Os sofrimentos
impostos aos pequenos sempre clamam aos céus | 576 |28. 12.2024 | Mateus 2,13-18
Na festa litúrgica dos Santos
Inocentes somos chamados a proclamar com a vida aquilo que professamos com os
lábios, como o fizeram as crianças vitimadas por Herodes. Nos sonhos, José discerne
a vontade de Deus reforça a consciência da própria vocação: tomar conta da vida
do Menino e protegê-lo ante todos os riscos e ameaças. E nos convoca a fazer o
mesmo, em nome do filho Jesus.
José, o carpinteiro de Nazaré e marido de Maria,
parece encontrar luz e inspiração em outro José, aquele que fora vendido pelos
irmãos invejosos aos comerciantes no Egito: ambos são sonhadores. As
preocupações que atordoam José durante o dia se transformam em sonhos à noite. E
é neles que o pai e protetor de Jesus toma consciência das urgências e
mostra-se obediente à vontade de Deus.
Herodes não admite que alguém desobedeça às suas
ordens. A fúria que dorme sob o disfarce da piedade é acordada por qualquer
sinal de insubmissão. A raiva contra os magos, que o enganam depois de
encontrar Jesus, se volta contra as crianças. Com medo de um concorrente ao
trono, Herodes opta pelo extermínio dos inocentes. Na verdade, seu poder tem
pouca força e pouca credibilidade.
O medo dos
poderosos sempre faz vítimas, e as crianças são atingidas em primeira
linha. Como diz Mateus, citando o profeta Jeremias, a violência sofrida pelos inocentes é um
grito que brada aos céus, provoca um lamento inconsolável. O sofrimento
e a violência jamais derivam da vontade de Deus, mas chegam até ele, e ele não
se faz indiferente.
A Igreja acolhe o testemunho das crianças de Belém
e as reconhece como mártires. Elas nem haviam conhecido Jesus, nem aderido ao
seu caminho. Mas tiveram a vida destruída por causa de Jesus Cristo. Mesmo sem
dizer uma palavra, confessaram com o sangue inocente a chegada do Filho de
Deus.
A liturgia de hoje não é um lamento, mas um
convite à confiança. A comunidade, que canta seu salmo no templo, não cansa de
repetir: “Bendito seja o Senhor”. A fé que herdamos das primeiras comunidades
nos diz que aqueles que, como Herodes, semearam a morte dos inocentes, não duram
muito (cf. Mt 2,20). A fé viva da comitiva daqueles que aderem a Jesus revela que eles têm
pés de barro.
Meditação:
§ Releia o texto lentamente,
detendo-se nos personagens e nas diversas cenas que o compõem
§ Procure deter-se nas
palavras do mensageiro de Deus e na obediência despojada e pronta de José
§ Que sentido têm as
escrituras citadas para os milhares de brasileiros feridos pela morte de seus
entes queridos pela Covid-19 e pelas enchentes?
§ De que iniciativas somos
capazes e onde buscamos inspiração para enfrentar as situações que urgem uma
intervenção corajosa?
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