ACOMPANHAR A VIDA
Um dos traços mais característicos do
amor cristão é ir ao encontro de quem precisa da nossa presença. Este é o
primeiro gesto de Maria depois de aceitar com fé a missão de ser mãe do
Salvador: pôr-se a caminho e ir ao encontro de outra mulher que necessita
nesses momentos da sua ajuda.
Existe uma forma de amar que devemos
recuperar nos nossos dias e que consiste em acompanhar para viver quem se
encontra mergulhado na solidão, bloqueado pela depressão, preso pela doença ou,
simplesmente, vazio de alegria e de esperança.
Estamos construindo uma sociedade feita
apenas para os fortes, os agraciados, os jovens, os saudáveis e os que são
capazes de aproveitar e desfrutar da vida. Estamos promovendo aquilo a que tem sido
chamado de segregação social. Juntamos as crianças em creches, colocamos os
doentes em clínicas e hospitais, guardamos os nossos idosos em lares e
residências, prendemos os criminosos nas prisões e colocamos os
toxicodependentes sob vigilância...
Assim, “está tudo em ordem”. Cada um
recebe ali a atenção de que necessita, e nós podemos nos dedicar com mais
tranquilidade ao trabalho e a aproveitar a vida sem sermos incomodados.
Procuramos rodear-nos de pessoas sem problemas que ponham em perigo o nosso
bem-estar, e assim conseguimos viver bastante satisfeitos.
Só que assim não é possível
experimentar a alegria de contagiar e dar vida. Isso ajuda a entender que
muitos, mesmo tendo atingido um nível elevado de bem-estar, têm a impressão de
que a vida se lhes escapa enfadonhamente por entre os dedos. Mas quem acredita
na encarnação de Deus, que quis partilhar a nossa vida e acompanhar-nos na
nossa indigência, sente-se chamado a viver de forma diferente.
Não se trata de fazer grandes coisas.
Talvez, simplesmente, oferecer a nossa amizade a esse vizinho mergulhado na
solidão, estar perto daquele jovem que sofre de depressão, ter paciência com
aquele velho que procura ser ouvido por alguém, estar ao lado daqueles pais que
têm o um filho preso, alegrar o rosto de uma criança triste marcada pela
separação dos pais...
Este amor que nos leva a partilhar as
cargas e o peso que tem de suportar o irmão é um amor salvador, porque liberta
da solidão e introduz uma esperança nova em quem sofre, pois ele sente-se
acompanhado na sua aflição.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez
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