151 | Ano A | 30ª Semana Comum | Segunda-feira | Lucas 13,10-17
31/10/2023
Só não vê quem
não quer, para não ter que mudar de atitude: vivemos numa sociedade polarizada,
com grupos contrapostos por ideologias e disputas de poder. O argumento moral –
“nós, os cidadãos de bem; eles, os malfeitores, preguiçosos” – é usado com
muita frequência. E a ideologia da meritocracia acabou oferecendo uma
justificação adequada a esta divisão social.
Alguém pode se
surpreender ao constatar que esta mesma postura estava presente na sociedade e
no contexto cultural no qual Jesus de Nazaré viveu e atuou. Naquele tempo,
vigorava o muro ideológico e religioso que separava e opunha puros e impuros. A
ideologia da pureza – que misturava critérios sanitários, religiosos, morais,
étnicos e sociais – definia quem era puro e impuro, quem era “cidadão de bem”
ou “elemento suspeito”.
Na parábola de
hoje, estes dois grupos ou setores sociais estão tipificados no fariseu e no
publicano. O primeiro, se considera e é tratado como homem correto, merecedor,
justo, superior, como um cidadão digno. O segundo, é visto e tratado como
suspeito, sujo, herege, sem dignidade e sem direito ao respeito e à cidadania.
A oração não os torna iguais perante a Deus, pois expressa atitudes diametralmente
opostos e apenas escancara as diferenças.
Para Jesus e seu
Evangelho, ninguém pode se arrogar o status de melhor, superior, honrado,
merecedor. Todos, fariseus e publicanos, são pecadores e necessitam de
conversão. O fariseu, que manifesta na oração seu orgulho e desprezo pelos
outros, exatamente por isso também é pecador. A diferença é que o publicano,
explicitando a dor da exclusão e a percepção das próprias contradições, é
acolhido e justificado, enquanto que o fariseu, que se considera justo, melhor
e superior aos demais, continua devendo.
A humildade não é
um simples ou falso sentimento de inferioridade, mas a consciência justa e
correta daquilo que somos: vazio, dependência, ambiguidade, desejo. É o
reconhecimento de que somos todos devedores uns aos outros, de que ninguém –
começando por mim mesmo/a – é maior e melhor que ninguém. Somos o que somos por
graça de Deus.
Meditação:
§ Situe-se
no templo, como quem foi rezar com o fariseu e o publicano, e observe a postura
e as palavras de cada um
§ Com
qual deles você se parece quando reza? Você se apresenta diante de Deus
ostentando seus méritos?
§ Você
considera a humildade uma limitação à sua personalidade e o orgulho e o mérito
uma expressão de sua grandeza?
§ Como
assumir com serenidade e verdade diante de Deus a nossa condição de pecadores e
devedor necessitados de misericórdia?
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