terça-feira, 30 de abril de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (336)

336 | Ano B | 5ª Semana da Páscoa | Quarta-feira | João 15,1-8

01/05/2024

Jesus se compara a verdadeira videira. Esta videira se contrapõe e toma o lugar de uma outra videira potencialmente falsa. E a videira não-verdadeira é Israel, no seu significado de unidade política e religiosa, fechada em si mesma, exploradora dos pobres e a serviço dos privilegiados.

A relação de Jesus com os/as discípulos/as é de recíproca dependência: a cepa só pode frutificar através dos ramos, e os ramos só produzem frutos se permanecem ligados à cepa. “Fiquem unidos a mim e eu ficarei unido a vocês... Porque sem mim vocês não podem fazer nada”. Jesus conta com as nossas ações para amar e servir.

Assim como os ramos nada produzem sem a seiva que lhes vem gratuitamente da cepa, também os/as discípulos de Jesus pouco conseguem fazer se não permanecerem ligados/as a Jesus Cristo. É uma união de atitudes fundamentais, uma identificação com seu dinamismo de amor e dom total. É na força dessa união que serão promotores da Justiça e da paz. Sem isso serão ramos estéreis.

Para que produza frutos bons e abundantes, o vínculo dos discípulos com Jesus, como a inserção do ramo na cepa, não pode ser um dado estático, mas um processo ativo e vivo que conhece exigências e requer decisões, um dinamismo de permanente limpeza e poda. “Os ramos que dão fruto, o Pai os poda para que deem mais frutos ainda”, diz Jesus. E a poda é sempre uma intervenção exigente.

Na videira, a prática da poda tem como objetivo eliminar os fatores de debilitação e de morte e, ao mesmo tempo, direcionar as energias para que resultem em bons e abundantes frutos. Para o/a discípulo/a, o seguimento de Jesus Cristo na ceia, no lava-pés e na cruz que leva à ressurreição é um caminho de progressiva inserção numa comunidade e de conversão do ‘eu’ para o ‘nós’.

Permanecer unido/a a Jesus Cristo não significa apenas frequentar o culto ou a missa assiduamente. É muito mais que isso, e se mostra num modo de viver e se relacionar. Por isso, Jesus insiste que precisamos manter e aprofundar nossa adesão ao seu projeto, ao seu caminho: fazer-se próximo, não perder a vida correndo atrás de ambições vazias, entregá-la a serviço dos outros.

 

Meditação:

·    Recomponha na memória a bela e sugestiva alegoria, dando asas à imaginação para entender seu alcance

·    Qual é o significado e as implicações de permanecer unido a Jesus como o ramo não pode separar-se da cepa?

·    Qual é o sentido e as implicações da “poda” na videira e na vida dos discípulos e discípulas de Jesus que já produzem bons frutos?

·    E quais são as implicações do fato de que a cepa (Jesus) produz frutos unicamente nos ramos (os cristãos)?

segunda-feira, 29 de abril de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (335)

335 | Ano B | 5ª Semana da Páscoa | Terça-feira | João 14,27-31

30/04/2024

Estes breves versículos são densos e intensos. Eles representam a conclusão da primeira parte do diálogo de Jesus com os discípulos, após a ceia. Jesus vê estampado nos olhos deles o medo e a perturbação e, mesmo assim, não os poupa da verdade: ele deve ir, partir, ausentar-se brevemente. Mas o faz para voltar mais tarde, e voltar plenamente. Por isso, deixa-lhes a paz, e quer que vivam alegres e confiantes, como discípulos maduros.

“Paz” é a palavra de despedida da comunidade judaica. Utilizando esta saudação, Jesus sublinha que não a faz como todo mundo costuma fazer. É sua saudação pessoal, que não é um adeus, mas um “até breve” ou “até logo”, com reforço no advérbio de tempo. Ele não se despede, porque ele vai para voltar, ele vai e fica, ele vai ficando. Esta sua ida é indispensável, porque nela, na cruz por amor, ele tornará concreto e irrefutável o amor de Deus pela humanidade.

