Jesus faz morada conosco (Jo 14,23-29)
O texto para este domingo do Pentecostes é a parte
final do discurso de despedida de Jesus, antes da sua paixão. Este discurso
começa no capítulo 13, depois da prática do lava-pés e continua nos capítulos
15-17.
Jesus se despede de seus discípulos e suas
discípulas, mas, ao mesmo tempo diz para a comunidade do seguimento o que devem
fazer durante a espera de seu retorno. Nós também somos a comunidade do
seguimento de Jesus que escuta esta palavra hoje.
Na primeira parte do discurso de despedida, Jesus
nos indica o caminho que conduz a Deus que é Pai e Mãe. Na segunda parte, Jesus
fala da comunhão dele com sua comunidade. Na terceira, fala de sua partida e do
dom da paz.
No discurso de adeus para os discípulos e discípulas,
Jesus assegura que um dia estaria voltando. Agora percebemos que Jesus não fala
mais para aquele grupo de discípulos e discípulas presentes na ceia, mas para a
comunidade do Quarto Evangelho e para cada um e cada uma de nós hoje,
partilhando de que forma podemos nos alegrar com a presença de Jesus neste
tempo de separação.
Somos pessoas chamadas ao discipulado do Filho que
é Jesus para entrar em comunhão com Ele. Existe uma relação de amor que une a
discípula e o discípulo ao Filho Jesus, e o Pai e o Filho aos discípulos. Se
estivermos na caminhada do discipulado de Jesus na construção do seu
Reino, Jesus faz morada conosco e com Ele o Pai porque são uma só pessoa.
Morada é uma palavra repleta de sentido. No
primeiro testamento, morada por excelência era o Templo de Jerusalém (Sl 121,1;
131,3-132,14; Is 6; 60). Jesus, o Verbo de Deus pela sua Encarnação, cumpriu a
promessa da Presença de Deus no meio da humanidade. Para o Quarto Evangelho, a
morada definitiva do Pai é a comunidade do seguimento do Filho.
Judas Tadeu pediu para Jesus: "Senhor, porque
te manifestarás a nós e não ao mundo?" Jesus responde agora a esta
pergunta: o mundo são aquelas pessoas que recusam a proposta de Jesus e, com
esta, recusam a pessoa de Deus Pai. A presença do Filho e do Pai está
estritamente ligada à escuta e à prática da Palavra de Jesus, que é a palavra
do Pai. Jesus diz para a comunidade do seu discipulado que virá o Espírito
Santo Consolador que o Pai enviará em nome de Jesus.
O Pai, o Filho e o Espírito são a mesma Pessoa no
Amor. O Espírito Santo será quem ensinará e fará recordar. Na bíblia, o verbo
significa muitas vezes interpretar autenticamente as Escrituras e atualizá-las
no tempo presente. Porém, no Evangelho de João existe uma novidade: o Espírito
Santo Consolador ensinará, não só as Escrituras, mas a Verdade, tudo o que
Jesus comunicou ao Pai, a mesma Pessoa de Jesus e do Pai! O Espírito Santo não
só ensina: a Divina Ruah, faz recordar, faz voltar ao coração o profundo
sentido de cada acontecimento à luz da vitória da Ressurreição sobre todo forma
de morte.
Esta experiência de conseguir interpretar não só o
tempo passado, mas o presente não é dom para uma pessoa, mas para uma comunidade.
O Espírito Santo, a Divina Ruah, faz da comunidade o lugar privilegiado da
revelação da pessoa do Pai em Jesus.
Ao término de seu discurso, Jesus volta a falar ao
tempo presente para a comunidade dos discípulos e das discípulas que irão
vivenciar sua paixão e morte. Para esta comunidade é a Paz de Jesus. O texto do
Evangelho não está falando aqui do dom da paz, da tranquilidade ou da ausência
de conflitos. Jesus não deseja a paz, ele doa a sua Paz.
A Paz de Jesus é a presença do Pai no Filho! Sabemos
que também de "pax" (de paz) falava o império romano. Esta
"pax" era fruto de opressão, de violência e de impostos que tiravam
toda a vida do povo, sobretudo dos mais empobrecidos. A comunidade do evangelho
de João insiste em dizer que a paz na pessoa de Jesus, e no seu projeto que é o
Reino, nunca vai ser a paz do mundo dos opressores! Mas a certeza de que estar
no Filho e no Pai, no ensino e na recordação do Espírito Santo Consolador, faz
com que a comunidade não tema nenhum tipo de violência e perseguição.
A comunidade do Quarto Evangelho nos diz que a
partida e a nova vinda de Jesus na ressurreição são duas facetas do mesmo
acontecimento. Para a comunidade do Quarto Evangelho foi importante fazer esta
memória de Jesus para poder compreender a paixão de Jesus no seu sentido pleno,
e não como uma derrota, como uma traição por parte de Deus.
Maria Soave
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