quarta-feira, 9 de julho de 2025

Chamados e enviados

“Ide anunciar minha paz! Ide sem olhar para trás!” | 770 | 10.07.2025 | Mateus 10,7-15

Na primeira parte da formação missionária que oferece aos apóstolos, depois de escolhê-los entre um grupo maior, Jesus delimitou o campo prioritário no qual deveriam agir: o povo cansado e abatido, ou as ovelhas perdidas da casa de Israel. Os samaritanos e pagãos ficariam para um segundo momento. No texto de hoje, Jesus fala das tarefas, do suporte e do impacto dessa missão que ele confia aos seus escolhidos.

Em relação ao que fazer, Jesus ensina que se trata de anunciar alegremente que o Reino de Deus chegou e de demonstrar isso com sinais concretos, exatamente como ele mesmo o fez: curando doentes, purificando leprosos, ressuscitando mortos, enfim: devolvendo vida e cidadania aos excluídos e sofredores. Isso significa que os discípulos precisam continuar a missão de Jesus, estendendo-a no tempo e no espaço.

Em relação ao estilo de vida ou ao suporte da missão, trata-se de dar testemunho de despojamento, de evitar ser pesado para o povo, de não buscar vantagens, de deslocar-se discretamente pelas estradas, de abraçar a impotência e de confiar plenamente na hospitalidade do povo e na providência de Deus, fazendo das casas o foco irradiador da novidade do Reino de Deus, sem forçar nem impor nada.

No que se refere ao impacto da missão, o discípulo missionário deve contar com a acolhida benevolente e muitos, mas também com a resistência e a recusa de outros. Diante da recusa, não há lugar para a lamentação e muito menos para a ameaça: os discípulos devem continuar a missão noutro lugar e dirigir-se a outras pessoas. Sacudir a poeira dos pés significa dizer que a oportunidade foi concedida, mais que a Sodoma e Gomorra, e que a responsabilidade pelas consequências não recai sobre o missionário.

Focado no anúncio do Reino de Deus e tendo Jesus como modelo, para não afastar e criar dependência o discípulo missionário não cria falsas expectativas nem exibe poder. Vive em si mesmo a novidade do Reino de Deus, abrindo as fronteiras e libertando-se dos vínculos familiares e sociais demasiadamente estreitos, e isso basta. Livre do compromisso com qualquer ideologia fechada e mesquinha, o discípulo missionário vive a profecia, a autocrítica e a coerência.

 

Sugestões para a meditação

§ Deixe que ressoe em você e rumine por um instante cada uma das recomendações de Jesus aos discípulos que ele envia

§ Qual dessas recomendações lhe parece mais relevante para as comunidades e seus missionários hoje?

§ Quais seriam as atitudes e ações prioritárias que poderiam assegurar a credibilidade da evangelização hoje?

§ Que atitudes costumamos tomar diante das pessoas e grupos que se fecham ao Evangelho?

terça-feira, 8 de julho de 2025

O engajamento social dos cristãos

O empenho cristão pelo justo ordenamento da sociedade

“O empenho pela defesa da vida e dos direitos da pessoa, pelo justo ordenamento da sociedade, pela dignidade do trabalho, por uma economia justa e solidária e pela ecologia integral fazem parte da missão evangelizadora da Igreja”. Esta é uma das afirmações do Documento final do Sínodo dos Bispos da Igreja Católica Romana, concluído em outubro de 2024, depois de três anos de um intenso processo de escuta e reflexão.

Mesmo sem ser uma novidade, esta afirmação é importante, dada a intensa atividade de alguns grupos que questionam a manifestação e a intervenção dos cristãos no campo social, político e ambiental. Esquecem estes que a primeira intervenção histórica de Deus foi o apoio ao movimento de desobediência dos escravos hebreus ao poder do faraó e às lutas para conquistar terras que antes pertenciam a reis de pequenas cidades-estados.

Não é possível esquecer o caráter político da condenação de Jesus à morte na cruz, pois esta era a pena imposta pelo império romano a quem se rebelasse contra seu domínio e aos escravos fugitivos. “Encontramos esse homem agitando a nossa nação e proibindo pagar impostos a César” dizem os chefes do judaísmo ao governador (cf. Lc 23,2). E o crime imputado a Jesus ficou gravado no alto da cruz: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”.

