quinta-feira, 21 de abril de 2016

O evangelho dominical: 24.04.2016

NÃO PERDER A IDENTIDADE
Jesus está a despedir-se dos Seus discípulos. Dentro em breve, já não o terão entre eles. Jesus fala-lhes com ternura especial: «Meus filhos resta-Me pouco tempo entre vós». A comunidade é pequena e frágil. Acaba de nascer. Os discípulos são como crianças pequenas. Que será deles se ficam sem o Mestre?
Jesus faz-lhes uma oferta: «Dou-vos um mandato novo: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei». Querem-se mutuamente com o amor com que Jesus os quis, não deixarão de senti-Lo vivo no meio deles. O amor que receberam de Jesus continuará a difundir-se entre os Seus.
Por isso, Jesus acrescenta: «O sinal pelo que vos conhecerão todos como Meus discípulos será que vos ameis uns aos outros». O que permitirá descobrir que uma comunidade que se diz cristã é realmente de Jesus, não será a confissão de uma doutrina, nem a observância de uns ritos, nem o cumprimento de uma disciplina, mas o amor vivido com o espírito de Jesus. Nesse amor está a Sua identidade.
Vivemos numa sociedade onde se foi impondo a «cultura dos intercâmbios». As pessoas intercambiam objetos, serviços e prestações. Com frequência, intercambiam também sentimentos, corpos e até amizade. Eric Fromm chegou a dizer que «o amor é um fenômeno marginal na sociedade contemporânea». As pessoas capazes de amar são uma exceção.
Provavelmente será uma análise excessivamente pessimista, mas o certo é que, para viver hoje o amor cristão, é necessário resistir à atmosfera que envolve a sociedade atual. Não é possível viver um amor inspirado por Jesus sem distanciar-se do estilo de relações e intercâmbios interessados que predomina com frequência entre nós.
Se a Igreja está se diluindo no meio da sociedade contemporânea não é só pela crise profunda das instituições religiosas. No caso do cristianismo é, também porque muitas vezes não é fácil ver nas nossas comunidades discípulos e discípulas de Jesus que se distingam pela sua capacidade de amar como amava Ele. Falta-nos o distintivo cristão.
Os cristãos, temos falado muito do amor. No entanto, não sempre temos acertado ou nos temos atrevido a dar-lhe o seu verdadeiro conteúdo a partir do espírito e das atitudes concretas de Jesus. Falta-nos aprender que Ele viveu o amor como um comportamento ativo e criador que O levava a uma atitude de serviço e de luta contra tudo o que desumaniza e faz sofrer o ser humano.
José Antonio Pagola

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