sexta-feira, 27 de maio de 2016

ANO C – NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 29.05.2016

A Palavra de Jesus Cristo cura, liberta e guia.

Há tempos ressoa por todos os lados, como um novo evangelho, o anúncio de que vivemos numa aldeia global, que não existem mais fronteiras. Se vivêssemos de fato num mundo sem fronteiras, não poderiam existir cidadãos de segunda classe ou gente excluída da cidadania. Junto com as fronteiras, deveriam desaparecer as hierarquias que dividem e classificam o mundo entre bons e maus, superiores e inferiores, vitoriosos e perdedores, beneficiados e penalizados. O Papa Francisco afirma que o que foi globalizado de verdade foi a indiferença... E isso é o contrário do caminho proposto por Jesus!
O evangelho de hoje começa onde terminam as bem-aventuranças. Jesus havia falado que o Reino de Deus é dos pobres, que os famintos serão saciados, que aqueles que choram seguramente ainda poderão rir. Ensinara que devemos amar até os inimigos e fazer o bem a quem nas faz o mal. Dissera também que é pelos frutos que produzimos que revelamos quem somos, e que seu ensinamento não é para ser admirado, mas colocado em prática. Depois de ensinar isso, Jesus vai a Cafarnaum, lugar de cruzamento de culturas e interesses. Chegara o momento de passar da prédica à prática...
Em Cafarnaum Jesus se encontra com um personagem sem nome, mas ocupante de uma posição social bem definida: chefe de uma centúria romana, um pagão que detinha poder militar. Ele era benquisto pelos judeus, e tinha consciência do poder que exercia sobre os subalternos. Considerando a pregação recém pronunciada por Jesus, a multidão, e especialmente os fariseus, estavam curiosos para ver a atitude de Jesus diante de um homem excluído por causa da sua origem étnica (estrangeiro) e da sua condição religiosa (pagão), mas que ocupava um alto posto na da pirâmide do poder repressivo.
O fato que move este encontro é o servo do centurião, muito estimado pelo seu senhor, que estava doente, à beira da morte, símbolo de todo um povo abandonado a si mesmo e suas dores. É importante observar o que o centurião pede e como faz este pedido chegar a Jesus. O chefe militar não pede nada para si, mas em favor do seu escravo. Usa o poder que exerce e envia um grupo de anciãos para levar a Jesus seu desejo: que Jesus viesse à sua casa para curar seu dependente. Mesmo que as autoridades judaicas insistissem nos méritos do soldado, ele não se sente digno. “Não te incomodes, pois eu não sou digno de que entres em minha casa. Por isso, nem fui pessoalmente ao teu encontro...”
O chefe pagão insiste na força da Palavra de Jesus: “Mas dize uma palavra, e meu servo ficará curado.” Ele sabe que nem o judaísmo, nem o poder do exército romano, podem garantir a vida do povo em geral, e do seu empregado em particular. Ele tem consciência do próprio poder de mando, mas sabe que não serve para nada. Entretanto, acredita que Jesus, com sua Palavra, pode ordenar ao mal que deixe de dominar seu amado empregado. Lucas diz que Jesus ficou admirado com a confiança demonstrada por esta autoridade militar de origem pagã, já que nem em Israel encontrou uma fé tão grande.
Jesus já havia reconhecido e elogiado a fé de um grupo que fizera um paralítico descer com sua maca pelo telhado de uma casa para colocá-lo diante dele e ser curado (cf. Lc 5,17-26). Também ‘viu’ e reconheceu a força da fé um pouco medrosa da mulher doente que o tocou e ficou curada (cf. Lc 8,40-48).  Reconheceu que foi a fé do leproso que o purificou da doença que o excluída da vida social (cf. Lc 17,11-19). E afirmou que foi a fé insistente que salvou o cego de Jericó (cf. Lc 18,35-43). A fé é essa força que dinamiza nossas capacidades e energias na busca de soluções humanas para os problemas humanos.
A mudança que começa com a fé, se desenvolve no ventre do sonho e se nutre da imaginação. “Imagine não existir nenhum inferno, e acima de nós só o céu, e todas as pessoas vivendo para o hoje. Imagine não existir países, nada pelo que matar ou morrer. Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz. Imagine não existir posses, necessidades, ganância ou fome; uma irmandade entre os homens. Imagine todas as pessoas compartilhando todo o mundo... Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único...” Imaginemos o Reino de Deus, novos céus e nova terra, um outro mundo possível!  
Jesus de Nazaré, coração sem fronteiras, liberdade sem hierarquias! Ajuda nossas comunidades a ultrapassar as fronteiras estabelecidas pelo medo ou pelos interesses mesquinhos. Não permite que descafeinemos teu Evangelho e acomodemos tua mensagem a um mundo construído sobre o privilégio de poucos. Não deixes que o medo e o comodismo nos impeçam de ‘imaginar’ e ‘construir’ um mundo sem fronteiras nem hierarquias. E que aprendamos do pagão romano a atitude correta diante de ti: “Senhor, eu não sou digno que entreis na minha morada, mas dizei uma Palavra e eu serei salvo!” Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(1° Livro dos Reis 8,41-43 * Salmo 116 (117) * Carta aos Gálatas 1,1-2.6-10 * Evangelho de S. Lucas 7,1-10)

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