terça-feira, 9 de janeiro de 2018

ANO B – SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 14.01.2018

Crer é caminhar com Jesus e participar da sua missão.
Depois de ter sido batizado no rio Jordão, Jesus não foi festejar ou tirar férias! O batismo marca o amadurecimento da sua consciência messiânica e sua estreia na missão de libertar a humanidade oprimida e escravizada. Somos hoje convidados a acompanhá-lo nos primeiros passos da sua missão, a deixar-nos interpelar pelo seu olhar, suas ações e suas palavras. Ele dirige a nós seu olhar acolhedor e questionador, e pergunta: “O que você está procurando?” Estas são as primeiras palavras que saem dos lábios de Jesus no evangelho segundo João! Mas também dirige a cada um de nós seu convite: “Vem comigo, vem ver e participar da minha intimidade e experimenta meu amor sem fronteiras...”
João Batista diz que não conhecia bem Jesus antes de tê-lo batizado (cf. 1,33). Vendo-o no rio, misturado a uma pequena multidão de gente marginalizada, humilde e bem intencionada, João vislumbrou em Jesus a Sabedoria de Deus na carne humana, o Amor de Deus acampado no meio de nós, um símbolo da Presença ativa de Deus na libertação dos antepassados, como o era o Cordeiro Pascal, ou o “bode expiatório”, o sujeito que atrai sobre si os pecados e violências sociais. João fala abertamente disso aos discípulos que o seguem, como que indicando uma nova e mais profunda fase da relação com Deus.
Um dia, vendo Jesus caminhando solitário e meditativo nos arredores de Betânia, perto do rio Jordão, o profeta João chamou a atenção dos próprios discípulos: “É dele que eu falei... Eis o Cordeiro de Deus...” João não apresenta Jesus como Messias, o líder ungido pelo Espírito para resgatar o povo, nem como Rei de Israel, como Filho de Deus ou como Senhor. O Batista busca na tradição ritual do povo de Israel a figura do Cordeiro, que era sacrificado para desculpar os pecados da comunidade. Na tradição espiritual e cultual de Israel, a figura do Cordeiro representa a mansidão, a inocência, a aliança e a entrega solidária.
Apresentando Jesus desse modo, João acrescenta que ele é aquele “que tira ou carrega o pecado do mundo”. Ou seja: Jesus não está aí para, em nome de Deus, jogar na cara dos homens e mulheres sua insuperável condição de pecadores, ou para recordar o passado, mas para atrair sobre si mesmo a violência que tende a explodir sobre os mais fracos e para abrir um caminho de liberdade e de comunhão. Nas palavras de João Batista transparece a intuição de que o Messias esperado age mais como amigo que como juiz, mais como irmão que como acusador, mais como companheiro que como chefe.
Ouvindo as breves palavras com as quais João apresenta aquele jovem galileu até então incógnito, dois discípulos de João deixam-no e se põem a caminho, seguindo Jesus. Aproximam-se dele sem dizer nada, um pouco curiosos, um pouco tímidos. Um se chama André e é irmão de Simão, que conhecemos como Pedro. Eles entram no caminho de Jesus acatando a indicação de João Batista. Não terá sido fácil deixar o mestre já conhecido e sua pregação clara e interpeladora para seguir um jovem até então desconhecido... E Jesus nem os havia chamado, como costumavam fazer os demais mestres...
Num dado momento, percebendo que André e o outro seguiam-no já há algum tempo, Jesus se volta e lhes pergunta: “Que procurais?” Não pede o que pensam dele, mas interroga sobre os interesses e expectativas que os movem. A resposta deles é curta e objetiva: “Mestre, onde moras?” Eles desejam passar ao seu campo de influência, aprender a partir da convivência e da experiência, participar da sua intimidade e da sua missão. E Jesus os convida a ir e ver, a descobrir como nele a Palavra de Deus se torna carne. E eles vão, começam a viver com Jesus, para sempre membros do seu corpo.
Profundamente impressionados com aquilo que viram e experimentaram, os novos discípulos espalham a notícia. André vai buscar seu irmão Pedro, que como ele, tinha vindo de Betsaida para escutar e seguir João Batista, e anuncia-lhe a boa notícia: “Encontramos o Cristo!” E leva-o a Jesus, que dirige um olhar amoroso e profundo a um Pedro que permanece rígido como uma pedra... Pedro havia rompido com o status quo e esperava o Messias, mas terá que mudar sua ideia de um Messias guerreiro e assimilar a imagem de um Messias Cordeiro. Será um processo difícil e exigente, que levará mais de três anos...
Amado e querido Jesus, filho de José e Cordeiro de Deus: Como André, queremos entrar na tenda que armaste entre os pobres e te conhecer. Livra-nos da passividade e do silêncio resistentes de Pedro. Salva tua Igreja da rigidez, do fechamento e da autossuficiência, verdadeira pedra de tropeço para aqueles que te buscam com coração sincero. Acorda-nos da ilusão de sermos maioria, do repouso tranquilo sobre as glórias do passado, da falta de atenção à tua Palavra viva e eficaz. E acolhe-nos na tua intimidade, para que, caminhando contigo e sendo membros do teu corpo, vejamos e acreditemos! Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(1° Livro de Samuel 3,3-10 * Salmo 39 (40) * 1ª Carta de Paulo aos Coríntios 6,13-20 * Evangelho de São João 1,35-42)

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