Jesus diz que não poderá falar muito porque deve partir, porque sua partida é iminente e o tempo é breve. Na verdade, será preso naquela mesma noite. Por isso, Jesus fala da aproximação do “chefe deste mundo”, que personifica as forças e estruturas que oprimem e dominam, inclusive aquelas que agem em nome da religião. Mas Jesus deixa claro que este chefe não tem força de mando ou poder de intimidação sobre ele: quem tem a Palavra é o Pai.

Jesus decide trilhar o caminho da paixão e morte não porque “o chefe deste mundo” tem poder sobre ele, mas porque assim cumprirá a vontade do Pai, que o quer radicalmente compassivo e solidário com as vítimas de todos os tempos, sinal concreto do imenso, generoso e eterno amor do Pai. Isso não deixará dúvidas sobre a autenticidade da sua mensagem e da sua identificação com o querer e o agir do Pai em benefício da humanidade.

Jesus prefere entregar sua vida para ao invés de ceder à lógica do mundo, e, assim, o vence. Por isso, é bom que ele vá ao Pai, passando pela cruz. Sua acolhida nos braços daquele que “é maior” é a confirmação de que ele, humano que é, vem do Pai, fala o que ouviu do Pai e faz aquilo que vê o Pai fazer. E convida os discípulos a levantar e seguir com ele.

 

Meditação:

·    Coloque-se mentalmente junto aos discípulos, perturbados com o anúncio da sua morte e com a previsão de que seria traído por um dos seus discípulos

·    Acolha as palavras de despedida de Jesus, a afirmação de que vai para voltar, que vai ficando, o seu “até breve!”

·    Tome consciência dos medos, fragilidades e carências que perturbam você, sua família e sua comunidade

·    Procure experimentar a alegria que nos vem da certeza de que é bom para nós que Jesus volte ao Pai, que o enviou e sempre o envia

domingo, 28 de abril de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (334)

334 | Ano B | 5ª Semana da Páscoa | Segunda-feira | João 14,21-26

29/04/2024

Saltando alguns versículos que prosseguem o trecho meditado no último sábado, os quais apresentam a promessa de Jesus de enviar aos seus discípulos/as um “outro Advogado”, o “Espírito da Verdade”, este trecho afirma a presença de Deus nas relações fraternas, solidárias e servidoras dos seus discípulos e discípulas. Não somos apenas nós que podemos morar na casa de Deus; ele mesmo pode estabelecer em nós sua morada.

Esta é a primeira vez que Jesus fala do amor dos discípulos a ele. Até este momento, ele falara apenas da necessidade de amar os irmãos e irmãs, e de estar disponível às necessidades do povo. Nesta perspectiva, crer em Jesus significa aderir amorosamente a ele, comportar-se como ele, compartilhar seus sonhos, seus pensamentos e suas atitudes. Mas o amor a ele se encarna e se mostra necessariamente no amor aos irmãos e irmãs, no amor que nos torna irmãos, porque não é mero sentimento. A ação em benefício dos outros é a única forma de concretizar o amor.

Este amor só é chamado de mandamento porque é norma de vida, e fundamenta e substitui todos os demais códigos de leis. No evangelho de João, Jesus jamais cita ou enumera os dez mandamentos, pois entende que só existe um mandamento. O amor fraterno e concreto é a chave que abre a porta para que o Pai e o Filho façam em nós sua morada. Sendo o que “acomuna” o Pai e o Filho, o Espírito Santo de Amor é também o que une os discípulos entre si, a Jesus e ao Pai. Enquanto algo a ser proclamado, esse amor recebe o nome de mensagem; enquanto norma de vida, é chamado de mandamento; enquanto dinamismo de Deus em nós, é apresentado como Espírito Santo.

Jesus adverte seus discípulos e discípulas sobre o fato de que amá-lo significa guardar sua Palavra, ou sua ordem, de amarmo-nos como ele nos amou, implica em comportar-se como ele em relação a tudo e todos/as. Sendo a essência do Espírito de Deus, o amor transforma a comunidade cristã e os milhões de discípulos/as anônimos/as em infinitas vivendas mediante as quais Deus se faz presente no mundo. Não o adoramos em santuários ou templos, mas em espírito e verdade, mediante atitudes e ações muito concretas.

