Compaixão: expressão da beleza, da sabedoria e do poder de Deus
Sabedoria, todos desejamos alcançar. Sinais
da presença de Deus nas tramas e dramas da nossa sofrida história, que não deseja
ver? A questão se resume, essencialmente no seguinte: onde está a sede da
sabedoria e quais são os sinais da presença de Deus em nossa vida?
Paulo responde a essa pergunta de forma
contundente e paradoxal: em Jesus Cristo crucificado por amor temos a expressão
encarnada da sabedoria de Deus e o sinal mais inequívoco da sua presença
salvadora, da sua poderosa compaixão. Nele temos o caminho para a Vida
verdadeira.
O Apóstolo das nações captou bem o caráter paradoxal
da manifestação da Sabedoria e do Poder de Deus em Jesus Cristo encarnado e
crucificado: para muitos, essa sabedoria parece loucura e esse poder parece
fraqueza. Mas assim é Deus, e assim é o ser humano maduro, discípulo
missionário.
No momento da suprema revelação de Deus na paixão e
morte do seu Filho, a mãe de Jesus está presente, de pé, diante da cruz de
Jesus, acompanhada de um discípulo e uma discípula. Jesus os vê, e faz uma
dupla declaração, que é também um duplo pedido: “Mulher, este é teu filho!”
“Esta é tua mãe!”
No alto do calvário, diante da expressão máxima do
amor de Deus, Jesus entrega Maria como mãe dos que creem, mãe da Igreja. E nos
convida a levá-la conosco, como a discípula primeira e fiel. Nasce aqui uma
Nova Família, semente de uma Nova Humanidade. Aqui nasce e vive a Sagrada
Família.
Aos pés da cruz e ao lado de Maria, somos
convidados a fazer a passagem da família de sangue à família cristã, da
comunidade natural à comunidade de vida e de missão. Em companhia do discípulo
amado, que representa o discipulado fiel e perseverante, somos convidados a
reconhecer e proteger nossas raízes.
Passemos da pequena colina do calvário à montanha
de La Salette. Ali temos de novo Maria, não mais aos pés da cruz, mas inclinada
diante das cruzes e sofrimentos dos franceses esquecidos pela sabedoria pouco
luminosa, mas atraente da revolução francesa.
Em La Salette temos de novo Jesus, não mais diante
de Maria e do discípulo amado, mas pendente no peito da Bela Senhora, de braços
abertos para acolher todas as dores do mundo. É da cruz que partem os raios que
brilham no rosto e nas lágrimas de Maria. Eis de novo o poder e a sabedoria de
Deus.
Tanto o evento do Calvário como o evento de
La Salette são Evangelho de Deus e, como tal, nos convidam à conversão. E o
caminho da conversão é o caminho de Jesus, paixão por Jesus e paixão pela
humanidade. É trilhando esse caminho que, progressivamente, somos congregados à
nova família de Jesus.
Nossa consagração a Deus pelos votos
pretende ser, antes de tudo, uma humilde e decisiva expressão desse caminho de
conversão ao Evangelho de Jesus, sabedoria e poder de Deus. Significa aceitar a
maternidade de Maria, fazendo-nos discípulos do seu Filho, e, com ela, cuidar
do mistério de um Deus que, por amor, se faz humano, e colocar-se a seu
serviço.
Viver a pobreza evangélica, a castidade
celibatária e a obediência para a missão não são expressões de loucura e fraqueza?
Viver a compaixão solidária e gastar-se pelos outros não é algo visto como
insensatez? Renunciar à autonomia absoluta para colocar-se em perspectiva
sinodal na busca daquilo que é bom para todos não é tornar-se vulnerável? Tomar
distância da família, da região e do povo de origem não parece algo
desnecessário?
Esse é o caminho de Jesus, o caminho que nos
conduz à verdade do ser humano e à vida plena e abundante. Esse é o caminho que
Maria nos recorda permanentemente, pedindo que façamos tudo o que ele nos diz.
Esse é o caminho que reassumimos na festa de Nossa Senhora da Salette e na
renovação da nossa consagração.
19 de setembro de 2023
177 anos da aparição de Maria em La Salette
(Celebração de Renovação dos Votos Religiosos)
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