sábado, 16 de setembro de 2023

O Evangelho dominical (Pagola) - 17.09.2023

PERDOAR SEMPRE

Mateus está preocupado em corrigir os conflitos, disputas e confrontos que possam surgir na comunidade dos seguidores de Jesus. Ele provavelmente escreve o seu evangelho num momento em que, como diz seu evangelho, «a caridade da maioria está esfriando» (Mt 24,12).

Por isso, Mateus ressalta com muitos detalhes como agir para eliminar o mal do interior da comunidade, respeitando sempre as pessoas, procurando acima de tudo a correção a sós, recorrendo ao diálogo com testemunhas, envolvendo a comunidade ou separando-se de quem pode prejudicar os seguidores de Jesus.

Tudo isso pode ser necessário, mas como deve agir concretamente a pessoa ofendida? Que há de fazer o discípulo ou discípula de Jesus que deseja seguir os seus passos e colaborar com ele abrindo caminhos para o reino de Deus, o reino da misericórdia e da justiça para todos?

Mateus não podia esquecer algumas palavras de Jesus recolhidas num evangelho anterior ao seu. Não eram fáceis de entender, mas refletiam o que estava no coração de Jesus. Embora já tenham se passado vinte séculos, os seus seguidores não podem esvaziar o seu conteúdo.

Pedro aproxima-se de Jesus. Como em outras ocasiões, ele o faz representando o grupo de seguidores: «Se o meu irmão me ofende, quantas vezes devo perdoá-lo? Até sete vezes?». A sua pergunta não é mesquinha, mas enormemente generosa. Pedro escutara Jesus, suas parábolas sobre a misericórdia de Deus. Ele conhece até onde vai sua própria capacidade de compreender, desculpar e perdoar. Ele também está disposto a perdoar muitas vezes, mas não haveria um limite?

A resposta de Jesus é contundente: «Não te digo sete vezes, mas até setenta vezes sete. Deve-se perdoar sempre, em todos os momentos, incondicionalmente. Ao longo dos séculos, muitas pessoas quiseram diminuir de muitas maneiras o que Jesus disse: «perdoar sempre é prejudicial»; «encoraja o ofensor»; «devemos primeiro exigir arrependimento». Tudo isso parece muito razoável, mas esconde e desfigura o que pensava e vivia Jesus.

Tem de se voltar a ele. Na sua Igreja há necessidade de homens e mulheres dispostos a perdoar como ele, introduzindo entre nós o seu gesto de perdão em toda a sua gratuidade e grandeza. É o que melhor faz resplandecer na Igreja o rosto de Cristo.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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