Portanto, o pronunciamento das Igrejas cristãs sobre questões políticas e econômicas faz parte da sua missão, e não caracteriza ingerência em terreno alheio. O que é inaceitável é as igrejas atuarem na seara política para assegurar privilégios para si mesmas ou para impor a todos os cidadãos uma pauta moral que é própria de uma denominação religiosa, ou orientar-se pela tática de apoiar incondicionalmente os grupos que exercem o poder.

Ancorado nesta rocha firme da tradição cristã volto ao debate sobre o aumento da carga tributária sobre as operações financeiras e sobre a taxação dos grandes lucros, objeto de acirradas disputas no Congresso e na grande imprensa. A rejeição do decreto do Executivo pelo Congresso se baseou em meias-verdades ou mentiras inteiras, e foi celebrado como uma derrota imposta ao governo, como se a política fosse um jogo.

O Congresso atual não está disposto a aceitar mudanças que afetem privilégios da minoria, e o único ajuste que defende é o corte nos gastos sociais, diz o economista Mauricio Weiss. Para o historiador e economista Pedro Faria, os setores que propuseram e aprovaram a derrubada do decreto sabem que o aumento da taxa do IOF não prejudica os pobres, e o que eles querem mesmo é que o ajuste fiscal mantenha os juros altos e os subsídios fiscais às empresas, e diminua o investimento do Estado nas políticas sociais.

O que fazer diante disso, além de gravar o nome dos que deram seu voto para aprovar essa infame revogação? Informar-se bem; exercer o nosso direito de eleger deputados, senadores, governadores e presidentes que defendam leis e políticas que beneficiem os setores sociais mais vulneráveis; e engajar-se na reflexão sobre a função social e cidadã dos impostos e sobre passos e medidas viáveis para uma maior justiça tributária, que faça recair sobre os mais ricos uma maior responsabilidade tributária. Isso é empenho pelo justo ordenamento da sociedade e por uma economia justa e solidária.

Dom Itacir Brassiani msf

Bispo Diocesano de Santa Cruz do Sul

Chamados pelo nome

Jesus continua nos chamando, formando e enviando | 769 | 09.07.2025 | Mateus 10,1-7

Ontem notávamos que, diante da exiguidade de recursos e da pequenez da comunidade frente à extensão da missão, Jesus não desiste nem se desespera: chama e envia discípulos, e pede que rezemos para que mais gente se incorpore a essa caravana da compaixão e da esperança. Jesus sublinha também a urgência desta missão, pois a colheita madura corre o risco de se perder, as pessoas cansadas e abatidas correm risco de vida.

Hoje o evangelista nos apresenta o nome daqueles que são escolhidos por Jesus como colaboradores da missão. Eles são doze, para recordar as doze tribos do Israel antigo, que se organizaram de forma igualitária e descentralizada. De Jesus, recebem a autoridade para fazer o mesmo trabalho: anunciar a Boa Notícia da chegada do Reino de Deus; ensinar como corresponder adequadamente a essa novidade; dar sinais concretos dessa mudança curando e resgatando a vida dos sofredores.

Enviando discípulos em seu nome, Jesus está afirmando que não deseja ter junto de si uma espécie de grupo de adoradores dedicados ao culto e indiferentes ao mundo. A missão insere os discípulos no mundo com a responsabilidade de transformar, de curar, de ajudar a libertar as pessoas de todas as opressões. Como Jesus mesmo demonstrou, a prioridade dos chamados e enviados deve ser sair ao encontro do povo explorado e abandonado (as ovelhas perdidas são o rebanho sem pastor).

Proclamando a chegada do Reino de Deus e demonstrando-o com as ações de compaixão e solidariedade, os discípulos missionários estarão também desmascarando todo e qualquer reino que age diversamente ou contrariamente, inclusive o “império da lei”. No Reino de Deus há uma só lei soberana: a primazia da pessoa humana necessitada. Também aqui Jesus é o modelo, o caminho.

