domingo, 24 de novembro de 2024

Que nossa fé não tolere nem justifique a exploração

Que nossa fé não tolere nem justifique a exploração dos pobres! | 542|25. 11.2024 | Lucas 21,1-4

Uma interpretação muito comum dessa passagem sublinha e elogia a generosidade da viúva: ela simbolizaria a atitude de todos os pobres, daquelas pessoas que entregam tudo a Deus e vivem unicamente da confiança nele. Nisso se diferenciariam dos ricos, que o são porque só confiam em si mesmos e porque são pouco generosos no dar a Deus ou à Igreja.

Uma interpretação correta deve levar em consideração que Jesus, em sua missão profética, não alimenta nenhuma simpatia pelo templo. Ele sabe muito bem que o templo se tornou meio para roubar e oprimir os pobres. Um pouco antes da cena de hoje, ele havia expulsado os vendedores que comercializavam no templo (19,45-48). E, minutos antes da cena de hoje, pedira cuidado com os doutores da lei, pois eles “devoram as casas das viúvas” e disfarçam o roubo com orações”.

Ao que parece, estando no templo, Jesus não se dedica à oração ou ao oferecimento de sacrifícios, mas observa atentamente o que fazem os ricos e o que os pobres devem fazer no templo. E vê na cena de hoje exatamente um exemplo de como os doutores da lei, agindo no templo com aparente piedade e retidão, roubam os bens das viúvas. Jesus não elogia a viúva, mas acusa os doutores da lei, que dirigem o templo!

Observando tanto a viúva como os ricos, Jesus afirma que, ofertando apenas duas moedas, a viúva depositou “mais do que todos”. Na verdade, pressionada pela pregação dos doutores da lei e dos fariseus, ela acaba entregando ao templo “tudo quanto tinha para viver”. Eis a razão da ira de Jesus contra essa gente hipócrita! As palavras de Jesus condenam a exploração da viúva.

Interpretando o Evangelho dessa forma não estamos traindo o ensino de Jesus. Ao contrário, desmascaramos as interpretações feitas sob medida para expropriar dos pobres e humilhados as migalhas que lhes restam, como ainda hoje costumam fazer muitos “apóstolos”, em nome de Jesus. Jesus e sua Igreja precisam ser uma boa notícia para os pobres, e não uma espécie alfândega legalista e sem coração, direcionada ao enriquecimento de quem já tem muito.

 

Meditação:

§   Releia com paciência e demoradamente esta cena, assim como os versículos que a antecedem

§   As palavras de Jesus são um elogio para a viúva pobre ou uma acusação aos ricos e aos doutores da lei?

§   Você observa algo semelhante nas igrejas e templos de hoje?

§   O que fazer para que, ensinando que todos são iguais perante a lei, não escondamos a exploração dos mais fracos?

§   Como evitar que o dízimo, que é expressão de partilha responsável, se converta em uma prática injusta?

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