O amor generoso
é a força que nos faz passar da morte para a vida | 540|23. 11.2024 | Lucas 20,27-40
Jesus está em Jerusalém, no templo, onde, de
chicote na mão, acaba de causar um rebuliço Lá já enfrentara os chefes dos
sacerdotes, acusara-os através de uma parábola e desmascarara os espiões deles.
Agora, são os saduceus que pretendem enredar Jesus com uma questão doutrinal,
bem ao gosto deles. No evangelho segundo Lucas, esta é a terceira controvérsia dos
saduceus com Jesus.
Os saduceus formavam um grupo teologicamente
conservador, agrupando basicamente a elite sacerdotal e as famílias
aristocráticas. Eles só reconheciam a validade das leis e tradições escritas
nos cinco primeiros livros da bíblia, e não consideravam as tradições
posteriores ou orais, que são, por exemplo, as que testemunham o
desenvolvimento da fé na ressurreição.
Por isso, a questão que eles apresentam a Jesus,
baseada nas tradições e leis do levirato (cf. Dt 25,5), não é uma questão real
e viva, mas uma estratégia para ridicularizar a fé na ressurreição dos mortos,
apregoada pelos fariseus e corroborada por Jesus. A lei do levirato existe, e
se presta a assegurar a descendência masculina, mas o caso apresentado é
totalmente imaginário e inverossímil.
A resposta de Jesus ao questionamento segue dois
caminhos. O primeiro, é um apelo à lógica dos tempos finais, que é uma lógica diferente
daquela que rege o tempo presente. Quando o ser humano chega à plena comunhão
com Deus, não tem mais necessidade da procriação, nem morre. É isso que
significa ser igual aos anjos: estar livre da necessidade de procriar e da lei
da morte.
A segunda linha de argumento de Jesus é chamar a
atenção para as próprias escrituras aceitas pelos saduceus. Jesus cita as
palavras de Moisés, que fala de Deus como o Deus dos seus antepassados Abraão,
Isaac e Jacó. Se eles estivessem irremediavelmente mortos, Deus seria um Deus
dos mortos, ou um Deus morto.
Mas as duas linhas de argumento de Jesus têm um só e
único fundamento: a natureza ou identidade de Deus. A fé na ressurreição é uma
aposta no poder de Deus, que cria e recria mediante o permanente sopro do seu
Espírito. A ressurreição não é uma possibilidade inscrita no ser humano, uma
questão de biologia ou de antropologia, mas uma possibilidade baseada no poder
de Deus, ou uma questão teológica.
Meditação:
§ Retome esta cena tentando fazer-se presente
nela, acompanhando a artimanha dos saduceus e a resposta serena de Jesus
§ Qual é o fundamento e quais são as consequências
da nossa fé na ressurreição dos mortos, que faz parte do nosso credo?
§ Será que não alimentamos uma visão ingênua da
ressurreição, como se tudo continuasse igual ao presente, como se os cadáveres
revivessem?
§ Em que medida a nossa fé na ressurreição é uma
força que nos leva a arriscar generosamente nossa vida para que todos tenham
vida?
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