Na lista dos 12 escolhidos, além de nos brindar com o nome de cada um daqueles “ilustres anônimos”, o evangelista nos oferece algumas poucas informações: são duas duplas de irmãos; de dois deles são nomeados os pais; um é caraterizado como ativista social, e um outro como traidor. Se nosso nome estivesse nessa lista, como seríamos descritos?

 

Sugestões para a meditação

§ Deixe que cada nome dos escolhidos ressoe em você, que cada orientação de Jesus estimule sua caminhada

§ Seu nome também está nessa lista, as orientações missionárias de Jesus dizem também a seu respeito

§ O que significa hoje dar prioridade às “ovelhas perdidas”? Quem são as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade e correm riscos?

§ Como atualizar, em nosso tempo, a missão de expulsar demônios e curar as enfermidades?

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Uma grande colheita

A compaixão aquece nosso coração e nos põe a caminho | 768 | 08.07.2025 | Mateus 9,32-38

Ontem contemplamos a bela cena da cura de uma mulher que sofria de hemorragia, e de uma menina que foi “levantada” depois de ser prostrada pela morte precoce. O evangelho de Mateus registra que a notícia foi se espalhando, e assim chegou até nós. Na meditação, perguntávamos também se cremos, como a mulher e o pai da menina, que o toque de Jesus pode nos curar e levantar. No evangelho de hoje, Jesus continua curando, e continua sua peregrinação pelo santuário das dores humanas, anunciando o Reino de Deus, ensinando e curando enfermos.

Jesus sempre é tocado pelo sofrimento humano, mas não fica no simples sentimento. Diante de um povo abandonado à própria sorte pelas autoridades, de um povo que é descrito como cansado e abatido, espoliado e abandonado, uma profunda compaixão toma conta de Jesus e o move a tomar iniciativas para mudar a situação e devolver a cidadania e a vida plena às pessoas e grupos. A compaixão, essa capacidade de se importar profundamente com a dor dos outros, é o segredo e o motor da sua missão.

O surdo-mudo da cena de hoje é mais um símbolo vivo e eloquente desse povo marginalizado e dependente. Sob a pressão do exército romano e das múltiplas carências que o encarceravam, o povo não consegue nem levantar seu próprio lamento nem gritar seu protesto. A ação de Jesus livra as pessoas desse tormento, a multidão se admira, mas os fariseus investem contra Jesus, acusando-o de agir em nome do demônio. Nada, porém, impede que Jesus continue sua missão de compaixão, anunciando a Boa Notícia de Deus, ensinando e curando. A força da compaixão é mais potente que a ameaça dos “podres poderes”.

O que ocorre é que Jesus percebe claramente que sua missão ultrapassa suas possibilidades. Ele sabe que não dará conta de fazer tudo sozinho. Ele precisa contar com muito mais gente nesse ministério da compaixão, que vence a indiferença e reconstrói a vida de um povo dilacerado. Diante da exiguidade de recursos e da pequenez da comunidade frente à extensão da missão, Jesus não desiste nem se desespera: chama-nos, envia-nos, e pede que rezemos, e busquemos mais colaboradores. Trata-se de ter um coração ardente e pôr os pés a caminho.

 

Sugestões para a meditação

§ Acompanhe cada palavra e cada gesto ou ação desta cena, observando bem a atitude dos diversos personagens

§ O segredo da vida e o motor da missão de Jesus é a compaixão, seu envolvimento visceral com as pessoas que sofrem

§ O que esta cena e estas palavras de Jesus nos ensinam sobre a missão da Igreja e nossa nos dias de hoje?

§ Como você, e as lideranças da sua comunidade, reagem às críticas ou acusações frente às iniciativas de evangelização e solidariedade?

domingo, 6 de julho de 2025

Um encontro regenerador

Do encontro com Jesus, brota um manancial de vida | 767 | 07.07.2025 | Mateus 9,18-26

Nesta dupla cena descrita por São Mateus, temos a presença de vários elementos contrastantes: um chefe importante e reconhecido, e uma mulher anônima; a impotência dos oficiais e o poder libertador de Jesus; a doença e a cura; a prostração e a elevação; o ambiente público da rua e o espaço privado da casa; o pedido direto de uma pessoa socialmente relevante e o desejo secreto de uma mulher que não tinha ninguém por ela.

