sábado, 9 de setembro de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 10.09.2023

UMA IGREJA REUNIDA EM NOME DE JESUS

Quando alguém vive distante da religião ou se decepcionou com a atuação dos cristãos, é fácil que a Igreja se lhe apresente apenas como uma grande organização. Uma espécie de multinacional ocupada em defender e levar adiante os seus próprios interesses. Estas pessoas em geral só conhecem a Igreja a partir de fora. Falam do Vaticano, criticam as intervenções da hierarquia, irritam-se com certas ações do Papa. A Igreja é para eles uma instituição anacrônica da qual vivem distantes.

Não é esta a experiência daqueles que se sentem membros de uma comunidade de crentes. Para estes, o rosto concreto da Igreja é quase sempre a própria paróquia. Esse grupo de pessoas amigas que se reúnem todos os domingos para celebrar a Eucaristia. Esse lugar de encontro onde celebram a fé e rezam todos juntos a Deus. Essa comunidade onde se batiza os filhos ou se despede dos entes queridos até o encontro final na outra vida.

Para quem vive na Igreja procurando nela a comunidade de Jesus, a Igreja é quase sempre fonte de alegria e motivo de sofrimento. Por um lado, a Igreja é estimulo e alegria; podemos experimentar nela a recordação de Jesus, escutar a sua mensagem, seguir o seu espírito, alimentar a nossa fé no Deus vivo. Por outro lado, a Igreja faz sofrer, porque observamos nela incoerências e rotina; com frequência é demasiado grande a distância entre o que se prega e o que se vive; falta vitalidade evangélica; em muitas coisas foi-se perdendo o estilo de Jesus.

Esta é a maior tragédia da Igreja. Jesus já não é amado nem venerado como nas primeiras comunidades. Não se conhece nem se compreende Sua originalidade. Muitos não chegam sequer a suspeitar da experiência salvadora que viveram os primeiros que se encontraram com ele. Fizemos uma Igreja onde não poucos cristãos imaginam que, pelo fato de aceitar umas doutrinas e de cumprir umas práticas religiosas, estão seguindo Cristo como os primeiros discípulos.

Mas é nisto consiste o núcleo essencial da Igreja: viver a adesão a Cristo em comunidade, atualizando a experiência de quem encontrou nas proximidades, o amor e o perdão de Deus. Por isso, talvez, o texto eclesiológico mais fundamental sejam estas palavras de Jesus que lemos no Evangelho: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles»

A primeira tarefa da Igreja é aprender a reunir-se em nome de Jesus. Alimentar a sua memória, viver na sua presença, atualizar a sua fé em Deus, abrir hoje novos caminhos ao seu Espírito. Quando isto falta, tudo corre o risco de ficar desvirtuado pela nossa mediocridade.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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