 

Meditação:

·    Recomponha na memória as palavras que Jesus dirige aos discípulos, depois da ceia e prestes a ser preso e crucificado

·    Situe-se junto com os discípulos, perturbados com o gesto extremo de fraternidade de Jesus expresso no lava-pés, com o anúncio da sua morte e com a previsão de que seria traído por um dos seus discípulos mais íntimos

·    Será que na voz de Judas se expressa a ideologia, ainda muito presente em nós, que espera de Jesus manifestações gloriosas e espetaculares, jamais a manifestação íntima e discreta aos discípulos e na cruz?

sábado, 27 de abril de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (333)

333 | Ano B | 5ª Semana da Páscoa | Domingo | João 15,1-8

28/04/2024

Jesus se compara à “verdadeira videira”. Esta videira se contrapõe e toma o lugar de uma outra videira, potencialmente falsa. E a videira não-verdadeira é Israel, no seu sentido de unidade política e religiosa, fechado em si mesmo e a serviço dos privilegiados, representada pelo “pessoal do templo”.

Como no caso da videira e dos ramos, a relação de Jesus com os/as discípulos/as é de recíproca dependência: a cepa só pode frutificar através dos ramos, e os ramos só produzem frutos se permanecerem ligados à cepa. “Fiquem unidos a mim e eu ficarei unido a vocês... Porque sem mim vocês não podem fazer nada”. Jesus conta com as nossas ações para amar e servir.

Assim como os ramos nada produzem sem a seiva que lhes vem gratuitamente da cepa, também os/as discípulos de Jesus pouco conseguimos fazer se não permanecermos ligados/as a Jesus Cristo. É uma união de atitudes fundamentais, uma identificação com seu dinamismo de amor e de dom. É na força dessa união que construímos a Justiça e a paz. Sem isso seremos ramos estéreis, que para nada servem, e devem ser cortados.

Para que produzam frutos bons e abundantes, o vínculo dos discípulos com Jesus Cristo não pode ser um dado estático, mas um processo ativo e vivo, que conhece exigências e requer decisões, um dinamismo de permanente limpeza e poda. “Os ramos que dão fruto, o Pai os poda para que deem mais frutos ainda”, diz Jesus. E a poda é sempre uma intervenção exigente.

Na videira, a prática da poda tem como objetivo eliminar os fatores de debilitação e de morte e, ao mesmo tempo, direcionar as energias para que resultem em bons e abundantes frutos. Para o/a discípulo/a, o seguimento de Jesus Cristo na ceia, no lava-pés e na cruz que leva à ressurreição é um caminho de progressiva inserção numa comunidade e de conversão do ‘eu’ para o ‘nós’.

Permanecer unido/a a Jesus Cristo não significa apenas frequentar o culto ou a missa assiduamente. Por isso, Jesus insiste que precisamos manter e aprofundar nossa adesão ao seu projeto, ao seu caminho: fazer-se próximo, não perder a vida correndo atrás de vaidades, entregá-la a serviço dos outros.

 

Meditação:

·    Recomponha na memória a bela e sugestiva alegoria, dando asas à imaginação para entender seu alcance

·    Qual é o significado e as implicações de permanecer unido a Jesus como o ramo não pode separar-se da cepa?

·    Qual é o sentido e as implicações da “poda” na videira e na vida dos discípulos e discípulas de Jesus que já produzem bons frutos?

·    E quais são as implicações do fato de que a cepa (Jesus) produz frutos unicamente nos ramos (os cristãos)?

A luz do Evangelho em nossa vida (332)

332 | Ano B | 4ª Semana da Páscoa | Sábado | João 14,7-14

27/04/2024

Esta é a Palavra do Evangelho que ilumina a nossa vida neste sábado da quarta semana do tempo pascal. Esta passagem faz parte da comovida catequese que Jesus desenvolve logo depois da ceia e do lava-pés, para orientar e confortar os discípulos, que estavam assustados. Filipe, um discípulo do grupo dos Doze, pede que Jesus lhes mostre o Pai. “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”!