A ação libertadora de Jesus cura e reabilita duas pessoas que sofrem e são marginalizadas: uma mulher e uma menina, ambas do extrato social mais vulnerável e desprezado num ambiente patriarcal. Mas enquanto a menina tem família e é filha de uma pessoa que tem cargo de chefia, a mulher que vê sua vida se esvaindo em sangue parece não ter ninguém por ela.

A menina tem alguém por ela, e seu pai, reconhecendo que seu poder é impotente, se aproxima de Jesus e pede em favor da filha. A mulher que sofre de hemorragia, ciente de sua pequenez, não tem ninguém que possa interceder por ela, e não pede nada: apenas se aproxima de Jesus e toca no seu manto, mantendo em segredo seu desejo, mas revelando sua confiança.

Há um elemento comum entre o chefe (não se diz se é chefe dos romanos ou dos judeus) e a mulher que interrompe a caminhada de Jesus à casa da menina do chefe: a fé na ação restauradora de Jesus. Talvez esse chefe, que em relação às crianças faz o contrário de Herodes, represente um modelo alternativo de liderança cristã, centrado no cuidado dos mais vulneráveis.

A mulher se aproxima de Jesus, sem reverência, mas com grande fé, tanto que, nesse toque, Jesus reconhece sua fé e fica impressionado. O chefe também, a seu modo, crê que o toque de Jesus dará vida à sua filha. Para Jesus, a fé é que fez o trabalho de cura da mulher, por isso deve ela ter coragem, e a menina não está morta, mas precisa ser “elevada”, reestabelecida, reinserida na sociedade, ou seja, curada.

Como os escribas e fariseus, a multidão reunida na casa do pai da menina não espera nada de Jesus, e até caçoa dele. Diante disso, Jesus evita fazer gestos espetaculares, e pede que aqueles que esperam apenas isso se retirem da cena. A cura ocorre em modo reservado, mas a notícia se espalha e chega até nós. Cremos como a mulher e o pai da menina que o toque e a Palavra de Jesus podem nos curar e levantar?

 

Sugestões para a meditação

§ Acompanhe cada palavra, gesto ou ação desta cena, observando como as pessoas se dirigem a Jesus e o que ele faz por elas

§ O que a intercessão do pai da menina e a iniciativa da mulher doente podem nos ensinar?

§ É possível perceber como Jesus evita dar prioridade às necessidades de pessoas de classe superior em desfavor dos pobres?

Pouca coisa é necessária

EVANGELIZAR COM MEIOS POBRES

Muitas vezes entendemos a evangelização de uma forma estritamente doutrinal. Levar o Evangelho seria ensinar a doutrina de Jesus àqueles que ainda não a conhecem ou a conhecem insuficientemente.

Se entendermos as coisas assim, as consequências são óbvias. Precisaremos, antes de mais, de meios de poder para assegurar a propagação da nossa mensagem face a outras ideologias, modas e correntes de opinião.

Além disso, serão necessários cristãos bem formados, que conheçam bem a doutrina e sejam capazes de transmiti-la de forma persuasiva e convincente. Precisaremos também de estruturas, técnicas e pedagogias adequadas para propagar a mensagem cristã.

Em suma, será importante o número de pessoas preparadas que, com os melhores meios, consigam convencer o maior número de pessoas. Tudo isto é muito razoável e, sem dúvida, contém grandes valores. Mas quando se aprofunda um pouco na ação de Jesus e na sua ação evangelizadora, as coisas mudam muito.

O Evangelho não é apenas ou sobretudo uma doutrina. O Evangelho é a pessoa de Jesus: a experiência humanizadora, salvífica, libertadora que começou com Ele. Por isso, evangelizar não é apenas propagar uma doutrina, mas tornar presente no próprio coração da sociedade e da vida a força salvadora da pessoa de Jesus Cristo. E isso não pode ser feito de qualquer maneira.

Para tornar presente esta experiência libertadora, os meios mais apropriados não são os do poder, mas os meios pobres de que se serviu o próprio Jesus: amor solidário pelos mais abandonados, acolhimento de cada pessoa, oferta do perdão de Deus, criação de uma comunidade fraterna, defesa dos mais pequenos...

