quinta-feira, 7 de setembro de 2023

O Evangelho na vida de cada dia (102)

Ano A | 22ª Semana Comum | Quinta-feira | Mateus 1,1-23

(08/09/2023)

Recordamos o nascimento de Maria para destacar a longa preparação e o início da realização da promessa de Deus, da nova e eterna aliança. As Sagradas Escrituras não estão interessadas na origem de Maria. Sua história lança raízes na história de um povo marcado pela opressão e, mais ainda, pela esperança inabalável. Maria é filha do seu povo e, através dela e do filho, o amor de Deus alcança toda a humanidade, sem nenhuma exclusão. Maria é a “arca da aliança”, e nela se unem a antiga e a nova aliança.

Os relatos de genealogia, como este de Jesus, que estamos meditando, nos parecem hoje enfadonhos e inúteis. Mas, para a cultura do oriente antigo, era um modo de assegurar a pertença a um povo, de estabelecer heranças e promessas. No caso de Mateus, mesmo sem apresentar uma genealogia completa (ele não cita Moisés nem os profetas) de Jesus, demonstra que ele pertence ao povo hebreu, que é um israelita legítimo, um descendente de Davi.

Normalmente as genealogias apresentam apenas figuras masculinas, pois tanto a cultura hebraica quando as narrativas genealógicas são patriarcais. Mas Mateus incluiu no seu documento (mais teológico que histórico) cinco mulheres: Tamar (filha de prostituta), Raab (prostituta cananéia), Rute (estrangeira, pertencente a um povo acusado de ter nascido de um incesto), a “mulher de Urias” (sem nome, abusada por Davi) e Maria de Nazaré.

Incluindo estas mulheres nas origens de Jesus, Mateus deslegitima o patriarcado e sublinha a providência misericordiosa de Deus e a inclusão de pessoas e povos marginalizados nos seus planos e intervenções. Silenciando sobre o pai biológico de Jesus (“José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus”, Mateus deslegitima mais uma vez a ideologia patriarcal e sublinha a independência de Deus.

Maria é incluída no grupo das outras quatro mulheres (ela é filha da humanidade!), mas, ao mesmo tempo, representa uma diferença, uma novidade: nela se manifesta a encarnação de um Deus que intervém na história mediado pelo ser humano, elevando os humilhados e relativizando os poderes e ideologias, inclusive o patriarcado. “Maria de Deus, Maria da gente!”

 

Meditação:

·    Retome a genealogia, prestando muita atenção nas figuras femininas e na mudança da lógica do texto quando fala da geração de Jesus em Maria

·    Contemple demoradamente o drama enfrentado por José diante da inaudita e inexplicável gravidez da sua noiva

·    Qual é a relevância, e o que significa, para você, lembrar que Maria também nasceu, pertence a um povo e faz parte do grupo de mulheres olhadas com desprezo pelos homens?

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