domingo, 29 de outubro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (151)

151 | Ano A | 30ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas 13,10-17

31/10/2023

Só não vê quem não quer, para não ter que mudar de atitude: vivemos numa sociedade polarizada, com grupos contrapostos por ideologias e disputas de poder. O argumento moral – “nós, os cidadãos de bem; eles, os malfeitores, preguiçosos” – é usado com muita frequência. E a ideologia da meritocracia acabou oferecendo uma justificação adequada a esta divisão social.

Alguém pode se surpreender ao constatar que esta mesma postura estava presente na sociedade e no contexto cultural no qual Jesus de Nazaré viveu e atuou. Naquele tempo, vigorava o muro ideológico e religioso que separava e opunha puros e impuros. A ideologia da pureza – que misturava critérios sanitários, religiosos, morais, étnicos e sociais – definia quem era puro e impuro, quem era “cidadão de bem” ou “elemento suspeito”.

Na parábola de hoje, estes dois grupos ou setores sociais estão tipificados no fariseu e no publicano. O primeiro, se considera e é tratado como homem correto, merecedor, justo, superior, como um cidadão digno. O segundo, é visto e tratado como suspeito, sujo, herege, sem dignidade e sem direito ao respeito e à cidadania. A oração não os torna iguais perante a Deus, pois expressa atitudes diametralmente opostos e apenas escancara as diferenças.

Para Jesus e seu Evangelho, ninguém pode se arrogar o status de melhor, superior, honrado, merecedor. Todos, fariseus e publicanos, são pecadores e necessitam de conversão. O fariseu, que manifesta na oração seu orgulho e desprezo pelos outros, exatamente por isso também é pecador. A diferença é que o publicano, explicitando a dor da exclusão e a percepção das próprias contradições, é acolhido e justificado, enquanto que o fariseu, que se considera justo, melhor e superior aos demais, continua devendo.

A humildade não é um simples ou falso sentimento de inferioridade, mas a consciência justa e correta daquilo que somos: vazio, dependência, ambiguidade, desejo. É o reconhecimento de que somos todos devedores uns aos outros, de que ninguém – começando por mim mesmo/a – é maior e melhor que ninguém. Somos o que somos por graça de Deus.

 

Meditação:

§  Situe-se no templo, como quem foi rezar com o fariseu e o publicano, e observe a postura e as palavras de cada um

§  Com qual deles você se parece quando reza? Você se apresenta diante de Deus ostentando seus méritos?

§  Você considera a humildade uma limitação à sua personalidade e o orgulho e o mérito uma expressão de sua grandeza?

§  Como assumir com serenidade e verdade diante de Deus a nossa condição de pecadores e devedor necessitados de misericórdia?

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