A Palavra de Jesus Cristo cura, liberta e guia.
Há
tempos ressoa por todos os lados, como um novo evangelho, o anúncio de que
vivemos numa aldeia global, que não existem mais fronteiras. Se vivêssemos de
fato num mundo sem fronteiras, não poderiam existir cidadãos de segunda classe
ou gente excluída da cidadania. Junto com as fronteiras, deveriam desaparecer
as hierarquias que dividem e classificam o mundo entre bons e maus, superiores
e inferiores, vitoriosos e perdedores, beneficiados e penalizados. O Papa
Francisco afirma que o que foi globalizado de verdade foi a indiferença... E
isso é o contrário do caminho proposto por Jesus!
O
evangelho de hoje começa onde terminam as bem-aventuranças. Jesus havia falado
que o Reino de Deus é dos pobres, que os famintos serão saciados, que aqueles
que choram seguramente ainda poderão rir. Ensinara que devemos amar até os
inimigos e fazer o bem a quem nas faz o mal. Dissera também que é pelos frutos
que produzimos que revelamos quem somos, e que seu ensinamento não é para ser
admirado, mas colocado em prática. Depois de ensinar isso, Jesus vai a
Cafarnaum, lugar de cruzamento de culturas e interesses. Chegara o momento de
passar da prédica à prática...
Em
Cafarnaum Jesus se encontra com um personagem sem nome, mas ocupante de uma
posição social bem definida: chefe de uma centúria romana, um pagão que detinha
poder militar. Ele era benquisto pelos judeus, e tinha consciência do poder que
exercia sobre os subalternos. Considerando a pregação recém pronunciada por
Jesus, a multidão, e especialmente os fariseus, estavam curiosos para ver a
atitude de Jesus diante de um homem excluído por causa da sua origem étnica
(estrangeiro) e da sua condição religiosa (pagão), mas que ocupava um alto
posto na da pirâmide do poder repressivo.
O
fato que move este encontro é o servo do centurião, muito estimado pelo seu
senhor, que estava doente, à beira da morte, símbolo de todo um povo abandonado
a si mesmo e suas dores. É importante observar o que o centurião pede e como
faz este pedido chegar a Jesus. O chefe militar não pede nada para si, mas em
favor do seu escravo. Usa o poder que exerce e envia um grupo de anciãos para levar
a Jesus seu desejo: que Jesus viesse à sua casa para curar seu dependente. Mesmo
que as autoridades judaicas insistissem nos méritos do soldado, ele não se
sente digno. “Não te incomodes, pois eu não sou digno de que entres em minha
casa. Por isso, nem fui pessoalmente ao teu encontro...”
O
chefe pagão insiste na força da Palavra de Jesus: “Mas dize uma palavra, e meu
servo ficará curado.” Ele sabe que nem o judaísmo, nem o poder do exército
romano, podem garantir a vida do povo em geral, e do seu empregado em
particular. Ele tem consciência do próprio poder de mando, mas sabe que não
serve para nada. Entretanto, acredita que Jesus, com sua Palavra, pode ordenar
ao mal que deixe de dominar seu amado empregado. Lucas diz que Jesus ficou
admirado com a confiança demonstrada por esta autoridade militar de origem
pagã, já que nem em Israel encontrou uma fé tão grande.
Jesus
já havia reconhecido e elogiado a fé de um grupo que fizera um paralítico
descer com sua maca pelo telhado de uma casa para colocá-lo diante dele e ser
curado (cf. Lc 5,17-26). Também ‘viu’ e reconheceu a força da fé um pouco
medrosa da mulher doente que o tocou e ficou curada (cf. Lc 8,40-48). Reconheceu que foi a fé do leproso que o
purificou da doença que o excluída da vida social (cf. Lc 17,11-19). E afirmou que
foi a fé insistente que salvou o cego de Jericó (cf. Lc 18,35-43). A fé é essa força
que dinamiza nossas capacidades e energias na busca de soluções humanas para os
problemas humanos.
A
mudança que começa com a fé, se desenvolve no ventre do sonho e se nutre da
imaginação. “Imagine não existir nenhum inferno, e acima de nós só o céu, e
todas as pessoas vivendo para o hoje. Imagine não existir países, nada pelo que
matar ou morrer. Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz. Imagine não
existir posses, necessidades, ganância ou fome; uma irmandade entre os homens.
Imagine todas as pessoas compartilhando todo o mundo... Você pode dizer que eu
sou um sonhador, mas eu não sou o único...” Imaginemos o Reino de Deus, novos
céus e nova terra, um outro mundo possível!
Jesus de Nazaré, coração sem
fronteiras, liberdade sem hierarquias! Ajuda nossas comunidades a ultrapassar
as fronteiras estabelecidas pelo medo ou pelos interesses mesquinhos. Não permite
que descafeinemos teu Evangelho e acomodemos tua mensagem a um mundo construído
sobre o privilégio de poucos. Não deixes que o medo e o comodismo nos impeçam
de ‘imaginar’ e ‘construir’ um mundo sem fronteiras nem hierarquias. E que
aprendamos do pagão romano a atitude correta diante de ti: “Senhor, eu não sou
digno que entreis na minha morada, mas dizei uma Palavra e eu serei salvo!”
Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(1° Livro dos Reis
8,41-43 * Salmo 116 (117) * Carta aos Gálatas 1,1-2.6-10 * Evangelho de S. Lucas
7,1-10)
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