quarta-feira, 12 de junho de 2019

ANO C | TEMPO COMUM | SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE | 16.06.2019


No dinamismo da Trindade, tudo está conectado com tudo!
A festa da Santíssima Trindade é um convite a mergulhar no mistério de Deus, a deixar que ele nos envolva, nos conduza e nos dinamize com sua bondade. Em Deus “vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). Deus é o fundamento da vida em todas as suas expressões, o dinamismo de toda transformação, o horizonte de todo sentido. Nossa vida se desenrola no Filho, o Caminho; sob o Espírito Santo, o Guia; em direção ao Pai, Origem e meta. Celebremos e meditemos o mistério de Deus revelado em Jesus Cristo, conscientes de que falar sobre o mistério de Deus é, ao mesmo tempo, falar sobre o mistério mais profundo do ser humano.
No evangelho de hoje, Jesus fala aos discípulos no clima de apreensão que envolve sua última ceia. Ele não está preocupado em falar sobre Deus de forma abstrata. Seu objetivo é nos prevenir a respeito das dificuldades que seus discípulos deverão enfrentar, e encorajar-nos diante das perseguições. Ele sublinha que sua vida e seu ensino têm consequências que os discípulos ainda não são capazes de compreender. “Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não sois capazes de compreender agora.” E acena para o dom do Espírito da Verdade, à luz do qual eles saberão entender e trilhar o caminho do amor e da compaixão.
Como discípulos e discípulas, precisamos efetivamente viver, caminhar e nos inspirar em Deus. Deus é um horizonte e um caminho de bondade, e não uma equação matemática. Ao elaborar o conceito teológico da ‘trindade’ ou ‘tri-unidade’, a tradição cristã não está propondo um enigma a ser decifrado, mas afirmando uma dimensão absolutamente essencial a Deus e à sua criação: a comunhão. Sobre Deus, precisamos falar em termos de profundidade e de intimidade, e não de quantidade. Não há porque quebrar a cabeça na tentativa de conjugar as três pessoas com uma única natureza. Esta não é a questão fundamental!
O conceito ‘trindade’ pretende sublinhar que Deus é mistério de bondosa comunhão que acolhe, confirma e liberta. E isso é muito importante no contexto de uma cultura que reduz tudo a fragmentos isolados e a relações fluídas, e de uma visão de Igreja centrada na autoridade hierárquica e na obediência submissa. Sendo dinamismo vivo de comunhão e bondade mediante o reconhecimento do outro e o dom generoso de si, Deus é caminho e imagem de uma humanidade aberta, relacional e solidária. E chama a Igreja a se organizar como uma comunidade de dons e ministérios, como mãe que acolhe a todos e não exclui ninguém.
O Espírito da Verdade, dom que emana da vida de Jesus entregue sem medida, mestre de obras da criação e criança que encanta o Pai com suas brincadeiras, nos conduz à plena verdade: tudo é comunhão, tudo está conectado com tudo. Em primeiro lugar, as coisas animadas ou inanimadas; minerais, vegetais e animais; átomos e células; elementos químicos e dinamismos físicos. Nada existe em si e para si; tudo existe em outro e para os outros. Os vínculos e o desejo de comunhão fazem com que haja um uni-verso, sem frente e verso, sem divisão. Tudo tende a uma coesão sempre mais forte, sem possibilidade de inversão.
Em segundo lugar, também a criatura humana é vivificada pelo dinamismo de comunhão: comunhão de células, de tecidos, de aparelhos (circulatório, respiratório, reprodutor, digestivo, etc.); de pensamento e sentimento; de corpo e psique... Tudo funciona em perfeita comunhão e sintonia! Mas há também a comunhão com as demais criaturas (que pisamos, respiramos, comemos) e com as demais pessoas, gerações, grupos e culturas. É doença e esquizofrenia pensar e agir como se os outros fossem dispensáveis, concorrentes ou inimigos. A vida só é possível numa permanente relação de troca de dons com os outros!
Por fim, há comunhão sem barreiras entre as diferentes esferas da vida: a vida privada e a vida pública, a vida na história e a vida na glória, o passado, o presente e o futuro. O mesmo mistério de comunhão que nos une a Deus como criaturas durante nossa caminhada histórica será vivido plenamente na glória, anunciará e antecipará “as coisas futuras”. O Espírito, dom e relação subsistentes, que faz com que o Pai esteja no Filho e o Filho atue em perfeita sintonia com o Pai, produzirá e manterá nossa comunhão com ambos e com tudo, enquanto vivermos e para vivermos, e nos recriará perfeitos na comunhão compassiva, solidária e recriadora.
Glória a ti, Deus Pai e Mãe, fonte de todas as formas de vida! O louvor que a ti devemos ressoa na boca dos pequeninos, pois os lábios dos prepotentes e orgulhosos frequentemente te insultam, na medida em que humilham, desprezam e condenam os pobres. Glória a ti, Deus-conosco, libertador de todas as prisões, caminho de vida! Glória a ti, Espírito Santo, derramado em todas as criaturas como bondade e beleza. Glória a ti, Deus-comunidade, de quem todos recebem a vida, o movimento e a existência. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Livro dos Provérbios 8,22-31 | Salmo 8
1ª Carta de Paulo aos Romanos 5,1-5 | Evangelho de São João 16,12-15

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