Ano A | 22ª
Semana Comum | Quinta-feira | Mateus 1,1-23
(08/09/2023)
Recordamos o nascimento de Maria para destacar a
longa preparação e o início da realização da promessa de Deus, da nova e eterna
aliança. As Sagradas Escrituras não estão interessadas na origem de Maria. Sua
história lança raízes na história de um povo marcado pela opressão e, mais
ainda, pela esperança inabalável. Maria é filha do seu povo e, através dela e
do filho, o amor de Deus alcança toda a humanidade, sem nenhuma exclusão. Maria
é a “arca da aliança”, e nela se unem a antiga e a nova aliança.
Os relatos de genealogia, como este de Jesus, que
estamos meditando, nos parecem hoje enfadonhos e inúteis. Mas, para a cultura
do oriente antigo, era um modo de assegurar a pertença a um povo, de estabelecer
heranças e promessas. No caso de Mateus, mesmo sem apresentar uma genealogia
completa (ele não cita Moisés nem os profetas) de Jesus, demonstra que ele pertence
ao povo hebreu, que é um israelita legítimo, um descendente de Davi.
Normalmente as genealogias apresentam apenas
figuras masculinas, pois tanto a cultura hebraica quando as narrativas genealógicas
são patriarcais. Mas Mateus incluiu no seu documento (mais teológico que
histórico) cinco mulheres: Tamar (filha de prostituta), Raab (prostituta
cananéia), Rute (estrangeira, pertencente a um povo acusado de ter nascido de um
incesto), a “mulher de Urias” (sem nome, abusada por Davi) e Maria de Nazaré.
Incluindo estas mulheres nas origens de Jesus,
Mateus deslegitima o patriarcado e sublinha a providência misericordiosa de
Deus e a inclusão de pessoas e povos marginalizados nos seus planos e
intervenções. Silenciando sobre o pai biológico de Jesus (“José, esposo de
Maria, da qual nasceu
Jesus”, Mateus deslegitima mais uma vez a ideologia patriarcal e sublinha a
independência de Deus.
Maria é incluída no grupo das outras quatro
mulheres (ela é filha da humanidade!), mas, ao mesmo tempo, representa uma
diferença, uma novidade: nela se manifesta a encarnação de um Deus que intervém
na história mediado pelo ser humano, elevando os humilhados e relativizando os
poderes e ideologias, inclusive o patriarcado. “Maria de Deus, Maria da gente!”
Meditação:
· Retome a genealogia, prestando muita atenção
nas figuras femininas e na mudança da lógica do texto quando fala da geração de
Jesus em Maria
· Contemple demoradamente o drama enfrentado por
José diante da inaudita e inexplicável gravidez da sua noiva
· Qual é a relevância, e o que significa, para
você, lembrar que Maria também nasceu, pertence a um povo e faz parte do grupo
de mulheres olhadas com desprezo pelos homens?
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