Os olhos limpos da
fé são capazes de ver Deus na fragilidade de um bebê| 578 |30.12.2024 | Lucas 2,36-40
O texto de hoje á
parte do relato natalino mais amplo. Ontem, festa da Sagrada Família e abertura
do Ano Santo, meditamos o texto que vem na sequência deste de hoje, e vimos
como Jesus, nascido num ambiente familiar e educado nas tradições religiosas e
culturais do seu povo, não fica refém desses círculos. Ele veio para ocupar-se
das coisas ou da casa do seu e nosso Pai, do Reino de Deus. Inicialmente, José
e Maria não conseguem entender isto, mas o farão lentamente.
Hoje, é-nos oferecida à meditação a
bela cena do encontro da Família de Nazaré (ainda no templo, onde fora
apresentar Jesus e inseri-lo no povo de Deus) com uma mulher idosa e profetiza
chamada Ana. Ela é viúva e piedosa, dedicada a Deus e às suas promessas. O
testemunho dela completa e confirma o testemunho do velho Simeão: ela proclama
que Jesus representa a redenção do povo de Deus. Não é uma conclusão lógica
diante de um menino, mas uma visão profética.
Ana é a única profetiza nomeada como
tal no Novo Testamento. No Antigo Testamento aparecem apenas duas profetizas:
Hulda e uma anônima, apresentada como a mulher de Isaías. Notemos também que,
nas tradições do povo de Israel, a vida longa de uma pessoa era considerada
sinal de maturidade e de sabedoria. E Ana havia alcançado 84 anos de vida, a
maioria deles dedicados à oração e ao jejum, expressões típicas da piedade
sincera e exemplar.
Em Ana aparece o perfil da viúva
cristã. Sua comunhão com Deus desenvolve a sensibilidade e o discernimento que
a fazem capaz de identificar a realização das mais nobres promessas de Deus
naquele bebê frágil, filho de um casal de galileus, olhados com suspeita pelos
judeus que viviam em Jerusalém e falavam em nome do templo. Sua convicção e sua
fé a movem a louvar a Deus pelo cumprimento de suas promessas de modo tão
inesperado.
Simeão e Ana, cada um a seu modo e com
palavras diversas, nos convidam a ver um novo sentido por trás dos ritos
tradicionais e uma força inaudita nas criaturas mais frágeis. A pertença a
Israel e ao templo, assim como a adesão fiel aos seus ritos, não asseguram a
presença salvadora de Deus. Em Jesus, a salvação de Deus chega a todos os
povos, e passa pela concretude dos gestos de amor e compaixão e pela vida
frágil e sofredora. Com ele, precisamos “descer a Nazaré” e crescer em todos os
sentidos. O templo, com suas leis e ritos, não é espaço propício de
crescimento...
Meditação:
§ Releia o texto lentamente,
detendo-se nos personagens, nos gestos, nas atitudes e nas palavras deles
§ Perceba nas palavras e
atitudes de Ana sinais da vida e da missão do Jesus adulto e dos cristãos
§ Com que palavras, atitudes e
sentimentos falamos do nosso encontro com Jesus aos homens e mulheres de hoje?
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