cena do evangelho de hoje não está expressando sua concordância ou sua
adesão a ele. Jesus percebe a ironia da saudação e as contradições do
demandante, tanto que, respondendo, dá a entender que, se não for aceito como
mestre, também não pode ser buscado como juiz. No fundo, Jesus percebe que este
indivíduo não é uma pessoa em necessidade e não é candidato a discípulo.
Trata-se de alguém queimado pela ganância. Mas essa situação proporciona a
Jesus a oportunidade de falar sobre a relação do discípulo com os bens.
“Atenção! Guardai-vos contra todo tipo de ganância,
pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de
bens”. Esta é a reação de Jesus ao perceber que, por trás de muitos pedidos de
“justiça”, não está uma necessidade, nem um desejo de justiça, mas o desejo de
possuir bens. E, para sublinhar a seriedade da sua exortação, Jesus propõe uma
parábola na qual o protagonista é uma pessoa radicalmente voltada para si
mesma, extremamente ambiciosa, que fala e decide tudo sozinha e não se
interessa por mais ninguém.
No final de uma safra bem-sucedida, o personagem
diz a si mesmo: “Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa,
come, bebe e goza da vida”. Como não lembrar aqui a parábola do rico que
festejava indiferente à miséria de Lázaro que jazia à sua porta (Lc 16,19-31)?
Segundo Jesus, as pessoas que agem assim são desprovidas de qualquer resquício
de razão, vazias de qualquer valor humano. São o tipo de indivíduos que, com
suas decisões, cavam abismos que os separam dos demais “simples humanos”.
Mas, se o acúmulo desmedido de bens é tolice e
pobreza humana, o que significa ‘ser rico diante de Deus’? Está claro que, para
Jesus, o problema não está nos bens em si mesmos. O mal dos bens está no
obstáculo que podem interpor à liberdade radical e ao engajamento no movimento
do Reino de Deus, que passa pela partilha solidária. O Reino de Deus é a pérola
preciosa e o tesouro que vale mais que tudo, o terreno no qual brota o trigo
que vai para a mesa dos pobres, o ventre no qual é gerada uma nova humanidade.
Aos ricos, o que falta não são armazéns novos, mas uma visão mais solidaria. A
pessoa rica diante de Deus aumenta o tamanho da mesa, para acolher, e não o
celeiro!
Meditação:
§ Leia
atentamente esse relato de Lucas, e perceba a atitude dos personagens,
especialmente o ensino de Jesus
§ Preste
atenção nas palavras do protagonista da parábola: o “eu” está no centro de
tudo, ocupa todo o seu pensamento
§ Quais
as luzes que a parábola e o ensino de Jesus trazem para quem só pensa em
acumular, e para quem não tem nem o necessário?
§ O
que significar hoje ser “rico diante de Deus” e “não ajuntar tesouros para si
mesmo”?
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