Jesus já havia deixado claro que é nele – nas relações de amor compassivo que ele viveu e entregou-nos como mandamento – que temos acesso ao Pai, pois ele é o caminho, a verdade e a vida. Por isso, responde quase que lamentando a dificuldade de Filipe e dos demais: “Se me conheceis, conhecereis também o meu Pai. Há tanto tempo estou convosco e não me conheces? Quem me vê, vê o Pai. Crede, ao menos, por causa destas obras...”

O problema de Filipe é o mesmo problema da Igreja, o nosso problema. Custa-nos aceitar que o Deus que revestimos de infinitude e colocamos no altíssimo nos seja dado a conhecer nas ações concretas e no corpo de Jesus de Nazaré. Não é que queiramos ver mais; queremos ver outras coisas, menos concretas, mais abstratas e passíveis de manipulação; coisas mais doutrinais e menos interpeladoras, como o é lavar os pés dos/as irmã/os, alimentar os famintos, resgatar a cidadania de quem está à margem e dar a vida sem reservas.

O problema continua e se torna mais sério quando e na medida em que queremos dar a impressão de que conhecemos Jesus, e fazemos o possível para impor nossa ideia a quem crê diversamente. A tentação da qual não nos livramos facilmente é esta: fazer Jesus “vestir o figurino” que de antemão preparamos para ele, obrigá-lo a fazer aquilo que decidimos que aprendemos que ele deve fazer em nossas faculdades de teologia e gabinetes doutrinais.

Imagino Jesus dirigindo-se a nós, dizendo afirmativamente: “Há tanto tempo estou convosco e não me conheces...” Crer nele é fazer aquilo que ele faz, prosseguir sua ação libertadora, entrar no caminho da compaixão, armar a tenda dos nossos sonhos e projetos no chão da humanidade ferida e sedenta de vida. O resto é culto às vaidades que passam, serviço aos poderes que oprimem, fuga da responsabilidade que nos torna humanamente maduros/as.

 

Meditação:

·      Recomponha na memória os gestos as palavras desse diálogo de Jesus com os seus discípulos no ambiente da última ceia

·      Será que também nós partilhamos da cegueira de Filipe, e não reconhecemos Deus naquilo que Jesus faz e pede?

·      Quais são as ações de Jesus que expressam de modo mais eloquente e libertador a ação do Pai?

·      Como podemos nós, em nosso tempo, recriar esta ação de Jesus, inclusive com maior alcance e eficácia?

O Evangelho dominical (Pagola) - 28.04.2024

CONTACTO VITAL

Segundo o relato evangélico de João, na véspera da sua morte, Jesus revela aos seus discípulos o seu desejo mais profundo: «Permaneçam em mim». Conhece as suas covardias e sua mediocridade. Em muitas ocasiões recriminou-os pela sua pouca fé. Se não permanecem vitalmente unidos a ele, não poderão subsistir.

As palavras de Jesus não podem ser mais claras e expressivas: «Assim como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vocês não podem dar fruto, se não permanecerem em mim». Se não se mantiverem firmes naquilo que aprenderam e viveram com ele, sua vida será estéril. Se não viverem do seu Espírito, o que foi iniciado por ele será extinto.

Jesus utiliza uma linguagem forte: «Eu sou a videira e vocês são os ramos». Nos discípulos há de correr a seiva que vem de Jesus. Os discípulos nunca devem esquecer isso. «Aquele que permanece em mim e eu nele, esse dá frutos abundantes, porque sem mim nada podeis fazer». Separados de Jesus, os discípulos não podem nada.

Jesus não só lhes pede que permaneçam nele. Diz-lhes também que as «suas palavras permanecem neles». Que não as esqueçam. Que vivam do seu Evangelho. Essa é a fonte da qual devem beber. Já lhes tinha dito em outra ocasião: «As palavras que vos disse são espírito e vida».

O Espírito do Senhor Ressuscitado permanece hoje vivo e operante na sua Igreja de múltiplas formas, mas a sua presença invisível e silenciosa adquire traços visíveis e uma voz concreta graças à memória guardada nos relatos evangélicos daqueles que o conheceram de perto e o seguiram. Nos evangelhos entramos em contato com sua mensagem, o seu estilo de vida e o seu projeto para o reino de Deus.

