124 | Ano A | 26ª Semana Comum | Terça-feira | Lucas 9,51-56
(03/10/2023)
O breve texto do evangelho de hoje é uma espécie de
dobradiça que une as duas partes do Evangelho segundo Lucas. Ele nos diz que
“estava chegando o momento de Jesus ser elevado” (na cruz) e que, percebendo
isso, Jesus “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. A primeira parte
apresenta o anúncio do reino de Deus e a formação dos discípulos, e a segunda,
o desfecho da sua missão, em Jerusalém.
Lucas usa palavras que revelam uma decisão brusca e
solene por parte de Jesus. “Subir” a Jerusalém, “ser elevado” na cruz, “descer
aos infernos” e “ser elevado ao céu” são expressões que apontam para o único e
mesmo projeto predominante na caminhada de Jesus. A decisão firme de Jesus
(“rosto retesado”) denota a percepção dos conflitos e das tensões que o
esperavam.
Tendo tomado esta decisão e em plena consciência, e
tendo que atravessar a Samaria, Jesus envia seus discípulos à frente para
preparar sua passagem. Desta vez, eles não são encarregados de anunciar nada,
mas para organizar a hospedagem da caravana. Como havia previsto, a hospedagem
foi rejeitada quando os samaritanos souberam que Jesus estava se dirigindo a
Jerusalém.
Lucas quer chamar a nossa atenção para a atitude
dos discípulos, e não para a rejeição por parte dos samaritanos. A reação de
Tiago e João (que haviam participado com Pedro da cena da transfiguração) é uma
reedição daquela que esboçaram diante de uma pessoa que expulsava demônios em
nome de Jesus, mas não os seguia. Em ambas, a atitude condenável é a
intolerância.
O desejo de fazer descer fogo do céu e destruir os
samaritanos, já discriminados pelos judeus, é uma reação ilustrativa de quem
ainda não havia entendido e aceitado o caminho de Jesus, e ainda esperava dele
apenas triunfo e glória. É uma visão fanática e uma atitude integrista e
intolerante, como está em moda de novo hoje, e não apenas no Brasil.
Jesus repreende Tiago e João, e todos os que
esperam dele apenas triunfo e glória. Ele não nos chamou e enviou para
antecipar o castigo, mas para preparar espaços para acolhê-lo. Diante da
rejeição, não cabe a violência.
Meditação:
§ Contemple
com a razão e com o coração a cena, e perceba a firmeza estampada no semblante
de Jesus
§ Observe
também os sinais de intolerância e raiva chispando nos olhos de João e Tiago, e
dos demais discípulos
§ Será
que também nós ainda vemos e esperamos em Jesus apenas glória e triunfo, e
desejamos fugir do rebaixamento e da cruz?
§ Em que medida também nós pensamos que somos
enviados para julgar e punir, e não para preparar espaços para Jesus?
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