O importante, portanto, é contar com testemunhas em cuja vida se possa perceber a força humanizadora que a pessoa de Jesus encerra quando é acolhida com responsabilidade. A formação doutrinal é importante, mas apenas quando alimenta uma vida mais evangélica.

O testemunho tem primazia absoluta. São necessárias estruturas precisamente para sustentar a vida e o testemunho dos seguidores de Jesus. Por isso, o mais importante não é o número, mas a qualidade de vida evangélica que uma comunidade pode irradiar.

Talvez devêssemos escutar com mais atenção as palavras de Jesus aos seus enviados: «Não leveis saco, nem alforje, nem sandálias. Levai convosco o Meu Espírito!”

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

sábado, 5 de julho de 2025

Chamados e enviados

Todo o Povo d Deus é chamado a anunciar o Evangelho | 766 | 06.07.2025 | Lucas 10,1-20

Depois de relatar o envio dos Doze Apóstolos (9,1-6), Lucas nos apresenta Jesus enviando um novo grupo de discípulos. Parece que os primeiros enviados anunciaram um Evangelho filtrado pela ideologia nacionalista, foram refutados pelos samaritanos e tentados a demonstrar poder e recorrer à vingança. Como não haviam entendido bem o que significa seguir Jesus (“ir atrás”), também não conseguiram ser verdadeiros apóstolos do Reino de Deus (“ir à frente”).

Jesus observa preocupado a carência de evangelizadores e envia um amplo grupo. O novo grupo é seis vezes maior que o grupo dos Doze, e se lhes pede que busquem mais colaboradores. A cifra 72 corresponde ao número de nações conhecidas na época, o que significa que o horizonte da missão de Jesus e seus discípulos é o mundo inteiro. É bem provável que a maioria das pessoas desse novo grupo provenha do ambiente samaritano, menosprezado pelos judeus ortodoxos, e que muitas sejam mulheres.

Jesus pede que os enviados não se comportem como príncipes em meio a plebeus, como chefes que se colocam acima dos súditos. Ele sublinha que eles devem ser como cordeiros dóceis e confiantes em meio a lobos ameaçadores. Mesmo num ambiente hostil, não podem partir armados para se defender, e muito menos para atacar. Quem caminha com Jesus, não pode cotejar a violência e imitar gestos de ataque ou execução, tão em moda entre nós nos últimos anos, instigados por um certo capitão.

Jesus assegura aos seus discípulos missionários que nada lhes fará mal, que pisarão incólumes cobras, escorpiões e forças contrárias. Mas não diz que pisarão sobre as pessoas que nos ameaçarem! Podem até protestar, sacudindo a poeira das estradas percorridas, mas não mais que isso, e sem deixar de anunciar a Boa Notícia de Jesus. E este Evangelho não é “bandido bom é bandido morto”, ou lei e as grades para os “humanos tortos”.

“A paz esteja nesta casa! O Reino de Deus está próximo de vocês!” Este é o anúncio dos enviados, inclusive aos pagãos e às cidades e situações em que não são bem aceitos. Eles devem pedir hospedagem na vida e na casa das pessoas e povos, chegar pedindo licença, e não com postura de patrões. Jesus pede que não levem sandálias, bolsas e sacolas, nem cartilhas morais que condenam e excluem, nem togas de juízes...

 

Sugestões para a meditação

§ Releia o texto com a imaginação, participando do envio com os 72 e milhares de outros, no passado e hoje

§ Observe com atenção as (poucas e essenciais) orientações que Jesus dá aos que são enviados em seu nome

§ Quais são as orientações que damos hoje aos catequistas e outros líderes que assumem missões e serviços na Igreja?

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Sobre remendos e vinhos

Uma vida que vem de graça merece ser festejada 765 | 05.07.2025 | Mateus 9,14-17

Ontem meditamos sobre o texto de Mt 9,9-13, que narra o chamado de Mateus e a festa que ele deu a Jesus na sua casa. Participaram da festa muitos pecadores e excluídos, como ele. Diante do escândalo dos fariseus, Jesus dizia que Deus quer misericórdia, e não sacrifícios, e que são os doentes os que precisam de médico. E é assim que ele faz: derruba todos os muros que separam e degraus que hierarquizam, e estabelece a igualdade.