Por isso, nos evangelhos encontra-se a força mais poderosa que as comunidades cristãs possuem para regenerar as suas vidas. A energia que necessitamos para recuperar a nossa identidade como seguidores de Jesus. O evangelho de Jesus é o instrumento pastoral mais importante para renovar hoje a Igreja.

Muitos bons cristãos nas nossas comunidades só conhecem os evangelhos «de segunda mão», através de testemunhas Tudo o que sabem sobre Jesus e a sua mensagem provém daquilo que puderam reconstruir a partir das palavras dos pregadores e dos catequistas. Vivem a sua fé sem ter um contato pessoal com as palavras de Jesus.

É difícil imaginar uma nova evangelização sem proporcionar às pessoas um contato mais direto e imediato com os evangelhos. Nada tem mais força evangelizadora do que a experiência de escutar juntos o evangelho de Jesus a partir das perguntas, dos problemas, dos sofrimentos e das esperanças do nosso tempo.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

quinta-feira, 25 de abril de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (331)

331 | Ano B | 4ª Semana da Páscoa | Sexta-feira | João 14,1-6

26/04/2024

Este texto está situado no contexto do lava-pés, como parte de uma catequese que desenvolve o significado desse gesto de Jesus para confortar os discípulos. Na verdade, eles ficam desconcertados e confusos com o ensino e a prática de Jesus, como também pela percepção de que traições se desenhavam entre eles.

Estava clara uma espécie de divórcio entre as expectativas de sucesso, segurança e libertação política que os discípulos alimentavam, por um lado, e a proposta de Jesus centrada na reconciliação e na fraternidade, no serviço gratuito aos mais vulneráveis, por outro. O gesto do pão e do vinho, antecipando a sua paixão e morte, e o sinal do lava-pés, afirmando a igualdade fundamental de todos diante de Deus, chega a escandalizá-los.

Neste diálogo, Jesus procura consolar e confortar aqueles/as que ele ama e que o seguem. E começa afirmando que no “lar” do Pai, de onde ele vem e para onde ele volta, existe lugar para todos/as, lugar que o próprio Jesus prepara. Mas para chegar lá, os discípulos devem leva-lo mais a sério. “Acreditem no Pai acreditando em mim”, diz Jesus, de modo imperativo. É assim que poderão ser acolhidos por Jesus na plenitude e gratuidade do amor que ele vive.

Mas, para chegar e habitar na intimidade familiar com o Pai e experimentar a vida em sua plenitude só há um caminho: o estilo de vida de Jesus, o caminho do amor sem medida, que relativiza a própria vida. Vida é a meta, o termo da caminhada. Neste caminho que é Jesus, o/a discípulo descobre a verdade sobre si mesmo/a e sobre Deus: nascemos do amor, vivemos por amor e morremos por amor. O amor está no caminho, no dinamismo de crescimento e amadurecimento, e a vida é a meta ou o resultado esperado.

O caminho, a verdade e a vida é a pessoa e o Evangelho Jesus, e não esta ou aquela religião, esta ou aquela doutrina, uma ou outra denominação cristã. Como discípulos/as, jamais poderemos relativizar a pessoa e a proposta de Jesus. Se o fizermos, estaremos caindo na mentira, perdendo-nos nas encruzilhadas, caindo prisioneiros/as da morte, fora do nosso “lar”.

 

Meditação:

·    Recomponha na memória os gestos as palavras desse diálogo de Jesus com os seus discípulos no ambiente da última ceia

·    Será que também nós perdemos a noção da meta da vida cristã (a vida plena no amor sem medidas) e, por isso, estamos confusos?

·    O que mais nos deixa perplexos e confusos, no atual momento da Igreja, do Brasil e do mundo? Ou somos indiferentes a tudo?

·    O que seria concretamente a “verdade” e a “vida” para as quais Jesus afirma ser o caminho?

·    Cremos em Deus acreditando verdadeiramente em Jesus, ou projetamos em Jesus nossas surradas ideias sobre Deus?

quarta-feira, 24 de abril de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (330)

330 | Ano B | Festa de São Marcos, Evangelista | Marcos 16,15-20

25/04/2024

Mesmo estando inserido no contexto da ressurreição de Jesus, o texto hoje está referido a Marcos, cristão de Jerusalém, companheiro de missão de Pedro e de Paulo e redator do segundo evangelho canônico. Propondo-nos este texto, a Igreja sugere que coloquemos Marcos, evangelista e missionário, no rol das grandes testemunhas da páscoa de Jesus, ampliando o mandato que, normalmente, é visto como restrito aos apóstolos.

