Chegamos ao último
trecho do Evangelho de Lucas. Quase todo este capítulo é encontrado
somente em Lucas, e revela bem o seu pensamento. Podemos dizer que o
Evangelho todo culmina na postura dos discípulos, descrita no versículo 52:
“Eles o adoraram”. Esta é a primeira e única vez que Lucas diz que os
discípulos adoraram Jesus. Aqui há uma aproximação entre a cristologia de
Lucas e a de João.
O trecho abre com uma
frase que faz lembrar os dois discípulos na estrada de Emaús: “Jesus abriu a mente
deles para entenderem as Escrituras.” (v. 45). Vale a pena salientar que
ele fez que eles “entendessem” as Escrituras, não que as “conhecessem”, pois
estavam bem a par de tudo que as Escrituras falavam! O problema deles,
como dos dois de Emaús, era de entender como as Escrituras podiam iluminar a
sua caminhada, na sua situação concreta.
Lucas frisa que o
anúncio do Evangelho incluirá a grande Boa Nova do perdão dos pecados. Essa Boa
Notícia “será anunciada a todas as nações, começando por Jerusalém”
(v.47). Aqui explica como a salvação chegará aos outros povos: através da
pregação e testemunho das comunidades cristãs. Por isso devemos entender a
frase “E vocês são testemunhas disso” (v.48) como referente não só aos Onze,
mas a todos os discípulos e discípulas de Jesus!
Podemos lembrar-nos também
de Lc 24,9.33, onde enfatiza que além dos Onze, estavam também presentes “os
outros”. Isso é importante para que não caiamos na cilada de achar que a
missão de testemunhar os valores do Reino seja algo reservado aos ministros
ordenados. O Documento de Aparecida insiste muito que não é possível ser
discípulo/a de Jesus sem ser missionário/a. Essa incumbência, e privilégio, vêm
do nosso batismo!
As comunidades
poderão contar com um poderoso ajudante nesta missão gostosa, mas árdua: o
Espírito Santo, prometido pelo Pai: “Agora eu lhes enviarei aquele que meu Pai
prometeu” (v.49). O comprimento dessa promessa será graficamente descrito
na continuação da obra de Lucas, nos primeiros dois capítulos dos Atos dos Apóstolos.
O último parágrafo
contém numerosas referências a Lc 1,5 - 2,25. O texto grego usa o verbo que no
Antigo Testamento é usado para descrever o Êxodo, quando diz: “Jesus levou os
discípulos para fora da cidade” (v.50). Para Lucas, Jesus está prestes a
completar o seu Êxodo ao Pai. Mas antes, “Ergueu as mãos e os abençoava” (v.
50b). É a única vez que no Evangelho de Lucas se diz que Jesus abençoou
alguém. No fim da liturgia da sua vida, Jesus dá a sua bênção final aos
que vão continuar a sua missão!
Os discípulos sentem
grande alegria, um tema destacado no início da vida de Jesus, no seu nascimento
em Belém, quando os anjos trouxeram notícias de grande alegria! A alegria
prometida no início está presente no fim! Por isso, os discípulos se
encontram no Templo, onde Jesus foi apresentado e onde Simeão louvou a Deus. O
Evangelho de Lucas conclui afirmando que eles também “Estavam sempre no Templo,
bendizendo a Deus.” (v. 53).
O autor termina
enfatizando a resposta que os seus leitores devem dar, na medida em que aceitam
que em Jesus chegou a nossa salvação, através da ação gratuita do Deus
misericordioso! Esta resposta de bendizer a Deus não é somente com os
lábios, mas com uma vida dedicada e missionária, no seguimento de Jesus de
Nazaré e comprometida com a construção de comunidades e sociedades alternativas,
baseadas na partilha e na solidariedade. Esse é um dos grandes temas da
segunda parte do Evangelho de Lucas, que nós conhecemos como “Atos dos
Apóstolos”, um dos livros bíblicos preferidos no estudo bíblico nas comunidades
de hoje.
Pe. Thomas Hughes svd
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