Na cena de hoje, quem se aproxima é um discípulo de João Batista. Ele estranha o comportamento de Jesus que, segundo seu grupo, é pouco piedoso em relação ao jejum.  E o mesmo comportamento questionável é assumido pelos discípulos. “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?” Não parece ser uma acusação, mas um questionamento sincero de quem havia recebido uma clara ordem de jejum e penitência e estava à espera do messias prometido pelos profetas.

Para Jesus, o tempo de espera terminou, o Sol da justiça raiou, o Noivo amado celebrou suas núpcias e o clima só pode ser de alegria. Os estrangeiros, doentes e pecadores, e todos os excluídos, são perdoados gratuitamente. Não há mais lugar para o jejum, que é uma prática para suplicar o perdão de Deus. A chegada de Jesus, o Messias esperado, perdoa os pecados e altera radicalmente a situação social e espiritual.

Para ilustrar a novidade do tempo que inaugura, Jesus lança mão de três alegorias ligadas à vida cotidiana do seu povo e de fácil compreensão para todos: é inadmissível fazer luto e jejum quando estamos festejando de casamento de uma pessoa querida; é idiotice colocar um remendo de pano novo e bom num tecido totalmente arruinado; é inapropriado guardar vinho novo em barris velhos e frágeis, que podem pôr tudo a perder.

Os discípulos de Jesus vivem em comunidades alternativas, dedicados a acolher as pessoas e grupos marginalizados e a celebrar a alegria da chegada do “tempo da graça”, da festa dos pequenos. As práticas antigas são como roupa velha e como uma pipa apodrecida. É tempo de abandonar as velhas lições de morrer pela pátria e viver sem razões. Esperar não é saber. É preciso fazer a hora, sem esperar acontecer.

 

Sugestões para a meditação

§ Como poderíamos descrever hoje a novidade do estilo de vida inaugurado e proposto por Jesus?

§ Quais seriam as práticas antigas que o Evangelho considera superadas, mas que muita gente ainda continua pregando?

§ Quais seriam os principais remendos que uma vida pouco cristã tenta pregar o tecido apodrecido do capitalismo e do egoísmo?

§ O que podemos fazer para tornar a vida cristã mais alegre, leve e libertadora?

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Acolher ou excluir?

Deus espera gestos de misericórdia, e não sacrifícios | 764 | 04.07.2025 | Mateus 9,9-13

Depois de curar uma pessoa paralítica, que contou com a ajuda de pessoas amigas, Jesus não reivindica para si mesmo os créditos do perdão e da cura. Ele passa do perdão – que é uma ação interior, cujos frutos não são visíveis – à cura, que é o lado visível e corporal da mesma ação. Diante do que viu, o povo ficou muito impressionado, com medo, e glorificou a Deus por ter dado tal poder a Jesus e aos seus discípulos.

Na cena de hoje, Jesus se encontra com Levi, que é cobrador de impostos, colaborador do império romano e, por isso, também considerado pecador, execrado e banido da convivência social e religiosa pelos judeus. Jesus não se orienta por preconceitos que excluem, nem por aparências ou exterioridades. Partindo da base social, ele chama e congrega pessoas de boa vontade para, com elas, iniciar uma comunidade alternativa.

Levi, que a tradição cristã identifica com São Mateus, responde prontamente ao chamado de Jesus, e entra no seu caminho. Como não exclui ninguém da mesa do Reino, desde que a pessoa entre no dinamismo do Reino de Deus, Jesus se confraterniza com Levi, seus colegas cobradores de impostos e muitas outras pessoas tratadas consideradas pecadoras. Pecador é o termo usado pelas sagradas escrituras para designar quem desaprova ou não vive de acordo com as normas de um grupo.

Essa prática inclusiva e inovadora de Jesus desestabiliza a ordem social, e, por isso, é criticada pelos fariseus e mestres da lei. Esta manifestação da misericórdia de Deus é vista como em desacordo com a vontade de Deus. A condescendência e a justiça de Deus, assim como é entendida e praticada por Jesus, deslegitima as práticas excludentes do judaísmo e seus representantes, e também dos seus sucessores nas igrejas de hoje.