Este trecho da Palavra de Deus está inserido no contexto das aparições de Jesus crucificado e ressuscitado aos discípulos/as. Trata-se da terceira manifestação, desta vez aos onze discípulos, numa refeição. Jesus começa desaprovando a falta de fé e a dureza de coração daquele grupo escolhido e ao qual Jesus dedicara uma intensa formação. Eles não haviam acreditado naqueles que lhes anunciavam que tinham visto Jesus ressuscitado.

Mesmo assim, Jesus manifesta total confiança nos discípulos, e põe na mão e nos lábios deles a missão de anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus e de continuar sua ação própria libertadora. A universalidade dessa missão é mais que ressaltada nestes poucos versículos: eles são enviados ao mundo todo para anunciar o Evangelho de Deus a todas as criaturas. Nada nem ninguém pode ficar sem a luz do Evangelho!

Os sinais que atestarão a veracidade da missão dos discípulos missionários são os mesmos que acompanharam a missão de Jesus: eles viverão a compaixão, que impede a indiferença diante das pessoas oprimidas; libertarão as pessoas dos males que as amarram e despersonalizam; curarão as pessoas das suas enfermidades; não se acanharão e não deixarão de anunciar e construir o reino de Deus diante de qualquer ameaça ou perigo.

Tendo Jesus sido elevado ao céu e sentado à direita de Deus – em outras palavras, tendo sido reconhecido plenamente na sua divindade – Marcos diz que os discípulos partiram e pregaram o Evangelho de Jesus por toda parte, e o anúncio deles era confirmado pelos sinais que o acompanhavam. Finalmente, eles conseguem entender o significado da vida, da morte e da ressurreição de Jesus: é muitíssimo mais que esperar a ressurreição depois da morte. E eis que os discípulos medrosos se tornam missionários generosos!

 

Meditação:

·    Você sente-se pessoalmente enviado por Jesus? Enviado a quem e para anunciar qual mensagem?

·    Há algo que limita ou enfraquece o vigor da sua missão?

·    Quais são os sinais que acompanham o seu anúncio e as suas palavras sobre Jesus e o Evangelho?

·    O que a dedicação de Marcos ao Evangelho nos ensina hoje?

terça-feira, 23 de abril de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (329)

329 | Ano B | 4ª Semana da Páscoa | Quarta-feira | João 12,44-50

24/04/2024

Este episódio do evangelho está no contexto da festa da dedicação do templo de Embora apresentem cenas da vida de Jesus antes da morte e ressurreição, os evangelhos são totalmente pós-pascais, e precisam ser lidos nesta perspectiva. É isso que estamos fazendo desde o segundo domingo da Páscoa.  E o texto de hoje está situado no final da primeira parte do evangelho segundo João, imediatamente antes da narração da ceia e do lava-pés, cena com a qual inicia-se a narração da paixão, morte e ressurreição de Jesus.

Sobre Jesus já pesava um decreto de morte, e ele estava plenamente consciente disso. É por isso que ele andava se escondendo, mas não se furtava de dizer aquilo para o qual o Pai o havia enviado. As palavras de hoje são as últimas que Jesus pronuncia diante de todos/as os/as ouvintes, pois doravante falará apenas com seus discípulos/as e com seus perseguidores. E é a terceira vez que Jesus fala alto, gritando (como em  Jo 7,28.37). Escutemos atentamente!

Em seu discurso, Jesus sublinha que suas ações e palavras são luz, amor solidário que conduz à vida. São um caminho diametralmente oposto às trevas, que são o egoísmo doentio, que produzem opressão e levam à morte. Quem o encontra é posto numa encruzilhada, e deve escolher entre luz e trevas. Nesta oposição nada metafísica e profundamente histórica, Jesus resume sua missão, como João já o fizera no primeiro capítulo do seu evangelho.

