sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Quarto Domingo do Advento

ACOMPANHAR A VIDA

Um dos traços mais característicos do amor cristão é ir ao encontro de quem precisa da nossa presença. Este é o primeiro gesto de Maria depois de aceitar com fé a missão de ser mãe do Salvador: pôr-se a caminho e ir ao encontro de outra mulher que necessita nesses momentos da sua ajuda.

Existe uma forma de amar que devemos recuperar nos nossos dias e que consiste em acompanhar para viver quem se encontra mergulhado na solidão, bloqueado pela depressão, preso pela doença ou, simplesmente, vazio de alegria e de esperança.

Estamos construindo uma sociedade feita apenas para os fortes, os agraciados, os jovens, os saudáveis e os que são capazes de aproveitar e desfrutar da vida. Estamos promovendo aquilo a que tem sido chamado de segregação social. Juntamos as crianças em creches, colocamos os doentes em clínicas e hospitais, guardamos os nossos idosos em lares e residências, prendemos os criminosos nas prisões e colocamos os toxicodependentes sob vigilância...

Assim, “está tudo em ordem”. Cada um recebe ali a atenção de que necessita, e nós podemos nos dedicar com mais tranquilidade ao trabalho e a aproveitar a vida sem sermos incomodados. Procuramos rodear-nos de pessoas sem problemas que ponham em perigo o nosso bem-estar, e assim conseguimos viver bastante satisfeitos.

Só que assim não é possível experimentar a alegria de contagiar e dar vida. Isso ajuda a entender que muitos, mesmo tendo atingido um nível elevado de bem-estar, têm a impressão de que a vida se lhes escapa enfadonhamente por entre os dedos. Mas quem acredita na encarnação de Deus, que quis partilhar a nossa vida e acompanhar-nos na nossa indigência, sente-se chamado a viver de forma diferente.

Não se trata de fazer grandes coisas. Talvez, simplesmente, oferecer a nossa amizade a esse vizinho mergulhado na solidão, estar perto daquele jovem que sofre de depressão, ter paciência com aquele velho que procura ser ouvido por alguém, estar ao lado daqueles pais que têm o um filho preso, alegrar o rosto de uma criança triste marcada pela separação dos pais...

Este amor que nos leva a partilhar as cargas e o peso que tem de suportar o irmão é um amor salvador, porque liberta da solidão e introduz uma esperança nova em quem sofre, pois ele sente-se acompanhado na sua aflição.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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