Levi tomará parte desta comunidade vivificadora que compartilha recursos e estabelece relações estáveis de acolhida e inclusão, e passa a ser visto pelos cristãos como modelo de discípulo e apóstolo. Ele entendeu que Deus quer misericórdia, e não legalismo, que Jesus veio para quem está necessitado, e não para quem se considera satisfeito. E esse deve ser o caminho das Igrejas e todos os seus organismos.

 

Sugestões para a meditação

§ Retome a cena de Mateus trabalhando, sendo interpelado por Jesus, deixando tudo para segui-lo, e confraternizando-se com ele

§ Participe da cena, da alegria de Mateus e outros pecadores, da postura crítica dos fariseus e líderes do judaísmo

§ Contemple a vida de Jesus e, com Mateus, acolha e aprenda essa lição fundamental: Deus quer misericórdia e não sacrifícios

§ Como nós e nossas igrejas acolhemos e praticamos esse princípio fundamental que orienta toda a vida e a missão de Jesus?

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Tomé, o mestre da dúvida?

Nossa fé está ancorada no testemunho dos Apóstolos | 763 | 03.07.2025 | João 20,24-29

Na festa de São Tomé, bebemos das fontes joaninas. É em João que encontramos algo mais que o nome desse operário da primeira hora. Além da cena de hoje, João nos apresenta Tomé disposto a seguir Jesus na caminhada a Jerusalém para com ele enfrentar a morte, mas, diante do iminente “êxodo” de Jesus, manifesta seu profundo desconcerto: “Não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5)

O contexto da cena do evangelho de hoje é pascal, e Tomé aparece separado da comunidade, com dificuldade de aceitar o testemunho dos seus condiscípulos, que afirmam que Jesus está vivo. Para Tomé, o testemunho da comunidade não é suficiente. Parece que ele espera uma manifestação individual ou uma prova extraordinária. Mas o lugar de Jesus é entre os seus, como entendera bem Maria Madalena. Por isso, ao que parece, Tomé representa os discípulos que impõem condições e exigências para crer.

Mas, não obstante a dúvida dele, ou, talvez, por causa das objeções apresentadas por ele, Jesus volta a se mostrar presente no seio da comunidade. As portas fechadas denotam uma comunidade claramente alternativa à lógica que predomina na sociedade, uma comunidade com um estilo de vida próprio. E Jesus se manifesta a todos os presentes, e não apenas a Tomé, como parece ter sido o desejo dele. Depois de se dirigir a todos, finalmente volta-se a Tomé. Como prova do seu amor fiel, Jesus toma a iniciativa no diálogo, e o convida a tocar os sinais da sua entrega total, conatural e inseparável do seu amor e sua memória.

A ressurreição de Jesus não significou seu afastamento da humanidade, mas a realização máxima da vocação humana. Tocando nas chagas de Jesus, Tomé finalmente comunga e faz sua a carne e o sangue de Jesus. E, ao chamá-lo “meu Senhor”, estabelece com ele uma relação pessoal, como Madalena o fizera. Dirigindo-se a Deus como “meu Deus”, reconhece em Jesus um Deus próximo, humano, e não um Deus altíssimo e inacessível. 

Finalmente, Jesus adverte Tomé por ele não ter acreditado no testemunho da sua comunidade, lugar da sua presença viva e continuada. E a bem-aventurança de quem acredita sem ver, que a Tomé soou como um convite a caminhar no claro-escuro da fé, Jesus a dirige também a nós, pois aceitamos e vivemos segundo o testemunho de quem nos precedeu.

 

Sugestões para a meditação

§ Participe da cena descrita, da alegria e do testemunho dos discípulos, da resistência de Tomé, da delicadeza da presença de Jesus

§ Visualize o rosto e o nome de pessoas, de ontem e de hoje, a partir de cujo testemunho de vida você acredita na presença de Deus no mundo

§ Em que situações você se percebe impondo condições para crer em Jesus e segui-lo, querendo ver para crer?