E o que Jesus faz e ensina não é aquilo que ele gosta ou acha oportuno, mas aquilo que o Pai pede que ele diga e faça. Ele não faz nada por si mesmo, e sente-se honrado em ser enviado, em cumprir a vontade do Pai. Ele dispensa qualquer protagonismo, pois basta-lhe a plena comunhão com o Pai no ensino e na ação. Para conhecermos Deus precisamos olhar para Jesus diz e faz, renunciando às ideias preconcebidas e aos conceitos abstratos.

Ele é caminho para a vida, e salva-nos suscitando em nós a capacidade de amar como ele ama. Por isso, este é “a” ação do Pai, especialmente no gesto de repartir o pão e lavar os pés dos seus discípulos. Quem escolhe outro caminho, prepara o próprio malogro e ruína, não chega a realizar-se como ser humano.

 

Meditação:

·    Olhando para o que Jesus faz, e escutando o que ele ensina, conseguimos ver e ouvir Deus Pai?

·    Ou permanecemos com ideias preconcebidas sobre Deus e procuramos desesperadamente adequá-las a Jesus?

·    Jesus não fala aqui de mandamentos, mas de mandamento (no singular): qual é mesmo este único mandamento do Pai que se mostra em Jesus?

·    O que significa para nós, que meditamos diariamente o Evangelho, ouvir e guardar a Palavra de Jesus Cristo?

segunda-feira, 22 de abril de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (328)

328 | Ano B | 4ª Semana da Páscoa | terça-feira | João 10,22-30

23/04/2024

Este episódio do evangelho está no contexto da festa da dedicação do templo de Jerusalém, quando Jesus se apresenta como porta que conduz à vida e pastor que conhece seu rebanho e cujas ovelhas reconhecem e seguem sua voz. Mesmo que o templo abrigue seus maiores opositores, que já o ameaçaram com apedrejamento, Jesus passeia por ele como quem se sente em casa.

As lideranças que controlam o templo e o judaísmo veem Jesus como uma ameaça, têm a impressão que ele lhes tira o fôlego. Pouco antes do episódio de hoje, haviam dito claramente que Jesus estava louco ou possuído pelo diabo. Angustiados e irritados, elas cercam Jesus no templo, numa clara demonstração de ameaça. E o desafiam a apresentar-se claramente como Messias, não para que acreditassem, mas para terem motivo para condená-lo.

O vazio de poder aberto pela espera indefinida de um messias havia sido ocupado por estas lideranças, membros das famílias nobres e empoderadas, e elas temem perder o poder. Jesus havia dito que tais pessoas eram cegas por opção, não fazem parte do seu rebanho, não reconhecem nele a voz e a mão de Deus, servem e seguem a mercenários. Orgulham-se de ser descendentes de Abraão e defensores da Lei de Moisés, mas o são apenas da boca para fora.

Jesus percebe a artimanha deles e, como já fizera em várias oportunidades, foge de uma discussão teórica e estéril sobre o Messias. Jesus prefere invocar o testemunho das suas ações de afirmação da dignidade e restauração da liberdade das pessoas, e os chama a tomar posição. São suas obras que testemunham se ele está com Deus ou não, se Deus está com ele ou não. Assumir a defesa do ser humano humilhado significa estar com Deus. Mas as lideranças do templo são cegas, não querem ver.

A conclusão da cena é dramática. Jesus adverte as lideranças a não tentarem recuperar o controle que perderam sobre parte do povo. Aqueles/as que o reconhecem e seguem como Pastor Bom acessaram a vida plena, e ninguém vai arrancá-los das suas mãos, pois o Pai não o permitirá. Jesus diz que ele e o Pai são um, e, diante disso, as lideranças reagem ameaçando apedrejá-lo.

 

Meditação:

·    Fazemos parte do rebanho de Jesus Cristo, daqueles/as que ouvem e seguem a sua voz e continuam seu estilo de vida?

·    Reconhecemos a mão de Deus nas ações humanizadora e libertadoras de Jesus e de todos/as os/as que fazem o bem?

·    Como demonstramos isso? Nosso modo de ser testemunha claramente nossa pertença ao caminho ou “movimento” de Jesus?

·    Somos capazes de demonstrar nossa pertença a Jesus colocando-nos ao lado do ser humano ameaçado?