sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Primeiro domingo do Advento (01.12.2024)

SEM MATAR A ESPERANÇA

Jesus foi um criador incansável de esperança. Toda a sua existência consistiu em despertar nos outros a esperança que ele próprio vivia desde o mais profundo do seu ser. Hoje ouvimos o seu grito de advertência: «Levantai-vos, levantai a cabeça; aproxima-se a vossa libertação. Mas tende cuidado: não se vos entorpeça a mente com o vício, a bebida e a preocupação do dinheiro».

As palavras de Jesus não perderam atualidade, pois também hoje continuamos a matar a esperança e a estragar a vida de muitas maneiras. Não pensemos naqueles que, à margem da fé vivem segundo o «comamos e bebamos, porque amanhã morreremos», mas naqueles que, chamando-se cristãos, podem cair numa atitude não muito diferente: «Comamos e bebamos, porque amanhã virá o Messias».

Quando numa sociedade se tem como objetivo quase único da vida a satisfação cega dos desejos, e na qual cada um se fecha no seu próprio gozo, aí morre a esperança. Os satisfeitos não procuram nada realmente novo. Não trabalham para mudar o mundo. Não lhes interessa um futuro melhor. Não se rebelam contra as injustiças, os sofrimentos e os absurdos do mundo presente. Na realidade, este mundo é para eles o céu ao qual aspirariam para sempre. Podem permitir-se ao luxo de não esperar nada melhor.

Que tentador resulta sempre adaptar-nos à situação, instalar-nos confortavelmente no nosso pequeno mundo e viver tranquilos, sem grandes aspirações. Quase inconscientemente, temos em nós a ilusão de poder conseguir a própria felicidade sem mudar em nada o mundo. Mas não esqueçamos: Só aqueles que fecham os olhos e os ouvidos, só aqueles que ficam insensíveis, podem sentir-se à vontade num mundo como este.

Quem ama verdadeiramente a vida e se sente solidário com todos os seres humanos sofre ao ver que a grande maioria ainda não consegue viver de forma digna. Este sofrimento é sinal de que ainda estamos vivos e conscientes de que algo está errado. Devemos continuar a procurar o reino de Deus e a sua justiça.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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