HOJE TAMBÉM É POSSÍVEL ESCUTAR A DEUS
Todos os estudos o dizem. A religião
está em crise nas sociedades desenvolvidas do Ocidente. São cada vez menos as
pessoas que se interessam pelas crenças religiosas. As elaborações dos teólogos
dificilmente têm eco. Os jovens abandonam as práticas religiosas. A sociedade
desliza para uma indiferença crescente.
Há, no entanto, algo que nós crentes
nunca devemos esquecer. Deus não está em crise. Essa Realidade suprema para a
qual apontam religiões com nomes diferentes continua viva e operante. Deus está
também hoje em contato imediato com cada ser humano. A crise religiosa não pode
impedir que Deus continue a oferecer-se a cada pessoa no misterioso fundo da
sua consciência.
Nessa perspectiva, é um erro demonizar
excessivamente a atual crise religiosa, como se fosse uma situação impossível
para a ação salvadora de Deus. Não é assim. Cada contexto sociocultural tem as
suas condições mais ou menos favoráveis ao desenvolvimento de uma determinada
religião, mas o ser humano mantém intactas as suas possibilidades de abrir-se
ao Mistério último da vida, que o interpela do fundo da sua consciência.
A parábola dos convidados no casamento
recorda-o de forma expressiva. Deus não exclui ninguém. Seu único desejo é que
a história humana termine com uma festa alegre. O seu único desejo é que o
espaçoso salão do banquete esteja cheio de convidados. Tudo está preparado.
Ninguém pode impedir Deus que faça chegar a todos o seu convite.
É certo que a convocação religiosa
encontra rejeição em muitos, mas o convite de Deus não se detém. Todos a podem
ouvir, bons e maus, os que vivem na cidade e os que andam perdidos nas
encruzilhadas. Todas as pessoas que escutam a convocação do bem, do amor e da
justiça estão acolhendo Deus.
Penso em tantas pessoas que ignoram
quase tudo sobre Deus. Só conhecem uma caricatura da religião. Nunca poderão imaginar
a alegria de acreditar. Tenho certeza de que Deus está vivo e atuante no mais
íntimo de seu ser. Estou convencido de que muitos deles aceitam seu convite por
caminhos que escapam ao meu conhecimento.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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